Artigo: a chacina que não quer calar
Por Roberto Jorge Ramalho Cavalcanti | 20/08/2013 | DireitoArtigo: a chacina que não quer calar
Roberto Ramalho é advogado e jornalista
A polícia investiga se o estudante Marcelo Pesseghini, de 13 anos, filho dos PMS mortos na chacina, foi armado à escola no dia 5 de agosto para matar a diretora do colégio.
A revelação foi feita pelo jornal “Folha de São Paulo”. Essa suspeita começou a ganhar força após os depoimentos de colegas do garoto, alunos do mesmo colégio, prestados à Polícia Civil.
Segundo o tradicional jornal paulista três estudantes disseram que Marcelo tinha criado um grupo, chamado de "Os mercenários", inspirado num game, cujo personagem principal é contratado para matar.
Pelas regras do grupo, quem matasse os pais, pessoas ligadas à família e autoridades ganharia mais "energia" ou pontos.
Um dos alunos afirmou à polícia que a diretora do colégio estava na lista do grupo.
Nessa segunda-feira (19) a polícia revelou que, além dos 350 reais, uma muda de roupa e cinco rolos de papel higiênico, Marcelo Pesseghini carregava em sua mochila cartão de aposentadoria em nome da avó Benedita, de 65 anos.
Os investigadores acreditam que o garoto planejava sacar dinheiro com o tal cartão.
Dois médicos famosos e especialistas no assunto afirmaram que o menino não tinha condições de ter assassinado os seus pais, a avó e sua tia.
O psiquiatra Daniel Barros, do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo, disse que as investigações não indicam até agora que o menino Marcelo Pesseghini, de 13 anos, tenha o perfil psiquiátrico padrão de alguém capaz de cometer crimes como o assassinato de sua família em São Paulo.
Disse o psiquiatra: “É preciso muita cautela ao atribuir o crime ao menino. Tudo o que aconteceu é muito atípico”, salienta Barros.
De acordo com o psiquiatra, crimes como o assassinato dos pais normalmente são motivados por históricos de violência familiar, abuso físico ou sexual e razões financeiras, e concluiu dizendo: “Essa pessoa, em geral, não se mata depois. Ela já colocou um fim no que a atormentava”.
Por sua vez o médico-legista George Sanguinetti afirmou que a posição do corpo de Marcelo Pesseghini, de 13 anos, encontrado morto, mostra que não houve suicídio e o garoto foi assassinado, afirma de maneira contundente.
O legista comentou o assunto no perfil dele no Facebook. Sanguinetti diz que a posição do corpo de Marcelo diz claramente que o garoto não foi o autor do tiro que o matou, pois a mão direita estava em cima do lado esquerdo da cabeça e o braço esquerdo, dobrado para trás, com a palma da mão esquerda aberta para cima.
De acordo com o perito, essa posição não é a de uma pessoa que se suicidou. “Não estou contestando o trabalho da Polícia de São Paulo, apenas estou apresentando a "linguagem do cadáver de Marcelo", onde diz claramente que não foi autor do tiro que o matou, e conclui na sua página do Facebook:
“É básico em Criminalística e Medicina Legal que o Perito só atesta o que encontra, só declara o que pode provar. Portanto irei analisar a morte de Marcelo, que tem sido divulgada como suicídio. O membro superior direito encontra-se em flexão, braço-antebraço na parte anterior do tórax (esternal)´dirigindo-se para o lado esquerdo da cabeça, onde a mão direita encontra-se na parte esquerda do segmento cefálico. O membro superior esquerdo, braço-antebraço, em ângulo de 90 graus e a região palmar voltada para o dorso. Foi afirmado que o menor era sinistro(canhoto), impossível disparar arma de fogo com a mão esquerda, na têmpora esquerda e a mão direita, ser encontrada na posição final, onde foi do lado esquerdo, e a mão esquerda fletida para o dorso, apresentando o braço esquerdo=antebraço, rotação para o dorso. Não estou contestando o trabalho da Polícia de São Paulo, apenas estou apresentando a " linguagem do cadáver de Marcelo" onde diz claramente que não foi autor do tiro que o matou. A ausência de exame residuográfico positivo também tem muita importância, como também na epiderme – derme, chumbo, pólvora, antimônio, bário. Como o tiro teria sido com arma apoiada, também sangue e outros materiais orgânicos resultantes da explosão dos gases(lesão de Hoffmann ou buraco de mina)”.
Até o presente momento foram prestados mais de 30 depoimentos a favor e contra a tese do menino ter assassinado seus familiares.
Esse inquérito policial ainda vai dar muito o que falar. E como vai.