Artigo: A América Latina, As Reformas Econômicas, e a Crise Financeira Mundial, acrescentado
Por Roberto Jorge Ramalho Cavalcanti | 14/12/2011 | EconomiaArtigo: A América Latina, as reformas econômicas, e a crise financeira Mundial acescentado
Roberto Ramalho é advogado, jornalista, escritor, articulista, blogueiro (www.ditoconceito.blogspot.com) e pesquisador
Reportagem da revista britânica “The Economist” da 1ª semana do mês de agosto, antes de explodir a crise financeira mundial, afirma que os países da América Latina precisam acelerar o ritmo das suas reformas estruturais para evitar que a região se torne "refém do mundo exterior".
Segundo a revista britânica, "o quanto mais os países, principalmente os sul-americanos, adiam suas reformas estruturais, mais eles se tornam reféns do mundo exterior", afirma o texto, fazendo referência à dependência da região em relação à China, principal comprador de matérias-primas latino-americanas.
De acordo com a revista, um dos principais entraves da região é a falta de investimentos. A reportagem diz que as economias latino-americanas estão se aproveitando do alto preço internacional das commodities, que no atual momento está gerando riqueza na região, para gastar mais com importações e fomentar o aumento do consumo, em vez de investir dinheiro na economia.
Outro dado importante citado pela “The Economist” mostra que o Brasil só investe 18,5% do seu PIB, comparado com o índice de 49% na China.
Já em relação às dívidas, dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) revelam que a dívida média dos países emergentes em relação a seu PIB é de 33,6%, enquanto a dívida dos países ricos, o chamado G-7 (grupo que reúne Estados Unidos, Japão, Alemanha, Itália, França, Canadá e Reino Unido), é o triplo da dívida dos países emergentes (118,2% do PIB).
Pelas projeções do FMI, a diferença será de quatro vezes em 2016. Segundo a instituição financeira internacional, além do tamanho da dívida em si, os dados mostram que os países emergentes desfrutam de melhor situação fiscal do que os países ricos e contam com um mercado doméstico pujante e fundamentos macroeconômicos mais sólidos.
E sobre a crise financeira mundial assim se expressou a revista Veja do início da semana de agosto de 2011: O que pesa a favor do Brasil:
“No topo da lista está um sistema financeiro sólido e bem capitalizado, sem riscos ocultos em balanços crivados de truques, como ocorreu nos Estados Unidos. Prova disso é que desde 2008 nenhum banco brasileiro de cobertura nacional quebrou, com exceção do Pan-americano.
E a revista semanal da Abril diz: “Em segundo lugar, o Brasil tem ainda em caixa mais reservas em moeda estrangeira do que o total da dívida externa. Com essa folga, o Banco Central tem margem de manobra para amenizar flutuações traumáticas do câmbio vendendo ou comprando dólares no mercado de acordo com as necessidades de cada momento. A boa situação das reservas deixa Brasília em condições favoráveis também para permitir que investidores estrangeiros retirem suas economias do país trocando seus reais por dólares, o que confere ao Brasil ainda mais credibilidade. Um país que não impede artificialmente a saída de dólares é um país que atrai dólares com mais facilidade”.
E adianta: “O terceiro ponto é a ausência de "bolhas" na economia. Ou seja, embora se possa tecnicamente afirmar que os imóveis estão com os preços irrealmente altos no Brasil, isso ainda não configura uma bolha, pois eles não estão sendo financiados por instrumentos de crédito sem lastro, como ocorreu no mercado americano, abrindo caminho para a crise de 2008. O quarto fator tranquilizador é a política monetária do Banco Central que, tendo sido bastante estrita nos últimos dez anos, acumulou credibilidade para atuar com o sinal trocado em caso de a recessão mostrar a cara. Ou seja, os juros estão em um patamar alto e baixá-las pode ter efeito estimulante na economia, se for necessário”.
E conclui da seguinte maneira: “Finalmente, os bancos públicos, que representam metade do crédito disponível no sistema financeiro, podem ser acionados para injetar mais dinheiro na economia sem as mesmas precauções que os bancos privados são obrigados a tomar. Isso foi feito com sucesso em 2008 e 2009, quando o aumento da oferta de empréstimos pelos bancos oficiais ajudou a afastar o espectro da estagnação econômica”.
