As Excrescências de Nossa Política
Por Fernando Grecco | 19/08/2010 | PolíticaPor Fernando Grecco
"A política tem a sua fonte na perversidade e não na grandeza do espírito humano." (Voltaire)
É quase unânime, na opinião de historiadores, sociólogos e intelectuais em geral, de que o Brasil não tem uma sociedade politizada, crítica e cônscia de sua realidade. Esse fator é facilmente perceptível mesmo para o brasileiro comum, pois se trata de uma inferência que não requer de grandes teorias filosóficas para ser compreendida e aceita como uma verdade quase absoluta. Se considerarmos a composição ideológica, sobretudo de nossas casas legislativas, comprovaremos uma ausência de compromisso social dos nossos parlamentares em sua maioria, o que por si só já é um reflexo de nosso analfabetismo político e da falta de discernimento na hora de votar.
No tocante à campanha eleitoral do ano corrente, vemos a candidatura de algumas figuras caricatas cuja citação, neste espaço, faz-se desnecessária, haja vista o caráter irrelevante dos mesmos enquanto personagens "artísticos". Porém, uma dessas figuras seria interessante mencionar, pois dela podemos concluir que o erotismo barato, tão propalado pela mídia televisiva, alcançou até as campanhas políticas. Referimo-nos, evidentemente, à candidata que se apresenta como a "mulher melão".
Qual a razão desses descalabros? O primeiro requisito para entender a todas essas aberrações, é concordar que nosso país é composto, em sua maioria, de pessoas culturalmente atrasadas, ignorantes no sentido denotativo do termo. Não temos o hábito da leitura, de buscar informações de fontes seguras e com isso erigir uma base intelectual sólida. A grande maioria dos brasileiros são analfabetos funcionais, mal compreendem um texto ou são capazes de fazer uma resenha de um noticiário de jornal. Falta-nos, portanto, a capacidade de "análise concreta da realidade concreta", plagiando os dizeres de Lênin.
Outro fator significativo para compreender esse processo (que não está dissociado do primeiro, mas complementando-o) se refere à nossa realidade política partidária. Sabemos que, no Brasil, as eleições para membros do legislativo não obedecem ao senso comum de democracia, pois nem sempre àquele que recebe maior votação será eleito. Essa disparidade na legislação permite a eleição de pessoas com algumas centenas de votos. Exemplo típico foi a eleição de Enéas Carneiro pelo extinto PRONA, que levou consigo alguns personagens sem nenhuma expressão nacional.
Nessa linha de pensamento podemos compreender a candidatura de alguns "artistas" caricatos. Em primeiro lugar é certo que muitos deles ? devido ao baixíssimo grau de instrução da população brasileira ? serão certamente eleitos ou, ao menos, receberão uma quantia significativa de votos. E, em segundo lugar, esses votos servirão para eleger um maior número de deputados da legenda. Trata-se de um raciocínio lógico e bastante óbvio.
E as conseqüências? Novamente vamos assistir como idiotas a milhões de brasileiros padecerem devido à estupidez humana, presenciando, sempre, o desperdício e o sofrimento de muitas vidas para sustentar nossa desmedida ignorância e falta de acuidade política. Estamos, mais uma vez, numa caminhada conjunta, marchando como vacas e porcos em direção ao brejo.