AS CONTRIBUIÇÕES DO JOGO E DA BRINCADEIRA NA SALA DE AULA DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Por Aline Benevides de Autran Nunes | 15/09/2016 | Educação

INTRODUÇÃO

O jogo faz parte do cotidiano da sociedade; estando presente em diferentes momentos históricos e contextos sociais, hora proporcionando prazer, noutras como meio pedagógico. Mas qual é a importância do mesmo no desenvolvimento da criança, principalmente, ao ingressar na pré-escola? Quais são as suas contribuições na aquisição de conceitos educacionais?

A importância da aprendizagem na vida do indivíduo varia, enormemente, de uma espécie para outra. Entre os animais irracionais, as atividades aprendidas constituem apenas uma proporção relativamente pequena das reações totais do organismo. A aprendizagem é lenta, de pequena extensão e sem grande importância na vida animal.

Na vida humana a aprendizagem se inicia no nascimento e se prolonga até a morte. Logo que a criança nasce, em poucos dias, aprende a chamar sua mãe com seu choro. No fim do primeiro ano, familiariza-se com os objetos que formam seu novo mundo, adquiriu certo controle sobre suas mãos e pés e, ainda, tornou-se iniciada no processo de aquisição da linguagem falada.

Na maioria dos estudos sobre o tema que está sendo abordado, tem-se a oportunidade de conhecer meios favoráveis para a aprendizagem de uma criança, como a utilização de jogos pedagógicos no processo de ensino aprendizagem, pois tanto o jogo, como o lúdico trazem para a criança a oportunidade de criar, fantasiar, e trabalhar com o concreto. Essas são práticas que permitem ao aluno construir seu conhecimento.

O presente trabalho tem como objetivo analisar alguns dos diversos conceitos existentes sobre os temas abordados que são a recreação, o lazer, o jogo e a brincadeira. Desta forma, deixando claro e concreto a sua importância para a educação e o desenvolvimento físico, psíquico e social das crianças.

Procurou-se verificar a influência da utilização de jogos, na intenção de ofertar situações de aprendizagem que envolva a leitura de mundo e favoreça o processo de ensino aprendizagem como objeto social do conhecimento. É necessário oportunizar a criança, para que a mesma consiga avanços em seu processo na busca da aquisição da aprendizagem.

Espera-se que este trabalho consiga transpor barreiras e que possa ajudar os profissionais da área e os próprios educandos, promovendo a confiança, para vencerem os desafios e seus problemas relativos à aprendizagem. Dessa maneira, devemos refletir permanentemente a nossa prática, buscando meios de aperfeiçoá-la.

O jogo é uma possibilidade de desenvolver o afetivo, o motor, o cognitivo, o social, o moral, bem como a aprendizagem de conceitos. Quando se discute o uso de jogos na educação, aparecem duas correntes. Há autores que só destacam importância e há outros que assinalam limites e cuidados. É importante essa ressalva, porquanto no contexto educativo, o jogo deve ser usado de maneira justa para que não venha substituir a realidade.

            Um dos autores mencionados no trabalho foi Piaget que no seu entendimento da teoria da psicologia genética, menciona em várias expressões que "o brincar representa uma atividade por meio da qual a realidade é incorporada pela criança e transformada quer em função dos hábitos motores, quer em função das necessidades do seu eu que é o simbólico ou em função das exigências de reciprocidade social, jogos de regras".

            Já para Vygotsky, o brincar tem origem na situação imaginária criada pela criança, em que desejos irrealizáveis podem ser materializados com a função de reduzir a tensão e ao mesmo tempo, de construir uma maneira de acomodação de conflitos e frustrações da vida real. Logo é importante entender o lugar que o jogo ocupa para que possa ser usado de forma adequada. Ele só é educativo quando o educador o desenvolve com objetivo e intencionalidade, caso contrário é apenas uma brincadeira.

É comprovada também a importância da interação no ato da aprendizagem, tanto no contexto social, familiar e educacional, quanto mais a criança é estimulada dentro do ambiente em que convive, menos dificuldade encontra no seu processo de aprendizagem. Os estudos relativos à aprendizagem no contexto atual são os mais diversos. Isso demonstra a grande preocupação dos estudiosos no sentido de fazer com que o estudante seja um autêntico construtor do seu conhecimento.

