Apresentação em Público
Por Lino Garzón Sandoval | 22/03/2010 | CrescimentoAutor: Lino Garzón Sandoval
Engenheiro Consultor Automação
lino.garzon@br.schneider-electric.com, linogs@gmail.com
Palavras-chaves
Apresentação, dinâmicas, comportamento.
Resumo
As relações interpessoais diretas, ainda hoje prevalecem sobre as virtuais em muitas esferas da vida.
Por trás de um teclado, os indivíduos adquirem dimensões irreais, não podendo sempre se inferir as características do interlocutor, já seja, pela linguagem, pela estrutura gramatical ou por outros detalhes.
Neste grande universo, a maneira de proceder é outra, as regras são outras, podemos concluir que praticamente não há regras. É um meio no qual as pessoas costumam ser quem elas se propõem transparecer ou até quem elas nem imaginam ser.
A partir das pautas aqui expostas, cabe a cada apresentador, adaptar ao seu entorno, os principais enunciados e por quê não, fazer os seus respectivos aportes, chegando a conclusões que engrossarão as listas das melhores práticas pessoais e/ou coletivas.
1. INTRODUÇÃO
“Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa”. Parece pleonasmo, brincadeira ou coisa mal dita ou redigida, mas já virou uma frase sublime, bem conhecida e comum, que explica quase todo.
O fato de ter sido citada anteriormente, obedece à intenção de alertar para uma inquestionável realidade: cada caso requer o seu tratamento específico.
2. GENERALIDADES
Didaticamente falando e tentando organizar as ideias dividiremos a apresentação em três blocos:
1- Abertura. Constitui a fase na qual deve-se conquistar o coração e a mente da platéia, expondo de maneira clara e amena os objetivos estratégicos, gerando uma aproximação, ao tempo que usamos alguns recursos interessantes, para conseguir a atenção dos presentes. Deve-se começar o assunto a tratar e fazer alusão ao resultado final esperado.
Na literatura há vários elementos que conformam este período, que mesmo sendo curto, é primordial.
.Vocativo – De uma maneira amena, sem chegar ao ponto de bajulação, enaltecer entre os assistentes, à pessoa de maior hierarquia. Caso o apresentador o achar necessário ou se há reais motivos para isso, deverá-se agradecer pela oportunidade de expor e estar na frente daquelas pessoas. Seguindo a ordem podem-se fazer referências a outros participantes e não esquecer de cumprimentar á platéia em geral.
.Identificação – Gerar uma empatia emocional inicial com os participantes. Existem inúmeros métodos para conseguir tal acercamento. É só pensar um pouco, sem chegar a forçar, por exemplo: estabelecer uma ligação entre o lugar, a cidade, o estado ou simplesmente um detalhe do recinto onde transcorre o encontro e o tema a ser tratado, ou até citando alguma relação pessoal com algo relativo ao ambiente, ou fazer um simples elogio.
Pode-se comentar a relação com algum dos presentes ou com uma pessoa conhecida dos participantes, tomando cuidado, porque se a referência não for muito bem vista ou aceita, em lugar de aproximação estaria gerando afastamento e teríamos que correr atrás do prejuízo. Lembre-se que a nossa caminhada está só começando.
Nestas situações o conceito de unanimidade pode-se tornar um tanto relativo. É importante não emitir juízos sobre a pessoa trazida a colação. As expressões faciais e as emoções súbitas, também podem julgar. Se o fizer, talvez terá que assumir mais uma responsabilidade. Este seria um momento bom para fazer uso da chamada e inexpressiva “cara de paisagem”, acompanhada de um olhar perdido e distante.
Caso os ganchos anteriores não existirem, não funcionarem ou forem insuficientes, podemos acudir a elementos circunstanciais, procurando informações, por exemplo da localidade e estabelecer um vínculo de satisfação ou afinidade com a mesma. Esta alternativa costuma ser mais natural e menos comprometedora.
