ARMAZENAGEM DE GRÃOS PARA GRANJAS COM MAIS DE 10.000 MATRIZES EM CICLO COMPLETO – UM ESTUDO DE CASO – REGIÃO DE NOVA MUTUM

Por Robson Frantz | 24/10/2017 | Adm

RESUMO: A suinocultura agroindustrial ou moderna vem crescendo em países emergentes como o Brasil. O estado de Mato Grosso tem ocupado seu espaço nesse cenário, aproveitando o potencial de produção e localização privilegiada em relação as principais commoditties utilizadas na alimentação dos animais, caso do milho e soja. Todavia a dinâmica de armazenamento dos grãos na propriedade rural e granjas produtoras de suínos é ainda ineficiente, interferindo no custo de produção e, consequentemente, diminui o poder competitivo nos mercados nacional e internacional na produção da carne suína. Neste contexto, o objetivo desse artigo é demonstrar alternativas para o armazenamento de milho em uma granja produtora no município de Nova Mutum-MT.

  1. INTRODUÇÃO

O milho é um produto largamente utilizado na avicultura, bovinocultura de leite e corte e suinocultura. Sendo assim, é importante o impacto do grão na atividade, tendo em vista que as taxas de inclusões nas rações destinadas aos suínos chegam a 70%. Segundo a Embrapa Produção de Suínos (2003) avaliando o cenário histórico dos custos de produção de suínos no Brasil, em média, a alimentação nas granjas estabilizadas de ciclo completo corresponde a 65% do custo. Em épocas de crise na atividade o valor pode atingir 70 a 75%.

            Analisando essa perspectiva do milho e no aumento do consumo mundial de carnes, especialmente carne de ave e suíno, podemos perceber que o papel do milho como principal matéria prima das rações continuará importante e impactante na alimentação utilizada na suinocultura e avicultura industrial desses rebanhos. Ainda, é válido entender os motivos das oscilações do mercado do milho e possibilitar alternativas para tomada de decisão apropriada e competitiva, visto que essa medida pode maximizar o lucro em épocas de preços altos e reduzir prejuízos em tempos de crise.

            Partindo dessa premissa, é importante ressaltar o Brasil no cenário mundial da produção desse grão. O Brasil ocupa a terceira posição na produção mundial de milho, atrás apenas dos EUA e China, sendo que esses 3 países representam cerca de 65% da produção mundial do grão. Dentro da realidade brasileira, o estado de Mato Grosso ocupa a primeira posição na produção de grãos, se consolidando como o maior produtor de milho e soja do país.

            A produção de milho está diretamente relacionada e dependente das condições climáticas, ou seja, do regime de chuvas que ocorrem no período de plantio e crescimento da lavoura.  Conforme a Associação Brasileira dos Produtores de Milho - ABRAMILHO (2016), o déficit hídrico na produção de milho 2ª Safra (safrinha) apontou quebra de 7,295 milhões da produção de milho (2015-2016) em Mato Grosso. O último levantamento do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (IMEA, 2016) estima uma produção de 18,904 milhões de toneladas em 2017. Essa produção já foi superada nas safras de 2014-2015, o que revela uma queda da produtividade, justamente devido ao baixo volume de chuvas, especialmente na região nordeste do Estado onde a produtividade da safra de 2013-2014 foi de 106 sacas/hectare passando para 39 sacas/hectare na safra 2015/2016 (site Olhar Direto).

            Observando essa dinâmica de produção do estado do MT e suas particularidades regionais, considerando o milho uma commodittie e que seu valor se baseia em um mercado de oferta e procura globalizado é preciso entender certas características que afetam o preço do produto. Isso determina grandes diferenças no preço da saca do milho, justamente em períodos de variação da oferta, ou seja, na entressafra. Conforme fonte do IMEA-MT observamos expressivas variações no preço de venda do milho durante o ano de 2016 no município de Nova Mutum. Como demonstrado no Quadro 1, essa variação pode ocorrer dentro do mesmo mês, como observado nos meses de janeiro e maio de 2016 onde houve uma oscilação de até R$ 0,08.

