As Cruzadas

Por Wellington Douglas de Oliveira | 18/07/2009 | História

AS CRUZADAS

 

Introdução:

 

Esta palavra não era conhecida no momento histórico para o qual a empregamos de fato o termo aparece em meados do século XIII quando o fenômeno histórico já perdia sua força. Os textos medievais falam geralmente em peregrinação, guerra santa, expedição da cruz, e passagem. Quando surgiu a expressão “Cruzadas” do fato de seus participantes considerarem-se “soldados de Cristo”, marcados pelo sinal da cruz e por isso bordarem uma cruz na sua roupa.

 

MOTIVAÇÕES MATERIAIS

 

De fins do século XI a fins do XIII ouve um fluxo constante de ocidentais dirigindo-se para a periferia da Cristandade Latina de fato um conjunto de fatores material e espiritual provocou as Cruzadas que representaram uma espécie de solução para os problemas colocados pelo inicio da desestruturação feudal, a desorganização que seguira a queda do Império Romano e a insegurança provocada pelas invasões germânicas pediam uma nova estrutura. Assim organizava-se uma nova sociedade que apresentava grande distancia entre a elite clerical e guerreira e a massa camponesa.

Nesta, a condição social de cada individuo estava definida por Deus logo ao nascimento, ficando, portanto estabelecia a vitaliciedade e hereditariedade: filho de nobre é nobre, filho de camponês é camponês daí o termo “sociedade de ordens”.

Um dos primeiros a serem abordados é o contexto de expansão demográfica, a fraqueza populacional do Ocidente tinha começado lentamente a se modificar com o inicio do feudalismo, pois este removera os obstáculos que impediam a tendência natural que toda espécie tem a se multiplicar.  Em segundo lugar o cessaram as invasões estrangeiras e as grandes batalhas tornando menos mortíferas. Em terceiro o fator determinante do surto demográfico foi a abundancia de recursos naturais, onde vários territórios ficaram abandonados recuperando assim a fertilidade ou recobrindo-se de florestas e pastagens naturais. Por fim o crescimento populacional esta claramente ligado à inovação de técnicas agrícolas verificadas na época.

O contexto comercial é outro elemento a ser levado em consideração para se entender a gênese das Cruzadas neste processo a Itália teve a primazia graças a vários fatores, sua localização geográfica no centro do Mediterrâneo, mais o estreito contado com a civilização bizantina e a muçulmana.

O contexto social um aspecto que nos interessa é a maior mobilidade social, com a passagem da sociedade de ordens para a sociedade estamental, significando que na primeira o individuo é de determinada camada social, condicionamento divino desde o nascimento, na segunda o individuo esta num certo grupo social, devida a expansão demográfica ter reduzido o tamanho da parcela de terra de cada família camponesa, obrigando muitos indivíduos a tentarem um novo gênero de vida.

Um dos elementos sociais de mais ativa participação nas Cruzadas foram os secundogênitos de famílias nobres, com a morte de seu detentor a terra passasse indivisa para seu filho primogênito, os demais filhos entravam para o serviço de seu irmão mais velho o se tornavam clérigos, recebendo, portanto terras da Igreja.

O contexto político em parte ligado àquela nobreza despossuída e turbulenta contribui para a ocorrência das Cruzadas, a questões de política eclesiástica, tinha outra razão que era tentar a reunificação da Cristandade, onde havia uma series de divergências entre a Igreja de Roma e de Constantinopla.

A motivações materiais da Cruzada é o próprio discurso do papa Urbano II em novembro de 1095.

 

MOTIVAÇÕES PSICOLOGICAS

 

No caso das Cruzadas, devemos levantar três elementos fundamentais da mentalidade da época: a contratualidade, a belicosidade e a religiosidade.

O feudalismo era fortemente baseado na idéia de contrato, de reciprocidade de direito e obrigações, onde por um tempo acabou por se enraizar na mentalidade, ultrapassando o nível de relações inter-humanas para atingir a própria relações com Deus. E passaram a se concebida como relação vassalo-senhor feudal.

A belicosidade foi outro componente da mentalidade que se originou na pratica social para depois ganhar lugar no inconsciente coletivo. Naturalmente o inimigo era visto como exercito demoníaco e, portanto combate-lo era ao mesmo tempo obra política e religiosa.

A religiosidade era o grande traço menta da época das Cruzadas formado a partir do contato com a realidade, onde a força do bem poderia ser levada a ajudar o homem a dominar a natureza a faze-la trabalhar para seu beneficio (clima, terra fértil e animais reproduzindo).

