AS CONTRIBUIÇÕES DO PSICÓLOGO HOSPITALAR FRENTE AO TRATAMENTO DE DOENÇAS CRÔNICAS E FATAIS
Por Marco Rogério da Silva | 25/01/2017 | PsicologiaKátia Daniélly Menezes Silva
Especialista em Psicologia Hospitalar e da Saúde.
Universidade Cândido Mendes-UCAM
Marco Rogério da Silva
Professor Orientador UCAM
Doutorando em cardiologia – ICFUC
Mestre em medicina – PUCRS
Especialista em Metodologia do Ensino Superior -PUCRS
RESUMO
Este estudo nos leva a refletir sobre as contribuições das intervenções do psicólogo hospitalar frente ao tratamento de doenças crônicas que muitas vezes podem ser fatais, evidenciar se dentro dos hospitais existe o conhecimento e a compreensão da importância desse trabalho e da humanização dentro deste contexto. Este artigo tem como objetivo principal ressaltar as estratégias que auxiliem o paciente e seus familiares a lidar com os cinco estágios emocionais que geralmente estão presentes nestas situações. Para a elaboração deste artigo foi realizada uma pesquisa bibliográfica considerando as contribuições de autores como CHIATTONE (2006) RUSSO (2006) e STRAUB (2014), entre outros, dando ênfase na necessidade de utilizar os conhecimento de teorias psicológicas para proporcionar uma melhor adaptação do paciente ao tratamento, de forma a promover a reabilitação social desse individuo, assim como dar suporte a família que na maioria das vezes se sente impotente para ajudar o familiar que esta hospitalizado.
Palavras-chave: Doenças Crônicas. Humanização. Psicólogo Hospitalar
Introdução
Este trabalho evidencia a importância das contribuições do psicólogo hospitalar frente ao tratamento de doenças crônicas e fatais, utilizando-se de uma abordagem humanizada e atuando juntamente com o paciente, familiares, parceiros e cuidadores.
Com base neste contexto, construiu-se a questão que orienta este trabalho:
- Dentro do âmbito hospitalar existe o conhecimento e a compreensão da dimensão do trabalho do psicólogo hospitalar frente aos pacientes crônicos?
Atualmente há inúmeros estudos e pesquisas voltados para o tratamento e acompanhamento das pessoas portadoras de doenças crônicas, que geralmente é realizado através de equipes multidisciplinares dentro das instituições de saúde. Dentre os inúmeros profissionais que atuam diariamente com esses pacientes, os psicólogos da saúde vêm se destacando, já que estes se baseiam na perspectiva biopsicossocial.
O modelo biopsicossocial pode ser considerado um conceito multifatorial, já que visa o estudo da causa ou o desenvolvimento de doenças, através da interação dos processos biológicos, psicológicos e sociais. Sendo assim, é possível compreender a doença e identificar as suas causas e também as conseqüências nos múltiplos âmbitos do homem.
Conforme Silva,
“O foco neste modelo não é apenas a doença em si e o tratamento delas, mas todos os aspectos que estariam diretamente relacionados ao fenômeno do adoecer, sejam eles fisiológicos, psicológicos, sociais, ambientais, dentre outros, os quais também devem ser considerados para que o tratamento seja eficaz” (SILVA et al. 2011).
De acordo com o contexto, este estudo tem por objetivo evidenciar a diferença entre psicólogo da saúde e psicólogo hospitalar, definir algumas etapas referentes a doenças crônicas e evidenciar estratégias utilizadas pelo psicólogo hospitalar para auxiliar os pacientes crônicos durante o seu processo de adoecimento, de modo a minimizar o seu sofrimento e prestar assistência aos seus familiares e muitas vezes à equipe hospitalar e cuidadores que terão que lidar diretamente com o paciente.
Para a elaboração deste trabalho e êxito nos objetivos propostos, foram abordadas concepções de autores como: Chiattone (2006), Coelho (2001), Martins (2004), Russo (2006), Silva (2011), Straub (2014), Tardivo (2006) e Volpato (2007).
Desenvolvimento
Antes de aprofundarmos sobre o assunto é preciso diferenciar a psicologia da saúde e a psicologia hospitalar, sendo que há ultima é de definição exclusivamente brasileira, sendo assim, não haverá nenhum registro desta em literaturas estrangeiras.
A psicologia da saúde pode ser compreendida como uma especialidade da psicologia que tem por intuito melhorar a percepção a respeito dos temas referentes à saúde. Ela utiliza de seus princípios, suas técnicas e seus conhecimentos científicos para realizar avaliações, diagnósticos, tratamentos e prevenções de problemas físicos, mentais, entre outros que possam interferir no processo de saúde e doença. O trabalho do psicólogo da saúde pode ser realizado em vários contextos além de hospitais, como centros de saúde voltados para a comunidade, organizações não-governamentais e também nas próprias casas dos indivíduos.
