ANTES DO SILÊNCIO

Por Romano Dazzi | 16/06/2009 | Crônicas

 

 

 

192 -  ANTES DO SILÊNCIO

 

ANTES DO SILÊNCIO

De Romano Dazzi

A cidade grande acabou de acordar. Por todos os lados, agitação, movimento, pressa.

Pessoas passam rápidas, à procura do tempo perdido.

Carros  velozes, num fluxo apertado, sem folga, sem vãos.

Motos, correndo em ziguezague, pois têm que chegar primeiro.

O sol irrompe quente, violento,  batendo com força nas grandes vidraças esverdeadas

de catedrais imensas.

O reflexo frio da sua luz repete-se no asfalto, em  formas bizarras,

torcidas, de cem janelas fulgurantes. 

E os sons: guinchos, buzinas, apitos, batidas;

Quando a cidade grande acorda,  ninguém mais dorme.

 

Mas hoje é domingo. Só se escuta cinco por cento do barulho.

E a gente perde a hora.

 

Sozinho, deitado no estrado simples do meu quartinho no vigésimo andar, acabo de ser

 acordado pelo elevador.

Os sons da casa de máquinas, aqui ao lado, ferem meus ouvidos o dia inteiro.

Ouço o lamento dos cabos tensos, esticados, os estalos secos dos relés que ligam e

param os motores, parecendo  chicotadas cruéis, o chiado dos freios.  

Estou tão acostumado com esses sons, que me fazem falta aos domingos, como hoje,

com os escritórios fechados e o prédio em repouso.

Assusto-me com a impressão que algo possa estar errado

 

Desço à rua, respiro fundo, tomo um café, olho as manchetes.

Subo então de novo ao vigésimo e empreendo minha inspeção rotineira.

Oops, esqueci de explicar: faço a vigilância interna e a limpeza de um prédio de

escritórios.

Faz parte do meu trabalho inspecionar portas, janelas, pias, torneiras; e se calhar, consertar o que posso,  ganhando uma graninha extra.

Moro lá em cima, como já sabem.

Desço um andar por vez, pelas escadas de serviço, entro pelas portas corta-fogo, caminho lentamente pelos longos corredores, com a atenção desperta, os olhos bem abertos, os ouvidos atentos.

Nunca se consegue prever o que pode aparecer nesta caminhada.

Por exemplo, a porta de entrada do décimo oitavo, deixada aberta, agita-se chamando  a atenção. Vem, bate, volta, bate de novo,  fazendo reboar o estrondo surdo pelas salas vazias.

Uma janela basculante, mal fechada, no décimo quinto, faz uma molecagem: acaba de se escancarar, e convida o vento a entrar; ele inicia uma dança frenética, acordando  mil papéis adormecidos sobre as mesas.

Ao vê-los assim, de longe, parecem tantas colegiais em uniformes brancos,  enfeitadas para a festa de formatura.  Ao fim da valsa, cansadas, esbaforidas, esvoaçam mais um pouco, aquietam-se e deslizam suavemente para o chão; enquanto isso, outras começam um novo giro. Fecho a janela, o vento desmaia, tudo se cala.   Amanhã alguém vai ficar muito aborrecido...

Um chiado forte, suspeito, chega do quadro do extintor do décimo andar; o vidro está quebrado;  o vento encanado da escada de incêndio fica zunindo e assoviando. Não é nada . Só um susto.

Um gatinho perdido, no oitavo,

Estou sempre repetindo aos porteiros que precisa prestar atenção na porta principal; não me admiraria de encontrar um cavalo na diretoria,um dia desses 

Mas amanhã eles vão me ouvir...

O gatinho está faminto e assustado. Quem sabe com quanto sacrifício subiu os degraus, altos demais para ele; ou talvez tenha subido por curiosidade.

Agora cansado, perdido, não consegue mais tomar uma decisão.

Quando chego, ele se encolhe, se amacia, se entrega.

Adivinha que eu poderia chutá-lo, esganá-lo, jogá-lo pela janela.