.Proposição – Testar a sua capacidade de síntese. Ser capaz de contar em poucas palavras e poucos segundos, o objeto da sua missão, devendo ser dinâmico e certeiro, despertando uma certa curiosidade, abstraindo-se da apreciação pessoal e valorizando o que os interlocutores achariam mais interessante.
A proposição ou também denominada de etapa da proposta, pode ser do tipo objetiva, ao se basear em dados e fatos, ou persuasiva, recorrendo ao emocional dos seres humanos.
2- Sustentação. Esta etapa corresponde ao espaço de tempo destinado a provar o resultado, para explicar a quê se veio, de defender as razões que justificam a sua presença e a abordagem do tema. Fazer com que as pessoas se interessem e compartilhem os teus pontos de vista. É o momento das colocações esperadas pelos assistentes.
Neste período se percorrem vários estágios, que vão desde a persuasão, com os chamados apelos emocionais sem ser pejorativos, até os instantes importantes de transmissão de informações com convencimento, racionalidade e objetividade, ao tempo que iremos introduzindo argumentos relaxantes de entretenimento, para estabelecer um equilíbrio na atenção.
Não devemos esquecer a teoria do clássico “piscar de olhos” e a cada 30 segundos, refrescar o ambiente, estimular a motivação.
É bom refletir neste ponto sobre o uso de brincadeiras e piadinhas. As piadas têm o seu lado impreciso e obscuro que nem todos entendemos e sorrimos. Podem facilmente causar o efeito contrário ao esperado, dependendo da aptidão cômica do contador. Nem sempre a platéia ou parte dela está apta para aceitar suas piadas. A falta de medida na aplicação desta provável vantagem é crítica.
É mais recomendável contar casos, situações engraçadas ou não, das quais participamos, fomos protagonistas. Isto nos aproxima mais do auditório e do assunto tratado.
Interessante: se fossem situações nas quais você se deu mal, o efeito empático com o público, será iminente e ganhará em aceitação e credibilidade. Parece sinistro ou até perverso, mas na prática funciona e não é porque as pessoas sempre queiram ver ou ouvir falar de desgraças, mas na vida real, as chances de acertos e erros, andam juntas.
3- Fechamento. Momento da conclusão. Reafirmar os objetivos iniciais e esclarecer o sucesso ou insucesso do tempo que empregamos em abordar os assuntos. Definições de ações futuras que garantirão o cumprimento dos objetivos propostos.
2.1 Da Linguagem.
Para causar a tão almejada boa impressão geral, são necessários:
- Boa dicção;
- Eficaz projeção da voz para dominar o auditório;
- Disposição física no local que permita a integração de todos os presentes com o assunto tratado;
- Bagagem ampla de palavras;
- Uso do vocabulário adequado para a ocasião,
constituindo as bases para o provável sucesso da apresentação.
A cadência das palavras deve ser observada e alterada segundo o termômetro que todo orador possui da sala. Mudar o tom da voz, enfatizar, diminuir ou acelerar a velocidade da expressão oral, são necessários em correspondência com o clima e o ambiente do momento, seja para evitar um nível de distanciamento que provoque sonolência ou para aplacar os ânimos, se estiverem exacerbados.
O uso e abuso de formas adverbiais, por exemplo: efetivamente, geralmente, comumente, etc, estimulam a formação de bingos instantâneos. Já constatei, estando em qualidade de ouvinte durante uma conferência, um grupo de abusados, empregando o tempo contando a incidência de estas palavras durante uma exposição e conseqüentemente tumultuando e afastando-se do eixo principal.
Continuando sobre o assunto da linguagem, citaremos os vícios da expressão, as repetições excessivas das mesmas palavras de apoio e a falta de termos idôneos para denominar certas coisas e fatos. Em seu defeito ou excesso, usar outros vocábulos que confundem e distorciam a mensagem.
Permita-se inflexões agradáveis da voz. Quebre a monotonia. A voz não deve ser monocórdica. Tente ser eloqüente, mas tenha senso da quantidade que deve falar. Não “ameace” com que vai terminar uma ideia ou a intervenção como tal, acabe-a mesmo. Ou seja, que quando você diga: “e para finalizar…, e para concluir”, finalize mesmo!, resuma!.
