As contribuições trazidas pela Hermenêutica para a formação de professores mais problematizadores e autônomos
Por Michelly Chaves | 10/06/2009 | ResumosAo discutir a hermenêutica como base de contribuição para a formação docente é de suma importância salientar o seu significado ao longo da história e a participação de dois grandes teóricos, Martin Heidegger e Hans-Georg Gadamer, no qual deixaram as suas contribuições ao abordarem o tema, hermenêutica no processo filosófico. Em seguida existirá uma argumentação sobre o que a mesma poderá contribuir para a formação de professores mais problematizadores e autônomos.
A palavra Hermenêutica surgiu pela primeira vez, em meados do século XVII, no título do livro de Dannhauer. Todavia, suas características foram mudando ao longo do contexto histórico, pois o verbo Hermeneuein e os substantivos que a derivam são hermeneús e hermeneia. Hermeneuein, tinha o significado de relação que levava ao conhecimento. A mesma também detinha a idéia de ser a arte de interpretar os textos grandes como os clássico, jurídicos e os bíblicos.
Entretanto, a partir do século XIX, a Hermenêutica possui uma nova idéia, na qual pode ser chamada de filosófica e epistemológica, que a retira da compreensão e interpretação universal dos métodos e dogmas, ou seja, das verdades como absolutas, pregadas no século anterior e transforma-se em teoria universal da compreensão, interpretação e das questões históricas, culturais e humanas, isto é a partir do conhecimento histórico existirá o poder de compreender e dialogar saindo da situação de aceitação total e construindo assim o sentido do ser no mundo.
A Hermenêutica obteve um passo significativo no século XX, no qual teve como pensador Martin Haidegger, que aborda a mesma como a interpretação do sentido do ser. O pensador teve como sua principal obra Ser e O Tempo, que possui como idéia primordial problematizar com base no sentido do ser, pois ele não tenta chegar a uma definição exata do que é o ser, mas deseja coloca ? lá em interpretação e reflexão.
Para Hermann (2003, p.34):
O ser não está onde possamos identificar uma essência e, portanto, conhecê-lo conceitualmente. A determinação não esgota o ser, porque as possibilidades de determinação são infinitas. O ser se encontra onde o que acontece pode ser compreendido.
O filosofo contribui de maneira significativa para a hermenêutica moderna, pois em suas reflexões ele aborda que as interpretações dogmáticas precisam ser pensadas a partir das pré-compreensões do tradutor, logo no momento em que se irá lê-las com base em pré-compreenções estará existindo a possibilidade do surgimento de novas interpretações. O teórico discute a hermenêutica como uma forma de ultrapassar a visão metódica e tradicional, buscando um olhar mais contemporâneo que relaciona o ser humano com o mundo, ou seja, o mesmo visto como um ser da totalidade, no qual está vinculado com o finito e que possui uma experiência circular com a participação da linguagem como vinculação histórica e cultural.
A linguagem tem olhares distintos, para o "olhar" tradicional é vista como algo interno ao ser humano, ou seja, como passagem que liga dentro e fora do ser humano sem vinculação com o mundo. Contudo, a para idéia ontológica a linguagem trás em seu bojo que o ser humano é que pertence a linguagem como ser ? no ? mundo que se relaciona, filosofa é mortal e finito.
A compreensão apresenta para Martin Haidegger uma estruturação circular, isto é, o pensamento para interpretar deve construir uma compreensão para saber o que irá interpretar atuando em um círculo hermenêutica, no qual irá ligar o pensador e o pensante, ou seja, é um ato de questionar-se a todo o momento.
Segundo Hermann (2003, p.36):
A estrutura da pré-compreensão deriva da temporalidade do Dasein e traz consigo a questão do círculo hermenêutico, presente em toda a interpretação. Essas pré-compreensões significa que Dasein, o ser-aí, caracteriza-se por uma compreensão peculiar, que existe antes de qualquer enunciado, antes de qualquer assertiva. Pelas regras lógicas, o círculo seria sempre vicioso e estaria a indicar um erro a ser evitado. Haidegger, contudo, quer mostrar o quanto há equívoco nisso. Evitar o círculo seria já incompreensão, pois a circularidade de toda a compreensão por mera indução.
