APRENDER A DESAPRENDER PARA REAPRENDER A ENSINAR

Por sebastião maciel costa | 16/10/2023 | Educação

Aprender a desaprender para reaprender a ensinar

        A humanidade, no seu mister de crescer, avançar e fazer conquistas, precisa, como estratégia de manter o controle sobre o seu foco, enfrentar  com habilidade as mudanças sociais e o advento de novas tecnologias. Tais adventos interferem e modificam o relacionamento e a convivência em todos os níveis. Em se discutindo as relações, o primeiro espaço é o ambiente familiar que é sequenciado pela escola. Esses dois ambientes precisam estar “acordados” em todos os sentidos da expressão: acordados, atentos, presentes, em vigilância, ou pela outra vertente linguística que implica estarem constantemente em busca de acordos.

         Na escola, especialmente, esses novos cenários têm se constituído em desencontro de posturas originado, por vezes, pelo impacto entre a forma como a família se comportou com a criança e a necessidade de se trabalhar com regras e normas, horários e disciplinas inerentes à sala de aula.  O Sistema, as escolas, como cada profissional devem se adaptar aos novos cenários, pois precisam ser capacitados e preparados para oferecer as habilidades exigidas para lidar com as demandas impostas em nome do futuro. Muitas vezes, a criança, o adolescente, o jovem de modo geral, podem ver o rigor imposto pela administração do tempo, da postura, do comportamento, dos compromissos como sendo algo sem sentido, desproposital, opressor, baseando-se, exclusivamente na liberdade que sempre teve em casa, agindo de acordo com as suas vontades. Daí, podem nascer pontos de conflitos que se tornarão problemas instransponíveis.

         Diante das dificuldades de entendimento e harmonia entre “o ensinar” e “o aprender” é possível se destacar dentre tantas competências consideradas do futuro, por contas da tecnologia e dos seus desdobramentos no mundo das comunicações que se movimenta na velocidade da luz, precisamos aprender a ser criativo, ter pensamentos analíticos, aprender a transitar tecnologicamente, ter curiosidade e disposição para aprender sempre, ser resiliente, flexível e ágil, encontrar motivação e gestão de talentos, Tal Posicionamento não representa uma atitude isolada, uma ação silenciosa, inconstante apenas para demonstrar que houve inovação no comportamento, precisa ser uma postura consciente, comprovada nos mínimos pontos do comportamento humano, a ponto de todos os passos do profissional que se propõe a ensinar demonstrarem para os seus alunos, que o mestre está aberto a novos passos, a novos acordos em nome da aprendizagem compartilhada.  Refletindo, em particular a iniciativa do pensamento analítico, deve-se dar o devido destaque à  habilidade de analisar informações, dados e cenários. O que se sabe, como se posiciona, como lidar,  no dia a dia, com tudo o que a sociedade, a tecnologia, o mundo profissional, mercados de trabalho se comportam e quais as atitudes que precisam ser tomadas na condução das atividades, dos negócios, da sociedade, do mundo.

         No plano das analogias de comportamento da sociedade ao longo dos séculos, cabe um recorte: Um dia, um jovem que queria receber os ensinamentos de um conhecido mestre zen recebeu dele o convite para vir à sua casa. Os dois conversaram um pouco e o mestre lhe ofereceu uma xícara de chá. O jovem aceitou e o mestre serviu seu futuro discípulo. A xícara se encheu, mas ele continuou servindo. A xícara transbordou e o chá foi se derramando pelo chão. Vendo isso o discípulo disse: ‘Mestre, mestre, pare! O chá está derramando!’. O mestre parou e lhe disse: ‘Muito bem, meu caro jovem. Assim como esta xícara, sua mente está repleta de verdades imutáveis. Nada do que eu lhe ensinar ficará em sua xícara e só se fará transbordar, inutilmente. Para receber meus ensinamentos você precisará primeiro esvaziar a sua xícara. Só assim você estará com a mente limpa para assimilar o novo e o diferente`.