Está resignado; exatamente como eu mesmo gostaria de estar.

Paro minha inspeção e volto com ele ao vigésimo. 

Um pires de leite e ele se esbalda. Que fome!

 

Volto à ronda, recomeçando a descida, desde o oitavo andar.

No sétimo, uma outra surpresa; desta vez, é um menino, um moleque esfarrapado, sentado num degrau. Tem os olhos vivos, acesos, brilhantes.

Terá uns oito anos; e está morto de medo.  

“Quem diabo é você? O que está fazendo aqui? Como entrou?” pergunto aborrecido, quase gritando.

“Pela porta”  -   me diz  -  “estava só encostada....” Depois, não abre mais a boca, e não há santo que tire dele uma única palavra . Eu continuo repetindo minhas perguntas, sem sucesso.

 Ele se assusta ainda mais, mas não chora. Só começa a repetir sem parar:

-“ Não bate ni mim não, tio, não bate ni mim!! por favor! “

Já deve ter apanhado muito, apesar da pouca idade, para estar com tanto medo.

É uma figurinha frágil e patética; não sei se é um ladrãozinho esperto ou apenas um pobre garoto  perdido; não  posso jogá-lo na rua, não posso deixa-lo ir. 

Assim, com modos ásperos, para que ele saiba quem está mandando, empurro-o para o elevador.  -“Venha, vamos  lá em cima,  assim você me conta direitinho o que está fazendo aqui!.. E nada de mentiras!.”

O garoto tinha fome, sede, medo, sono.

Comeu sôfrego tudo o que lhe ofereci.

Bebeu quase um litro de leite.

Por fim, quando eu começava a lhe fazer perguntas, caiu num sono pesado; acordou só quatro horas depois.

Quis fugir. “Aonde pensa que vai, menino?”

Não respondeu. Não tinha lugar algum para se abrigar, para se esconder.

“Quero que fique aqui até esclarecermos tudo. Você  só vai sair depois que me contar por quê está aqui. . Aí, vamos decidir o que fazer.  Não, não vou te bater; e cobro nada...” disse com um sorriso, quando entendi sua dúvida. “Mas você deve me contar toda a verdade. Fique aqui e não mexa em nada”.

Sai, fechei a porta do lado externo e ele ficou esperando minha volta

 

Recomeço  a vistoria. Tinha perdido um tempo precioso. Desço ao quinto, novamente; Tudo normal. Apenas desligo um ventilador que virava desde ontem.

Continuo a verificação, andar por andar.

A sobreloja é um andar crítico.  Todos os arquivos estão lá, de todas as firmas do prédio. Sala por sala, com um enorme molho de chaves, abro, acendo as luzes, verifico tudo, apago, fecho, tranco.

Só assim me sinto tranqüilo e desço de novo à rua.

Compro comida, pão, leite, água, umas balinhas para o meu hóspede e subo.

Já está escurecendo, lá em baixo. Aqui, no vigésimo, a tarde ainda está clara, o dia dura mais, morre mais devagar.

“Qual o seu nome, garoto?” -  Pergunto com calma, quando, ao abrir a porta do quarto,  o vejo menos assustado.

“Rinco” - me responde ele, baixinho, tímido.

“Rinco? Rinco? Que raio de nome é este?”

“Rinco”, me repete, abrindo os braços.

“Não é Ringo? Em homenagem aos Beatles... sabe aquele conjunto inglês...”

Entendo que estou falando grego. Ele com certeza nunca ouviu falar de Ringo Starr, não sabe o que é um conjunto, e muito menos o que é inglês.

“Não seria Rico? Lembrava-me vagamente de uma dupla sertaneja...”

“Rinco” repetia ele “Rinco, Rinco, Rinco!!!”

“E está bem. Rinco é  e Rinco vai ficar. Caso encerrado, não se fala mais nisso.    