E um dos caminhos para fazer frente à realidade congelada e opressiva de muitas escolas e trazer à tona a busca de uma educação político-estética, que tenha como frente à visão do homem como ser simbólico, que se constrói coletivamente e cuja capacidade de pensar está ligada à capacidade de sonhar, imaginar, jogar com a realidade.

Por fim, nota-se que a escola deve incentivar a prática dos jogos, do lazer, da recreação, do lúdico para que o aluno saiba reconhecer nessas atividades verdadeiros e fortes instrumentos de inserção social. Seu contato com esse conhecimento diferenciado e prazeroso será permanente e constante em sua vida.

 1- APRENDIZAGEM ATRAVÉS DE JOGOS E DAS BRINCADEIRAS

 

A aprendizagem pode ser definida como uma modificação sistemática do comportamento, por efeito das práticas ou experiências, com um sentido de progressiva adaptação ou ajustamento. Não está sendo citado somente o sentido de reação explícita ou de ação direta sobre o ambiente físico, como manipular, locomover-se, juntar coisas, separá-las, construir, mas também, no sentido de reações simbólicas, que tanto interessam à compreensão da vida social, observadas em gestos, na fala, na linguagem gráfica, como, ainda, nos comportamentos implícitos, que as reações simbólicas venham a permitir.

Por outro lado, o termo prática não significa repetição de uma reação qualquer, mesmo porque repetições dessa espécie jamais ocorrem no transcurso da aprendizagem. Prática significa a reiteração dos esforços de quem aprende no sentido de progressiva adaptação ou ajustamento a uma nova situação que se ofereça.

            A eficiência da aprendizagem está condicionada à existência de problemas, que surgem na vida do educando, que lhes dêem a impressão de fracasso e que o levem a sentir-se obrigado a resolvê-los. Na busca e obtenção dessas soluções, o educando aprende de fato, e não apenas, memoriza fórmulas feitas sem nenhum efeito no ajustamento de sua personalidade.

            A aprendizagem envolve o uso e o desenvolvimento de todos os poderes, capacidades, potencialidades do homem, tanto físicas, quanto mentais e afetivas. Isso significa que aprendizagem não pode ser considerada somente como processo de memorização ou que emprega apenas o conjunto das funções mentais ou unicamente os elementos físicos ou emocionais, pois todos estes aspectos são necessários.

            Não é um processo de absorção passiva, pois sua característica mais importante é a atividade daquele que aprende. Portanto, a aprendizagem só se faz através da atividade do aprendiz. É evidente que não se trata apenas de atividade externa física, mas, também, de atividade interna, mental e emocional, porque a aprendizagem é um processo que envolve a participação total e global do indivíduo, em todos os seus aspectos tanto físicos, intelectuais, emocionais como sociais.

            Na escola, o aluno aprende pela participação em atividades. Os educadores utilizam e incentivam a prática do jogo como forma de aperfeiçoar o desenvolvimento infantil. Pode-se afirmar que os jogos estão adquirindo gradualmente uma nova dimensão, como função geradora de cultura e superadora de dificuldades sociais, emocionais e até mesmo de hábitos e atitudes, manifestando-se em diferentes contextos sociais.

 A criança é um ser que imita, brinca, fantasia, e o jogo é o símbolo da autonomia do ser humano. Não se deve impedir a autonomia e ação livre ao brincar, visto que o jogo é um recurso que ensina, desenvolve e educa de forma prazerosa, como também desenvolve capacidade de observação, concentração e autoconfiança. Assim como viver em harmonia com os outros, aprendendo a se adaptar a novas situações, a seguir regras e a conviver com as perdas e vitórias.

Os jogos simbólicos também se tornam um essencial elemento na construção da aprendizagem, visto que são brincadeiras em que um objeto qualquer representa um objeto ausente. As crianças bem pequenas brincam de faz de conta, neste momento ela limita-se a fazer de conta que exerce uma de suas ações habituais, como: dormir, lavar-se, alimentar-se entre outras coisas.

