APRENDIZAGEM AUTOGERIDA

Por zildineusa santos montenegro | 18/02/2025 | Educação

APRENDIZAGEM AUTOGERIDA 

Autonomia e suporte: Desafios e potencialidades da aprendizagem autogerida 

Zildineusa Santos Montenegro1 

RESUMO 

O artigo aborda o aprendizado independente, explorando conceitos como autonomia, autodireção e autoaprendizagem, além de discutir desafios e oportunidades na educação. Com base na definição de Malcolm Knowles, apresenta a aprendizagem autogerida como um processo em que o estudante assume responsabilidade por suas metas e resultados, com ou sem apoio. Destaca-se a relevância da autoaprendizagem no contexto da educação a distância (EaD), especialmente no Brasil, e o papel de plataformas como Moodle, que oferecem ferramentas para facilitar esse modelo. O texto também enfatiza a importância do Design Instrucional (DI) para estruturar e melhorar a experiência de ensino. São discutidos materiais autoexplicativos, hipermídia e intervenção tutorial apoiada por materiais autoinstrucionais e estrutura pedagógica projetada para minimizar ou eliminar a necessidade de mediação direta de um tutor. Por fim, o artigo aponta vantagens como a flexibilidade e autonomia, mas ressalta a necessidade de comprometimento dos alunos. 

Palavras-chave: Aprendizagem independente. Aprendizado Autônomo. Ensino autogerido. Ensino online. Design instrucional. Plataformas de aprendizagem. 

ABSTRACT: The article explores independent learning, examining concepts such as autonomy, selfdirection, and self-learning, while also discussing the challenges and opportunities in education. Based on Malcolm Knowles definition, it presents self-directed learning as a process in which students take responsibility for their goals and outcomes, with or without support. The relevance of self-learning in the contexto of distance education (EaD), particularly in Brazil, is highlighted, along with the role of plataforms like Moodle, which provide tools to facilitate this model. The text also emphasizes the importance of Instrucional Design (ID) ind structuring and enhancing the learning experience. Self-explanatory materials, hipermídia, and tutorial interventions are discussed. Finally, the article highlights advantages such as flexibility and autonomy, but underscores the need for student commitment. Keywords: Independent learning. Autonomous learnig. Self-directed learning. Online education. Instructional Design. Learning Platforms. 

Keywords: Independent learning. Autonomous learnig. Self-directed learning. Online education. Instructional Design. Learning Platforms.

1 Introdução 

Neste artigo, faremos reflexões sobre os conceitos que norteiam o aprendizado independente, a liberdade do aprendiz para escolher métodos, recursos disponíveis e os desafios para alcançar êxito em seu objetivo educacional. Há na literatura algumas definições para a aprendizagem desenvolvida e regulada pelo próprio educando e que trataremos aqui: autônoma, autodirigida e autoaprendizagem. Todas as definições remetem ao processo no qual o aprendiz planeja, desenvolve e envolve-se na organização e avaliação de sua trajetória educativa.

A metodologia utilizada neste estudo consiste em uma revisão de literatura, que explora os principais conceitos relacionados à aprendizagem independente, com destaque para teoria de Malcolm Knowles (1980), que é amplamente reconhecida no campo da educação de adultos, sendo o principal teórico da andragogia – termo usado para descrever os métodos e princípios de ensino voltados para adultos. Um de seus conceitos mais influentes é o de aprendizagem autogerida, que ele define como:

“Um processo no qual os indivíduos tomam a iniciativa, com ou sem a ajuda de outros, em diagnosticar suas necessidades de aprendizado, formulando metas, identificando recursos humanos e materiais, escolhendo e implementando estratégias adequadas e avaliando os resultados” (p. 18).

Também analisamos dados recentes que evidenciam a relevância da educação a distância (EaD) no Brasil. Na sequência, discutiremos as implicações desses conceitos no contexto educacional contemporâneo a partir dos dados do Censo da Educação Superior de 2021.