O garoto chama-se Lincoln. Custou-me bastante entender que era Lincoln; uma homenagem evidente ao grande presidente dos Estados Unidos. Pior se fosse Óchinton, ou Quénidi, ou Rúsvet. Bem mais difícil de interpretar. Fui explicando o que sabia e podia, sobre Lincoln e os outros e o garoto me escutava embevecido.   

Quando ficou um pouco mais confiante, começou a fazer perguntas, com o seu linguajar de matuto..

Depois, não parava mais.

“E o seu sobrenome? “ perguntei quando o vi mais a vontade.

“O quê?”

“O sobrenome. Sabe, o nome de família: Souza, Silva, dos Santos, Freire....”

Ele não entendeu. Não sabia. Ou não tinha.

Ahi, ahi! O “Rinco” ia me dar um bocado de trabalho!....

Eu estava encalacrado. Não tinha solução, a não ser ficar com ele mais algum tempo, até que a situação ficasse mais clara.

Bem, nosso primeiro dia acabou assim; arrumamos para o gatinho um jornal bem dobrado, no canto do quarto; para o garoto, um colchão, ainda menor que o meu, e um cobertor.  

Dei-lhe a boa noite, ele se deitou, se dobrou, se encolheu, parecia uma trouxinha de roupas, no fundo do colchãozinho.

Me deu pena. 

Assim, eu tinha arrumado uma família. Um moleque analfabeto, um gatinho faminto.

Mas antes de dormir percebi que o analfabeto e faminto de verdade,  sem nunca ter percebido, – era eu, na minha solidão, no meu isolamento. 

Agradeci minha boa estrela, lá em cima, que me visitava toda noite. 

Não teria coragem de incomodar Deus com meus pequenos problemas, e ele também, seguramente,  com tanto barulho em volta, não conseguiria escutar minha voz. Decidi que o Rinco ficaria comigo tanto tempo quanto fosse necessário; isto é: pensei ter decidido. Mas a ordem, com certeza, partiu lá de cima....

Como num encantamento, o silêncio chegou. Adormecemos os três.   

 

 

 

Acordamos  com a barulheira de sempre, vinda da rua, vinte andares abaixo.  Estávamos de novo famintos.  Fui buscar um café reforçado, fizemos a  festa. Leite, pão, açúcar, café, banana. Até um pãozinho especial eu tinha arrumado para o Rinco.

Depois de alimentados, comecei a explicar-lhe as regras da casa.

- “Todos os objetos nesta casa têm um lugar fixo; você os guarda no mesmo lugar,  depois do uso.” 

- “Banho diário é obrigatório – menos para o gato.”

- “Têm que trocar de roupa quando está suja (e o jornal do gato duas vezes ao dia).  

- “Lava-se imediatamente e enxuga-se no radiador (aquela caixa quente do lado dos motores). Em dez minutos, está pronta para usar. Não se aceitam desculpas.” 

- “Comida que sobra – quando sobrar, o que vai ser raro - vai guardada na caixa azul, que tem tampa. A tampa sempre fechada. Gato é muito curioso  e não entende bem o que é dele e o que não é. Não vamos querer perder o pouco que temos....”

Já era obrigação demais para uma criança. Deixei de lado os deveres: como comportar-se, aprender a ler e escrever, coisas que teriam que vir depois, naturalmente, não como imposição, mas como um gosto, um prazer.

- “Você só sai comigo. Se sair sozinho, não vão deixar que você suba de novo. Entendeu? Estamos combinados? “

“Sim, sim, tio! “ exclamou o Rinco, já com cara de assustado, de novo.

Tive que pegar suas mãos, que estavam frias de medo, creio, e explicar que nossa situação era provisória, mas conveniente; que devíamos ficar agarrados na nossa oportunidade, e não correr riscos desnecessários. 

Fui explicando todas as normas de que me lembrava e que deveriam ser aplicadas, antes que a casa virasse bagunça.

Parece que o Rinco entendeu

O gato olhava com atenção, mas não se manifestou.