Para o autor Ramos (2000, p. 37), a função lúdica educativa está presente nos jogos e brincadeiras sejam eles espontâneos ou dirigidos, ou seja, mesmo nas atividades lúdicas espontâneas a função educativa está presente, considerando que ainda que sem comprometimento com a produção de efeitos educativos as atividades espontâneas são naturalmente educativas por ajudar na sua formação e desenvolvimento integral (físico, intelectual e moral), na constituição da sua individualidade e na formação do seu caráter e da sua personalidade, implicando, portanto, sempre em alguma aprendizagem seja de regra de jogo, de agir adequado, de compreensão de sentimentos, da relação com o outro ou com o mundo.

No contexto educacional, os jogos das crianças devem ser tratados com seriedade e utilizados como instrumento de grande valor pedagógico, vez que é enorme a influência do brinquedo e do jogo no desenvolvimento geral da criança. Seu desenvolvimento depende do lúdico, ela precisa brincar para crescer, pois utiliza o jogo como forma de equilíbrio com o mundo.

  • A História dos Jogos e Brincadeiras

 

As brincadeiras foram por muito tempo consideradas coisas sem importância. No período pré- histórico, as atividades humanas desenvolvidas tinham como características o movimento corporal. Através dele, eram desenvolvidas as atividades como pesca, a caça, a dança, etc.

A dança tinha uma característica lúdica muito forte, era muito desenvolvida na sociedade primitiva. Os rituais tinham conotação alegre, eram dramatizados e contavam com a participação da criança. Dessa forma, as sociedades primitivas preparavam os pequenos para assumir o seu papel na vida adulta.

Alguns jogos infantis populares eram praticados na Antiga Roma, como os de argolas, cabra-cega e o cabo de guerra. O xadrez se originou na Ásia chegando à Pérsia no século VI. Em seguida se difundiu entre os árabes, que o levaram à Espanha, de onde alcançou toda a Europa.

Os jogos e as brincadeiras são chamados de atividades lúdicas, proporcionadoras de divertimento desde os tempos mais remotos. Quase todas as crianças e adultos gostam de praticar algum jogo ou brincadeira. Para as crianças os jogos e brincadeiras são uma resposta ao mundo que as rodeia.

Na Idade Média, a partir dos sete anos as crianças passavam a ter responsabilidade e progressivamente aproximavam-se dos adultos. Até aproximadamente o século XIII as crianças apareciam representadas nas expressões artísticas, como adultos em miniatura, com vestimentas e atitudes tipicamente adultas.

Nos séculos XVII e XVIII, movimentos culturais e religiosos como o iluminismo e protestantismo deram lugar ao descobrimento da infância, sua consideração como etapa diferente da idade adulta e seu tratamento também diferenciado.

As concepções fatalistas e predeterminadas da vida humana vão desaparecendo, e vai surgindo um ser, protagonista de sua própria história e existência. À criança passa a ser permitida uma atividade que interagia com o ecossistema favorecendo a construção progressiva e contínua do conhecimento e desenvolvimento.

Os avanços do industrialismo, as conquistas dos movimentos trabalhistas e os interesses dos empresários foram se unindo para conferir à infância um status como período claramente diferenciado e, sobretudo uma evolução no conceito de adolescência, como época diferenciada tanto da infância como da idade adulta. Foi também favorecido por certa generalização do ensino elementar que posteriormente foi se tornando obrigatório.

Atualmente a imagem da infância é enriquecida com o auxílio de concepções psicológicas e pedagógicas, que reconhecem o papel de brinquedos, brincadeiras e jogos no desenvolvimento e na construção do conhecimento infantil.

Segundo Negrine vários autores fazem comentários a esse respeito:

  • Para Freud, Melanice Klein e S. Hall, os jogos são de origem biológica;
  •  Para Winnicott, Elkonin e Vygotsky, de origem social.
  •  Para Garvey (1977, p. 62), o jogo é ao mesmo tempo produto e marca da herança biológica do homem e da sua capacidade criadora da cultura.
  •  Wallon e Piaget opinam que o conteúdo dos jogos varia segundo o meio físico e social da criança. “Na visão de Sheterev, os jogos são um fenômeno histórico no desenvolvimento da cultura humana”.

Depois de observar as diferentes abordagens, podemos constatar que os autores, apesar de apresentarem pontos de vistas diferentes sobre a natureza e a classificação dos jogos, parecem convergir em relação ao valor destes, concordando que o jogo desempenha um papel importante no desenvolvimento da criança.