2.2 Da Preparação.
Um trabalho preparatório de mesa para definir objetivos, comportamentos e posições durante a explanação, é de grande utilidade.
Sinta-se ator, ensaie.
Freqüentemente reparamos que o nexo da conversa perdeu-se por parte do condutor, ou que nós mesmos no rol de facilitadores na condução de um tema, nos distanciamos consideravelmente da ideia principal, porque o elemento que apareceu merecia uma atenção especial e não sabemos como retornar ao nosso objetivo e encerrar o assunto.
São circunstâncias, às que todos estamos propensos, mas na medida em que exercitamos e ganhamos experiências, conseguimos contornar as situações. Um trabalho prévio de preparação nos permitiria analisar e contar com saídas elegantes.
A linha guia da exposição, deve seguir o caminho daquilo que proporciona benefício, que aporta. As pessoas gostam de perceber o lado positivo do que recebem e no que fazem também.
Melhor é assumir dignamente o desconhecimento, em lugar de atolarmos em inverdades. Não estamos obrigados a sempre saber de todo (não me refiro a questões elementares). Não minta! Ao respeito, o grande filósofo grego Aristóteles nos presenteou com uma frase muito interessante: “Quê vantagem têm os mentirosos? A de não serem acreditados quando dizem a verdade.”
O não saber, SIM é motivo para ficar calado. É de mau gosto intervir sobre assuntos que de maneira evidente desconhecemos. Se intrometer em todo, vai nos tornando inconvenientes e antipáticos, além da elevada perda da credibilidade à qual estaremos sujeitos.
2.3 Uso de Recursos de Apoio à Apresentação.
Uma boa apresentação, secundada por um recurso gráfico enriquecedor, indiscutivelmente inclina-se a favor do sucesso, causando uma boa imagem. Este deve servir como apoio e não tornar-se de fato na apresentação como tal.
Mas os tempos estão mudando e as pessoas estão cansadas de receberem visitantes, bem apessoados e produzidos, com arquivos “.ppt” que conseguem “mover o mundo”, convertem-se em discípulos modernos de Arquimedes, o grande matemático e físico da antiga Grécia, que expressou: “Dê-me uma alavanca e um ponto de apoio e levantarei o mundo”.
Fazendo uma analogia com a frase anterior, alguns destes sujeitos contemporâneos diriam: “Dê-me um laptop com um editor gráfico instalado, que transformo o mundo por arte de magia”.
Muitas vezes, pouco depois, não fica nem a vaga lembrança do personagem, somente resta alguma que outra estampa de uma caricatura fugaz. O pior é o fato de não perdurar algum vestígio do que ele falou, porque nada ou quase nada foi feito com aquilo que foi apresentado e que fomos praticamente obrigados a ouvir. Aproveitamento Zero.
O primeiro que o apresentador vende é a si mesmo, mas o faz com solvência e credibilidade.
A disposição física e ambiental dos participantes, pode até determinar a integração e o êxito da apresentação.
Aproveito para fazer uma referência ao grande pedagogo brasileiro Paulo Freire e seus estudos sobre a incorporação da sala ao tema. A anteposição entre a organização das carteiras escolares da maneira tradicional, ou seja, enfileiradas e a projetada por ele, em círculos, para dar uma maior integração.
Para nós, este enunciado constitui um símbolo e o conceito de unidade é o que devemos seguir ao pé da letra, possuindo conhecimento do público alvo e tratando de elevar a conscientização dos participantes sobre a necessidade de questionar, entender e até resolver os assuntos que estão sendo tratados.
2.4 Etiqueta e Ambiente da Apresentação.
Algumas regras protocolares, aos poucos estão sendo modificadas. É bom, advirto, segundo o caso, dar à reunião um caráter de aparente informalidade en seus inícios, dependendo do contexto, sem os acostumados preâmbulos, quase que fazendo a apresentação dos participantes como uma conversa literalmente falando, de corredor, pulando a marcada fase de distribuição e troca de cartões de visita.
Relatarei uma prática pessoal e que já me rendeu muitas situações reconfortantes.
