As Eras de Eric Hobsbawn
Por Jacot Werner Stein | 20/07/2017 | HistóriaEu tenho a intensão de analisar os quatro volumes que compõem as Eras de Eric Hobsbawn. Entendemos e compreendemos "análise" não como dissecação, mas como um ato e uma ação de fazer distinção, isto é, separar um todo em seus elementos ou partes componentes; investigar, examinar minuciosamente os seus elementos constitutivos; mas também submeter à crítica radical e ao comentário; por fim, realizar uma avaliãção.
1. A ERA DAS REVOLUÇÕES 1.789-1.848 (1.977)
2. A ERA DO CAPITAL 1.848-1.875 (1.983)
3. A ERA DOS IMPÉRIOS 1.875-1.914 (1.988)
4. A ERA DOS EXTREMOS 1.914-1.991 (1.994)
Cada uma destas obras possui uma estratégia distinta. Elas não são uma mera compilação histórica. O autor quer demonstrar, a partir da teoria marxista, que a história possui recomeços, e que cada um destes anos 1.789, 1.848, 1.875 e 1.914 constituem-se como recomeços. Mas um recomeço não significa avanço ou progresso, em cada um destes casos, acredito que houve o contrário. Uma revolução burguesa, outra do capital de manufatura, a solidificação de impérios e o extremo da Primeira Guerra Mundial e de seus vários aspectos nefastos.
Cada uma dessas obras iniciam-se do seguinte modo: "este livro traça a transformação do mundo entre 1789 e 1848 na medida em que essa transformação se deveu ao que aqui chamamos de 'dupla revolução': a Revolução Francesa de 1789 e a revolução industrial (inglesa) contemporânea"; "embora este livro pretenda existir de forma autônoma, ele é o segundo volume de uma série de três que buscam analisar a história do mundo moderno da Revolução Francesa até a Primeira Guerra Mundial, dos quais A era das revoluções 1789-1848 já está disponível e o último ainda será escrito"; "embora escrito por um historiador profissional, este livro não se dirige a outros acadêmicos, mas a todos que desejam entender o mundo e que acreditam na importância da história para tanto"; e, por fim, "não é possível escrever a história do século XX como a de qualquer outra época, quando mais não fosse porque ninguém pode escrever sobre seu próprio tempo de vida como pode (e deve) fazer em relação a uma época conhecida apenas de fora, em segunda ou terceira mão, por intermédio de fontes da época ou obras de historiadores posteriores".
As frases indicadas anteriormente foram retiradas dos prefácios e são as respectivas frases iniciais. Sabemos que um prefácio, geralmente, é o último a ser escrito em uma obra e por vezes ele atende a uma estratégia indicada pelo editor da obra. Hobsbawn não trabalhou com um único editor, mas para estas obras foi a apenas o Sr. Smith que acompanhou-o desde o início da composição do projeto, em 1971, com previsão para três volumes da revolução francesa a primeira guerra mundial. As obras foram escritas e foi nascendo anotações que levaram a uma certa liberdade de interpretação do breve século XX, que compôs o quarto volume da série. O que indica uma certa liberdade do autor em face dos acontecimentos e de sua produção intelectual. Este fora escrito em apenas três anos, de 1991 a 1993, publicado em fevereiro de 1994, após uma grande divulgação. Tratou-se de uma obra esperada. O que não é bom para o pensamento inovador e criativo.
As frases iniciam-se com expressões pouco usuais, um pronome demonstrativo (este), os dois volumes seguintes com uma conjunção concessiva (embora), e por fim, com uma expressão de pedido de desculpas. O que isto indica? Isto indica estratégias de venda. O pronome demonstrativo qualifica uma pesquisa histórica como sendo científica, no mesmo parâmetro de uma investigação física ou biológica realizada em um centro de pesquisas. A conjunção concessiva tem por função conceder, mas conceder o quê? Conceder licença para a realização de uma pesquisa sem parâmetros acadêmicos para um recorte histórico tão pequeno, mas com proporções mundiais: 59 anos, 27 anos, 39 anos e 77 anos. O primeiro e o último volume, os períodos justificam-se devido aos acontecimentos que marcaram toda a humanidade. Mas o segundo e o terceiro não? São estes dois volumes que dão o tom da estratégia de compreensão da história do mundo, o primeiro, que trata da compreensão financeira da história e o segundo, do modo de governo que se instaurou no mundo. E é interessante notar que, atualmente, estas duas obras podem contribuir muito para a compreensão das estratégias financeiras e governamentais em que o mundo tem sido conduzido.