De acordo com o Conselho Federal de Psicologia CFP, o profissional que se especializou em psicologia hospitalar assume características e funções voltadas nas áreas secundarias e terciárias de atenção à saúde, atua em instituições de saúde, realizando atendimento psicoterapêutico individual e grupal, grupos de psicoprofilaxia, pronto atendimento, enfermarias em geral, atendimentos ambulatoriais e em unidade de terapia intensiva, entre outros. São profissionais que visam tratar dos aspectos psicológicos que permeiam o adoecimento, ou seja, os profissionais que ajudam e/ou auxiliam o paciente durante o decorrer da doença e suas conseqüências.
É imprescindível que o psicólogo hospitalar atue como um mediador da humanização, o resgate do respeito à vida, visando tratar não só a doença, mas sim o doente, as circunstâncias sociais, educacionais, éticas, emocionais e psíquicas, levando em conta que sempre que ocorre um processo de hospitalização o paciente acaba se distanciando da sua rotina, alterando os vínculos com o meio externo, especialmente em casos de doenças crônicas e terminais.
Martins (2004, p. 66), conceitua a humanização:
A humanização do ambiente físico hospitalar, ao mesmo tempo em que colabora com o processo terapêutico do paciente, contribui para a qualidade dos serviços de saúde prestados pelos profissionais envolvidos.
Podemos dizer que a humanização, o cuidado integral tem uma grande valia no tratamento de doenças crônicas, pois como esta não pode ser resolvida num curto período de tempo costumar afetar de forma profunda o convívio do paciente com o mundo, ou seja, o paciente crônico é portador de uma doença que o acompanhará durante um tempo relativo da sua vida, em muitos casos não há cura então são realizados apenas tratamentos periódicos.
De acordo com Jane Russo (2006, p.190):
Ao sofrimento físico provocado por uma doença se acrescenta o sofrimento moral da pessoa que vê seu funcionamento no mundo comprometido: um homem que não consegue cumprir com seu papel de provedor da família, uma mãe que não consegue cuidar apropriadamente dos filhos, um trabalhador que não consegue realizar o que dele é esperado.
Coelho, (2001, p. 70) reforça essa teoria dizendo “não é a dor que a doença traz que incomoda, é algo mais subjetivo: é a dor de saber-se doente, de perder a condição de sadio.” Sendo assim, podemos compreender que o paciente vivencia a perda do corpo saudável, da capacidade de trabalho e não raras às vezes perda dos seus sonhos.
De acordo com Tardivo (2006), o psicólogo quando entra em contato com o paciente, em especial o que esta internado em função de uma enfermidade, deve lembrar que essa pessoa está vivendo um processo de perda. Na maioria dos diagnósticos de doença crônica paciente e familiares ao ter conhecimento da gravidade da situação passam por cinco estágios emocionais.
Estágios estes descritos por Kubler Ross (apud Volpato 2007):
“Ocorrem geralmente nesta ordem negação, revolta, barganha, depressão e por último aceitação.
- Negação: esse estágio funciona como uma defesa temporária, em que o sujeito não aceita seu diagnóstico e acredita que seus exames foram trocados e geralmente procurará outro serviço médico para realizar novos exames com a expectativa de que o diagnóstico inicial esteja errado.
- Revolta: nesse estágio o paciente tem um comportamento de pergunta: Porque eu? É difícil lidar com o indivíduo nesse estágio, visto que o paciente projeta toda sua raiva à equipe de saúde e aos familiares.
- Barganha: esse estágio acontece em um período de tempo muito curto e há uma tentativa de adiamento, em que muitos pacientes decidem barganhar através de uma meta auto-imposta.
- Depressão: existem dois tipos de depressão: depressão reativa que é uma aflição no que diz respeito a enfrentar a ideia da morte e a depressão preparatória que aparece no doente crônico com a morte simbólica, isto é, as perdas impostas pelo próprio processo de adoecimento.
- Aceitação: nesse estágio o indivíduo está cansado, a luta e a dor cessam, dando lugar a um sentimento de desejo de permanecer sozinho. No caso da doença crônica a aceitação se relaciona com a permanência da doença.”
O psicólogo hospitalar é o profissional que deve compreender o adoecer e a evolução da doença, lembrando das particularidades de cada paciente. Utiliza de seus saberes e técnicas voltados para a melhora da assistência integral do sujeito hospitalizado. Auxilia este e seus familiares frente às questões emocionais e os efeitos da doença crônica como limitações, sofrimentos, mudanças obrigatórias, medo da morte e inúmeros sentimentos frente a situações vivenciadas.
(CHIATTONE, 2006, p. 32) ressalta a importância de dar assistência psicológica á família do paciente. No hospital, o psicólogo hospitalar também realizará avaliação e atendimento psicológico aos familiares, de modo à apoia-los e orientá-los em suas dúvidas, angústias, e temores. Junto à família, o psicólogo deve atuar apoiando e orientando, possibilitando que se reorganize de forma a poder ajudar o paciente em seu processo de doença e hospitalização.