Logo Haidegger, deixa em seus legados a grande importância da filosofia hermenêutica para o processo de construção e ampliação dos conhecimentos que estão inseridos no contexto de vida do ser humano, no qual tem a capacidade de investigar, acrescenta e dialogar como o outro que está em sua volta, ou seja, ser um ser-aí, no qual se compõem em relação sujeito e objeto em sua totalidade existencial.
Hans-Georg Gadamer, teve uma grande partição na construção do pensamento hermenêutica, pois ficou conhecido como o autor de "Verdade e o método", no qual divide-se em três partes. A primeira é discutida a questão com o título "esclarecimento da questão da verdade a partir da experiência estética". A segunda era chamada "A extensão da questão da verdade na compreensão das ciências do espírito". No entanto a terceira chamava-se "A linguagem como fio condutor ontológico hermenêutica".
Na primeira parte de "Verdade e o método", Gadamer tecer uma crítica a experiência estética, na qual para ele existe uma valorização apenas do processo empírico, ou seja, precisa-se busca a consciência e experiência da arte além dos conhecimentos dogmáticos, metódicos e sensíveis, mas contemplar, conhecer e reconhecer o que existe nela e concomitante no interprete.
Grondrin (1999, p.185) afirma que:
O cerne da parte introdutória de ' Verdade e método' consistirá, portanto, de uma 'crítica da abstração da consciência estética'. Se nos permitem a expressão, poder-se-ia dizer que, de parte do objeto, o caminho para a estética expressa, para ' Verdade e método', uma espécie de desvio.
Na segunda parte de 'Verdade e método' Gadamer faz uma crítica à compreensão das ciências do espírito, ao qual tem a história como uma referencia do passado imutável, pois aborda que é preciso buscar o caminho para a consciência histórica que se dá através do entendimento da tradição para poder compreender e interpreta - lá por entre de uma hermenêutica filosófica e apagando a falsa auto-compreensão metodológica e positivista que pregava as ciências do espírito.
Grondrin (1999, p.186) comenta:
Segundo Gadamer, foi uma ilusão do historicismo querer afastar os nossos preconceitos através de métodos seguros, para possibilitar algo como objetividade nas ciências do espírito.
Na terceira argumentação o pensador tem com principal elemento para cooperar com a hermenêutica filosófica, a linguagem, pois é através da mesma que o ser humano é compreendido em sua totalidade como ser histórico crítico que aspira e se compõem de uma relação com outros seres, com base no diálogo e autonomia.
Sendo assim, como afirma Hermann (2003, p.65):
A linguagem mantém uma relação com a própria razão, pois é pela linguagem que fazemos filosofia. Ou seja, o nosso acesso aos objetos só se realiza pela linguagem, pela lingüisticidade de ser-no-mundo, que se articula sob horizonte de toda a nossa experiência.
Portanto, Hans-Georg Gadamer deixou inúmeras contribuições com base em sua 'hermenêutica filosófica' a qual transpôs a importância de se compreender a estética em si, e não como algo dado. A grande contribuição da historia efetual para a construção da identidade interpretativa e dialogal do ser humano como um todo. E a linguagem como compreensão singular e universal do ser inserido no mundo.
Através de toda a discussão teórica feita acima acercado da hermenêutica com o propósito de salientar as contribuições que podem ser trazidas pela a mesma para a formação de professores problematizadores e autônomos. Entende-se que a formação docente tanto inicial como a continuada passa por um "processo de decadência", na qual constrói seus saberes de maneira falha, e por conseqüência disso vem sendo desvalorizado profissionalmente, ou seja, o mesmo passa a ser um técnico de conhecimentos ou até mesmo um monitor de programas que foram elaborados para serem seguidos sem nenhuma autonomia por parte desse docente, pois o que é levando em conta é o método e a racionalização.
Com isso, a falta de uma formação democrática e interpretativa, interrompe uma educar mais autônomo e hermenêutico, isto é, essa ausência de uma educação e formação baseada numa proposta de construção questionadora compromete a construção de uma sociedade mais igualitária, eqüitativa que envolva os seus profissionais na emancipação social.
