AS CONSEQUÊNCIAS DO ABANDONO DA RELIGIOSIDADE
Por SILNEY DE SOUZA | 17/09/2010 | ReligiãoAS CONSEQUÊNCIAS DO ABANDONO DA RELIGIOSIDADE
Conversávamos alguns dias atrás sobre o impressionante progresso do ponto de vista tecnológico alcançado pelo ser humano ao longo das últimas décadas. Celulares, TVs, Computadores, Eletrodomésticos etc. Parece que estamos chegando bem perto do que assistíamos nos filmes futuristas da nossa infância. O saudosismo nos fez relembrar daqueles momentos e dos nossos inesquecíveis brinquedos da época. Pipas ou papagaios como chamávamos naqueles dias, bolinha de gude, carrinho de rolimã, jogos de botão, futebol no capo de terra, além daquelas brincadeiras em grupo como passa anel, pega-pega, esconde-esconde, enfim aquelas recreaçöes que fazíamos com os amigos, vizinhos, primos e parentes e que caracterizavam a forma de nos divertirmos na fase infantil.
Praticávamos também alguns atos ecologicamente incorretos para os dias atuais, como caçar passarinho, colecionar borboletas e até chegamos a maltratar em raríssimas situações, alguns cães e gatos. Pura falta de orientação e de conhecimento.
Dentro do possível procurávamos ser "comportados", pois não queríamos ser castigados por Deus (quem daquela época não ouvia com freqüência o "Deus castiga"), nem tampouco queríamos ir para o inferno!
Quando saíamos da linha, poucas vezes ficávamos livres das palmadas, chineladas, puxões de orelha e cintadas dos nossos pais. Nem por isso amávamos menos a eles ou lhe desejávamos qualquer mal.
Quando nos feríamos em alguma brincadeira ou acidente doméstico, os pais passavam álcool, mercúrio cromo e estávamos prontos para outra.
Chamávamos as pessoas mais velhas de senhor e senhora (costume que trago até hoje); frequentávamos a missa, mesmo que eventualmente. Parte significativa das crianças era batizada, fazia primeira comunhão e crisma. Acreditávamos no nosso anjo protetor. Os dogmas, ensinamentos e conceitos da igreja católica predominavam naquela época. Pouco se questionava tais conceitos.
Quando nossos pais ou tios não queriam que fizéssemos algo, logo éramos lembrados que devíamos obedecer às pessoas mais velhas e que não deveríamos nos deixar levar pelas influências do diabo, para não sermos seus eternos companheiros, queimando no fogo eterno.
Ouvíamos dizer, vez por outra, que alguém vendera a alma. Coisa estranha...
Crescemos sob esta influência, cometendo todos os acertos e erros das gerações anteriores à nossa e também da atual. Deparávamos sim, com os problemas oriundos das drogras, da violência, do sexo desregrado etc.
Mas parece que algo era diferente. Não tinhamos necessidade de ter aparelho celular com 8 anos de idade, nos contentávamos mais facilmente com os poucos brinquedos e roupas que possuíamos e ficávamos muito felizes quando os nossos pais, envolvidos com a luta da sobrevivência diária, nos davam um pouco de atenção, principalmente nos finais de semana, quando nos levavam para passear, mesmo que esse passeio fosse um simples sorvete na padaria da esquina. E muitas vezes era um só mesmo.
Iamos caminhando para escola!
Fazíamos as refeições juntos, em família. A mãe normalmente preparava os pratos. Sentávamos à mesa e comíamos o que tinha para aquele dia, sem reclamar muito do que estava disponível naquele momento para ser consumido. Refrigerantes, somente nos finais de semana. Eram as garrafas tamanho família que serviam um copo para cada integrante da mesa. Não eram necessárias muitas coisas para nos sentirmos felizes.
Ah, quando as coisas não eram feitas conforme gostaríamos, não ficávamos "revoltadinhos", nem tampouco traumatizados!!!
