As dúvidas do amor...

Por waldo baleixe | 26/08/2009 | Crônicas

Entre todos os sentimentos que o ser humano pode experimentar, durante sua vida, um é, particularmente, muito cruel: a dúvida.  O mais hilário é que, apesar de devastador, ele não é sentimento puro, é derivado de outros ou de alguma atitude, mas arrebata com força e profundidade tamanha capaz de desestabilizar o equilíbrio de uma vida toda.

O amor é o grande gerador desse sentimento derivado. Quando amamos, temos dúvidas intermináveis. Na percepção inicial do amor, surge a primeira de uma infinita lista que acompanha o amar: Será que o que eu sinto é amor? Será que o outro também sente? Será que é pra vida toda?

E durante o relacionamento as dúvidas crescem e tornam-se complexas e maiores. Será que ele/ela ainda me ama? Será que ele/ela é fiel? Será que ele se comporta de acordo com o nosso amor? Porque ele/ela está atrasado(a)?

As dúvidas continuam corroendo as entranhas de quem ama. As perguntas não conseguem ser respondidas e geram novas dúvidas, essas, agora, mais pesadas, maiores e mais complexas: Será que ele/ela vai gostar disso? Será que eu posso olhar? Será que posso falar? Porque estou sentindo isso? Será que eu posso pedir isso? Será que eu posso fazer aquilo? Será que temos futuro? Será que o meu futuro sozinho não seria melhor?

E, em determinado momento, a dúvida torna-se viva e alimenta-se da insegurança do amar. Nada é capaz de saciar a fome desse cruel sentimento que está presente nas pessoas que amam. As dúvidas jamais serão respondidas, porque amar é gerar insegurança e dúvida.

Nascemos diferentes e tornamo-nos mais com o tempo. A diferença é o campo fértil para as dúvidas. Temos visão, valores, vontades e percepção diferentes de nossos pais e de nossos irmãos, imaginemos como isso se comporta com uma pessoa que apareceu no meio da nossa vida.

O que atrai duas pessoas é a paixão, a vontade de ter, o desejo, a admiração, a contemplação, sentimentos efêmeros e frágeis, que desaparecem com o tempo e a descoberta das diferenças. Nesse instante, se surgir o amor, surgirá a dúvida.

 A certeza em um relacionamento é arrogância daquele que não percebe a dúvida ou não consegue aceitar a sua existência e tenta descartá-la. Só que as duvidas são maiores que nós, pobres mortais, e, quando oprimidas, materializam-se em desvios comportamentais, geralmente possessivos ou controladores. Invariavelmente, os ciumentos acreditam ter certezas sobre tudo de um relacionamento, principalmente dos próprios sentimentos.

Quando a dúvida se instala definitivamente entre duas pessoas, nada mais pode ser feito, pois qualquer simples atitude pode gerar ódio, rancor e mágoas, principalmente quando os dois têm visões diferentes da mesma situação. Às vezes, um simples pedido de um pode ser considerado uma afronta para o outro, porque a dúvida potencializou e distorceu a visão daquele que tem esse sentimento instalado.

Até mesmo o passado, o presente e o futuro são motivos para as dúvidas e conseqüentemente conflitos. Somos capazes de dar parte de nossa vida, como prêmio, para pedir explicações e tentar saciar as dúvidas, tal a ansiedade que elas trazem. O amor é um sentimento perverso que ilude no início, cria incertezas no durante e machuca no final. O grande problema é saber quando é o final, pois ele, como um vírus em repouso, fica latente na corrente sanguínea, pronto para machucar a cada baixa de resistência.

Amar é inerente ao ser humano, não podemos fugir disso, então se prepare para ter dúvidas.

texto por Waldo Baleixe