Após Alguns Anos De Casados...

Por Gabriel Villas Boas | 12/06/2008 | Crônicas

O marido chega em casa e vê a mesa vazia. Sem a esposa e sem a comida. Quase tem um ataque e então grita pela mulher.

- Cadê o jantar mulher?

- Não fiz e não vou fazer – responde a esposa em tom de sarcasmo.

- Posso saber o porquê?

- Porque, ao contrário do que você pensa, eu também sou uma pessoa trabalhadora e preciso de um descanso às vezes.

- Mas e você vai comer o que?

- Não to com fome. Mas o boteco da esquina faz uma comida bem boa. Se você não fosse tão pão duro e deixasse mais dinheiro em casa, eu já tinha ido buscar pra você.

Silêncio.

- Não posso acreditar nessa sua atitude – diz o marido com austeridade na voz. – To indo buscar alguma coisa então.

O marido sai, há um estrondo na porta e a esposa, que sofreu a conter-se, solta uma gargalhada que enche a casa. Não consegue acreditar em tudo o que acabou de fazer.

O marido retorna, os olhares são hostis, é inegável o ar de ameaça no ambiente. Mas ela ajuda o marido e coloca os talheres, o copo e prato à mesa.

Mas não acaba por aí, ela se mostra provocativa e senta à frente dele na mesa. Observando ele comer.

- Que tal a comida? – ela pergunta

- Pois é, acho que vou começar a deixar mais dinheiro em casa, pra você poder comprar comida pronta. Há tanto tempo que eu só como aquela gororoba que você faz que tinha me esquecido o que é comida de verdade.

Então, num ataque de fúria, a esposa se levanta e despeja o macarrão na cabeça do marido.

- Mas o que que você tem na cabeça!

O marido revida da única maneira que ele imagina ser possível. Arremessando o feijão na cara da esposa.

Após isso, a situação desanda. Guerra de comida. Até não sobrar um grão de arroz sobre a mesa.

- Como você é infantil – diz a esposa com uma fúria meio que forçada.

- Mas foi você que começou – responde o marido no mesmo tom. – Você é louca.

Silêncio.

- Você não faz idéia de como eu te amo – diz o marido com um enorme sorriso no rosto.

- Você é um... Ah, só posso dizer o mesmo.

Ele então se senta no sofá, ela em seu colo e a troca de olhares e beijos atravessa a noite e vence a madrugada.

A vida naquela casa sempre foi boa. Um cotidiano monótono mas agradável. A comunicação às vezes falhava, mas pela troca de olhares eles se entendiam como ninguém. Às vezes é preciso quebrar a rotina. Mas não havia motivo para mudar de direção.