Situação esta, sumarizada acima, bastante diferente dos dias atuais, principalmente para aquelas crianças que tem o privilégio de pertencer às classes um pouco mais abastadas. O medo de ir para o inferno foi trocado pelo medo de não se dar bem na vida, especificamente no que se refere ao aspecto financeiro. "Meu filho se você não fizer tal coisa ou se você não agir como eu estou te falando, que futuro você terá?" " Se não estudar, não vai ter um bom emprego, consequentemente não terá um bom salário e não vai poder comprar as coisas que você quer" dizem os pais.
O sentido da vida atual passou a ser consumir, consumir, consumir e consumir.
A "felicidade" advinda da compra das coisas se dissipa facilmente. Aquele bem material perde seu sentido muito rápido e ficamos tristes e deprimidos pois precisamos então comprar mais e mais.
Parece que a felicidade está totalmente ligada ao ato de ter, de consumir. Embora não demos valor as coisas que temos.
Apesar dos meus 45 anos, ainda guardo comigo brinquedos que ganhei na infância.
Hoje em dia é tudo descartável e descartado rapidamente, pois o que nos dá prazer é consumir mais e mais e mais. E a falta desses bens materiais "tão importantes" nos causam revolta, depressão, violência, alcoolismo e quando não acabamos nas drogas.
Cultuar o corpo é outra necessidade indispensável dos dias atuais. Vestir-se bem, roupas caras, de grife e corpos perfeitos. Essa é a perseguição de muitos. O ideal de vida de muitas pessoas.
Vestir-se mal e estar alguns quilos acima das medidas significa simplesmente ser desqualificado, excluído de certos grupos, ridicularizado, como se nas nossas veias não corre-se exatamente o mesmo sangue, como se não fossemos todos irmãos e humanos, com qualidades e defeitos muito parecidos entre nós!
E o crescimento espiritual aonde ficou? Parece que, com raríssimas exceções, foi totalmente esquecido. Mergulhados em seus problemas materiais do dia a dia os pais não se preocupam mais com "esse lado", nem tampouco em chamar a atenção dos filhos para esse aspecto. As famílias, quando ainda permanecem íntegras, sem separações dos pais e/ou discórdias frequentes, não compartilham mais momentos "em família". A TV, o computador, os jogos eletrônicos, os e-mails consomem parte significativa do nosso tempo. As famílias permanecem pouco tempo juntas e mesmo nesses raros momentos, esquecem de pensar e conversar sobre Deus, sobre o real sentido da vida, sobre a vida futura.
Algumas crianças não sabem cantar o hino nacional, nem tampouco sabem o que é rezar. Outro dia ao sair de carro fizemos uma oração pedindo que tudo corre-se bem no passeio e um coleguinha do meu filho disse: "la em casa a gente não faz isso não." Aliás, crianças chegam e vão embora de sua casa, muitas vezes acompanhadas de seus pais, sem terem a educação de cumprimentar os donos da casa. Em que ponto chegamos! As festas de aniversário, feitas nos famosos buffets, são impessoais. Muitas vezes não temos a oportunidade de conhecer a família, entregar o presente ao aniversariante ou até mesmo de conhecer quem faz aniversário e respectiva família.
Os resultados de tudo isso? Preciso relatar aqui? Todos conhecemos.
Quando finalmente vamos nos conscientizar dos reais valores da vida, do que é realmente essencial para bem aproveitarmos essa oportunidade divina da nossa existência?
Quando vamos finalmente trabalhar arduamente para dissipar em nós os pais de todos os nossos males, quais sejam o egoísmo e o orgulho?
Quando nos preocuparemos em sermos pessoas melhores? Mais educadas, mais conscientes, mais respeitosas? Mais alinhadas em uma palavra à moral ensinada pelo Cristo?
Qual religião? Isso não importa, aquela que você julgar que seja melhor para você, mas aquela que em última análise permita que o homem busque ser melhor e se aproximar do Pai.
Até lá soframos pois as conseqüências dos nossos atos!