AS CONSEQUÊNCIAS PSICOLÓGICAS DO ASSÉDIO MORAL

Por ADRIANA CRISTINA ALVES FERREIRA | 30/08/2016 | Psicologia

 RESUMO

O presente artigo tem como tema central as consequências doassédio moral nas organizações.
Nosso maior objetivo é analisar os danos físicos e psíquicos acarretados pela pressão subjetiva exercida nas mais variadas escalas trabalhistas;identificar a tipologia do assédio moral;distinguir dentre as práticas que geram tais violências;reconhecer as origens psicológicas que levam o agressor a transgredir as normas éticas;desenvolver mecanismos de defesa tais como consciência e ação;comparar os efeitos dos danos em homens e mulheres.Os principais autores que subsidiaram a nossa pesquisa bibliográfica,foram:a pesquisadora francesa, psiquiatra e psicanalistaMarie-France Hirigoyen,e a brasileira, psicóloga do trabalho, doutora, professora, Margarida Barreto, dentre outros. Portanto descobrimos que as consequências psicológicas são inúmeras e em muitos casos tornam-se irreversíveis, é uma doença social elaboral que reflete nos seres humanos com danos profundos.

1- INTRODUÇÃO

O mundo trabalhista frente ao desenvolvimento tecnológico,globalizado e pertinente ao sistema capitalista,sofre influências nas relações humanas internas nas organizações. Os trabalhadores passama conviver num contexto ondemetas são priorizadas e o incentivo à competição passa a ser veiculado de forma objetiva ou não. Há uma pressão subjetiva ou assédio moral, ocasionada pelo sistema vigente,que passa a influenciar na gestão dos recursos humanos nas empresas, gerando situações que implicam o comprometimento da saúde mentale física dos trabalhadores, o que tem sido alvo de preocupações e discussões.
 O trabalho deve ser realizado de maneiragratificante, trazendo ao indivíduo satisfação e realização profissional, proporcionando o bem estar e não de uma maneira tortuosa e infrutífera, passando a desmotivar o profissional,levando-o a decrescer como pessoa.
 Como o assédio moral tem crescido na mesma proporção do desenvolvimento organizacionale vitimado muitas pessoas inocentes,decidimos analisar o tema, bem como entender sua procedência, identificar as consequências psicológicas dessas práticas executadas nas instituições públicas e privadas, reconhecer o alerta das doenças psicossomáticas,e sugerir a conscientização por parte dos membros que integram as organizações nas mais variadas escalas hierárquicas, para que haja uma integração harmônica e produtiva viabilizando o bem estar laboral e nesse contexto alertar para as punições de ordem jurídica.
 Esperamos além de aprofundar nossos conhecimentos sobre os riscos que são enfrentados no mundo do trabalho, proporcionar ao leitor uma visão crítica das relações trabalhistas, para que possam desenvolver uma consciência sobre seus direitos e deveres,evitando dessa forma, sofrer ou causar danos físicos ou morais, descabidos e injustos.