 

AS CRUZADAS NO ORIENTE E NO OCIDENTE

 

As Cruzadas resultaram de um conjunto de fatores materiais e psicológicos as que buscavam a Terra Santa recebem tradicionalmente números no caso das expedições oficiais ou nomes Cruzadas popular Cruzada de Crianças para indicar a composição social diversa de outras.

 

O MOVIMENTO DAS CRUZADAS NO ORIENTE MÉDIO

 

Após o discurso do papa Urbano II despertado pela idéia de se partir para Jerusalém foi muito grande; a caminho estes grupos de pequenos cavaleiros, camponeses, clérigos, aventureiros, maltrapilho e desenraizado muitas vezes ao limite da fome, passando então a roubar e saquear. Milhares de peregrinos que tinham partido em abril de 1096, morreu durante a viagem, os que chegavam ao Império Bizantino maravilhavam-se com o esplendor e a riqueza de Constantinopla onde ouve inveja e menosprezo onde apenas alargaram o fosso entre as duas partes da Cristandade.

 As primeiras Cruzadas (1096-1099) foram formadas pela nobreza e supervisionada pelo papado onde foi formado por vários exércitos feudais autônomos o imperador bizantino Aleixo I exigiu dos chefes cruzados um juramento de fidelidade e o compromisso de as primeiras terras conquistado fosse entregues a Bizâncio sendo, pois aqueles territórios eram seus antes da conquista muçulmana; contudo isso contrariava os interesses particulares dos cruzados onde abriria muitos problemas.

A etapa natural seguinte seria Jerusalém, mas cada chefe empenhou em ações para beneficio próprio,

Os cruzados conseguiram penetrar na Cidade Santa em julho de 1099 com incrível ferocidade, onde massacrávamos muçulmanos até o templo de Salomão, onde ouve uma carnificina onde os mortos muçulmanos formavam montes tão altos como casas, é como mostra a Historia Anônima da Primeira Cruzada.

  A segunda Cruzada (1147-1149) pregada por São Bernardo onde reuniu três contingentes o Imperador Alemão Conrado III e o francês rei Luis VII e uns dos europeus do norte (ingleses, flamengos e frísios) onde o ultimo grupo tentavam atingir a Terra Santa por mar. E quando Conrado e Luis tomaram a decisão de atacar Damasco onde redundou em mais uma derrota cristã.

Essa mostra a fraqueza cristã onde surgiu uma nova potencia que contava com um líder hábil política e militarmente, Saladino onde conquistou o Reino de Jerusalém em 1187 onde tinha permanecido ao cristão por apenas 84 anos.

Essa noticia deu inicio a Terceira Cruzada (1189-1192) três soberano tomara a cruz o rei francês Filipe Augusto, o rei inglês Ricardo Coração de Leão e o imperador alemão Frederico Barba Ruiva onde sofria a mesma debilidade que as anteriores a falta de um comando único e de um planejamento global. Os novos interesses comerciais e políticos o surgimento de uma nova tolerância entre cristãos e muçulmanos devido à longa convivência, a liberdade de peregrinação conseguida por tratados estes fatores iam aos poucos enfraquecendo o espírito de Cruzada e fazendo com que o movimento fosse desviado do seu propósitos originais melhor exemplo foi a Quarta Cruzada (1202-1204) resultante dos desacordos dos ocidentais - bizantinos e os interesses de Veneza onde se tornou a primeira cruzada contra os cristãos.

Desta forma em julho de 1203 Constantinopla era atacada por mar pelos venezianos e por terra pelos francos, surgia assim o Império Latino de Constantinopla, para seu trono foi eleito Balduino, conde de Flandres.

A Quarta Cruzada dera profundo golpe no espírito de Cruzada com a deturpação dos seus objetivos levantava criticas as Cruzadas, como a feita pelo poeta francês Rutebeuí em meados do século XIII “devo deixar minha mulher e meus filhos todos os meus bens e herança para ir conquistar uma terra estrangeira que nada me dará em troca? Posso adorar a Deus tanto em Paris como em Jerusalém”.

Mas esse espírito de Cruzadas ainda não morrera como fica claro com as Cruzadas de Crianças (1212), iniciada por um menino alemão que reuniu milhares de jovens geralmente camponês, essa Cruzada só alcançou Genova com seus participantes morrendo no caminho e outro dispersando e outros sendo transformados em escravos.

O IV Concilio de Latrão pregou a necessidade de uma nova Cruzada a Terra Santa assim a Quinta Cruzada (1217-1219) onde reuniu húngaros austríacos cipriotas frísios, noruegueses e francos da Síria. O plano era atacar o Egito, o mais rico território muçulmano, agindo desse jeito os cruzados conseguiram ocupar a cidade de Damieta, mas demoraram em marchar sobre o Cairo permitindo que os islamitas se recuperassem e os derrotassem.

