Após um ano, emoção na missa pelo seu Calixto

Por Edson Terto da Silva | 15/03/2010 | Sociedade

Após um ano, emoção na missa pelo seu Calixto

 

Edson Silva

 

Escrevo este artigo em homenagem ao seu Calixto, do Assentamento I de Sumaré, falecido há um ano, num dia 13 de março, e após mais uma vez ter ouvido a canção: Levantados do Chão, de Milton Nascimento e Chico Buarque. Música que divido com os amigos antes de prosseguir com o texto: “ Como então? Desgarrados da terra?/ Como assim? Levantados do chão?/ Como embaixo dos pés uma terra/ Como água escorrendo da mão?/ Como em sonho correr numa estrada?/ Deslizando no mesmo lugar?/ Como em sonho perder a passada/ E no oco da Terra tombar?/ Como então? Desgarrados da terra?/ Como assim? Levantados do chão?/ Ou na planta dos pés uma terra/ Como água na palma da mão?/ Habitar uma lama sem fundo?/ Como em cama de pó se deitar?/ Num balanço de rede sem rede/ Ver o mundo de pernas pro ar?/ Como assim? Levitante colono?/ Pasto aéreo? Celeste curral?/ Um rebanho nas nuvens?/ Mas como?/ Boi alado? Alazão sideral?/ Que esquisita lavoura!/ Mas como?/ Um arado no espaço? Será?/ Choverá que laranja?/ Que pomo?/ Gomo? Sumo? Granizo? Maná?”

 

Toda uma vida que o seu João Calixto dedicou à luta pela terra, realização que tomou forma em 84 com o Assentamento Sumaré 1, que tornou-se modelo de Reforma Agrária para o país, me faz identificar esta canção como uma bela e coincidente homenagem ao Calixto, que trazia no sangue a mistura das raças negra e indígena, quer coisa mais brasileira que esta ? Milton e Chico são gênios da Música Popular Brasileira (MPB) e, salvo algum engano, fizeram a música para um espetáculo dedicado aos trabalhadores sem terra, como Calixto foi um dia, mas que com perseverança, coragem e disposição tornou-se assentado, não numa luta para si, mas pelos companheiros, pelas famílias, pelos filhos que necessitavam de um chão para fincar pés e tirar o sustento.

 

 Confesso ainda estar tomado pela emoção da linda missa de um ano da morte do seu Calixto, ocorrida em 11 de março, no Assentamento 1, dirigida pelo arcebispo emérito de Campinas, Dom Gilberto Pereira Lopes, 83 anos, sendo mais de 60 desses anos dedicados ao sacerdócio. Vi a admiração que Dom Gilberto tinha pelo seu Calixo, homem que ele disse ter uma perseverança que se igualava a uma “teimosia divina”. Era possível ver no rosto de cada um dos presentes a emoção e o profundo sentimento de respeito que nutriam pelo lavrador Calixto. E os filhos então ? O Hilário, a Soninha, todos tinham devoção pelo pai . Ao fazer questão de dizer, no início deste texto, que escrevo num dia 13 é que sei da paixão que o seu Calixto nutria pela política libertária e inclusiva, aliás ele nasceu num 13 de outubro, número que viraria símbolo de seu partido, o PT.

 

Recordo-me que num evento sobre igualdade racial ocorrido em 2008, no Sindicato dos Metalúrgicos de Sumaré, com a presença do ministro Edson Santos, do Governo Lula, deram a palavra ao seu Calixto e ele disse que sentia-se um homem feliz e que poderia até morrer- infelizmente isso ocorreria em março de 2009- e sua felicidade resumia-se principalmente a dois fatos: ter lutado e ajudado eleger um operário (Lula) presidente e um amigo, professor e batalhador pelas causas sociais (Bacchim) prefeito, em Sumaré. Este fato que testemunhei e tantos “causos” lembrados pelos amigos Ulisses, “Tito”, entre tantos outros, que rendiam homenagem ao seu Calixto, só fazem aumentar a admiração por este personagem da história real, que lutou, viveu e morreu de bem com sua terra, seu chão...

 

Edson Silva, 48 anos, jornalista da Assessoria de Imprensa da Prefeitura de Sumaré

Email: edsonsilvajornalista@yahoo.com.br