Eu não conseguia tirar do Rinco nenhuma informação. Não poderia ter aparecido assim, vindo de lugar nenhum; devia ter algum parente, algum conhecido, alguém que tomasse conta dele; mas parecia ter fugido, em desespero.

Lembrei-me de tanta maldade que se lê nos jornais, e li nos olhos dele que estava mais tranqüilo. Deixei estar, para resolver o enigma depois que ele tivesse superado seus traumas.

A rotina que se estabeleceu deixava-nos sossegados.

Rinco gostou muito das revistas, cheias de figuras, que eu guardava; dos livros, um pouco menos.

Fui explicando o alfabeto, os números, as sílabas, as palavras; ele, inteligente, curioso e esforçado, ao cabo de algumas semanas já sabia ler.

Não tudo; mas as palavras mais curtinhas, mais comuns, ele as lia com facilidade.

Mais demorado, mais custoso, esgotando toda a  minha pouca paciência,  foi ensinar-lhe  a escrever. Mas conseguimos chegar lá também.  

Todos os dias, antes do expediente, ele descia comigo, dávamos uma corridinha, um passeio, fazíamos exercícios. Ele vivia fazendo perguntas, e eu respondendo.

O mesmo à noite, depois das oito, quando tudo se acalmava e o cansaço vencia aqueles malucos que tinham passado o dia correndo atrás de dinheiro.

Aí o silêncio chegava; e podíamos dormir.

Durante o dia inteiro, Rinco ficava sozinho, mas além do quartinho, podia usar todo o terraço em volta da casa de máquinas.

Lá não faltava o ar – o vento, às vezes – a luz, o espaço, o panorama; dava para ver longe, em todas as direções.

Eu lhe ensinava tudo o que sabia; aprendeu a fazer contas,  a jogar xadrez (e era danado de bom,  nisso) , lia e escrevia com facilidade.

Ajudava-me na limpeza do prédio. Usávamos vassouras, panos molhados,  esfregões e  rodos como profissionais. 

Conseguimos comprar umas roupinhas, de maneira que, com a cumplicidade dos porteiros, às vezes ele arriscava-se a descer e fazia alguns pequenos serviços para os operários e os vizinhos.

Era prestativo e educado.

O gato também. Não dava trabalho, arranjava-se. Gato não late, não faz sujeira, não sobe em cima da gente, louco por um carinho. Se tiver, bem; se não tiver, ele procura em outro lugar.  Ajeita-se. E sempre acaba encontrando uma companheira. É independente, sem ser orgulhoso. Se lhe der algo para se divertir, como um novelo de lã, ele brinca quinze dias antes de pedir outro.

Voltando ao Rinco, o período das perguntas, dos “porquê?”, dos “como é que”, dos “mas então”, dos “tio, me explica uma coisa” foi amainando aos poucos; por fim passou – e eu percebi , de repente, que tinha acontecido um monte de coisas:

Que tinha voltado o inverno, porque  um cobertor só já não bastava mais;

Que ele já não cabia mais no colchãozinho; tinha espichado,  estava um rapagão.

Que tinha passado um ano e meio, quase dois daquele domingo em que o encontrara.

Que, preocupado em viver o dia a dia, eu tinha esquecido completamente do futuro.

Rinco nunca me fez uma única pergunta sobre o seu nome, a família, a mãe, a origem; era território fechado. E eu mesmo não teria o que responder.

Havia feito algumas indagações, procurando na delegacia o registro de desaparecidos.

Não se encontrou nada, graças a Deus.

E eu não queria atiçar a coisa, porque percebi que tudo era irregular.

Poderiam tirá-lo de mim, jogá-lo numa “casa de estar”, e nos perderíamos para sempre. 

Poderiam tirar-me dele. E ele não iria suportar.

Poderiam processar-me e eu iria para a cadeia.

Coisas assim,  estúpidas, como  as leis dos homens, não tomam em consideração os sentimentos, a necessidade de dar e receber proteção, afeto, sobrevivência , Não há uma só palavra, em todos os códigos, sobre solidariedade, um dos poucos sentimentos que movem realmente o mundo..

