APRENDER... SEMPRE, MAS COMO?
Por Idanir Ecco | 19/04/2016 | EducaçãoAPRENDER... SEMPRE, MAS COMO?
Idanir Ecco[1]
Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende.
(Leonardo da Vinci).
O aprender e o reaprender, que se convertem em saber, comungam-se com o viver. Preocupações entorno das condições necessárias para que a aprendizagem seja processada de forma efetiva e eficiente estão presentes, de modo especial, entre os que tem como incumbência estimular, desenvolver e ampliar novos saberes, isto é, os que exercem o ofício docente, que consiste em cuidar para que o aluno aprenda.
Antes, porém, de elencar determinadas condições como fundamentais para que a aprendizagem ocorra, transcrevo, com adequações, uma lenda, de domínio público, para, posteriormente, retirar dela indicativos que se constituem em princípios que fundamentam o processo de aquisição de conhecimentos.
Narra-se que um velho sábio foi procurado por alguns membros de uma aldeia para que lhes dessem um ensinamento. Estando reunidos, o sábio perguntou:
- As pessoas da aldeia sabem sobre aquilo que vou falar?
Unanimemente, responderam:
- Não!!!
O sábio silenciou por um instante e então disse:
- Neste caso, não adianta eu ir, pois não entenderiam minha mensagem.
Mesmo confusos, imediatamente retrucaram:
- Eles sabem, sim!!!
Sem hesitar, argumentou o sábio:
- Se eles já sabem, minha presença é dispensável.
Os aldeões pensaram um pouco e disseram:
- Na verdade, alguns sabem e outros não.
O sábio convictamente afirmou:
- Ora, então os que sabem ensinem os que não sabem.
Diante do impasse, os aldeões, entusiasticamente, anunciaram:
- Alguns sabem mais, outros sabem menos, mas o que queremos mesmo é saber com o senhor.
Finalmente convenceram o sábio a ir para a vila uma vez que conseguiriam expressar a motivação mais profunda da solicitação.
A fábula descrita acima contém referências relevantes em relação às condições e/ou motivações para aprender. Pois bem: por que os aldeões dirigiram-se ao sábio? “Para que lhes dessem um ensinamento”. Desejavam deliberadamente uma lição. Ou seja: a disposição para aprender estava em destaque. Portanto, querer aprender é uma das condições primeiras para que haja aprendizagem efetiva e duradoura.
Na sequência da fábula observa-se que mediante a constatação de que as pessoas da aldeia não saberiam sobre o que sábio falaria, este se nega em deslocar-se até o povoado e justifica: “[...] não entenderiam minha mensagem.” Logo, para que determinada mensagem seja entendida há que se, a priori, ter noção do que se trata. Esta situação confirma que a qualidade do aprendizado do ser humano relaciona-se aos conhecimentos prévios. Estes são saberes que todos possuímos e que são fundamentais, por se constituírem em pilares, alicerces para construir novos conhecimentos.
A presença do sábio na aldeia tornou-se igualmente dispensável mediante a confirmação de que todos saberiam sobre aquilo que o mestre falaria. Nisso está claro outra condição para aprender: a repetição não gera conhecimento novo e nem é combustível para novas aprendizagens.
Assim que o senhor de notório saber foi informado pelos aldeões de que uns saberiam o conteúdo da sua fala e outros não, propôs: “os que sabem ensinem os que não sabem.” Em outros termos: o saber deve ser socializado e não enclausurado ou reservado para seres “iluminados” ou guardado como se fosse um prêmio individual. Compartilhar o aprendido engrandece o saber coletivo, pois é conhecimento ampliado.
O argumento que convenceu o velho sábio a deslocar-se até à povoação está na assertiva de que “Alguns sabem mais, outros sabem menos, mas o que queremos mesmo é saber com o senhor.” Aprender com outro, colaborativamente, constitui-se na condição primordial para qualificar o processo de aprendizagem, pois o conhecimento é produzido no diálogo com o outro, semelhante ou diferente. Na pedagogia dialógica todos são chamados a conhecer. Verdadeiramente, aprende-se em comunhão!
A aprendizagem como necessidade é uma condição pertencente unicamente aos humanos, pois nossa existência precisa ser produzida cotidianamente. Uma vez que o cotidiano, bem como, o próprio viver, ambos, são marcados pela dinamicidade, é impossível alguém furtar-se ao desenvolvimento e ao aprimoramento de aprendizagens, constante e progressivamente.