Em ocasiões, entendi que devia transpor este segmento de entrega de cartões de visita e não o estimulei. Ao finalizar o encontro, alguém solicitou o meu cartão porque sentiu necessidade de dar continuidade ao que ouviu e foi combinado hoje. Este instante, é de pura consagração, reafirmou o retorno que estava esperando, respondeu às minhas dúvidas sobre a aceitação e interesse despertado.
Nesse momento peço desculpas e reparto os cartões, tanto para quem lembrou, como para todos os interessados e por quê não, para todos os presentes, como parte da etiqueta.
Agora, de maneira geral, se ninguém solicitar o cartão de visita, têm no mínimo, duas prováveis razões:
-Ou você já é figura carimbada, conhecida na área e não precisa dessa parte,
-Ou o pior é que ninguém se interessou pelo que falou, a tua presença nem se fez sentir.
Não se alarme, não se censure, não se julgue de maneira tão crítica, pode ser que simplesmente as pessoas esqueceram, dado o ritmo acelerado e denso da ocasião e sempre haverá alguma forma de te contactar, de chegar até você. Em poucos dias receberá uma mensagem ou tentativa de contato e estará realizado.
Pense um pouco, nem sempre todas as situações exigem de um retorno ou de contactar à pessoa que fez a exposição. Analise antes de chegar a alguma conclusão precipitada. Pode ser até que ficou tudo tão claro, que dispensa sucessivos contactos.
É importante também, não descartar a possibilidade de ter sido ineficiente, sem assunto e que deveria se propor a si mesmo, novos horizontes, outras metas, mudando o estilo e/ou conteúdo do que estiver a dizer.
2.5 O Respeito.
O respeito funciona como uma via de mão dupla. Para ter ou para ao menos achar que devemos receber, teremos que dar, e não é um livro de auto-ajuda que possibilitará esta condição. Temos que chegar a senti-lo pelo semelhante, pelo que fazemos, pelo que transmitimos.
Existem muitos elementos que manifestam o respeito pelas pessoas com as quais estabelecerá relações. A preparação, a postura, o interesse, o saber escutar, o usar as próprias palavras dos que intervêm, etc.
A seguir comentarei alguns detalhes que também conformam o universo do respeito.
Recomenda-se fazer um exercício de associação visual e tentar chamar as pessoas pelo nome. Se a quantidade de participantes é reduzida, é quase que imperdoável não tentar memorizar os nomes. É um simples sinal de que você se importa com os presentes e está afim de chegar e fazer parte de uma mesma causa. Logicamente, para um auditório com muitos participantes, seria inviável.
A justificativa de que: “eu sou péssimo, sou ruim de nomes”, é um argumento repetitivo e que não sempre convence, sejamos mais criativos. Muitos destes maus fisionomistas e desligados, conhecem bastante pormenores dos seus superiores diretos e indiretos também. É só fazer um esforço. É superarmos. Não é engraçado se posicionar desse jeito, não é “chic”, não valoriza, é incapacidade.
Evite as sub-reuniões, tente trazer todos a formarem parte da conversa. Até os mais alheios podem fazer aportes e dar sugestões viáveis. Isto também fomentará manter a disciplina de uma forma quase que espontânea, impedindo a dissociação do coletivo.
Olhe para as pessoas diretamente nos olhos, não recuse o contato visual, não se perturbe com o peso dos olhares, caso contrário as pessoas se sentirão negligenciadas.
Cuide da gesticulação, sem chegar a constituir um ôbice, porque se ficar neurado, não saberá o quê fazer com as mãos, nem com os balanços involuntários do corpo e perderá o rumo do que estiver falando.
Tente fazer movimentos coerentes e não esquisitos ou ingenuamente obscenos, acabando em involuntárias coreografias.
Preste atenção ao visual, escolha adequadamente à roupa, isso também é parte integrante do respeito. Até você não chegar à categoria de excêntrico profissional, “celebridade” e/ou “queridinho”, é melhor se manter dentro dos padrões do receptor e zelar pela aparência, o que é válido tanto para homens quanto para mulheres.