A comprovação dessas investigações, no entanto, pouco tem influenciado na estruturação curricular, uma vez que as instituições de ensino, ainda, têm explorado pouco o jogo como recurso pedagógico para a construção da aprendizagem.

  • Jogo: Facilitador do Desenvolvimento e da Aprendizagem.

Muitos estudos científicos nos últimos anos passaram a considerar o jogo como um elemento importante na vida da criança, uma vez que este faz parte inerente do processo de desenvolvimento infantil, cognitivo e afetivo-emocional; cria os alicerces da compreensão e utilização de sistemas simbólicos assim como também desenvolve a capacidade e a habilidade em perceber, criar, manter e desenvolver laços de afeto e confiança no outro.

Goraigordobil (1990) destaca as contribuições do jogo no desenvolvimento integral, indicando que ele contribui poderosamente no desenvolvimento global da criança e que todas as dimensões do jogo estão intrinsecamente vinculadas: a inteligência, a afetividade, a motricidade e a sociabilidade são inseparáveis, sendo a afetividade a que constitui a energia necessária para a progressão psíquica, moral, intelectual e motriz da criança.

Do ponto de vista intelectual, o jogo estimula o desenvolvimento das capacidades de pensamento e a criatividade infantil; do ponto de vista psicomotor, distingue o jogo como principal fator no desenvolvimento da força, do controle muscular, do equilíbrio e dos sentidos em geral; do ponto de vista da sociabilidade, o jogo é uma atividade que implica relação e comunicação entre os iguais, contribuindo para que a criança conheça as pessoas que a rodeiam e aprenda normas de comportamento social; do ponto de vista afetivo, o jogo é uma atividade de treinamento que permite à criança se expressar livremente.

O jogo propicia o desenvolvimento da autonomia moral, quando a criança se propõe a jogar é possível observar a dinâmica da aprendizagem. O autor Winnicot cita que “é no jogo que a criança relaciona as idéias com a função corporal”. Utilizam-se os jogos para observar vários aspectos que podem ter levado a uma patologia no aprender, já que:

  • O espaço de aprendizagem e o espaço de jogar são coincidentes;
  • Ambos os processos têm os seguintes momentos: inventário, organização, integração.
  • A modalidade desenvolvida no jogo e o tipo de tratamento do objeto realçam o processo de aprendizagem.
  • O brincar possibilita o desenvolvimento das significações de aprender.

Os jogos influenciam diretamente no processo de crescimento do indivíduo, pois as crianças em desenvolvimento devem ser estimuladas para o desejo de aprender e os jogos têm uma influência concreta nas várias idades como:

  • Jogos de exercícios Sensórios – Motor

A atividade física deste tipo de jogo está intimamente ligada a exercícios motores, pois propicia o amadurecimento do aparelho motor. Os movimentos que estes jogos apresentam como agarrar, segurar, encaixam lançar objetos entre outros, têm como características o prazer funcional. Esses exercícios motores se constituem na manipulação de objetos, na movimentação do corpo e na repetição de gestos com o objetivo de explorar o ambiente e as situações novas. Piaget cita que: “quase todos os esquemas sensório-motores dão lugar a um exercício lúdico”.

  • Jogos Pré – Operatórios

Segundo a teoria de Piaget, a criança de 2 a 7 anos encontra-se no estágio denominado por ele de estágio pré-operacional, e é dentro desta faixa etária que aparece o jogo simbólico, também conhecido como jogo de ficção, imitação ou imaginação.

O jogo simbólico se desenvolve a partir dos esquemas sensório – motores que, na medida em que vão sendo interiorizados, dão origem à imitação e depois à representação de papéis ou acontecimentos. Nesta classificação estão incluídos os jogos de transformação de objetos.

  • Jogos Operatório – Concreto – de Regras

Este tipo de jogo tem início, segundo Piaget, por volta dos 4 anos de idade, mas alcança pleno desenvolvimento na fase entre 7 e 11 anos de idade e predomina por toda a vida do indivíduo (Piaget, 1975, p. 42). Jogos de regras são jogos de combinações sensório-motoras (corridas, jogos de bola de gude ou com bolas entre outras) ou intelectuais (baralho, memória etc.). Os jogos de regras supõem relações sociais. Esse tipo de jogo pressupõe a existência de parceiros e de regras a serem seguidas ou combinadas, o que lhe confere um caráter predominante social.