        Daí decorre a tentativa de chamar a atenção para a necessidade de que cada ser humano responsável pela formação de outros, saiam de si mesmos, esvaziem-se de suas raízes a fim de terem espaços no seu HD para o conhecimento dos novos tempos, a aquisição de novas ferramentas e instrumentalização para novas habilidades, onde “ensinante” e “aprendente” aliem-se em todos os aspectos impostos às diferentes gerações que, em vez de competirem entre si, na obtenção do conhecimento o que há de melhor: eles mesmos. Sem traumas ou perdas, cada um deve, aos poucos, procurar meios de atualização e aquisição de posturas que o torne apto a lidar com os novos comportamentos trazidos pelos mais jovens. Afinal, se eles trazem tantos hábitos que, naturalmente se confrontam com o universo adulto, foi assim que lhes ensinaram, daí a necessidade de uma relação muito estreita entre a primeira e a segunda escola: a família e a escola propriamente dita.

        Aos mais experientes, informados e detentores do conhecimento, cabe maior a necessidade de desaprender certas práticas, para conseguir enxergar o diferente, e muitas vezes, óbvio. Se necessário for, que se deixe de lado o que aprendeu e se esteja disposto a repensar as coisas com outros pontos de vista, e os mesmos propósitos; outros enfoques para os mesmos objetivos;  outras abordagens, para o entendimento.

       Aprender é o grande objetivo de qualquer pessoa que busque viver bem, em paz consigo e com os seus propósitos. Analisando cautelosamente os rumos que as sociedades têm tomado em nome da evolução e enfrentamento das dificuldades nas mais diversas áreas, nasce uma encruzilhada: ou está tudo errado, já que os mais jovens querem  impor o seu ritmo, ou precisamos parar, para refletir se o melhor caminho, ou pelo menos, o que nos resta, será implantar um ciclo de novos comportamentos, por meio do APRENDER a DESAPRENDER, para poder REAPRENDER a ensinar. Atitudes que precisam ser implementadas pela família e pela escola em favor do futuro. Documenta-se que é preciso refletir sobre o ensino e aprendizado cumulativo que fez sucesso no passado seja substituído pela reflexão do pensamento crítico capaz de reciclar o que preciso for, em nome da construção do conhecimento compartilhado sem empilhamento de teorias muitas vezes sem efetiva utilidade para o funcionamento da máquina que se move em nome do mundo.

        Para que efetivamente haja parcerias em nome do ensino-aprendizagem é possível se tomar algumas providências que têm um custo, mas é imperioso que sejam, pelo menos, reconhecidas: abrir-se ao novo, evitar comportamentos e atitudes que possam ir de encontro ao que está contextualizado, aprender com os outros. Esse ato amplia as possibilidades de se instalar na relação existente entre os “experientes” e os futuros “experientes” o respeito que enobrece a todos.  Concluindo a proposta, recorre-se a uma versão atualizada de um recorte fabular que diz o seguinte: Um jovem casal nos seus primeiros dias de casados trocavam afetos na culinária apresentada pela jovem esposa. Sempre que era possível, ela servia um delicioso prato de peixe frito em postas. Depois de alguns meses, foram almoçar em um restaurante natural onde foi servido um delicioso peixe inteiro assado em folhas de bananeiras. Muito apetitoso, apreciado por todos. De volta ao lar, o esposo perguntou, com muito cuidado, por que sua querida esposa só lhe servia peixe frito, em posta. Ela calmamente, respondeu: - Não sei, aprendi com a minha mãe, só sei fazer assim. O tempo passou e, um dia foram almoçar na casa da mãe de sua esposa. Ali foi servido, o mesmo peixe frito em postas. Durante o almoço, ele se sentindo à vontade  perguntou à sogra, o por quê de ela, como a sua filha, só fazerem peixe frito, em postas. Ela respondeu: - Não sei, aprendi com a minha mãe.

        Voltaram para casa. Ele estava com aquela informação que lhe parecia óbvia mas que lhe chamava a atenção. O tempo passou e, certa vez, por sorte, a sua querida esposa ainda tinha avó. Lá foram almoçar. No almoço, peixe frito em postas. Ele perguntou à gentil senhora. Por que todas vocês servem sempre delicioso peixe frito em postas?  - Sabe, meu filho, eu aprendi, e ensinei às minhas filhas a fazerem peixe frito em postas, porque a minha frigideira era muito pequena... O peixe frito em postas tinha a sua importância vital para tantas gerações, como todos os ensinamentos que temos para os jovens, mas é preciso ter outras versões, de acordo com as condições, ambientes e circunstâncias que o mundo apresenta com variantes que se caracterizam por conquistas que valem pelo que se aprende, pelo que se ensina, como se aprende, como se ensina.

  • Sebastião Maciel Costa   

 

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