As dificuldades de aprendizagem da leitura e da escrita

Por POTI CHIMETTA HAVRENNE | 09/12/2012 | Educação

As dificuldades de aprendizagem da leitura e da escrita : agrafia , alexia e dificuldades de interpretação de texto no contexto médico, escolar e terapêutico  
Poti Chimetta Havrenne, M.D., PhD
Médico Psiquiatra Infantil e da Adolescência - Psicólogo
Resumo
    É realizada uma síntese sobre os conceitos atuais das dificuldades de aprendizagem da leitura e da escrita e suas possíveis causa.No final do artigo são descritos alguns jogos terapêuticos que poderiam ser executados em computador.

            As idéias aqui expostas representam uma composição das idéias de vários autores a respeito das dificuldades de aprendizagem da fala e da escrita, vistas em geral como sendo uma unidade que se manifesta de modos distintos entre diferentes alunos, o que pode significar tanto uma variação individual, como diferentes graus de maturação, pois às vezes problemas de origem semelhante se manifestam de modos diferentes (1,2,3, 4).
          Alguns fonemas são foneticamente muito semelhantes em nossa língua devido ao mecanismo  de articulação comum em muitos deles : por exemplo /p/ e /b/(bilabiais); /t/ e /d/ (línguo-dentais); /f/ e /v/ (lábio-dentais);/q/ e /g/ (guturais); /x/ , /j/ e /z/ (sibilantes) .

           Também é frequente serem tais fonemas auditivamente semelhantes como /m/ (bilabial) e /n/ (línguo-dental), ou o som /l/ no final da palavra (canal) e nau ( vogal produzida com um fechamento da boca), embora foneticamente sejam produzidos por articulações diferentes.
          As dificuldades discriminativas, no primeiro caso, seriam assim tanto ser por uma articulação semelhante que a criança tem dificuldade em produzir ( ato motor) de modo distinto, quando lê em voz alta, levando assim a uma confusão entre os fonemas e consequentemente entre as letras : quadro correspondente a uma apraxia da fala, pois a criança tem dificuldade motora em reproduzir a articulação do fonema o que a leva secundariamente a ter dificuldades em distinguir as letras.

          No segundo caso teríamos uma dificuldade de discriminação auditiva, uma dificuldade da percepção auditiva, chamada em Neurologia de agnosia auditiva( falta de distinção de fonemas audiologicamente semelhantes).Não se pode esquecer que a criança quando está aprendendo a escrever integra a visão da letra, com seu som auditivo e com a fala de tal som e que quaisquer faltas de discriminação num destes três mecanismos pode produzir uma dificuldade da leitura e da escrita.
         Outro aspecto da alexia, ou a falta de compreensão daquilo que é lido, seja por um esforço excessivo e uma lentidão excessiva  da leitura, o que  faz a criança não poder prestar atenção no sentido global daquilo que lê, ou uma dificuldade de integração entre os sintagmas (palavras) da oração(frase) e das relações lógico-gramaticais entre os sintagmas (por exemplo a capacidade de distinguir entre o filho do tio do filho).Não se deve esquecer que para se descobrir o sentido de uma oração, as palavras devem ser ligadas entre si através de diferentes tipos de relações.
           Esta introdução se faz necessária pois cada tipo de problema poderia comportar uma diferente forma de tratamento.Assim na apraxia da fala, se poderia pedir para a criança ler uma palavra e o computador emitir um reforço positivo quando a criança acertasse a pronúncia correta (Tiaguinho, muito bem, você é o máximo!) , ou mostrar-se -se uma palavra escrita na tela do computador(faca) com duas figuras correspondentes às possíveis confusões fonêmicas ( por exemplo faca    e vaca ) e pedir-se a resposta certa, sempre se fornecendo um reforço positivo em caso de acerto, de modo a estimular a criança a fazer um esforço para conseguir produzir a articulação correta.
             Nos caso de agnosia auditiva, poderia se produzir um jogo de computador no mesmo sentido para se ajudar a distinguir entre os diferentes sons que se confunde e pedindo-se ao paciente para distinguir o som correto ( por exemplo entre navio e mavio) , aumentando-se progressivamente o grau de dificuldade e a velocidade de apresentação e sempre se associando um reforço positivo.
            Na  falta de integração entre sintagmas também se poderia utilizar estratégia semelhante apresentando-se frases progressivamente maiores e fazendo-se após a apresentação perguntas a respeito de sua significação, aumentando-se  cada vez  mais a complexidade das frases, a velocidade de apresentação e a necessidade de fazer-se uma interpretação das frases para chegar-se a seu real sentido.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
1) SADOCK, Benjamin J.; SADOCK, Virginia, A. - Compêndio de Psiquiatria.Porto Alegre : Artmed, 2008.
2)HALES, Robert E; YUDOFSKY, Stuart C. - Psiquiatria Clínica.Porto Alegre : Artmed, 2007.
3)AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION - Manual Diagnóstico e estatístico de transtornos mentais : DSM-IV-TR.4a.Ed.Porto Alegre : Artmed, 2002.
4)CARDOSO-MARTINS, Cláudia; FULANETE CORRÊA, Marcela; FREITAS DA SILVA MAGALHÃES, Luciana - Dificuldade específica de aprendizagem da leitura e escrita. In : MALOY-DINIZ, Leandro F.;FUENTES, Daniel; MATTOS, P.;ABREU Neander e COLS.- Avaliação Neuropsicológica. Porto Alegre : Artmed, 2010.