A criança brinca pelo prazer não por responsabilidade e as consequências desse brincar são bastante positivas quando bem acompanhadas e direcionadas, fazendo as intervenções necessárias. No brincar os objetivos, meios e resultados tornam-se leves, porque a brincadeira envolve de uma forma que o processo acontece espontaneamente.

O brincar promove habitualmente o lúdico, envolve o educando no mundo de encantamentos ao mesmo tempo em que promove a aprendizagem significativa. Sobre os processos de aquisição da aprendizagem ou do desenvolvimento Macedo (2003) aponta cinco indicadores: Prazer Funcional, Desafio, Possibilidade, Simbolismo e Construtivo, que permitem aferir a presença do lúdico. 

           

2 - EDUCAÇÃO INFANTIL E APRENDIZAGEM

 

Para o Ministério da Educação a criança tem o direito social à educação. Todas as crianças de zero a seis anos de idade conquistaram o direito legal de serem atendidas gratuitamente em creches e/ou instituições públicas de Educação Infantil.

Esse dever de ofertar escola gratuita e de qualidade para essa faixa de idade é de responsabilidade do Poder Público Municipal e deve ser ofertada com qualidade. Conforme os PCNS a qualidade de Educação Infantil diz respeito ao papel privilegiado que assume o professor nos processos de desenvolvimento, aprendizagem e bem estar das crianças.

      Segundo Nunes e Brayant, (1997, p. 65), apud Andrade e leitão (2000, p. 21). mostram que: É fundamental, portanto que a instituição de Educação Infantil possibilite, a partir de ações didático-pedagógicas desenvolvidas pelos professores, as condições necessárias para que as crianças sistematizem, organizem e ampliem seus conhecimentos já construídos de modo significativo e contextualizado, comuniquem suas idéias e suas representações, enfim, instrumentalizem-se para compreender seu mundo e viver melhor.

E o lúdico é essencial na aplicação das ações didáticas, as brincadeiras simbólicas que começam a se manifestar na fase final do período sensório motor. Cabe aos professores incentivar dentro do espaço da sala de aula o faz de conta, dispondo para o educando materiais que viabilizem essa brincadeira.

Toda brincadeira deve ser entendida como uma atividade que envolve uma situação imaginaria e que de certa forma tem regras. Ela fornece a integração com os demais participantes além de exercitar suas capacidades motoras, intelectuais entre outras.

Além do brincar criar uma situação imaginária, a criança descobre e assume vários papéis, onde desse modo ela tem a oportunidade de abandonar o seu comportamento no campo perceptivo imediato e passa por um novo campo que mostra significados, aprendendo a agir em uma esfera cognitiva, onde nesse momento são extremamente essenciais as motivações e intervenções promovidas pelo professor.

Para Vigotsky, (1998 p. 17), a brincadeira se apresenta desta forma: Como uma relação intrínseca com relação ao desenvolvimento infantil, especialmente na idade pré-escolar, já que cria uma zona de desenvolvimento proximal (ZDP), ao possibilitar, à criança, comporta-se fora do habitual de sua idade. Brincando a criança lida com situações de amadurecimento (elaboração de regras) que a conduzirão, em um momento posterior, a um novo patamar de desenvolvimento. Portanto, proporcionar oportunidades diversas para que a criança possa brincar livremente é também favorecer o seu desenvolvimento.

Piaget (1978) diz que o jogo faz parte da brincadeira e que nesse período da Educação Infantil são observados três sucessivos sistemas de jogos:

  • Jogos de exercícios que se referem à atividade de prazer funcional ou da assimilação: aparecem durante os primeiros dezoito meses e se prolongam por toda a infância. Constituem-se em jogos de caráter lúdico e cuja atividade é muito simples como: Lançar objetos, encher e esvaziar um recipiente com areia ou água e, mais tarde, dividir um todo e reconstruí-lo.
  • Jogos simbólicos só surgem no segundo ano de desenvolvimento e se dão através do aparecimento da representação e da linguagem. Com o surgimento do jogo simbólico a criança ultrapassa a simples satisfação da manipulação, assimilando a realidade externa ao seu eu. Não importa a realidade como ela é, mas o que pode parecer que é: Isso acontece, quando a criança manipula um objeto como lápis, fazendo dele um cavalo, uma boneca, uma comida. Ela faz de um objeto real uma representação. É também comum, que nessa fase as histórias sejam imaginadas, criadas e contadas por elas mesmas.
  • Jogos de regras marcam a transição da atividade individual para socializada. Eles se desenvolvem durante toda a vida. As regras podem ser transmitidas, isto é, impostas de acordo com cada realidade cultural e social, passadas de geração a geração. Já as regras espontâneas são construídas mediante aquele momento de vivência com os outros e podem ser mudadas de acordo com o grupo.

