AS AVENTURAS DE CHICO E AURÉLIA - EPISÓDIO 6: MAPA DO TESOURO

Por Sílvia Aparecida de Souza Nascimento | 02/02/2014 | Contos

AS AVENTURAS DE CHICO E AURÉLIA - EPISÓDIO 6: MAPA DO TESOURO

 

- Aurélia! Aurélia! Corre aqui! Achei uma coisa!

- Já vou! Pare de gritar. Credo! Pronto... Que foi?

- Olhe o que eu achei. Um mapa do tesouro.

- Onde você achou?

- Aqui, dentro do baú da vovó. Eu estava mexendo aqui e de repente achei.

- Que legal! Como você sabe que é um mapa do tesouro?

- Porque está explicando como encontrar um tesouro e também porque em cima da folha está escrito bem grande “MAPA DO TESOURO”.

- Ah! Entendi. E o que nós vamos fazer?

- Seguir o mapa e encontrar o tesouro.

- Então vamos!

O mapa na verdade era uma folha de caderno. Nele havia algumas instruções. Chico fechou o baú antigo da avó e leu a primeira instrução:

- Dar três passos bem largos para frente. Vai, Aurélia. Obedece.

- Não. Não dá. Minhas pernas são curtinhas e não consigo dar passos largos.

- Está bem. Eu dou os passos e você lê as instruções.

- Também não vai dar. Esqueceu que eu ainda não sei ler.

- Mas aí fica difícil! Tudo eu! Tudo eu! Passe o mapa para cá. Então me acompanhe.

- Isso eu sei fazer muito bem. Bem até demais.

Um, dois, três passos bem largos. Como a casa era pequena, saíram na sala.

Chico lê a segunda instrução:

- Vire à esquerda e dê doze passos bem largos.

- Um, dois, três, quatro... Espere, Aurélia. Chegue para lá um pouquinho. Desse jeito vou cair em cima de você.

- Está bem. Continue.

- Assim está melhor. Não sei para que andar grudada na gente. Cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze e doze.

Os meninos atravessaram a primeira sala (onde ficava a TV) e a segunda sala (onde ficava o sofá com buraco) e chegaram à cozinha.

Na cozinha, a mãe lavava a louça do almoço e areava as panelas. “Arear mais o que?” Pensou Aurélia.  “Se esfregar mais vai furar as panelas.” A mãe gostava de tudo brilhando como espelho.

- Oi, mamãe.

- Oi, Chico. O que você e a Aurélia estão aprontando dessa vez?

- Aurélia e eu estamos procurando um tesouro. Encontramos um mapa dentro do baú antigo da vovó.

- Olha só! Que bom! Cuidado. Não faça doideiras.

- Pode deixar, mamãe. Eu estou de olho no Chico. Se ele fizer arte, eu conto para a senhora.

A mãe riu. “Uma pessoa de sete anos tomar conta de outra de nove anos? É no mínimo engraçado.” Pensou a mãe consigo mesma.

- Vamos, Aurélia. Agora é assim. Da cozinha vire à esquerda e dê dez passos.

- Tchau, tchau, mamãe!

Depois de dar os dez passos, os dois chegaram ao quintal. Siga em frente e dê quinze passos.

Com quinze passos, os dois passaram pela primeira laranjeira, pela jabuticabeira e chegaram até a segunda laranjeira. O pé de romã e a segunda laranjeira ficavam mais ou menos no mesmo alinhamento. Naquele tempo havia também um pé de maracujá carregadinho. Aurélia até gostava do cheiro do maracujá, mas quanto ao gosto... Eca. Azedo demais. Gosto de segunda-feira. Tudo que Aurélia não gostava, comparava com segunda-feira. A menina não sabia bem o porquê, mas não gostava da segunda-feira. Gostava do domingo que era dia de missa, de comer frango com macarronada, de sentar no colo do pai e ouvir histórias. Chico sentava numa perna e Aurélia sentava na outra e ficavam ouvindo histórias de outros tempos. Tempos antigos. Tempos em que o pai era criança também. Por esses motivos gostava do domingo e não gostava da segunda. Na segunda-feira o pai não podia ficar em casa. Tinha que trabalhar.

- Embaixo da segunda laranjeira, procure um X feito no chão. Vai, Aurélia. Procure.

- Já vou.

A menina olhou em volta. De um lado não tinha nada. Do outro também não. Deu a volta. O tronco da laranjeira era velho e grosso. Atrás dele, não muito perto das raízes havia um X desenhado no chão.

- Achei, Chiquito!

- Ah não! Chiquito não! Fale direito. É Chico.

- Está bem. Parei, parei. Achei o X e agora?

- Agora tem a última instrução. Cave no local exato do X e você encontrará um tesouro.

- Cavar usando o que?

- As mãos, uai.

A menina obedeceu. O terreno era muito arenoso e fácil de cavar. O irmão ajudou. Mal começaram a cavar esbarraram em alguma coisa. Era um baú pequeno feito de madeira. Tamanha foi a euforia dos dois que deram gritinhos de alegria.

- Vamos abrir, Chico!

- Pode abrir!

Mais do que depressa a menina abriu o baú. Havia dois brinquedos: um tratorzinho amarelo com rodas pretas e uma boneca com vestido de flores azuis num fundo branco. Gritinhos de satisfação. Os dois deixaram o baú no quintal e saíram correndo para mostrar para a mãe.

Ela (a mãe) tinha feito o mapa e tinha escondido o tesouro, mas os meninos não sabiam disso.

- Olhe, mamãe! Uma boneca nova! Uma boneca de verdade! E nem é natal e nem é meu aniversário!

- Não, mamãe. Olhe o meu primeiro. O Coronel Francisco Buarque agora tem um trator!

E a mãe se fingia de surpresa como se não soubesse de nada.

- Muito bem. São realmente lindos. Parabéns por ter encontrado.  Agora vão brincar. Aproveitem bastante!

E lá foram eles.

Alguns acham que tesouro é composto por pedras preciosas, ouro, prata e mais um monte de outras coisas. Mas os verdadeiros tesouros não têm preço e não podem ser comprados. Pelo menos não com dinheiro. “Chico e Aurélia são meus tesouros”. Pensou a mãe ao vê-los brincando sentadinhos no chão da cozinha. “Pedir mais o que para Deus?” Quem tem filhos, tem tudo!

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