Ao Heródoto Brasileiro

Por Aurélio de Menezes Bezerra | 03/06/2010 | História

Ao Heródoto brasileiro
Um bom começo é a metade, segundo o grande grego Aristóteles. É partindo desta idéia que irei começar aqui a ressaltar um grande homem da história do Brasil. Coletar, descrever e objetivar a relevância do historiador Frei Vicente do Salvador é uma tarefa de tamanha responsabilidade, pois devido a sua grande contribuição historiográfica a respeito do que de fato foi Brasil Colonial, fica difícil poder representar só por palavras um minucioso e verdadeiro cenário do Brasil século XVI e XVII feito por este historiador. Por isso, saliento que já é de grande satisfação para com minha pessoa, se conseguir representar pelo menos uma metade opulenta e significante sobre a vida e a contribuição historiográfica para o Brasil e o mundo de Vicente Salvador. Já me seria um bom começo para disseminação da visão oficiosa que este autor da primeira e verdadeira "História do Brasil" (sua obra dividida em cinco livros) fez para marcar os respingos de transformação, sobrevivência e vigor da colonizada Santa Cruz (o conhecido Brasil, que na época de Salvador tinha tal nome).
Não é por menos, que esse Frei nascido em Matuim, umas seis léguas ao norte da cidade da Bahia, em 1564, foi e é considerado "o pai da História do Brasil", ou se o público quiser "o Heródoto brasileiro", pois o detalhamento historiográfico, geográfico, etnográfico e antropológico do pai da história, Heródoto de Halicarnasso, foi herdado e explicitado por Salvador em sua obra e para importância do Brasil.
Escolhi ressalvar a vida de Vicente Rodrigues Palha, nosso querido Heródoto brasileiro, tanto pela sua contribuição geral para meu país, como pela cooperação que este teve para com o meu estado pernambucano, onde leu um curso de artes, no convento da ordem, em Olinda, e em sua obra grandiosa, faz uma historiografia destrinchada das muitas capitanias da colônia, inclusive da capitania de Pernambuco, doada na época a Duarte Coelho, onde já fala de Recife e Olinda, nome este que pôs um galego, por lhe achar linda a situação topográfica.
É importante lembrar o destaque que faz a essa porção de terra (Pernambuco), que como a vicentina, analogia que faz, progrediu bastante, em especial no plantio de cana-de-açúcar e mantimentos, e na montagem de engenhos; todavia não escapou à tragédia daqueles terríveis tempos do Brasil.


Como a maioria dos homens instruídos da época, estudou com os jesuítas no seu colégio de São Salvador, e depois em Coimbra, em cuja Universidade se formou em ambos os direitos e doutorou-se. Voltando ao Brasil ordenou-se sacerdote, chegou a cônego da Sé baiana e vigário-geral. Aos trinta e cinco anos fez-se frade, vestindo o hábito de São Francisco e trocando o nome pelo de Frei Vicente de Salvador. Missionou na Paraíba, residiu em Pernambuco e cooperou na fundação da casa franciscana do Rio de Janeiro, em 1607, sendo o seu primeiro prelado. Eleito em Lisboa custódio da Custódia franciscana brasileira, no mesmo ano de 1612 teve de voltar a Pernambuco. Após haver estado em Portugal, regressado novamente à Bahia, como guardião, tornado ao Rio e mais uma vez à Bahia, aí faleceu entre os anos de 1636 a 1639.
Não posso deixar de falar a fala do historiador Capistrano de Abreu, nascido na cidade de Maranguape, em 25 de outubro de 1853, que cearense, em 1869, viajou para Recife, onde cursou humanidades. De acordo com o historiador cearense, a História do Brasil de Frei Vicente do Salvador, se apresenta como "uma coleção de documentos antes reduzidos que redigidos, mais histórias do Brasil do que história do Brasil". E assim ao caracterizá-la o historiador cearense, tanto punha em relevo a concepção de história do franciscano, quanto a sua própria. O franciscano foi o primeiro brasileiro conhecido que escreveu prosa num gênero literário, qual é a história, e de feitio a se lhe puder qualificar a obra de literária. É por ele que começa nossa literatura em prosa.
No seu livro, embora nele resida parte da sua vida, da sua trajetória, das suas angústias, das suas alegrias, das suas desilusões e da sua esperança, Salvador não é o livro. Entretanto, por mais contraditório pareça o que defendo aqui, não se deve, nem se pode, afastar o homem da sua obra; seria cortar um elo que é verdadeiramente essencial. Não existe livro sem autor (ou autores).
Passo a finalizar este começo simplório no sentido de minúsculo sobre o acervo que tem Frei Vicente do Salvador, e não no sentido de tolo ou ingênuo, afirmando que ele não foi o melhor em seu tempo, foi o único, por nos oferecer verdadeiramente uma história geral do Brasil e, como tal, deve ser encarado e compreendido. Conquistou por isso lugar definitivo na historiografia brasileira.