2.1 – Os jogos, brincadeiras e o desenvolvimento das habilidades.

 

            Na atualidade sabe-se que as brincadeiras e jogos infantis são representações da vida real da criança e que ajudam a desenvolver sua capacidade de imaginar, pensar e agir por si própria sem depender de outro para ensinar. Essas atividades são essenciais na formação integral da criança, principalmente quando ela está na fase de desenvolvimento escolar.

            Brincando a criança aprende e se desenvolve, limites vão sendo estabelecidos, tendo oportunidade de interagir com os membros participantes da brincadeira, do jogo. O educando também assimila os dados da sua cultura. O brincar é fundamental para o crescimento infantil e deve estar presente nas atividades cotidianas das crianças. É importante que na escola o professor possibilite à criança brincadeiras livres e mediadas.

            A criança não deve brincar só por brincar, toda brincadeira deve ter objetivos e estimular habilidades, quando bem trabalhadas, orientadas, a aprendizagem vai acontecendo de forma prazerosa e flui naturalmente.

            Independente do brinquedo, o que se reforça é o uso que a criança faz desse instrumento, que é divertir, experimentar, explorar todas as possibilidades que aquele objeto pode proporcionar. Em alguns casos os adultos se preocupam muito com o objeto, às vezes busca-se um objeto caro, mas sem nenhum valor educativo, sendo inadequado para o seu filho. Estar atento a esses detalhes é importante tanto para os pais como para os educadores, escolher o brinquedo adequado, com as funções que se quer obter é fundamental para a aquisição da aprendizagem.

            Brougere, (1990), relata sobre o brinquedo:

Manipulação, posse, consumo... O brinquedo introduz a criança nas operações associadas ao objeto. A apropriação se inscreve num contexto social: O brinquedo pode ser mediado de uma relação com outra ou com uma atividade solitária, mas sempre sobre o fundo da integração a uma cultura específica. Além disso, é suporte de representações, introduzindo a criança no universo de sentidos e não somente de ações. O brinquedo valoriza hoje o imaginário em detrimento de um realismo estreito. O mundo representado é mais desejável que o mundo real. A brincadeira aparece, assim, como um meio de sair do mundo real para descobrir outros mundos, para se projetar num universo inexistente. (BROUGÉRE, 1990, p. 68). 

Pensar a Educação Infantil implica considerar a importância do jogo, da brincadeira e do brinquedo para o processo de ensino aprendizado.

Segundo Moura (1992), o educador pode dispor de diversas ferramentas:

A atividade é orientada no sentido de criar possibilidades de intervenção que permitem elevar o conhecimento do aluno. Dessa maneira, todo e qualquer material utilizado para o ensino é ferramenta para ampliar a ação pedagógica. O jogo, o material estruturado, o quebra- cabeça, o problema que serve para aplicação matemática no cotidiano, o problema – desafio, as histórias virtuais são ferramentas do educador, tanto quanto instrumentos que permitem amplificar e organizar a nossa comunicação: retroprojetor, vídeos, rádio, computadores.... ( MOURA, 1992, p. 84).

O lúdico trabalhado dentro da escola de forma ordenada e planejada pode ser um instrumento de suma importância na aprendizagem, no desenvolvimento, cognitivo, afetivo e social na vida da criança.

Se considerarmos que a criança pré-escolar aprende de modo intuitivo, adquire noções espontâneas, em processos interativos, envolvendo o ser humano inteiro com suas cognições, afetividade, corpo e interações sociais, o brinquedo desempenha um papel de relevância para desenvolvê-la. (Kishimoto, 1997, p. 36).