A Sexta Cruzada (1228-1229), realizada pelo imperado alemão Frederico II, portanto apenas a França tinha condições de participar de uma nova Cruzada, e isto ia ao encontro do espírito muito religioso de seu rei Luis IX depois canonizado como São Luis.

A Sétima Cruzada (1248-1250) onde o objetivo era novamente o Egito que parecia a chave para a Palestina, mas novamente a marcha sobre o Cairos cruzados foi derrotada diante da fortaleza de Mansura e na retirada o próprio São Luis foi aprisionado e para se liberto teve que restituir Damiela e pagar uma grande quantidade de dinheiro.

Em 1268 São Luis novamente se fez cruzado, mas contando com poucas adesões e recebendo mais criticas que apoio esta Oitava Cruzada se dirigiu para a Tunísia (1970) mais para atender os interesses políticos do irmão do rei onde a epidemia matou centenas de cruzados inclusive São Luis sendo uns dos poucos a acreditar nas Cruzadas.

 

 

O MOVIMENTO DAS CRUZADAS NO OCIDENTE.

 

Para que a Cruzada Oriental não esvaziasse a Cruzada Ocidental, o papa Pacoal II em 1100 proibiu aos cristãos ibéricos de irem a Terra Santa e concedeu a eles a mesma indulgência que cabia aos da Palestina, assim a reconquista desde o século XI fazia claros progressos, mas conhecia também insucessos, dependendo do maior ou menor entendimento entre os cristãos e da unidade ou divisão política dos muçulmanos. Por fim o Ocidente conheceu ainda Cruzadas contra cristãos, hereges ou mesmo católicos que por alguma razão opunham-se à política papal. A mais importante foi a Cruzada Albigense (1209-1226) foi dirigida contra os heréticos da seita albigense numa clara união de interesses da Igreja, da monarquia francesa e da nobreza feudal do norte francês.

 

O OCIDENTE APÓS AS CRUZADAS

 

As Cruzadas foram importantes como todo evento histórico, num certo sentido as Cruzadas fracassaram, ou seja, não atingiram seus objetivos, a intenção eclesiástica de pacificar a Europa cristã desviando a nobreza sem terras para zonas periféricas também não chegou a ter sucesso.

As Cruzadas aceleraram a desestruturação da sociedade feudal, e assim contribuíram as o acirramento das guerras feudais; por outro lado aumento a intolerância em relação a bizantinos e judeus e maior tolerância com os muçulmanos. Porem a mais importante conseqüência das Cruzadas no aspecto religioso foi ter permitido uma crescente oposição ao clericalismo, causando grande desprestigio a Igreja.

Socialmente ouve o enfraquecimento da aristocracia o enfraquecimento da servidão e o fortalecimento da burguesia.

O resultado político mais importante talvez tenha sido no processo de centralização política acelerando da monarquia feudais para monarquias nacionais onde se completou após as Cruzadas.

Os Cruzados foram responsáveis pelas grandes transformações econômicas, pois as cidades eram os principais centros econômicos da época e tiveram importantes participações nas Cruzadas exemplo Veneza e Gênova, o revigoramento do comercio e da economia monetária por si só criava condições para o surgimento de bancos e foi possibilitada pelo comercio a longa distancia (transferência de fundos cambio de moedas de diversas origens). Os Templários tornaram os grandes banqueiros da época e com esse dinheiro financiava a ida de muitos as Cruzadas.

Em suma as Cruzadas distanciaram o Ocidente e o Oriente criando umas barreiras nos dois lados enraizaram-se no inconsciente coletivo

 

CONCLUSÃO

 

As Cruzadas não se resume apenas em um fenômeno religioso do imperialismo ocidental ela é um conjunto de fenômenos complexos que só ganham sentido quando tentamos mostrar dentro do quadro do feudalismo, neles surgiram as tensões sociais, a aceleração da transformação estrutural, episódios históricos muito ricos em relação à religião, a economia a política a arte o direito a geografia a guerra à navegação e etc... Fazendo uma historia das Cruzadas após as Cruzadas exemplo Colombo pensava em estar fazendo uma Cruzada, e quando se quer dar força a um empreendimento se rotula de “Cruzada”.   

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

BIBLIOGRAFIA:

 

FRANCO,Hilário Jr; AS CRUZADAS; São Paulo 1981; 3ª edição; Ed. Brasiliense S.A.