Outro ponto importante no trabalho do psicólogo hospitalar é proporcionar uma melhor adaptação do paciente ao tratamento, muitas vezes doloroso e invasivo, alguns pacientes passam a depender de máquinas, outros necessitam de intervenções cirúrgicas, medicamentos e dietas, há uma mudança significativa na rotina do paciente e na maioria das vezes na rotina familiar também.
Straub (2014) afirma que adesão de um tratamento é uma atitude e um comportamento. Como atitude se refere à disposição de seguir conselhos de saúde e como comportamento se relaciona com o cumprir realmente as recomendações e a não adesão seria uma recusa a aderência das instruções ou a falta de esforço prolongado para seguir um regime de acordo com o tratamento adequado.
Além de restabelecer o estado de saúde do paciente e controlar os sintomas que comprometem o seu bem-estar e auxiliar os familiares, há também um trabalho realizado com a equipe multidisciplinar.
A respeito disso Chiattone ressalta:
[...] a delimitação do papel profissional acompanha as expectativas dos outros membros da equipe quanto ao papel que o profissional em questão deve exercer, acrescidas das próprias expectativas do profissional sobre sua capacidade de realização e de interpretação das expectativas dos outros. Em geral, no hospital geral, é muito comum ocorrerem conflitos em equipes compostas por profissionais com distintos graus de instrução e conhecimentos sobre as outras especialidades, sendo que o potencial conflitivo torna-se aumentado se não houver compreensão das capacidades dos membros, se o profissional visualizar a tarefa como invasão de terreno dos outros profissionais, se assumir um comportamento defensivo em prol das prerrogativas profissionais e se acreditar na falha de utilização plena das qualificações dos outros membros. (CHIATTONE, 2006, p. 33)
A psicologia hospitalar se tornou uma ponte que auxilia e interfere de modo satisfatório no diagnóstico de uma doença crônica. É inegável que as atividades desempenhadas por psicólogos hospitalares além de todas as outras contribuições já ressaltadas trazem inúmeras outras contribuições tanto para pacientes, familiares e equipes de saúde.
Conclusão
De acordo com o exposto pode-se concluir que o psicólogo hospitalar através de seus saberes e técnicas dentre outras atividades auxilia o paciente crônico a se familiarizar com o seu processo de hospitalização, ou seja, ajuda o paciente na adaptação ao tratamento.
Os psicólogos hospitalares atuam de modo que aja uma melhor integração, sendo assim, ajudam a facilitar o diálogo entre paciente, família e equipe profissional no esclarecimento de suas dúvidas e incertezas, assim é possível estabelecer as melhores condições de atendimento aos pacientes, familiares e melhor desempenho das equipes de saúde no hospital.
Portanto, podemos dizer que dentro deste contexto o psicólogo se faz presente durante as vivencias do paciente, suas inquietações e conflitos que permeiam a condição do adoecimento e influenciam nos estágios emocionais frente a constatação de doença crônica. Tem como intuito tratar o sofrimento do paciente e assim atua de modo favorecer a aquisição de uma nova percepção da sua realidade amenizando assim a situação de dor e sofrimento, por isso o atendimento prestado é realizado com base na humanização, sempre respeitando os limites de cada paciente sem deixar de oferecer um tratamento digno e humano.
REFERÊNCIAS
CHIATTONE, Heloisa Benevides de Carvalho. A significação da psicologia no contexto hospitalar. In V.A. Camom (Ed.). Psicologia da saúde: um novo significado para a prática clínica (pp. 73-167). São Paulo: Thomson. 2006.
CFP – Conselho Federal de Psicologia. Página oficial da Instituição, 2016. www.pol.org.br. Acesso em 05/01/2017.
COELHO, Marilda Oliveira. In CAMON, V.A.A. (Org.). Psicossomática e a psicologia da dor. Pioneira, São Paulo, 2001
MARTINS, Vânia Paiva. A humanização e o ambiente físico hospitalar. Anais do I congresso nacional da abdeh – IV seminário de engenharia clínica – 2004.
RUSSO, Jane. Do corpo-objeto ao corpo-pessoa: desnaturalização de um pressuposto médico. In: Alicia Navarro de Souza e Jacqueline Pitanguy (Orgs.), Saúde, corpo e sociedade. (pp. 183-194). Rio de Janeiro: Editora da UFRJ. 2006.
SILVA, K. Viana, H. Paulino, L. Perspectivas, reflexões e desafios dos modelos biomédico e biopsicossocial em psicologia. Trabalho apresentado no 16º encontro da ABRAPSO em 2011. Disponível em: www.encontro2011.abrapso.org.br. Acesso em: 12/12/2016.
STRAUB, Richard O. Psicologia da Saúde. Porto Alegre: Artmed, 2014.
TARDIVO, Leila Cury. O encontro com o sofrimento psíquico da pessoa enferma: O psicólogo clínico no hospital. In: LANGE. Contribuições à psicologia Hospitalar: desafios e paradigmas. Cap2.