APRENDENDO A ENSINAR

Por luciene teodoro das chagas passos | 27/10/2017 | Educação

Segundo McDiarmid (1995, p.113-121), para aprender a ensinar de novas formas, maneiras, caminhos, os professores necessitam de:

1. Uma comunidade de colegas que os influenciem a aprender novas práticas, a experimentar mudanças e comentar sobre elas, discutindo e refletindo com o grupo. Por isso, um programa de formação contínua deve considerar não só o professor como indivíduo, mas sim o grupo de professores formando um mesmo corpo. Essa tem sido a mais apropriada edificação da mudança no trabalho docente. Vale ressaltar que não se pode perder o foco do que se propõe discutir, o plano de discussão deve ser flexível a ponto de acomodar os diferentes níveis de aprendizagem dos professores. Um fenômeno comum, mas inexplorado, é o professor que se propõe a mudar as práticas, a ajudar alunos a alcançarem seus objetivos e, conseqüentemente, é banido, excluído, rejeitado por seus colegas. Se o professor o faz com apoio e encorajamento externo, ele é visto com outros olhos.

2. Suporte e liderança para as principais construções do grupo de profissionais em desenvolvimento no âmbito geral. Quem exerce papel de liderança (direção, coordenação) tem a importante função de oferecer um suporte não só das condições físicas, mas também estabelecer as relações com a comunidade, oferecer as condições para o grupo montar um planejamento. Um sucesso no desenvolvimento profissional, sem o suporte instrucional do líder, raramente acontece.

3. Suporte na sala de aula durante o processo de mudança de suas práticas. Um sucesso na aprendizagem de novas práticas necessita de alguém sinalizando para o professor seus acertos e erros, trocas de conhecimentos e esclarecimento de dúvidas. A chave para esse professor é a franqueza nessa relação e a liberdade de poder realizar qualquer tipo de abordagem. Pode ser um colega do mesmo grupo de desenvolvimento ou outro grupo externo, alguém que possua uma habilidade especial e a tem respeitada. O desenvolvimento bem sucedido do corpo docente inclui suporte além do que é tipicamente oferecido em workshops e cursos especiais.

4. Fazer parte de uma grande comunidade de aprendizagem, agindo de maneira crítica, ativa, participativa, buscando recursos e relacionando diferentes personagens envolvidos no processo: pais, alunos, membros da comunidade, membros do conselho escolar, especialistas, mantenedores, autoridades públicas. Faz-se necessário que os diretores providenciem os recursos e os espaços necessários para que os professores possam adaptar suas aprendizagens às suas condições específicas. Os diretores devem ajudar os professores a desenvolverem suas próprias capacidades de organizar e providenciar oportunidades de aprendizagem.

5. Oportunidades de experimentar aprender em caminhos reformulados e observar o ensino reformulado. Os professores têm que ter oportunidade de aprender novamente e não meramente aplicar a pedagogia de outros pedagogos, mas sim ter suas próprias idéias, debates e caminhos que caracterizam diferentes disciplinas. Os professores não são somente técnicos, aplicando idéias de outros, mas produtores de conhecimento e administradores dos próprios problemas. O melhor caminho para aprender sobre colaboração é aprendendo a colaborar. Sugestões de aulas e práticas para engajar os professores, ativamente, em sua própria aprendizagem, raramente são úteis. Nas oportunidades de desenvolvimento do corpo docente, os professores precisam experimentar, como aprendizes, o tipo de instrução que as reformas educacionais promovem.

6. Oportunidades de desenvolver novos entendimentos dos assuntos que eles ensinam, dos papéis que assumem na escola, na sala de aula e sua participação como membros da comunidade de aprendizagem. Os conhecimentos e o entendimento dos assuntos trabalhados na escola, no resultado da aprendizagem, são para aquele grupo de professores que tem tido oportunidade de se desenvolver, conseqüentemente, professores precisam de oportunidades para repensar os assuntos que eles ensinam e as implicações do resultado para esta prática. Essa mudança de prática implica que os professores dêem assistência aos alunos na atividade de construção de conhecimentos próprios. Ao mesmo tempo, é esperado dos professores que eles desempenhem novos papéis colaborando com toda a comunidade: colegas, administradores, pais. Finalmente, a chave para essa reforma educacional é a criação das comunidades de aprendizagem. Professores precisam aprender como criar e contribuir para essas comunidades.

 

7. Disponibilidade para julgar de maneira crítica sua própria prática. Em resposta à crítica direta que os professores recebiam há alguns anos, muitos professores tornaram-se defensivos em relação à sua profissão e à sua prática. Essa posição impedia uma reformulação genuína. Professores com disposição e boa vontade para realizar a autocrítica poderão refletir melhor sobre os conteúdos que desenvolvem, a avaliação, a construção de grupos de estudo, o apoio e a liderança.

8. Tempo e oportunidade de se afastar, física e mentalmente, do trabalho diário na sala de aula. Novas aprendizagens não acontecem em uma tarde aqui, um sábado pela manhã ali. Até o momento, o ponto de vista científico, que descreve as citações sobre a organização curricular, apontam que isso não acontece facilmente ou naturalmente. Os professores precisam ter oportunidades para questionar, ler, discutir, colher informações, observar, pensar, escrever e experimentar novas práticas em um determinado período de tempo. Esse tempo deve estar integrado como parte do seu trabalho diário e semanal.

9. Precisam de sustentação financeira e políticas para dar suporte ao seu desenvolvimento profissional. O processo de mudança demanda tempo. Professores aprendem, se desenvolvem e mudam em diferentes proporções. Para alguns professores, o processo poderá demandar anos. As reformas educacionais demandam um tipo de aprendizagem e conhecimento que não era familiar a alguns professores. Entender estes novos efeitos da aprendizagem e aprender a ensinar de novas formas são tarefas que exigem do professor e consomem seu tempo. Por isso, os professores necessitam de recursos e apoio para continuar aprendendo, mesmo quando o curso termina e os investimentos acabam.

10. Precisam de coordenadores para possibilitar desenvolvimento profissional de algumas atividades prioritárias na sala de aula. A questão é que não se trata, meramente, de tempo suficiente, mas também priorizar o desenvolvimento de professores em relação a outros aspectos do ensino. O desenvolvimento profissional deve ser reconhecido como uma condição necessária para se concluir com êxito as metas da reforma educacional. É necessário dar oportunidades para os aprendizes construírem significados e desenvolverem seu espírito crítico. Tal reconhecimento ajudará os professores a ganhar uma trégua dentro da incessante demanda do seu tempo e atenção, um reconhecimento crítico para eles, focando o entendimento das implicações da reforma em suas práticas e seus papéis.

O referencial de McDiarmid (1995) aborda a importância do suporte: não se muda porque alguém mandou mudar, a mudança necessita de suporte; e as condições necessárias para essa mudança.

As relações entre escola e Sociedade contemporâneas são complexas. Uma rede de variáveis interfere no exercício da docência e no desempenho escolar dos alunos. Contudo o otimismo crítico, tal como apresentado por Cortella (1998), deve predominar: a escola é, sim, fundamental instrumento de transformação social e o professor agente político-pedagógico.