Para Hermann (2003, p.84):
Quanto mais o processo pedagógico se aproxima dos ditames científicos, maior será a pretensão de controle das circunstâncias em que ocorre tal processo. As diferentes versões do olhar objetivador, seja behaviorismo, tecnicista ou construtivismo, deixam escapar a experiência dos atores envolvidos no processo, com seus inevitáveis preconceitos e danos, e, por conseqüência, empobrecem a experiência formativa.
Todavia, os ambientes formadores de formação inicial são compostos de uma temática em sua maioria tecnicista para a formação curricular dos futuros docentes, que desenvolve os conteúdos, currículos e estágios distantes da realidade dos mesmos e pautados em perspectivas burocráticas que não se relacionam com a realidade das práticas sociais de educar, e para a construção de uma identidade emancipadora do profissional docente. Contudo, na formação continuada, a prática mais continua a ser utilizada é a realização de cursos de suplência ou de conteúdos de ensino. Esses cursos trazem pouca contribuição e alteração para a prática docente fazendo com que esses futuros professores tenham um ato formador individual e metódico sem um formar interpretativo e dialogal que almeje sujeitos participadores e plurais de conhecimentos junto a seus futuros discentes.
Segundo Hermann (2003, p. 84):
Se o processo educativo se tornar objeto desse modo de fazer ciências, deixar de considerar a pluralidade de concepções pedagógicas que expressam diferentes modos de socialização e de orientações valorizativas em favor da crença de que temos um caminho a seguir. Esse é um dos principais equívocos na condução do processo pedagógico, que a abordagem hermenêutica expõe como limite científico-metodológico, para buscar na linguagem um horizonte intransponível de interpretações das relações educativas.
Para se chegar a uma formação com base na concepção hermenêutica é necessárioque a autocrítica, o diálogo, a interpretação, a problematização e a autonomia estejam contidas na formação docente, na qual possa deter o objetivo de trazer aos futuros professores em sua formação uma contribuição crítica e a parcerias dos sujeitos envolvidos, o conhecimento da prática social, a construção de identidades, de forma ativa e engajada no contexto escolar.
A hermenêutica filosófica sustentada através dos aspectos que estão compostos no cotidiano e na história de cada graduando, que precisa haver a construção de uma formação de maneira plural, para que esses futuros educadores possam ser sujeitos questionadores de sua prática.
Hermann (2003.p, 86) argumenta que:
A experiência educativa, enquanto hermenêutica, exige a exposição ao risco, ás situações abertas e inesperadas, coincidindo com a impossibilidade de assegurar a tais práticas educativas uma estrutura estável, que garanta o êxito na ação educativa.
Entretanto, para que possa existir a hermenêutica é precisa obter mais do que informação é necessário à contextualização e o trabalho em conjunto buscando a reflexão e o acesso a informação de maneira igualitária entre os cidadãos. O professor precisa trabalhar em sala de aula com o intuito de construir o conhecimento a partir de reflexão e pesquisa, isto é, fazendo com que seu aluno reflita o fato ocorrido em sala e na sociedade e torne este discente um ser humano humanizado e dialético que contribua para uma sociedade crítica e coletiva. Porém, para que isso ocorra é necessário haver a valorização da formação dos educadores como um todo.
Como afirma Hermann (2003, p.102):
A formação é assim uma abertura para o reconhecimento da alteridade, fazendo com que sejamos capazes de dar sentido àquilo que vem de fora de nós, o que significa compreender o outro e o saber cultural.
Portanto, para se construir uma formação docente problematizadora e autônoma com a contribuição da hermenêutica é de suma importância a valorização da pluralidade do diálogo e da crítica para que se possa ultrapassar as visões dogmáticas as quais"prendem" o graduando a técnicas isoladas de sua realidade e focada apenas em uma visão reducionista. Porém, o que se almeja e uma formação autônoma, na qual insira o ser a se formado no mundo como construtor e desconstrutos de conceitos que lhes são colocados como desafio, tornando-se um ser humano engajado com a história cultural junto com os seus futuros educandos.
REFERÊNCIAS:
GRONDRIN, Jean. Introdução à hermenêutica filosófica. São Leopoldo/RS: Ed. UNISINOS, 1999.
HERMANN, Nadja. Hermenêutica e Educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.