Aprender pelo exemplo da primeira escola: a família
Por sebastião maciel costa | 29/09/2023 | EducaçãoAprender pelo exemplo da primeira escola: a família
Não se espera, em condições normais, que os pais saibam transmitir ensinamentos das competências dos professores, mas a aos mesmos, cabe ensinar por meio de um comportamento compatível com padrões que transformam o ambiente domiciliar em um espaço capaz de ser considerado seguro emocional e socialmente. Sabe-se que as condições em que vivem muitos pais para a manutenção do trabalho como forma de manter o sustento digno de sua família, nem sempre são as melhores possíveis ou, no mínimo, que não desestruture o pai a ponto de manter a situação sob controle. No caso de instabilidade emocional, como dificuldades financeiras, conflitos no emprego, com riscos de punição ou demissão, por ambientes insalubres no trabalho ou no trânsito, os pais chegam em casa para “repousar” ou se “confortar”.
Ali chegando, os pais precisam rever atitudes que não instalem em casa, m clima de explosão, de descontentamento com a vida e com os problemas: entra em casa todo dia reclamando do inferno que é o seu trabalho, a demonstração de que o trabalho é um lugar de desprazer, se descontrola, perde a cabeça e grita dentro de qualquer discussão com o cônjuge, transmite naturalmente que perder a cabeça e gritar numa discussão é normal, traz para uso da família objetos eletrônicos tidos com piratas, ou traz naturalmente do trabalho pequenos objetos de uso pessoal, como papel, clips, fita adesiva, canetas, cola, note, celular, no trânsito desrespeita a sinalização e regras do trânsito, no banco fura fila como sendo um gesto de esperteza, no supermercado, abre embalagens, joga palito de picolé e embalagens na rua, usa palavras inadequadas sob alegação de que é comum. E por aí se constata que mesmo que se queira ensinar uma determinada lição certa ou errada, isso só vai se sustentar se o exemplo que se dá for coerente o que foi dito. “o que se faz fala tão alto que não se consegue ouvir o que alguém diz”. A educação por meio do exemplo é como o verde: se houver boa semente, irrigação e cuidados, nasce em todo lugar.
Uma fábula sobre diferentes maneiras de ser estudante Essa é uma história que se passa em qualquer canto do. Brasil, em qualquer escola, qualquer aluno, comigo, com você. Era uma vez, quatro adolescentes que estudavam eu uma escola como tantas outras no Brasil: aulas, expositivas, aulas práticas, aulas de campo, usavam-se já, com bastante sucesso, as proveitosas metodologias ativas e, respirava-se o melhor clima de respeito e camaradagem entre professores e alunos. Ocorre que, se fazendo uma analogia com uma fábula onde seres atípicos compunham a turma em foco, esses quatro adolescentes trazia, em si, um perfil ainda desconectado das chamadas práticas educativas envolventes. As práticas estavam postas, os professores estavam motivados a escola focadas em seus objetivos buscava a excelência no ensinar e no mostrar que cada aluno é capaz de produzir o seu próprio caminhar em busca do efetivo conhecimento.
Os estudantes eram conhecidos pelas alcunhas de “Arrependido”, “Desleal”, “Raso” e “É possível”. Arrependido, tinha o perfil de um aluno desanimado, desmotivado com os estudos, nada produzia em sala, muito menos os deveres de casa. Não atrapalhava em nada, mas não processava nada. Não pensava no seu futuro, sem ter tido culpa, se sentia culpado; sem ter aprendido a ser, não pretendia mudar. Tudo ali na escola, era perda de tempo, tudo muito igual, engessado, maçante. O melhor mesmo era viver a rua, as farras, as brincadeiras, a “trolagem”. Suas notas eram a confirmação do descaso: nada me espera. Desleal era um aluno dissimulado, mentia por hábito e essencialmente preguiçoso com os estudos, ou copiava de alguém ou falsificava o que fazia. Por não ter sido orientado para entender que ser leal é ser consciente, pouco se importava com o que o mundo pensaria a seu respeito. Era tão falso quanto as suas próprias notas, apesar de ser razoável, pois tudo o que precisava era colar ou confiar em qualquer colega, mesmo eu esse colega nada soubesse sobre o assunto avaliado. Como a própria alcunha, se fosse descoberto, justificava-se com o “foi sem querer”, “todo mundo pesca”.