3. DINÂMICAS DURANTE AS APRESENTAÇÕES .
Cuidado com as dinâmicas durante as palestras e seminários. Elas de fato, devem ser concebidas e executadas. Obviamente, orientadas a agregar valor ao assunto que está sendo abordado e se inserir gradativamente e não de maneira forçosa ao tema principal.
É aconselhável dispor de mais de uma opção e implementar aquela que se adeque mais ao momento e ao andamento das atividades. Não implementar nenhuma também pode ser uma saída inteligente ainda que lamentável.
Já vi e até fui vítima de dinâmicas, que examinadas de forma absoluta, são boas e cumprem objetivos, mas desafortunadamente não foram bem encaixadas e ficaram inapropriadas para a ocasião.
Comentarei uma situação, que no final resultou ser bem engraçada.
Minha esposa e eu, fomos convocados para uma reunião de pais no colégio dos nossos filhos. Na sala de teatro estaríamos os convidados que seríamos os responsáveis pelos alunos de todas as séries, conjuntamente com o corpo docente da escola.
Eventos assim, só podem tratar assuntos gerais. Particulares ficam para outro dia.
Estavam preparadas várias intervenções, a razão de uma por cada nível de ensino, sem contar a apresentação guardada para o final, de todos os professores, divididos por matérias, além de outros “bônus”.
No afã de inovar, cada apresentador, tentou imprimir o seu selo pessoal e não faltaram os que organizaram dinâmicas acordes com um objetivo, que muitas vezes não ficou claro, em outras não foi dito. Teve quem abusou dos recursos gráficos que na hora “H” não funcionaram como previsto ou dos sonoros que seguiram o mesmo caminho dos gráficos.
Em se tratando deste tipo de exercício, sempre que possível, é bom deixar bem claro para os participantes, qual o objetivo perseguido, qual o resultado obtido e fazer as respectivas observações.
O horário escolhido para a reunião, era sábado as 14:00 e teria uma duração de duas horas. De fato, é um dia complicado para a imensidade das pessoas que trabalham, ou seja, uma boa parte dos pais presentes que pagam as não discretas mensalidades do colégio e que esperam a chegada do fim de semana para entre outras coisas, resolver problemas e ter um espaço para o lazer. Detalhe, este horário era para muitos, depois de uma feijoada no almoço e …
Mas se aproximar da escola, também faz parte das obrigações e necessidades. Isso está claro.
A condução da atividade, por momentos transcorreu num derradeiro de erros, onde não foram preestabelecidos limites de tempo para a apresentação assim como de conteúdo, desta forma tivemos várias pessoas falando do mesmo assunto, com a mesma ótica e sem se preocupar com o tempo que ia se excedendo.
Faltou perspicácia nos apresentadores para não tocarem os mesmos temas, desde os mesmos ângulos e de observarem o transcorrer do implacável: o tempo.
Mas nem tudo foram coisas erradas, teve muitas, que deram certo. O saldo foi positivo, fundamentalmente pelo que representava e não pelo produto final.
Passado das 16:00 horas, que seria o momento previsto para concluir, não existiam nem sombras de conclusão. Faltavam vários oradores que estavam na agenda e outro espaço aberto, que era o das intervenções dos pais. Questão que ninguém pode de fato predizer quanto durará nem sobre que versarão os comentários, assim como a alta probabilidade de fugir do controle, dado a necessidade que estes têm de se pronunciar e compartilhar critérios e o pouco que a instituição já fez para permitir que isso acontecera.
Este tipo de reunião massiva, não é para entrar em detalhes específicos de alunos nem de salas de aulas, mas por falta de ocasião ou por ausência de mesura, é inevitável que alguém perca o foco.
Chegou a vez de curtirmos uma figurinha interessante do departamento acadêmico, que falou muito bem, mas a essa altura o bom se torna ruim e o não tão bom, insuportável. Esta funcionária também teve a infelicidade de se apresentar imediatamente depois de uma psicopedagoga que foi contratada para o certame e que constituiu o ponto alto, o clímax da atividade. Foi de uma graça e um profissionalismo ímpar, arrancando efusivos aplausos e até repentinas emoções, acompanhadas de discretas lagriminhas. Superá-la ou equiparar-se, não seria tarefa fácil para qualquer um.
