APRENDER A LER E LER PARA APRENDER

Por Solange Melo | 05/12/2016 | Educação

APRENDER A LER E LER PARA APRENDER

 

Solange dos Santos Melo

Neide Vital da Silva Barros

            A leitura como prática social é sempre um meio, nunca um fim. Ler é resposta a um objetivo, a uma necessidade pessoal.

            Fora da escola, não se lê só para aprender a ler, não se lê de uma única forma, não se responde a perguntas de verificação do entendimento preenchido em fichas exaustivas, não se faz desenhos para mostrar o que mais gostou e raramente se lê em voz alta, ou seja, a prática constante da leitura não significa a repetição infindável dessas atividades escolares.

A criança, ao aprender a ler, precisa começar a concentrar-se no fato de que a linguagem falada consiste de palavras e sentenças separadas. É necessário que ela descubra também que as palavras e as sentenças escritas correspondem a essas unidades da fala. Este é uma forma de compreensão da linguagem que não aparece tão facilmente nas crianças mais novas, como Emilia Ferreiro, pesquisadora Argentina, e a Ana Teberosky, pesquisadora espanhola, mostraram claramente. (NUNES, 2003:08)

            Uma prática constante de leitura na escola pressupõe o trabalho com a diversidade de objetivos e textos que caracterizam as práticas de leitura de fato. Diferentes objetivos exigem diferentes textos e cada qual, por sua vez, exige um tipo específico, uma modalidade de leitura.

            Em certos textos basta ler algumas partes, buscando a informação necessárias, outros precisam ser lidos exaustivamente, várias vezes. Há textos que se podem ler rapidamente, mas outros devem ser lidos devagar.

            Há leituras, em que é necessário controlar atentamente a compreensão, voltando atrás para se certificar do entendimento; outras que se seguem em frente sem dificuldade, entregue apenas ao prazer de se ler.

            De um modo geral, um grande problema em muitas pessoas é não ter o hábito da leitura. Ler não é somente juntar letras e formar palavras, mas também, e, fundamentalmente, significa saber interpretar, decodificar a mensagem. Não se lê apenas através de símbolos do alfabeto. Existem outros códigos que produzem textos, tais como: uma obra de arte, uma cor, um desenho simples, um gesto ou expressão corporal, um comportamento ou atitude, uma expressão de pensamento e, assim por diante. Todas essas mensagens podem ser interpretadas de forma diferente por cada indivíduo leitor, considerando que a decodificação depende do histórico de vida de cada pessoa.

            Gerar um tema depende de muita leitura e interpretação das mensagens do cotidiano. Ter o hábito de observar e questionar fatos sociais configurados no dia-a-dia contribui muito para a elaboração de um bom tema. Todos os fatos são importantes para quem quer escrever seja o que for. A opinião é formada por meio das mais variadas leituras.

            Há leituras também, que requerem grande esforço intelectual e, a respeito disso, dão vontade de ler sem parar; em outras o esforço é mínimo e, mesmo assim, existe a vontade de deixá-la para depois.

As afinidades entre escola e leitura se mostram a partir da circunstancia de que é por intermédio da ação da primeira que o individuo se habilita á segunda. Concebendo-se a alfabetização como um direito do homem, o que justifica sua franca expansão entre os diferentes povo e civilizações do planeta, ela não se concretiza sem o concurso do aparelho escolar, de modo que este se equipa e se estrutura, para atingir aquela meta com a eficácia. (LAJOLO, 1985:11)

 

            Para tornar os alunos bons leitores para desenvolver, muito mais do que a capacidade de ler, o gosto pela leitura e um compromisso com ela a escola precisa mobilizá-los internamente, pois aprender a ler (e também ler para aprender) requer esforço.

            A reflexão sobre o ensino da leitura na escola é muito importante nos dias atuais. Nesta reflexão é primordial analisar os fatores que impedem a formação de sujeitos leitores para que se possa apresentar caminhos de renovação e qualificação na prática pedagógica relativa a leitura. A leitura sempre teve e tem um papel social de grande interferência na sociedade, mas enquanto houver educadores com caráter dominador o processo educacional será sempre excludente. O trabalho de leitura, na escola, tem por objetivo levar o aluno a análise e à compreensão das idéias dos autores e buscar no texto os elementos básicos e os efeitos de sentido. É muito importante que o leitor se envolva, se emocione e adquira uma visão de vários materiais portadores de mensagens presentes na comunidade em que vive, buscando sempre a democracia. Um trabalho de leitura e de formação de leitores que precise abordar tipos diversificados de textos, pois o mundo está em mudança constante e é preciso avançar de acordo com a tecnologia. No âmbito escolar percebemos que os alunos cada vez mais se afastam e desinteressam pela leitura, e é aí que se questiona a prática pedagógica, o ensino e o incentivo da leitura em sala de aula, as propostas de ação que podem levar as crianças a se tornarem "leitores competentes". Investir na formação de leitores é uma tarefa urgente. É preciso apostar que é possível ir muito além da alfabetização e que sujeitos leitores são capazes de olhar reflexivamente a realidade à sua volta, e serem capazes de fazer a opção de mudá-la de alguma forma.