A autoaprendizagem está ganhando importância crescente no âmbito educacional contemporâneo, incentivada pela expansão da educação online e por um contexto social em que a gestão do tempo é um desafio crescente. Dados do Ministério da Educação (MEC) reforçam essa tendência, demostrando a expansão da EaD no Brasil no ano de 2021:

Entre 2011 e 2021, o número de ingressantes em cursos superiores de graduação, na modalidade de educação a distância (EaD), aumentou 474%. No mesmo período, a quantidade de ingressantes em cursos presenciais diminuiu 23,4%. Se, em 2011, os ingressos por meio de EAD correspondiam a 18,4% do total, em 2021, esse percentual chegou a 62,8%. Os dados, que refletem a expansão do ensino a distância no Brasil, fazem parte dos resultados do Censo da Educação Superior 2021, divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e pelo Ministério da Educação (MEC), em coletiva de imprensa realizada nesta sexta-feira, 4 de novembro (Ministério da Educação [MEC], 2022, para 1-4)

Além disso, a pesquisa do Inep revela que o setor privado teve a maior contribuição para essa expansão, fornecendo mais de 96% da capacidade. Em 2021, 70,5% dos ingressantes em instituições de ensino privadas ingressaram na EaD, evidenciando sua crescente popularidade como modalidade de ensino no Brasil.

2 Ensino Autogerido em Ambientes Virtuais de Aprendizagem

2. 1 O papel da Plataforma Moodle e do Design Instrucional na criação de materiais autoinstrucionais

O ambiente virtual pode ser concebido como uma sala de aula virtual estruturada, na qual os estudantes têm a possibilidade de acompanhar as atividades do curso por meio da internet. Diversos softwares foram desenvolvidos com esse propósito, incluindo plataformas como Moodle, Blackboard, Canvas, entre outros. Neste artigo, o foco recairá sobre a plataforma Moodle, que se destaca por suas características como código-fonte aberto (softwares livremente disponíveis), alta capacidade de personalização e um conjunto abrangente de ferramentas compartilháveis. De acordo com Cole e Foster (2007):

“Como software de código aberto, o Moodle possibilita uma colaboração global para o desenvolvimento contínuo de seus recursos, promovendo a inovação na educação”.

Entre essas funcionalidades, destacam-se recursos para disponibilização de materiais de estudo, fóruns de discussão, aplicação de testes avaliativos, realização de pesquisas, coleta e revisão de tarefas, além do acesso a registros detalhados, como notas e participação nas atividades.

O ensino autogerido não implica necessariamente que os alunos aprendam de maneira completamente autônoma ou sem qualquer forma de mediação ou apoio. A autonomia não significa ausência de apoio ou intervenção. Ela é apoiada por uma estrutura cuidadosamente projetada para permitir que o aluno seja o protagonista, acessar a plataforma e se apropriar minimamente dos temas propostos para estudo e reflexão. Nesse contexto se desenvolve a atuação do profissional de Design Instrucional (DI), cuja função é facilitar e otimizar a utilização das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDICs), garantindo sua adequação ao perfil dos alunos e aos objetivos do curso.

O DI realiza a análise das condições necessárias para a comunicação e interação, bem como a aplicação apropriada de recursos midiáticos, como fóruns, wikis, chats, entre outros. Além disso, deve considerar diferentes formatos de materiais (texto, áudio, vídeo, imagem) e a integração com plataformas de mídias sociais externas como Facebook, Twitter e Telegram. Os programas de autoaprendizagem a distância que oferecem maior autonomia ao aluno, geralmente incluem materiais autoexplicativos, muitos dos quais fazem uso de hipermídia, e apresentam uma intervenção tutorial mínima, que na maioria das vezes se restringe a responder a dúvidas dos estudantes.

Conforme sugestão de Barberà e Rochera (2010), na autogestão da aprendizagem, quando os materiais propostos são autoinstrucionais, são classificados da seguinte forma (Costa & Tani, 2024):

Reprodutivo Informativo: Informações organizadas em sequência lógica e critérios definidos.

Reprodutivo Participativo: Organizado em sequência lógica para que o aluno tome decisões, geralmente exercícios de repetição.