Somado a todos os inconvenientes já citados, ela teve a desacertada ideia de fazer uma dinâmica com os que restamos em aquele lugar. Esta consistia numa versão refinada do jogo infantil: a dança das cadeiras, mas ninguém perderia o lugar, só que deveria trocar de poltrona à vontade sempre que a música estiver rodando.
A conclusão era demonstrar que todos somos diferentes e que a alguns nos custa mais do que a outros, sairmos da zona de conforto, tentado assim dar um explicação ao comportamento dos alunos de maneira geral e por esta razão teve pessoas que se mudaram para poltronas mas distantes (os que almoçaram salada), outros só se movimentaram para a contigua e nem tanto outros nem se moveram do lugar (a turma da feijoada).
Mas esta pessoinha, teve uma surpresa não muito agradável e Graças à Deus, assim que ela reparou, pôs fim na brincadeira. As pessoas se dirigiam para a saída da sala e cada contagem o número de ouvintes que restava era menor. Ou seja, as pessoas foram embora. Já que me levantei….
Moral da história: Estava previsto, mas não era para fazer. Adequação.
3.1 Testes de Autoconhecimento.
Outra prática bastante usada em seminários, cursos de curta duração e dinâmicas de grupo em geral, são os testes de autoconhecimento.
Somos cominados a fazê-los e não sabemos o objetivo, não somos nem perguntados se estamos interessados em conhecer um pouco mais de si mesmo e o pior, a gente, na maioria das vezes, fica sem saber o resultado e o que eles denotam.
Quê interesse poderiam ter as pessoas em ajudar simplesmente aos outros a saber mais de você e entretanto você não conseguir se conhecer a si mesmo um pouco mais. Raciocinem.
4. OBJETIVOS, FOCO E COMPORTAMENTO.
Existem elementos da apresentação que tendem a serem confundidos: Objetivo, foco e comportamento direcionado.
O objetivo, é a grosso modo, o fim perseguido, ser capaz de resumir em poucas palavras o que se propõe, questão que deve ficar bem clara em todas as etapas da apresentação, sendo o suficientemente recorrente para que se entenda e esteja presente.
O foco, é o alvo, para quem está destinado. O comportamento é o que deve ser feito para acessar ao alvo e conduzi-lo até o logro dos objetivos. Mesmo que pareça espontâneo, ele é direcionado, está desenhado no subconsciente.
Não todas as pessoas, podem-se dar o luxo de certas excentricidades. Há indivíduos que dado o carisma, o prestígio, ou até a fama conquistada, a platéia, lhes perdoa tudo ou quase tudo, por outro lado, com a maioria se comporta de maneira bem crítica e por momentos é implacável.
Na área comportamental, tem que se jogar com probabilidades e aprender a calibrar o auditório.
5. POSTURA PERANTE O AUDITÓRIO.
De uma forma ou outra, convivemos ou somos coniventes com duas posições: as de cruéis observadores e críticos de quem fica na nossa frente, ou temos a honra de sermos vítimas dos olhares incisivos da sala.
É curioso ver o movimento dos olhos dos espectadores. Eles viajam desde a ponta mais afastada do cabelo até a unha do pé. Isto último não é só para o caso de usarmos sandálias. Vai além da unha que por ventura conseguem ver, entram no espectro da imaginação.
Não se deixe impressionar pelos olhares ou atitudes faciais.
Confesso que às vezes se me escapa um sorriso quando reparo em indiscrições crassas, algo que devo aprender a controlar, mas o uso como um sutil chamado a seguirem o tema e não eu.
No caso do expositor ser do sexo feminino, as situação agrava-se. A ditadura da sociedade, exige muito mais do visual delas do que do nosso. Por sorte para nós.
