AOS INDECISOS A DIFÍCIL OPÇÃO
Por maria angela mirault | 17/10/2010 | PolíticaSerá que como eu alguém tem se perguntado como nos levaram a essa encruzilhada política; nesse arrastão de consciências a que estamos submetidos nesse segundo turno das eleições presidenciais? Como decidir entre o ruim e o pior ainda? Que poder é esse que urdiu e ungiu essas candidaturas que, agora, nos obriga a escolher entre o roto e o esfarrapado?
Durante dias, tenho tentado capturar em ambos os candidatos indício capaz de inspirar alguma confiança e que possa justificar minha ida compulsória até a cabine de votação, no próximo dia 31. Suas mídias primárias, contudo, indiciam segundas intenções em suas vacilantes, vãs e inúteis promessas (salários, mutirão, Pac?s, Upa?s, etc). Lembro-me do embate intrapartidário, travado pelo candidato com relação a sua candidatura, assim como a escolha do seu vice, ambas conseguidas à custa, sem dúvida, de sua "determinação". Do mesmo modo, recordo-me do projeto "20 anos de poder" do Zé Dirceu e dos acordos políticos culminando na escolha do PT por uma eminência parda do PMDB a vice-presidência.
A avaliação que venho fazendo sobre o descompasso retórico do candidato, fez com que me recordasse de uma das mais nefastas privatizações do seu partido no governo FHC: o projeto mercantilista do ensino que promoveu arbitraria e sub-repticiamente a privatização do ensino superior, em nosso país. Para mim, esse é um dos maiores males perpetrado por um governo em nossa história contemporânea. O sucateamento do ensino público fez emergir um conglomerado de "botecos", fazendo com que uma pessoa seja proprietária de mais de 22 instituições universitárias desse tipo. A criação das IES, os Institutos de Ensino Superior, que cogumelam em todo o território nacional, enriqueceram grupos empresariais da noite para o dia, enquanto as universidades federais, debilitadas e comatizadas, esfacelaram-se, vilipendiando o ensino e a própria profissão de professor.
Ao submeter o ensino às regras do mercado, estimulou-se a mediocrização do país. Com exceções de poucas, tradicionais e sérias instituições privadas de ensino, essas empresas não oferecem ? e nem permitem - espaço para a dialética. Deste lugar, em que, historicamente, abrigavam-se a controvérsia e o confronto de idéias, não se pode esperar que emirjam lideranças políticas e sociais capazes de conduzir de verdade esse país ao seu tão sonhado destino. Por isso estamos falidos e nem sei quando desse mal conseguiremos nos refazer. Não, decididamente, não posso deixar de considerar esse feito funesto, na hora da minha opção.
Por considerar ser a Educação a única saída para os milhões de soterrados que somamos, creio que, enquanto não nos dermos conta dessa verdade, que se evidencia tão agudamente nessas eleições, seremos todos meros tiriricas votando em tiriricas. Reconheçamos, as fachadas não importam, nós, o povo brasileiro, elegemos, nessas eleições de 3 de outubro, mil arremedos de tiriricas, apelidados e escamoteados por outros nomes e currículos por todos os quadrantes nacionais, como resultado da catástrofe nacional no quesito educação-ensino- instrução.
Mas, ao descartar O candidato, como optar por sua oponente quando a reconheço como representante da maior esquizofrenia ideológica vivenciada por um partido, que assumiu o poder pela oposição que se fazia como contra-ponto ao status-quo neoliberal, vigente? Mancomunada com os Sarneys, Renans e Collors da vida e tricotando as mais estranhas coligações, ela é a metáfora maior da colonização que vimos sofrendo ao longo desses anos e que sublinharam cada dia dos oito anos do governo participativo da era lula. Seu sorriso histriônico em uma face esculpida por marketeiros, cabeleireiros e visagistas não é capaz de inspirar a confiança de quem tenha um pouco mais do que dois neurônios na cabeça. Sua simpatia estereotipada e extemporânea não a identifica com o feminino que habita em mim. Sua mídia corporal fala mais do que todas as suas palavras. Portanto, essa também não pode ser minha opção.
Não se pode escolher em sã e limpa consciência, nesse arrastão eleitoral a que fomos encurralados. Se, de um lado, apresenta-se o retrocesso político e a arrogância de quem insiste em declarar sua qualidade por ter "idéias próprias", do outro, o que temos é uma candidata colonizada que não pode manifestar francamente as suas, enquanto nós - meros cidadãos brasileiros ? somos obrigados a cumprir um dever nacional e ter que decidir entre o ruim e o pior ainda; entre o roto e o esfarrapado. Escolhendo o primeiro, pelo menos, ajudo a promover o desaparelhamento do Estado que o governo-lula tão ardilosamente cometeu. Escolhendo a candidata, dou um crédito as suas promessas no quesito educação. E aí?
Pois, que ambos se explodam; o voto da classe média e esclarecida não vai decidir as eleições. Que se explodam todos os que querem me convencer a essa difícil, se não, impossível, escolha. Que ganhe qualquer um, já que quem governará serão os mesmos velhos colonizadores de sempre; eles, os que impõem os conchavos, a cumplicidade, os acordos políticos. De qualquer modo, eles estarão eleitos e representados na Presidência da República do nosso País.
Pois, bem, recomecemos tudo de novo, dia 1o. ; pois teremos mais quatro anos pela frente. Se não foi ainda para a minha geração, nem para a geração dos meus filhos e talvez, ainda, não o seja para a dos meus netos ? somente a EDUCAÇÃO DE QUALIDADE será nossa cápsula de resgate; nossa fênix de saída; a única apropriada a solucionar os problemas decorrentes do soterramento intelectual e moral, que nos mantém tão medíocres e acuados frente às escolhas que fizemos em má ou sã consciência. Como o acaso não existe, Oxalá minhas preocupações se diluam na esperança que todos os brasileiros demonstram e depositam nas urnas, e que vença o roto ou o esfarrapado, quem sabe, o menos pior.
MARIA ANGELA COELHO MIRAULT
Doutora e Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC/SP
Mariaangela.mirault@gmail.com