            Dessa forma o que se pode notar de fato, é que os alunos devem ver na leitura algo interessante e desafiador, uma conquista capaz de dar autonomia e independência. E devem estar confiantes, condição esta, para enfrentar o desafio de aprender fazendo.

            Uma prática de leitura que não desperte nem cultive o desejo de ler não é uma prática pedagógica eficiente.

            O aprendizado da leitura é um momento importante na educação, que começa na alfabetização e se estende por toda educação básica. Consiste em garantir que o aluno consiga ler e compreender textos, em todo e qualquer nível de complexidade. Depois da fase inicial de alfabetização, faz-se necessária a prática da leitura e da interpretação de textos. Uma vez alfabetizado, é possível o indivíduo ampliar seu nível de leitura e de letramento, de forma a tornar-se um sujeito autônomo e consciente. Por outro lado, a alfabetização por si só não assegura o desenvolvimento do cidadão, como uma panacéia para todo e qualquer mal oriundo da falta do saber.

            Segundo Paulo Freire a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra. O ato de ler se veio dando na sua experiência existencial. Primeiro, a “leitura do mundo do pequeno”, mundo em que se movia; depois, a leitura da palavra que nem sempre, ao longo da sua escolarização, foi a leitura da “palavra mundo”. Na verdade, aquele mundo especial se dava a ele como o mundo de sua atividade perspectiva, por isso, mesmo como o mundo de suas primeiras leituras. Os “textos”, as “palavras”, as “letras” daquele contexto em cuja percepção experimentava e, quando mais o fazia, mais aumentava a capacidade de perceber se encarnavam numa série de coisas, de objetos, de sinais, cuja compreensão ia aprendendo no seu trato com eles, na sua relação com seus irmãos mais velhos e com seus pais.

            A leitura do mundo da criança, será sempre fundamental para a compreensão da importância do ato de ler, de escrever ou de reescrevê-lo, e transformá-lo através de uma prática consciente.

            Esse movimento dinâmico é um dos aspectos centrais do processo de alfabetização que deveriam vir do universo vocabular dos grupos populares, expressando a sua real linguagem, carregadas da significação de sua experiência existencial e não da experiência do educador.

            A alfabetização é a criação ou a montagem da expressão escrita da expressão oral. Assim as palavras do povo, vinham através da leitura do mundo. Depois voltavam a eles, inseridas no que se chamou de codificações, que são representações da realidade. No fundo, esse conjunto de representações de situações concretas possibilitava aos grupos populares uma “leitura da leitura anterior do mundo,” antes da leitura da palavra. O ato de ler implica na percepção crítica, interpretação e “re-escrita” do lido.

            Dessa forma, portanto, os alunos devem ver na leitura algo interessante e desafiador, uma conquista capaz de dar autonomia e independência. E devem estar confiantes, condição para enfrentar o desafio e aprender fazendo.

            Uma das práticas de leitura que não desperte nem cultive o desejo de ler não é uma prática pedagógica eficiente.

A sociedade do futuro não raro tem sido descrita como a “sociedade do aprendizado”. Acredita-se que será necessário o aprendizado continuo, para garantir a continuidade do desenvolvimento econômico. Hoje, contudo, em face da poluição ambiental e das crises de energia, talvez se de maior importância à proteção da vida: não obstante, subsistem as tarefas de aprender e reaprender e de ajustar-se a necessidades que estão sempre mudando. O desenvolvimento tecnológico continua a determinar a transferência total do trabalho manual para o trabalho intelectual. (BAMBERGER, 2002:12)

 

            A Importância do Ato de Ler, pode-se citar então que  parece indispensável, ao procurar falar de tal importância, dizer algo do processo que envolvia uma compreensão crítica do ato de ler, que não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto.

            Para Paulo Freire, falar de alfabetização é falar, entre muitos outros, do problema da leitura e da escrita. Não da leitura de palavras e de sua escrita em si próprias, como se lê-las e escrevê-las, não implicassem uma outra leitura da realidade mesma, para aclarar o que chama de prática e compreensão crítica da alfabetização.

            A questão da coerência entre a opção proclamada e a prática é uma das exigências que educadores críticos se fazem a si mesmos. É que sabem muito bem que não é o discurso o que ajuíza a prática, mas a prática que ajuíza o discurso. Quem apenas fala e jamais ouve; quem “imobiliza” o conhecimento e o transferem as estudantes, quem ouve o eco, apenas de suas próprias palavras, quem considera petulância a classe trabalhadora reivindicar seus direitos, não tem realmente nada que ver com a libertação nem democracia.

            Pelo contrário, quem assim atua e assim pensa, consciente ou inconsciente, ajuda a preservação das estruturas autoritárias.

Escrevendo para Ler...

Mas é no século XIX que essas duas práticas começam de fato a ser vistas de modo associado, como duas faces da mesma moeda.