Produtivo Informativo: O aluno terá acesso à informação, não há feedback e poderá haver avaliação do material produzido.

Produtivo Participativo: Sistemas adaptáveis e flexíveis que permitem incorporar inteligência artificial e gestão da informação, possibilita ajustes progressivos.

Essas categorias de materiais autoinstrucionais refletem a diversidade de caminhos que podem ser explorados para atender às diferentes formas de aprender. Enquanto os materiais reprodutivos ajudam os estudantes a reforçar conceitos por meio de exercícios e práticas guiadas, os produtivos incentivam a criatividade e a independência, permitindo que cada aluno construa seu próprio conhecimento. Ao combinar essas abordagens, é possível criar experiências de aprendizado mais ricas e personalizadas, que respeitam os ritmos e asnecessidades individuais, promovendo um equilíbrio entre estrutura e autonomia no processo educativo.

3 Considerações Finais

A aprendizagem autogerida constitui um marco importante na educação moderna, especialmente com a crescente popularidade da educação a distância. O aumento de plataformas digitais, como o Moodle, em combinação com o suporte de profissionais como Designers Instrucionais, cria um ambiente que promove o equilíbrio entre a autonomia e o suporte necessário para os alunos. Esse modelo fomenta o protagonismo dos estudantes em sua trajetória educacional, estimulando o aprimoramento de competências com organização, disciplina e autoconhecimento.

Entretanto, mesmo que ofereça liberdade e a possibilidade de personalização, a autoaprendizagem requer um elevado grau de comprometimento e responsabilidade por parte do discente. A mediação pedagógica, mesmo que em um nível reduzido, permanece fundamental para direcionar o processo de aprendizagem e assegurar sua eficácia.

4 Referências Bibliográficas

Barberà, E., & Rochera, M. J. (2010). Design de ambientes virtuais de aprendizagem para práticas multiletradas: idealização, concepção e forma. Espanhol: Revista da PUC-SP, 9 (18). Disponível em https://revistas.pucsp.br/index.php/esp/article/view/40185/27471. Acessado em 07/11/2024.

Brasil. Ministério da Educação e Cultura - MEC. (2022, novembro 4). Ensino a distância cresce 474% em uma década. Governo do Brasil. Disponível em https://www.gov.br/mec/ptbr/assuntos/noticias/2022/ensino-a-distancia-cresce-474-em-uma-decada. Acessado em 11 de novembro de 2024.

Adaptada de Cole, J., & Foster, H. (2007). Using Moodle: Teaching with the popular open source course management system (2nd ed.). O'Reilly Media. Recuperado de https://www.oreilly.com/library/view/using-moodle-2nd/9780596529185/. Acessado em 17 de novembro de 2024.

Elaborada pelo autor, com base em Costa, D., & Tani, Z. R. (2024). Prática do design instrucional: Materiais educacionais para aprendizagem autogerida. [e‐book] Flórida: Must University. https://edu621tema17v2pt.webflow.io/. Acessado em 17 de novembro de 2024.

Knowles, M. S. (1980). Self-directed learning: A guide for learners and teachers. Englewood Cliffs, NJ: Cambridge: Adult Education. Recuperado de Self-directed learning: a guide for learners and teachers - UNESCO Digital Library. Acessado em 04 de novembro de 2024.

Silva, R. A., & Paiva, M. C. L. de. (2023). A organização do ambiente virtual de aprendizagem na EaD: o ponto de vista dos estudantes. Avaliação: Revista da Avaliação da Educação Superior, 28, e023021. Disponível em https://doi.org/10.1590/S1414-40772023000100032. Acessado em 15 de novembro de 2024.

1 Graduação em Arquivologia (Bacharelado) pela Uni-Rio - Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, e em Pedagogia (Licenciatura) pela UNESA - Universidade Estácio de Sá. Especialização em Educação a Distância pela Universidade Senac Santa Luzia e em Psicopedagogia Clínica e Institucional pela UCAM - Universidade Candido Mendes. Mestrando em Tecnologias Emergentes em Educação pela Must University. zildineusamontenegro22332@student.mustedu.com.

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