Quadro 1 – Preço Médio da Saca e R$/kg do Milho no município de Nova Mutum

DATA

PREÇO MÉDIO DA SACA DE MILHO

PREÇO MÉDIO (R$/KG)

05/01/2016

R$ 19,20

R$ 0,32

15/01/2016

R$ 20,15

R$ 0,33

29/01/2016

R$ 24,15

R$ 0,40

02/05/2016

R$ 32,95

R$ 0,55

19/05/2016

R$ 38,20

R$ 0,63

31/05/2016

R$ 34,25

R$ 0,57

Fonte: IMEA, Ano 2016, adaptada.

Comparando o mês de janeiro e maio de 2016, podemos observar que o preço praticado no dia 05 de janeiro de 2016 em média foi de R$ 0,32 por quilo, enquanto no seu ápice foi no dia 19/05 de 2016 em média foi de R$ 0,63 por quilo, justamente em um período de entressafra. Pela ótica do produtor da agroindústria, ocorreu um aumento do custo de produção em função do milho ser a principal fonte de energia das rações. Para facilitar o entendimento das operações financeiras os valores serão demonstrados em R$/kg, visto que as informações coletadas estão nessa unidade. Para conversão do valor em saca é necessário realizar a multiplicação do valor R$/kg pela quantidade quilos presente na saca (60 kg).

            Compreendendo a importância da sazonalidade do grão, influência climática na produção e produtividade do milho, outros fatores para a escassez do milho no mercado brasileiro são também importantes. Um deles é a atratividade dos mercados internacionais, especialmente com a flutuação da taxa cambial brasileira, permitindo negociações internacionais mais rentáveis do que vendas dentro do nosso país. Outro fator importante é a necessidade internacional de milho atrelada a produção do seu maior produtor mundial. Quando há um superávit na safra dos EUA há uma forte tendência de queda do preço, devido à exportação do excedente da produção com preços muito competitivos. Por outro lado, quando há quebra de safra, como ocorrido na safra 2012-2013 nos EUA, há uma valorização do produto. Isso ocorreu muito em função da estiagem em grandes estados produtores, principalmente de Iowa, estado com destaque na produção de milho. Conforme Contini et al. (2013), a “estiagem nos Estados Unidos (EUA) e na Rússia em 2012, importantes exportadores de alimentos, reduziu os estoques mundiais de milho, soja e trigo e, consequentemente, acarretou no aumento de 17% dos preços dos cereais durante 2012”. Nesse caso, há uma abertura do mercado internacional para novos “players”, como o Brasil e Argentina, por exemplo. A exportação pode ser destinada tanto a países que tem comércio internacional com os EUA, como para o próprio EUA, que tem grande produção e também consumo de milho.

            Sabendo desse impacto na produção, muitos produtores e agroindústrias do Centro-Oeste do Brasil aderiram a uma prática até então pouco utilizada, o armazenamento de grãos. Essa prática consiste na utilização de silos para estocagem de matéria prima em condições de preço mais baixo (período de colheita) para utilizá-la em períodos de preços mais elevados (entressafra). Tais condições, fazem com que o produtor ou empresa tenha uma redução dos custos da operação nesses períodos, tendo menos interferência com as oscilações do mercado.

Essa prática é mais difundida em países como os EUA, onde a oportunidade do mercado é vista como importante para a maximização dos lucros, tendo em vista a sazonalidade da oferta do milho durante o ano. Embora alguns países, como a França, Argentina e Estados Unidos, utilizam a armazenagem em nível de fazenda, representando 30 a 60% da safra segundo (Giovine e Christ, 2010) ”no Brasil, esta prática não é muito difundida, apresentando um percentual pouco expressivo de 5% aproximados”.

            O armazenamento no Brasil continua sendo um grande gargalo da produção de grãos, visto que há um notado déficit entre produção e capacidade estática de armazenamento. Trata-se de um déficit de absorção de matérias primas como milho e soja, o que leva produtores a comercializarem o produto de maneira não estratégica durante o período de safra. Segundo D’Arce (2008), a maior capacidade de armazenamento confere ao produtor maior poder de barganha quanto à escolha da época de comercialização dos seus produtos, uma vez que ele não precisaria escoar rapidamente sua produção. Sem a capacidade de armazenamento, o produtor escoa sua produção logo após o término da colheita, em um momento de grande oferta do produto e, consequentemente, de preços mais baixos.

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