Aperto
Por Themis Groisman Lopes | 26/04/2015 | Contos
Aperto
Ele vem se aproximando com um sutil sorriso nos lábios, que lhe fazem estremecer. Há exatos dez anos, ele era imponente, altivo e com uma vasta cabeleira castanha que parecia eterna.
Helena começa a suar no meio dos seios, sua boca fica seca. Só consegue enxergar em câmara lenta, os passos agora pesados; o corpo opulento e flácido, a cabeça careca, os olhos injetados e fixos nela.
Enquanto o som dos aplausos retumba ao redor, a iminência do encontro com seu professor de estatística é certa e assustadora. O desconforto embrulha o estômago. Só percebe a razão de sua situação de pânico, quando sua mão já quase toca a sua. Esqueceu seu nome, só lembra o apelido e, é ele que teme com todas as forças. O professor lhe remete às lembranças das jovens alunas procurando esconderijo, no bar do campus, para se esquivar do contato com esse homem, que hoje recebe um prêmio como recompensa de anos de dedicação e esforço.
Helena pensa como o jeito desagradável, porém longe de ser insuportável, de determinadas pessoas da juventude ficam gravadas nas lembranças, fazendo toda emoção de outrora voltar com força. Aquele homem jamais sonhou com a reação que provocava em suas alunas, pois além de bom professor, era gentil e atencioso.
Agora, lá está Helena, esperando o aperto de mão de alguém que é digno de reconhecimento. Os olhos injetados se rasgam, acompanhando o imenso sorriso. A mão aperta forte a sua, que sente dois beijos estalados, cada qual em uma bochecha. Retribui o sorriso e o aperto de mão. Um parabéns esganiçado sai, seguido de um sacolejar repetido de sua cabeça, dando ênfase a todo contexto gestual, na tentativa de disfarçar a desconcertante falta de lembrança. Ele não percebe. Agradece emocionado, quando lhe chamam a atenção do outro lado. Pede licença e se retira.
Helena sai devagar, encaminhando-se ao banheiro.
Entra, olha resignada no espelho. Puxa duas toalhas de papel, depois mais duas.
Enquanto limpa o rosto, lembra seu nome: Cesar Augusto, o famoso “Baba Bochecha”.