Através das atividades lúdicas, principalmente dos jogos as crianças aprendem novos conhecimentos, tanto para satisfazer os conteúdos curriculares, como para desenvolver as suas habilidades nos mais diferentes aspectos. Porque o jogo é uma atividade mais organizada, ele tem esse caráter de prazer, da diversão, envolve conceitos, envolve uma aprendizagem pelas regras e vivências estabelecidas no jogo. Outro fator importante para que o educando explore o jogo em todas as suas possibilidades é a relação de motivação que deverá existir no momento do jogo, onde se dá o processo de aprendizagem. O professor além de mediador deve ser um motivador constante para que a criança consiga obter resultados positivos.

3 - AS BRINCADEIRAS E JOGOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL

 

Acredita-se que as brincadeiras e os jogos são excelentes instrumentos para que o professor cumpra com maestria a sua tarefa de ensinar os conteúdos, desenvolver as habilidades e competências e cuidar dos relacionamentos, superando problemas atuais de alguns educandos que apresentam dificuldade de relacionamento, desinteresse pelo estudo e indisciplina.

            Crianças tratadas como adultos em miniaturas perdem a infância rapidamente, prejudicando diretamente o seu desempenho pessoal e social. Diante desta situação os jogos e brincadeiras propiciam viver essa infância, promovendo o contato com sentimentos necessários à criança, como: a alegria, o prazer, a criatividade, o lúdico, imaginação entre outros.

            Com a intenção de aproximar o aluno da escola e mantê-lo motivado neste ambiente, deve-se utilizar recursos que diversifiquem a prática pedagógica, buscando tornar o espaço da sala de aula aconchegante, divertido, descontraído, propiciando o aprender dentro de uma visão lúdica, criando um vínculo de aproximação entre o educador e o educando.

Para isso, faz-se necessário que o professor conheça o processo de desenvolvimento da criança, assim como as etapas que ela deve conquistar. Deve conhecer, também, como ocorre o processo de aquisição de conhecimento, a partir da teoria de Vygotsky, que muito contribuiu para que se chegasse à visão que temos hoje a respeito da importância do brincar no ambiente da sala de aula.

            Acredita-se que o conhecimento é uma construção coletiva e que o processo de aprendizagem suscita afetos e emoções, além das habilidades intelectuais, que permitem desenvolver competências e habilidades. O educando deve ser visto em sua totalidade levando em consideração no processo de aprendizagem os fatores que compõem este ser como: corporal, afetivo, cognitivo, social, estético, espiritual.

O autor Rizzo Pinto (1997, p.336) afirma que “não há aprendizado sem atividade intelectual e sem prazer”. Outro autor afirma que “é evidente que precisa-se de ambas as coisas, aprendizagem redundará, simplesmente, numa atividade às cegas; aprendizagem sem motivação resultará, meramente em inatividade , como o sono”.

Ao promover situações lúdicas, prazerosas, relaxantes, alegres e de reflexão o educando passa a observar que o processo de aprendizagem é algo que promove suas habilidades, mas de forma suave, não sendo tido como obrigação e sim como resultado de um conjunto de atitudes e procedimentos que resultarão neste objetivo.

O educador de educação infantil deve promover conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais, isso significa permitir que o educando relacione o conhecimento conceitual com a experiência cotidiana. Os parâmetros curriculares nacionais fala sobre isso:

“Cabe ao educador, por meio da intervenção pedagógica, promover a realização de aprendizagem com maior grau de significado possível, uma vez que esta nunca é absoluta, sempre é possível estabelecer relação entre o que se pretende conhecer e as possibilidades de observação, reflexão e informação (...).” (Parâmetros Curriculares Nacionais – v. 1- p.53).

Os jogos não são apenas uma forma de entretenimento, mas meios que contribuem e enriquecem o desenvolvimento intelectual (Piaget, 1976:160) afirma:

“O jogo é, portanto, sob as suas duas formas essenciais de exercício sensório-motor e de simbolismo, uma assimilação do real à atividade própria, fornecendo a esta seu alimento necessário e transformando o real em função das necessidades múltiplas do eu. Por isso, os métodos ativos de educação das crianças exigem que se forneça às crianças um material conveniente, a fim de que, jogando, elas cheguem a assimilar as realidades intelectuais que, sem isso, permanecem exteriores à inteligência infantil”.