Mas, graças a DEUS, as Bolsas de Valores de todo o mundo estão se recuperando, após uma queda vertiginosa no início da semana negra, entre os dias 08 de agosto a 10 de agosto, quando as principais bolsas, entre elas a de Wall Strett e Nasdaq (EUA), Tóquio, Seul e Shangay, na Ásia, e Paris, Madrid, Londres, etc na Europa, e São Paulo, no Brasil, entre outras, tiveram perdas que chegaram a um trilhão de dólares.
Por conta disso, o homem mais rico do mundo, o mexicano Carlos Slin, dono da Claro, no Brasil, perdeu ao todo U$$ 8 bilhões, e o brasileiro Eike Batista, dono da Vale, cerca de U$$ 2 bilhões.
E o que tudo indica eles recuperaram praticamente tudo com o aumento das Bolsas de Valores em todo o mundo.
Ainda bem que a crise mais uma vez foi passageira, ou como já afirmou o presidente Lula na crise de 2008: “Uma marolinha”.
No início de 2010, temores com relação a uma crise da dívida soberana de vários países da Zona Euro, como Grécia, Espanha, Irlanda, Portugal e Itália levaram a uma crise de confiança e ao consequente aumento dos spreads dos títulos e do seguro para cobertura de risco dos swaps de "credit default" para esses países.
Recentemente os países da Zona do Euro se reuniram para tratar da economia da região e chegaram à conclusão de que se faz necessário injetar mais dinheiro na economia dos países endividados, entre eles a Grécia, que já recebeu ajuda do FMI, inclusive, também outros países endividados como a Irlanda, de Portugal e da Espanha.
O socorro financeiro a esses países foi decretado em 2 de maio, pelos países da Zona Euro e o FMI, que juntamente com a Grécia chegaram a um acordo, envolvendo empréstimos no valor de 110 bilhões de euros ao país e condicionado à execução de um programa de ajuste estrutural da economia grega.
No dia 8 de maio, o presidente francês Nicolas Sarkozy e a chanceler alemã Angela Merkel finalmente anunciaram que os 16 países da Zona Euro iriam elaborar um plano de defesa da moeda europeia, até a abertura dos mercados, no dia 10, com o objetivo primordial de evitar novos ataques especulativos à moeda européia, e assim causar a sua desvalorização.
A base jurídica para o referido plano tem como base o artigo 122-2 do tratado europeu, que estipula que "quando um estado-membro experimentar dificuldades, ou uma séria ameaça de graves dificuldades, em razão de catástrofes naturais ou de acontecimentos excepcionais que escapem ao seu controle, o Conselho, a partir de proposta da Comissão, pode conceder, sob certas condições, assistência financeira da União ao estado-membro em questão”.
Mas isso gerou revoltas profundas entre a classe operária e o funcionalismo público do país, já que o presidente do país Georg Papandreu anunciou que cortaria 30 mil empregos públicos.
Após a concessão do empréstimo, a chanceler alemã, Angela Merkel, ressaltou a determinação dos líderes europeus em blindar o euro contra a especulação.
Merkel informou também que os líderes europeus estão indo além do plano de resgate para a Grécia, pois avaliam que "a estabilidade da Zona do Euro como um todo ainda não está assegurada apenas com o programa grego”. De acordo com ela, todos os membros da Zona do Euro devem "de forma segura e rápida" reduzir seus déficits orçamentais, e ressaltou a necessidade de uma regulação mais forte para o mercado financeiro. Por sua vez, o presidente Sarkozy declarou que "o euro é um elemento essencial da Europa e afirmou que ele não podia ficar na mão de especuladores”.
Dia 16 de maio de 2011, foi à vez dos ministros das finanças da Zona Euro aprovaram oficialmente o empréstimo de 78 bilhões de euros a Portugal, que também estava à beira da bancarrota.
O empréstimo será dividido igualmente pelo Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira, pelo Fundo Europeu de Estabilidade Financeira e pelo Fundo Monetário Internacional. Segundo o ex-ministro das finanças português, Teixeira dos Santos, a taxa de juro média do empréstimo deverá rondar os 5,1%, Portugal torna-se assim no terceiro país da Zona Euro, após a Irlanda e a Grécia, a receber apoio financeiro internacional para suplantar dificuldades financeiras. Estima-se que entre 30.000 e 70.000 portugueses passaram a trabalhar nas ex-colônias (principalmente Brasile Angola[) durante a época da crise financeira.