Mas o tempo passava. Era urgente resolver o caso, conseguir documentos, regularizar a existência do garoto.

É interessante como aquele pensamentozinho à-toa, sem valor, que se instalou lá, no fundo da sua cabeça, vem à tona aos poucos e se avoluma e se amplia e   engrossa, transformando-se em preocupação, em aborrecimento, em susto; e por fim, em uma sensação de pânico incontrolável.

Naquela noite em que isso me aconteceu, esperei o Rinco dormir, sai no terraço, olhei a cidade quase adormecida lá embaixo e puxei um suspirão.

Não tinha inteligência, capacidade, sabedoria para imaginar uma solução. 

Faltava-me o ar, as coisas começaram a girar, o chão se afastava de mim, dando-me a impressão que eu estava pendurado no vácuo, pronto a mergulhar de um instante a outro

Era apenas uma vertigem. Qualquer Dramin resolveria. Mas eu estava apavorado e não via saída.

Arrastei-me para o meu catre, fiquei deitado e mesmo com os olhos fechados, eu via as  estrelas ; e mesmo com a boca fechada, eu falava com elas :

“estou desesperado”– dizia – “não encontro saída; preciso de ajuda....nunca pedi nada antes, mas agora...agora estou perdido; apesar da minha insignificância,  me dêem  uma luz....”

 

Levantou um vento quente, o ar ficou leve; a escuridão da noite se fez mais profunda,   as estrelas brilharam mais intensamente.

Todo o meu ser ficou pesado, os braços caídos, as pernas insensíveis. Pensei que a Morte tivesse vindo me buscar.  Mas não tive medo. Adormeci.

 

O assunto demorou quase um ano para se resolver.

Investigações, exames de DNA, exumação de corpos, longas audiências na justiça.

Inútil, agora, explicar como tudo se desenvolveu lentamente.

 

Tudo partiu do nome Rinco (ou Lincoln) . Pequenos indícios começaram a aparecer; um antigo empregado contou uma história fragmentada, incompleta. Lincoln era, com toda a probabilidade, o filho único do dr. Henrique Antonio de Andrade Paulus, e de sua esposa, Theodora, donos do prédio em que estávamos.

 

O garoto, na época com três para quatro anos, havia sido raptado.

Num embate com a polícia, os criminosos morreram,

O garoto, apavorado, fugiu; escondeu-se no mato por vários dias; ficou perdido; nunca foi encontrado.

O dr Henrique e d. Theodora, perdidas todas as esperanças, depois de quase três anos de uma procura inútil, acabaram  morrendo, de desgosto.

Lincoln foi achado e “adotado” por um grupo de malandros.

Trabalhava, pedia esmola e apanhava.

Conseguiu fugir e orientando-se por alguma vaga lembrança do passado,  acabou encontrando o prédio do pai, por mera sorte, eu acho. Aquilo era a sua âncora. Voltou usando o mesmo instinto de um pombo-correio.

Ai apareci eu. Mas ele não sabia explicar o que tinha acontecido, nem como conseguira voltar; suas lembranças eram apenas fiapos de uma pesada neblina.

Só dois anos depois, reconstruímos esta história, que a Policia e a Justiça comprovaram.

Ao cabo de um ano, Lincoln me nomeou seu tutor e entrou na posse do prédio, como único herdeiro.

Eu continuo morando no topo do prédio.

O som dos elevadores, o vento nas janelas abertas, a cidade barulhenta lá embaixo, continuam embalando meus dias tranqüilos.

Mas a noite, quando deito no catre, olhando para cima, as estrelas não me parecem mais luzinhas indiferentes e distantes.

Tenho certeza que elas sabem das alegrias e das aflições de cada um, que conhecem o nosso destino  e conseguem desembaraçar qualquer novelo confuso de nossas vidas complicadas.  

Antes do silêncio,  agradeço por estar vendo a sua luz  - e adormeço.