Ao seu lado até o fim

Por Ana Kátia de Souza Pessoa | 19/09/2011 | Contos

Ele não viveu! Eu juro que fiz tudo o que pude! Mas ele não viveu!
Eu ficava horas e horas a fio, grudada ali, ao seu lado na cama, sem tirar os olhos dele. Não saia para nada. Nem dormia direito. Tinha medo de não ouvir sua voz de suspiro me chamando: "Maria". Era assim a noite toda. Para ajudá-lo a satisfazer alguma necessidade, ou carência dele mesmo. Não queria se sentir sozinho. Eu pegava a sua mão e segurava. Apertava, apertava, apertava... Por um longo tempo.
As vezes, eu perguntava a Deus, quanto tempo este sofrimento duraria. Para ele e para mim. Não é fácil não! Mesmo amando, é grande sacrifício! Ver ele assim doente... Magro e fraco em cima de uma cama, sem poder se mexer, dependente de tudo! Logo ele, que sempre foi tão vigoroso. De dia, tão trabalhador, e de noite, quando me pegava... Era tanto rola pra cá, rola pra lá... Era tanto amor, de tudo quanto é jeito! E depois assim... Ele parado ali, esperando a morte, pois viver, já não era mais esperança.
Meu coração parecia carne moída, de tanta dor. Meu homem na cama, indo embora. E jovem ainda. Fora tão forte... Para mim, tão belo...
Eu fiquei ali, ao seu lado! Era minha obrigação de mulher. Fiquei velando ele, até o seu último suspiro. O último suspiro dele me deixou vazia, com um oco no peito. Com seu fim, eu estava sozinha, sem filhos e velha. Cansada e abatida.
Eu fui mulher bonita! Ainda o era, até antes de sua doença! A maldita corroeu a carne dele e a minha. Agora, sou carcaça sem viço. Triste, triste. Cheia de melancolia...
Imediatamente após o enterro, queimei nossa cama de casal com mágoa e ódio! Nunca mais faria amor com ele nela. Ela fora sua prisão! Nela, ele se esvaiu até acabar.
Será que ele já viu o Criador? Tá lá no céu, junto com os anjos, velando por mim?
Nada mais me prende aqui.
- Me espera, meu amor! Me espera! Eu já to chegando...