Em matéria veiculada em 11 outubro 2011, pelo jornal espanhol La Vanguardia, com o título “Crise da Zona Euro, A Europa não pode cometer mais erros”, são descritos os três erros graves na atual crise da economia européia:
O primeiro erro foi admitir a Grécia no euro, como reconheceram importantes líderes europeus; um país que teve de maquiar as suas contas públicas para conseguir o empréstimo.
O segundo erro da UE, este auspiciado pela Alemanha, foi não resolver imediatamente os seus problemas financeiros, coisa que teria sido relativamente fácil, uma vez que a Grécia representa apenas 2% do PIB europeu. Ter-se-ia evitado que a crise grega contaminasse a dívida pública de grande parte da zona euro.
O terceiro erro – também de origem germânica – foi ter insistido no ajuste fiscal puro e simples da Grécia, sem um plano de investimentos europeus que ajudasse o seu crescimento, o que lhe provocou a asfixia economica e praticamente a suspensão de pagamentos. Em conseqüência, do que tinha sido apenas um problema aceitável, equiparável ao de qualquer pequeno estado federal dos Estados Unidos, passamos a uma nova crise econômico-financeiro que pode ter alcance global, como admitiu o próprio presidente Obama.
Segundo informa o Portal DEUTSCHE WELLE (http://www.dw-world.de), os países da União Europeia, com exceção do Reino Unido, pretendem até a próxima segunda-feira (19/12) levantar 200 bilhões de euros para repassar ao Fundo Monetário Internacional (FMI), em Washington.
Só que o Site alemão não diz de onde virá o dinheiro, e creio que até mesmo a China, que atualmente detém as maiores reservas monetárias do mundo, A Índia, a Rússia e o Brasil, com reservas internacionais estimadas em mais de 300 bilhões de dólares, concedam alguma ajuda financeira aos europeus.
Segundo a DEUTSCHE WELLE, de acordo com a decisão tomada pela cúpula europeia na última sexta-feira, o dinheiro deverá ser repassado pelo fundo a países endividados da zona do euro, como a Itália, caso os juros de títulos desses países fiquem demasiado altos no início de 2012. Esse novo fundo de resgate, que usa o FMI como desvio para recursos destinados aos países europeus mais afetados pela crise, ganhou pouca atenção da imprensa internacional por causa do "não" do premiê britânico, David Cameron, às mudanças nos tratados da UE. Mas o assunto voltou à tona no último domingo, quando o Banco Central alemão (Bundesbank), responsável pela parcela alemã nesse pacote, solicitou que o Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão) desse sua autorização ao repasse de aproximadamente 45 bilhões de euros. O governo alemão e a coalizão liberal-conservadora rejeitaram o pedido, argumentando que o Bundesbank é independente e não precisaria de um aval do Parlamento.
Segundo ainda a DEUTSCHE WELLE, o Banco Central Alemão adverte, no entanto, que o Bundestag estabeleceu um limite de responsabilidade de 211 bilhões de euros para todo o pacote de ajuda – limite que será ultrapassado com o pacote do FMI. Além disso, esse empréstimo de 45 bilhões de euros ao FMI envolve um alto risco. A diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, ex-ministra francesa das Finanças, elogiou as decisões tomadas ao final da cúpula em Bruxelas. O presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, havia ressaltado na quinta-feira, um dia antes do encontro na Bélgica, que o desvio de dinheiro europeu por meio do FMI não deveria significar um financiamento estatal disfarçado, por meio dos Bancos Centrais. Este tipo financiamento é proibido pelo Tratado de Lisboa. Draghi ressaltou que, independentemente do que os políticos tenham idealizado, "o espírito dos tratados deve ser respeitado". O repasse de recursos ao FMI já havia sido discutido, pelo menos nos bastidores, durante a cúpula do G20 realizada em novembro em Cannes. Na ocasião, foram feitas propostas de hipotecar junto ao FMI reservas de ouro ou depósitos dos Bancos Centrais.
Concluindo, ainda bem que o governo brasileiro não emprestou nenhum centavo como queriam os europeus, principalmente sendo o dinheiro emprestado depositado num recém-criado fundo europeu. A presidente Dilma Rousseff acabou dizendo que qualquer ajuda aos europeus só sairia por intermédio de depósitos feitos ao FMI, acertando em cheio.