Antes de mais nada, a escrita deixa de ser uma arte e passa a ser um trabalho manual, não sem o protesto dos calígrafos. O ensino da escrita é simplificado, preparando a mudança fundamental. (BARBOSA, 1994:18)

     

            Não se pode em hipótese alguma permitir que a leitura seja deixada de lado, não seja entoa levada em consideração, a leitura é um dos meios mais eficazes de desenvolvimento sistemático da linguagem e da personalidade. Ela é considerada como uma das mais importantes atividades de aquisição de saber.

            É através do processo de alfabetização que a leitura desenvolve a interpretação global da imagem, a sua descrição verbal e a elaboração das relações existentes entre as diversas figuras representadas.

            A leitura favorece a remoção das barreiras educacionais de que tanto se fala, concedendo em oportunidades mais justas de Educação principalmente através da promoção do desenvolvimento da linguagem e do exercício intelectual e aumenta a possibilidade de normalização da situação pessoal de um indivíduo.

            O que se precisa despertar o interesse da criança para aprender a ler não é o conhecimento sobre a utilidade prática da leitura, mas a crença de que é capaz de ler, assim lhe abrirá um mundo de experiências maravilhosas, permitindo-lhe compreender o mundo, tornado-se confiante de seus próprios atos.

            A capacidade de ler é de importância tão singular para a vida de uma criança na escola que a sua aprendizagem da leitura, mais do que freqüentemente seja seu destino, por isso a primeira motivação para ler à simplesmente a alegria de práticas habilidades recém adquiridas, o prazer da atividade intelectual, recém descoberta e o domínio de uma habilidade mecânica.

            Através da educação dos pais, estes aprendem a reconhecer que o ensino da leitura começa no primeiro ano de vida da criança. A ajuda dos pais é imprescindível mesmo após a alfabetização da criança, é muito importante para ela sentir o interesse dos pais pelo que ela está lendo.

            Não apenas o conteúdo e os temas do material de leitura se revelam decisivos para despertar o interesse; vários outros fatores também se revestem de importância especial para o leitor jovem e não-experimentado.

            O grande início educacional de um aluno ocorre na alfabetização, tamanha é, naturalmente a sua necessidade, por ser ali o primeiro passo para toda a caminha, a alfabetização consiste no aprendizado do alfabeto e de sua utilização como código de comunicação. De um modo mais abrangente, a alfabetização é definida como um processo no qual o indivíduo constrói a gramática e em suas variações. Esse processo não se resume apenas na aquisição dessas habilidades mecânicas (codificação e decodificação) do acto de ler, mas na capacidade de interpretar, compreender, criticar, resignificar e produzir conhecimento. A alfabetização envolve também o desenvolvimento de novas formas de compreensão e uso da linguagem de uma maneira geral. A alfabetização de um indivíduo promove sua socialização, já que possibilita o estabelecimento de novos tipos de trocas simbólicas com outros indivíduos, acesso a bens culturais e a facilidades oferecidas pelas instituições sociais. A alfabetização é um fator propulsor do exercício consciente da cidadania e do desenvolvimento da sociedade como um todo.

            A leitura é fundamental, as crianças não podem ficar sem um bem tão precioso e fundamental quanto a leitura. Se não existisse a leitura não existiria a matemática, as ciências, a geografia, a história, enfim, não existiria educação!

           Não existem métodos educacionais que não se utilizem a leitura. Fundamentalmente na alfabetização, onde é o início de todo o processo de desenvolvimento educacional dos alunos, onde a criança terá a base do seu desenvolvimento, de sua capacitação escolar.

            A leitura é essencial, indispensável. Não existe vida fechada, e a vida aberta é a vida daquele que enxerga, mas não enxergar no sentido de apenas estar vendo cores, o ambiente, mas enxergar sabendo o que está enxergando, conhecendo o que se vê, não sendo analfabeto funcional, mas lendo, fazendo a leitura de mundo, fazendo a leitura de vida.

     

REFERENCIAS

 

     

      ABUD, Maria José MilhareziO Ensino da Leitura e da Escrita na Fase Inicial de Escolarização.  São Paulo : EPU, 1987.

 

AGUIAR, Vera Teixeira de. Leitura em Crise na Escola. Porto Alegre, 1985,164 p.

 

ALMEIDA, A.M e CORREA, L.. Aprendendo a ler e a escrever na palavra dos aprendizes.. Ribeirão Preto: Sociedade Brasileira de Psicologia, 1995.

 

BAMBERGER, Richard. Como Incentivar o Hábito da Leitura Educação em Ação. São Paulo: Ática, 2003.

 

BARBOSA, José Juvêncio, Alfabetização e Leitura. São Paulo: Cortez, 1990.

CUNHA, Maria Antonieta Antunes. Literatura Infantil: Teoria e Prática. São Paulo, 1991.

FERRARA, Lucrecia D`Aléssio. Leitura sem Palavras . 4. ed., São Paulo: Ática. 1997.

FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização. 25. ed., atualizada, São Paulo: Cortez, 2000.

NUNES, Terezinha. Dificuldades na Aprendizagem da Leitura: teoria e prática. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2003.

PRESTES, Maria Luci de Mesquita. Leitura e (Re) escritura de textos: subsídios teóricos e práticos para o seu ensino. 4. Ed. Catanduva: Respel, 2001, p. 366.

 

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