E em se falando de gêneros, devo fazer um aparte de consideração neste quesito para o sexo feminino. Sociedades machistas, não perdoam mulheres fora de forma, os julgamentos são taxativos até pelas outras congêneres. Nós homens, mesmo estando bem distantes de padrões estéticos, albergamos o direito de zoar em silêncio ou não, a presença física das apresentadoras. É quase que um reflexo incondicionado. A tirania da perfeição corporal moderna.
É bom interiorizar, que no final, você não está participando nem de um concurso de beleza, nem de um desfile de modas, mesmo tendo que observar algumas exigências estéticas.
Uma dica geral, seja o menos agressivo possível em gestos, por outro lado, manter uma postura perene, próximo da imobilidade, deixa o ambiente muito monótono.
Evitar exageros, fazer da sala um circo. Deve-se ter domínio do “palco” e da “platéia”, se movimentar com harmonia, sem provocar torções de pescoços e enjôos.
Observar uma seqüência lógica, natural, sem situações abruptas. Que as pessoas e você sintam que o tema está fluindo e avançando pelo seu próprio peso.
As mãos, para alguns são as vilãs, porque costumam nos trair suando, ficando inquietas, etc. Duas dicas: não vamos perder a nossa essência basicamente barroca, onde nos expressamos também com o corpo e na medida em que o tema flua, que tenhamos domínio do conteúdo e da situação, aos poucos a experiência nos guiará pelo caminho da normalização.
Existem famosos e excelentes apresentadores, condutores, formadores de opiniões, permeados de vícios e irregularidades, contrapostas com os artigos acadêmicos sobre o assunto e isso neles não constitui um demérito. Isto nos dá uma pauta de até onde podemos e devemos seguir de modo fiel, os preceitos para triunfar no controvertido universo da comunicação.
Exemplos há variados, desde aqueles que abusam de repetições de interjeições até os que apresentam problemas de respiração, facilmente perceptíveis.
6. DESVIADORES DE ATENÇÃO.
Desviadores de atenção são todos aqueles incidentes repentinos ou fatos reincidentes, que afetam o curso da apresentação, que fazem com que se perca por um espaço de tempo, de maneira geral, relativamente curto, a atenção que estava sendo dispensada ao assunto principal. Eles podem ser visuais, sonoros, etc, e competem com o apresentador.
Nesta categoria entram alguns dos pontos já vistos com anterioridade como movimentos irregulares e incoerentes, detalhes notáveis do visual e outros como barulhos repentinos, espirros diferentes, gargalhadas contagiantes, a passagem constante pela frente cortando o raio de luz do retro projetor dado um posicionamento inadequado do apresentador na sala, o abuso do laser indicador, movimentações exageradas e rápidas do material que está sendo mostrado, mudanças excessivas dos focos visuais, etc.
Outra classe é formada por fatos como, por exemplo, alguém de fora que interrompe, um comportamento impróprio, uma incorporação tardia na sala, presença até programada de um prestador de serviço ou funcionário, para atos tão comuns como levar café e água, uma intervenção extemporânea ou pouco respeitosa, etc. Todos eles tendem a desviar a atenção da atividade fundamental.
Em muitos destes casos teremos que saber como administrar o imprevisto e tirar proveito dele, reduzindo o impacto do acontecimento. Não há um manual, há simplesmente dicas e experiências de saídas de situações padrões e similares, que só complementarão o livrinho particular de cada apresentador.
Para facilitar a interpretação e a modo de comentário, tratarei sobre três historias, não traumáticas, mas que provavelmente muitos já passamos por situações similares e devemos evitar.
Certa vez participei de uma palestra, sinceramente muito interessante, mas neste caso como nos posteriores, não poderei precisar muitos detalhes para não passar pelo constrangimento de serem identificados ou autoreconhecidos, se por acaso toparem com este material algum dia, as pessoas envolvidas nos relatos.
A palestrante era uma mulher de mediana idade (dado impreciso, às vezes é difícil chutar a idade aproximada das mulheres), fisicamente bem conservada e se repararmos no busto, parecia uma obra de arte, farta e exuberante, evidentemente por obra e graça da cirurgia plástica, mas além disso, parece que estava usando um sutiã daqueles que realçam e de quê maneira!