Raso, um rapaz que não pensava em ir muito longe, não tinha motivação para arriscar voos mais altos. Para ele, o que importava era uma nota que o aprovasse, portanto estudava pouco, mas não "colava" nas avaliações e não passava disso: 50% era o bastante e contentava-se com esse mínimo. Sempre tinha um pensamento "não preciso me matar, basta passar, não interessa a nota”. É possível, gostava do que fazia. Quando lhe apresentavam algo novo, um problema que ele não soubesse, ele dizia "vou tentar resolvê-lo" e sempre conseguia mesmo, porém não estudava para tirar boas notas e sim ficar sabendo. Procrastinava por acreditar que de acordo com o momento, com as pessoas, com as circunstâncias, cm os avanços, com as tecnologias, com o modismo, com as inteligências artificiais, a vida segue em um ritmo que nem sempre agrega lições de vida e aprendizado. Mas ele acreditava ser possível, obedecer aos pais, trabalhar valores, estudar e aprender, com hesitação, mas não desistia. Este era aluno todos os dias e sua persistência o ajudava vencer. Assim, É possível, era o primeiro da classe. Em termos de aprendizagem. Raso, era o penúltimo. Desleal, era o ultimo. Pois tinha pouca nota e nada sabia e Arrependido abandonou a escola.
Esses alunos podem ser protótipos de tantos quantos povoam as nossas salas de aula. Podem até não ter grande representatividade no universo escolar, mas são alunos que estão sob olhares atentos de professores que esperam e precisam seguir regras, orientações, conteúdos, regimentos, leis e diretrizes a fim de que se alcancem os objetivos próprios dos sistemas educacionais de todas as redes e níveis. Que crianças estarão sendo entregues às escolas, nos dias de hoje? Que alunos estarão chegando às salas de aula para o processamento dos conteúdos programáticos de sucessivas lições? Que cidadãos se pretendem receber da escola após os ciclos de estudos e ensinamentos? Que profissionais assumirão os controles do mundo a partir do que, quando crianças aprenderam dos pais?
Retomando os perfis dos quatro alunos aqui mencionados, conclui-se que os seus pais não conseguiram prepará-los para a escola da vida; na escola, eles não se sentiram aceitos, reconhecidos, respeitados, acolhidos e ensinados, na vida certamente deverão enfrentar muitos problemas que eram desafios para serem enfrentados e se transformaram em problemas insolúveis. Vale a pena recorrer à expressão de tanto valor didático e social: “Para que a escola seja a segunda casa, a casa deve ser a primeira escola”. Não se trata de um grito de alerta ou de reconhecimento ode falência, mas uma proposta para que cada agente de formação entenda que a primeira escola precisa ser o lar. Quando são cumpridas as orientações educativas em casa, garante-se a preparação daquele que, educado, está apto a ser escolarizado, afinal, esse é o papel da escola: escolarizar na sistematização de conteúdos que fundamentarão o esperado conhecimento. Para os pais, nos dias de hoje, não tem sido fácil competir com o mundo, com a rua, com as redes sociais com as influências de alguns que não obtiveram o conhecimento necessário para pra ser exemplo. As crianças aprendem o tempo todo, através do ensino sim mas, principalmente, com exemplos.
A fim de evitar que responsabilidades sejam transferidas entre família e escola, que se estabeleçam relações de confiança e respeito entre esses dois espaços que se confundem nos seus limites: o exemplo não termina em casa; as lições não terminam na escola; o acolhimento não começa na escola; a responsabilidade não termina na família, mas disponibilizarão juntas, cidadãos capazes de eternizar a espécie pelo exemplo, pela honra, pela família, pela escola, pela vida. Conforme documentos e sistemas o ato de ensinar é uma forma sistemática de transmitir conhecimentos aos semelhantes, no foco, crianças, adolescentes e jovens que dependem da “guarda e proteção” conforme preceituam as leis. Em casa elas aprendem pelo exemplo; na escola elas aprendem pelo ensino sistêmico. Mas fora desses dois ambientes, elas aprendem tudo o que está exposto, seja positivo ou negativo para ser assimilado sem grandes compromissos. A criança, muitas vezes, são arrastadas para aventuras atraentes e até mesmo excitantes para torná-las, como praticam, “modernas”, “livres”, “avançadas” como aqueles que não têm acima de si, pais que agem como efetivos formadores, ou ainda professores comprometidos com valores que fazem a diferença na hora de se enfrentar a vida real. E, nesses casos, não há ensinamentos, mas há exemplos que arrastam, sem limites.
- Sebastião Maciel Costa