            Toda aprendizagem que é mediada através do brincar, do lúdico, do construir em conjunto mostra resultados satisfatórios, porquanto os educandos não levam o peso da responsabilidade de aprender a ler e escrever em uma determinada faixa etária, e, além disso, a intervenção do professor no momento da brincadeira desenvolve em parceria com o aluno, a sua percepção, raciocínio, integração e o seu cognitivo.

            Os sociointeracionistas ressaltam a importância da brincadeira para o desenvolvimento e a aprendizagem de qualquer ser humano. O referencial curricular Nacional para Educação Infantil (RCNEI, 1998) estabelece a brincadeira como um de seus princípios norteadores e a define como um direito da criança para desenvolver seu pensamento e capacidade de expressão.

            Segundo Brougére (2001) as brincadeiras contribuem para a socialização das crianças e permitem o acesso a certos códigos culturais e sociais, necessários a um individuo social. É importante reiterar, dessa forma, que o brincar se desenvolve no seio de uma cultura, em um contexto social específico. Não é, portanto, uma atividade que define quem, onde, com o que e quando se brinca.

            Ao brincar a criança cria uma situação imaginária, desenvolve e exercita sua capacidade motora que é a coordenação dos movimentos, ritmos, equilíbrio, espaços, entre outros e também promove a integração com os colegas e o sentimento de aceitar o outro, respeitar o espaço, expressar vontades, negociar, recusar e entender os limites.

            Vygotsky (2001, p. 122) enfatiza que durante a brincadeira a criança abandona seu comportamento no campo perceptivo imediato e adentra o campo dos significados, aprendendo agir numa esfera cognitiva em vez de uma esfera visual externa, dependendo das motivações e tendências internas e não dos incentivos fornecidos pelos objetos externos.

            Com tudo que foi relatado fica claro            que por meio da brincadeira a criança consegue desenvolver suas habilidades e competência tanto no campo motor, cognitivo e afetivo. Promovendo desta forma uma aprendizagem significativa e dando oportunidade para que o aluno construa o seu processo.

           

 

 

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo destas páginas, comprova-se a importância das atividades de jogos e a necessidade de ser usada em sala de aula, sendo este, mediado por um profissional qualificado e motivado a explorar em todos os momentos e em qualquer conteúdo.

Por meio de atividades como: jogos da memória, encaixe, quebra-cabeça, bingo de letras, dentre outros, que são atividades prazerosas, simples, pode-se afirmar o ganho do desenvolvimento cognitivo, social e emocional da criança, principalmente quando estes recursos são acompanhados pelo professor vocacionado e preparado.

De uma criança ao chegar à escola, espera-se que ela se molde aos conteúdos, datas e programas escolares, para poder desta forma ser aproveitada e resgatada pela sociedade. Não seria mais fácil se a escola se planejasse e se organizasse aos moldes do mundo de conhecimento que a criança traz consigo?

Os autores consultados mostram como é importante que a escola procure desenvolver suas atividades, respeitando o contexto vivido pelo aluno, como também as diversas modalidades de reconhecimento de leitura e de escrita na vida do aluno, sabendo que experiências anteriores à sua chegada à escola são importantes para sua realização pessoal em sala de aula.

            Durante o processo que envolve a confecção de jogos e sua aplicabilidade, surgirão situações inesperadas, haja vista que cada momento é único e possui características próprias e o professor poderá ter novos objetivos a alcançar, criando muitas possibilidades para ampliar os recursos mediante esse período.

            O uso dos jogos educativos no ensino das diversas disciplinas é bastante significativo, visto que desenvolve as habilidades dos educandos, bem como o seu raciocínio lógico, a sua integração e a participação enquanto ser ativo e participativo do seu processo de aprendizagem.

Ao finalizar esta pesquisa, denota-se que as atividades devem ser pensadas e aplicadas de acordo com a realidade de cada educando, permitindo que o mesmo construa o seu conhecimento, e que este processo de aprendizagem se estabeleça dentro de um ambiente favorável e que as dificuldades surgidas no decorrer sejam assumidas e superadas tanto pelo aluno como pelo professor que é o grande facilitador deste conhecimento.

 

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

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BROUGÉRE, Gilles. Jogo e Educação. Tradução de Patrícia Chittoni Ramos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.

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________________. Desafios para Educação frente à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília: MEC, 1997.

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