AS CONSEQUÊNCIAS PSICOLÓGICAS DO ASSÉDIO MORAL 2 - DESENVOLVIMENTO

O ser humano desde os primórdios, recorre a mecanismos de subsistência, transformando a natureza em benefício próprio, garantindo sua sobrevivência e de sua prole. Essa capacidade de suprir suas necessidades foi denominada trabalho. A labuta constante foi aprimorada à proporção que o homem evoluiu. O indivíduo com sua capacidade inteligível, chegou a industrialização, revolução industrial e tecnológica. Hoje, num contexto globalizado e competitivo, enfrenta exigências que afetam as relações trabalhistas e no que diz respeito à convivência nas organizações. Com todas as mudanças ocorridas nas empresas, a organização hierárquica e a própria gestão empresarial, surge o que hoje podemos considerarpressão subjetiva mais acentuada, e que tem sido motivo de muitas discussões pelos pesquisadores, ainda que seja um termo desconhecido por grande parte dos que sofrem tal violência, que vem se alastrando no mundo empresarial, causando danos à saúde física e psíquica dos trabalhadores. Estamos falando da pressão psicológica exercida nas empresas, o assédio moral muitas vezes executado como forma de demonstrar poder.
SegundoRafael Alcadipani da Silveira(2005) ,parafraseando Michel Foucault, é impossível compreender o fenômeno do poder sem considerar a realidade organizacional. Em nossa sociedade cada vez mais complexa, o poder sempre aparece ligado a um perigo potencial, que frequentemente se materializa como violência: desde o constrangimento físico até as sutilizas contemporâneas do assédio moral, da violação da privacidade e do desrespeito às pessoas.
 Para a francesa Marie-France Hirigoyen(2009)apud LIMARosângela da Silva (2011),essa espécie de "terror psicológico" foi identificada através de estudos iniciados na Suécia em 1984,pelo psicólogo alemão Heinz Leymann que denominou esse fenômeno de mobbing, tipo de phatos, que descreve as "formas severas de assédio dentro das organizações". Para que uma atitude expressa explicitamente ou de maneira subjetiva seja denominada assédio moral, deve ser realizada de maneira sucessiva, tratamento abusivo constante,na maioria das vezes tirando as condições do funcionário desempenhar bem sua função.
 Para o sueco Leymann (2005), psicólogo do trabalho,assédio moral é a deliberada degradação das condições de trabalho, por meio do estabelecimento de comunicações anti-éticas (abusivas), que se caracterizam pela repetição por longo tempo de duração de um  No contexto trabalhista, a tortura psicológicaé uma constante, principalmente se as vítimas não tiverem consciência do desrespeito a que estão sendo acometidas. O assédio moral é identificado através de atitudes tais como, comentários maldosos, humilhações públicas, isolamento do indivíduo no ambiente trabalhista, tratamentos com indiferença,zombaria, exploração na jornada de trabalho,atribuir funções impossíveis de serem realizadas,inviabilizar condições de trabalho frente às exigências,atitudes de repressão e punição desnecessárias,subestimar a capacidade do profissional,impossibilitar promoções,omitir informações importantes,assédio sexual dentre outras. Tais condutas podem ser individuais ou coletivas, levando as pessoas a se sentirem desmotivadas profissionalmente.
O assédio sexual ocorrendo no âmbito trabalhista e havendo recusa por parte do assediado ou assediada, normalmente progride para o assédio moral através de condutasreiteradas, abusivas e deprimentes. De regra geral ocorre numa escala hierárquica de ordem superior, numa escala de ordem vertical descendente,mas há casos em que ocorre de maneira horizontal, entre os próprios colegas do mesmo setor trabalhista. Tais práticas são executadas pelo quadro funcional das empresas desconsiderando as regras morais e éticas adotadas pelas maioriadasinstituições.
Assim sendo,é de extrema importância conhecer a tipologia do assédio moral elucidada por Marie-France Hirigoyen(2009,p.111-116) que caracteriza cada um, segundo sua proveniência
. O assédio moral vertical descendente é decorrente do chefe para com os subordinados, uma vez que os cargos de ordem administrativa dão margem á umaimpressão equivocada de poder para algumas pessoas,e que de regra geral é um dos mais ocorridos. Sabe-se que numa gestão democrática os superiores tratam seus subalternos de igual para igual, gerando uma relação de confiança, desenvolvendo o espírito de equipe e consequentemente propiciando um ambiente de trabalho saudável e profissionais motivados.
As mulheres não somente são mais frequentes vítimas, como também são assediadas de forma diferente dos homens: as conotações machistas ou sexistas estão muitas vezes presentes. O assédio moral não é mais do que uma evolução do assédio sexual. Nos dois casos trata-se de humilhar o outro e considerá-lo um objeto á disposição. Para humilhar visa-se o
íntimo. O que há de mais íntimo do que o sexo?(Hirigoyen 2009 P.
99)apud LIMA Rosângela da Silva (2011) O assédio moral vertical ascendente ocorre numa escala inversa, partindo doindividual ou coletivo para com o superior. Encontramos várias situações onde tal evento ocorre, tais como: quando um grupo revida à perseguições; o chefe não tem um nível de instrução compatível ou superior ao do grupo; por questões de discriminação políticaou racial, dentre outros.
 O assédio moral horizontal,é praticado entre colegas de trabalho,podendo ser comparado ao bullyingou ao mobbing (Hirigoyen apud LIMA, Rosângela da Silva,2011), prática que envolve situações de humilhação, isolamento por parte do grupo, muitas vezes quando o indivíduo é opositor político, tem um nível de instrução superior ou inferior, quando é apadrinhado,é funcionário pouco assíduo sem desconto na remuneração,se apresenta um padrão de beleza destacável dentre os demais, principalmente mulheres,etc.
Esse mal laboral assola os âmbitos públicos e privados.Nas instituições privadas o funcionário tende a deixar vencer-se, sendo exonerado ou mesmo pedir demissão. No setor público, o mal se instala e se alastra levando às pessoas muitas vezes a silenciarem frente a violência brutal e esmagadora,onde a vítima passa a conceber o ambiente de trabalho como sendo um campo de concentração frente ao terror.O cotidiano trabalhista desvirtuado pela prática da pressão moral, tende a comprometer o desempenho pessoal ou coletivo,levando desvantagens para o indivíduo e também para a empresa, que muitas vezes tem que lidar com contratações constantes.
Segundo Bock (2009) o desafio do cotidiano trabalhista, consiste em o profissional realizar bem as atribuições da profissão, levando em consideração as relações interpessoais nas organizações. Quando o indivíduo é assediado, pode passar por um longo desgaste de ordem física e psíquica. O quadro se agrava à proporção queele luta sem êxito,na tentativa de melhorar sua situação frente as perseguições e humilhações. O trabalho que deveria ser realizado com satisfação, torna-se um sacrifício que compromete o bem estar e passa a ser uma tortura diária.A desmotivação tende a se acentuar, sendo refletido num esgotamento nervoso que desencadeia um quadro de stress que muitas vezes passa despercebido pela vítima por desconhecer tal violência e a sua repercussão no organismo. Há quem possa imaginar que o desrespeito sofrido nas instituições não tenha consequências mais sérias, mas, a vítima pode chegar ao cume do desencanto pela vida eaté cometer suicídio.Todo esse quadro só é realmente detectado como tal, quando o indivíduo passa a apresentar sintomas psicossomáticos, que é um reflexo do organismo frente ao desgaste emocional, alertando para o perigo o qual o profissional está exposto, e quando há um decréscimo na produtividade.

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