Argentino Propõe Criação De Imposto Sobre Beleza
Por Félix Maier | 10/12/2007 | SociedadeFonte: BBC Brasil
Otálora faz campanha em frente à Casa Rosada, em Buenos Aires
O escritor argentino Gonzalo Otálora está causando polêmica com uma
campanha em que defende a cobrança de impostos das pessoas consideradas
lindas para compensar o "sofrimento" daqueles que supostamente foram
menos favorecidos pela natureza.
O escritor, de 31 anos, diz que sua iniciativa tem o objetivo de
provocar um debate sobre o culto à beleza na Argentina e sua influência
em setores como a política, a economia e a educação.
Armado com um megafone em frente à Casa Rosada, sede da Presidência
argentina, em Buenos Aires, Otálora reclama os direitos das pessoas que
são consideradas feias pela sociedade.
Otálora, que se considera parte do grupo dos menos agraciados, afirma
"por experiência própria" que os feios não têm os mesmos direitos que
os lindos na Argentina.
Em seu livro, intitulado "Feio", o escritor argentino narra em primeira
pessoa o sofrimento que enfrentou por sua suposta falta de beleza.
"Minha história é a de um garoto que usava óculos e aparelho nos
dentes, que era alvo de deboche dos colegas de escola e rejeitado pelas
meninas nas festas. Tempos depois, quando procurava emprego, sentia-se
tão feio e inseguro que não conseguia nada", disse Otálora à BBC.
"Eu pensei que se fizesse dieta, fosse todos os dias à academia e me
submetesse a uma cirurgia plástica poderia ser feliz. E me dei conta de
que fiz tudo isso e (ainda assim) não me sentia completo. Minha vida
não mudou."
Na Argentina, a beleza física é associada à imagem de modelos e atores
que aparecem nos meios de comunicação, e as pessoas são consideradas
mais ou menos belas conforme se aproximam ou se distanciam desses
parâmetros.
Otálora diz que empreendeu sua cruzada para que os argentinos tomem
consciência dos valores que sustentam esse tipo de discriminação e
"autodiscriminação".
"Paliativo"
O escritor propõe que o imposto cobrado dos belos sirva para subsidiar
os feios e reparar seu sofrimento. "É um paliativo, porque neste país,
onde se diz que as mulheres argentinas são as mais lindas do mundo, um
garoto feio ou que se sinta feio está de algum modo condenado a ser
infeliz", afirma.
Otálora apresentou seu projeto ao presidente da Argentina, Néstor
Kirchner, a quem classifica como "pouco atraente" e de quem espera
alguma resposta por simpatia à causa.
O escritor admite que a idéia de um imposto sobre a beleza "pode
parecer uma loucura", mas afirma que é apenas um ponto de partida para
discutir outros temas.
Ele enumera alguns assuntos que, em sua opinião, deveriam ser
debatidos: "Que nos desfiles de moda estejam representados todos os
tipos de constituição física, que na escola se crie um ambiente que
desestimule o deboche e que se controle a importância que as empresas
dão à aparência na hora de selecionar funcionários".
Por fim, Otálora dá um conselho a seus "pares" feios: "Eu me
reconciliei comigo mesmo quando me olhei no espelho, parei de me julgar
e comecei a gostar de mim mesmo. E, às dificuldades, respondi com bom
humor."
*
Comentário
F. Maier
Caros leitores,
Esse texto sobre a "taxa da beleza" proposto pelo argentino me faz
lembrar o escritor John Rawls, ainda hoje tido em alta entre a
intelectualidade mundial, autor de "Uma teoria da Justiça" (1971).
Rawls, dentro de seu conceito particular de Justiça, prega, entre
outras coisas, que as mulheres feias devem casar primeiro. É mole?
Sou mais aquela tribo indígena brasileira, não me lembro do nome, onde
é costume os jovens terem relações sexuais com os velhos, e vice-versa.
Isto, sim, é um bom conceito de Justiça: afinal, enquanto jovem, com o
tesão à flor da pele, o sujeito é capaz de "traçar" qualquer coisa (a
tal "idade do urubu"). Depois, com a idade avançada, o índio "véio",
cercado de menininhas, isto sim é um bom conceito de Justiça, nem
precisa de Viagra...