Conclusão: a ala masculina da sala debateu-se o tempo todo entre a genialidade do conteúdo oral e do conteúdo das “melancias”, prestes a saltar a qualquer momento, mas ninguém ganhou a aposta e elas ficaram no mesmo lugar antes, durante e depois da conferência. Com todo respeito: Quê saúde!
Brincando um pouco, teremos como moral da história, que pessoas muito bonitas e/ou com bons atributos físicos, não deveriam ser escaladas para ministrar palestras, porque desviam a atenção do assunto principal.
Seguindo esta linha de raciocínio, talvez esta seja uma das razões pelas quais eu só redijo artigos e não me apresento ante o grande público, mas para ser sincero devo confessar que como é conhecido por todos, sonhar não paga impostos e neste aspecto, eu sou um grande sonhador.
O segundo caso, é um pouco mais “baixo- astral”, trata-se de um palestrante que costumava vestir calças bem justas, apertadas e parece que no dia daquela apresentação, ele estava com algum problema, digamos, de índole genital.
Dava a impressão de que teria colocado um kinder ovo recheado dentro da cueca ou talvez um ovo de Páscoa junto com o coelho, e mesmo tentando evitar dar de cara com aquele fenômeno, era muito evidente, resultava até incômodo olhar para ele, ao menos para nós homens. Fazer o quê?. Confesso era agressivo, notável e constrangedor demais.
Sucessivamente era lembrado por todos como o cara da íngua, o herniado. O nome ninguém conseguia lembrar.
Neste caso consegui concentrar-me fundamentalmente nas palavras e não desviar-me voluntariamente por elementos agradáveis à vista, como no exemplo anterior.
A última das histórias, refere-se a uma professora que tive nos meus anos moços. Era para nós, todos uniformizados, o símbolo da falta de gosto e do ridículo.
Exagerava na quantidade de acessórios na roupa, parecia uma vendedora ambulante de bugigangas e costumava colocar todos os dias, uma gargantilha bem coladinha no pescoço com um “treco” tosco, bem chamativo, que toda vez que falava, o objeto mexia bastante.
Um belo dia ela compareceu à sala de aulas um pouco gripada e com dificuldades de falar. Nessa hora um dos colegas mais atrevidos, teve a infeliz iniciativa de sugerir à professora, retirar o “trem” que tinha enfiado no pescoço, porque talvez ele fosse o causante da falta de voz.
Aquela sugestão foi muito bem recebida por todos os alunos, causando um estrondo de risadas, ao tempo que o rapaz manteve-se impávido sob o olhar irritado da senhora.
Em resumo, o nosso amigo pagou o “pato”, foi expulso da sala, reprovado e foi um Deus nos acuda para conseguir vencer a matéria.
Mas em favor de diminuir a poluição visual da escola, a partir daquele dia, a professora, regulou-se e ficou menos marcante.
A dizer verdade, a sala de aulas de um colégio, não era o lugar mais apropriado para feirantes.
Eu sou tão igual aos outros, que também não reparo nas coisas alheias e não admito que alguém tente me convencer do contrário.
7. CONCLUSÕES
Simples assim. Vá em frente e observe os devidos cuidados. Nem tudo está dito e nem tudo foi feito.
É importante não se achar, mas chegar confiante, vale a pena.
Diferenciação, articulação, domínio em geral, ajudam bastante.
Aprendi muito, ensinando.
Cresci muito, ajudando.
Organizando e orientando, me organizei, me orientei melhor.
Vivo trabalhando.
Avanço lutando.
Esqueci. De vez em quando, faço as minhas baguncinhas também. Esperando esta não seja mais uma delas.
8. REFERÊNCIAS
[1] Freire Paulo. Pedagogia do Oprimido.
[2] Arquimedes. Coletânea de Arquimedes Frases.
[3] Aristóteles. Coletânea de Aristóteles Frases.
[4] Pereira Ney. Material do curso de Estratégias de Apresentações Empresariais. Fevereiro 2009.