Anotações das aulas: Antropologia Filosófica e Educação
Por LUCIENE LEAL DA SILVA | 09/07/2013 | ResumosResumo das aulas do Curso de Especialização em Filosofia da Educação (UFPa): Antropologia Filosófica e Educação.
Luciene Leal da Silva
Graduada (Bacharel e Licenciatura) em Filosofia pela Universidade Federal do Pará (UFPa). Especialista em Filosofia da Educação pela Universidade Federal do Pará (UFPa). Professora de Filosofia na Escola Pequeno Príncipe Avante.
RESUMO
A disciplina Antropologia filosófica e Educação do Curso de Especialização em Filosofia da Educação pela Universidade Federal do Pará (UFPa), nos levou a fazer verdadeiras reflexões antropológicas acerca do “que é o ser humano?”. Durante as aulas, o objetivo não foi buscar uma resposta, uma verdade absoluta para esta questão, mas deixar que esse questionamento fixasse em nosso pensamento durante todas as aulas, nos levando a refletir verdadeiramente sobre a pergunta. Mas, o que é o ser humano? Sob o ponto de vista filosófico há um confronto entre duas grandes visões sobre o ser humano, construídas ao longo de nossa vida, a religião e a ciência, o objetivismo e o subjetivismo, o idealismo e o materialismo.
Pode-se acrescentar nada mais do que outro elemento natural, da natureza humana, a linguagem. A linguagem seria algo natural do ser humano. E, retomamos a pergunta: Quem é o ser humano? Quem somos nós? O ser humano é pré-determinado? Os princípios da causa e efeito nos remetem ao determinismo e ao livre-arbítrio, à liberdade. Nos faz pensar: o determinismo nos leva a adotar a resposta materialista e a liberdade? Nós somos livres, a liberdade é que nos conduz. O homem, ao contrário dos objetos do mundo, não possui uma essência definida. Nada força ao homem a se manter como ele é, mas ele é na verdade livre para ser como quiser. Seus valores são criados a partir das escolhas por ele feitas, escolhas da qual não há como fugir, pois mesmo a recusa em escolher já é uma escolha.
A resposta objetiva sobre essas perguntas não é falsificada, como diria Popper. Há duas grandes vias para pensar o ser humano, A fenomenologia/Existencialismo e/ou a Hermenêutica. Todos passaram pela fenomenologia ou hermenêutica. Quem sou eu? Quem é o ser humano? Deus, imortalidade da alma e liberdade, são as três questões da metafísica. Para Kant, a razão humana não pode evitar as questões metafísicas – é o seu destino – Mas, não pode lhe dar uma resposta científica. Eis que nos deparamos com inquietações como: Que saberes podemos alcançar neste mundo? O que podemos e o que não podemos fazer? Que respostas eu vou poder dar para a educação, se eu não souber primeiramente o que é o ser humano? Quem é o homem? Quem somos nós? Como buscar esse caminho, essa abertura? Sabemos que, se falarmos algo sobre algo, estamos matando esse algo, ou seja, os objetos do mundo possuem desde o princípio, uma essência definida, que o define e o delimita. O mesmo não ocorre com o quem sou eu? O que é o homem? Se partirmos do princípio que há um “eu”, já incorremos na pré-suposição da essência anterior à existência. Nós não saberíamos agir, pensar, sobre algo sem estar inserido o ser. Nós somos guiados por uma ideia de ser humano que temos.
A filosofia é uma metafísica, faz pensar a essência (????). Ao dizermos que o gato é, a pedra é, notamos que o “ser” deles não muda, o homem não é. Mesmo que o animal aprenda 500 palavras, mas ele não passa tal conhecimento de geração para geração. Nós nunca soubemos tanto sobre os seres humanos (teologia, biologia, antropologia, pedagogia, psicologia....), mas talvez nós nunca estivemos tão longe de sabermos quem é o ser humano. Para Sartre, o ser humano é o agir, o seu fazer. A arte, a autêntica arte, é uma criação do homem como um modelo epistêmico essencialista (materialista histórica/tradição da filosofia grega e medieval), quando o homem cria e não copia, é como se ele tomasse o lugar de Deus. Mas modelos são fotos da realidade em que você fica com a foto e não com a realidade. A vida é uma arte!
A filosofia nasce do silêncio, do vazio. Então, voltemos à questão, quem é o ser humano? Em Platão, seria alma? Essência, verdade? Não saberemos o que é o ser humano se olharmos a parte sensível: o corpo. O corpo vem a ser o cálice, a prisão, aquilo que me diminui diante de Deus. “Eu estou neste mundo, mas eu não estou neste mundo”. Não mais partindo da essência, mas sim da existência concreta, quem é o ser humano a partir do estar aqui? Em Heidegger com sua obra “Ser e tempo”, esses conceitos não serão tidos como conceitos mas, sim como indicações. Como se encontra o homem? O homem e a pedra, o homem compreende a pedra. Ele (o homem) se encontra aqui no mundo, há uma relação profunda com o mundo. A relação “Ser” e “Mundo”, onde o mundo não é mais o objeto, e sim a compreensão. Como eu me encontro enquanto ser humano em meio às coisas? Tudo o que nós somo é no tempo, nós somos existenciais. Heidegger vai dizer que nós não podemos mais fazer antropologia , para ele a antropologia está superada, ele falará em analítica existencial. Não saberemos mais quem nós somos, simplesmente por que nós não somos. Como iremos fazer uma antropologia se nós não somos? O sol, por exemplo, não tem que produzir aquilo que ele é. Aqui teremos a mudança do “Ser” para o “Existir”. Eles são aquilo que eles são. Exemplo: o cavalo, o cavalo já nasce cavalo, aquilo que ele deve ser já está nele, ele não tem que mudar, se houver mudança, vai ser produzida por outro agente, mudança produzida por fora, por meio externo.
O ser humano nasce com algumas determinações: peso, cor (naturais, biológicas...), mas essas características determinam o ser humano? Determina o seu “Ser” ser humano? O ser humano é aberto, é uma folha, só vai “ser” à medida que fizer alguma coisa de si. O ser humano não nasce sem referência, ele mesmo vai produzindo cultura, tem que produzir o seu “ser”. Quem sou eu enquanto ser humano????? Nos abrimos para pensar o que é o ser humano? A educação pergunta quem? Quem estamos formando? Nós temos sempre uma resposta, o ser humano é aberto, não nasce atual, é sempre um ser humano em potencial. Essa potencialidade não vem de fora, não é exercida a partir de fora, o próprio ser humano é que produz a modificação em si mesmo.
No século XX, o ser humano não é mais responsável e sim conduzido pela indústria cultural. Nós não somos propriamente nós mesmo, eu não sou “ator” da minha própria vida, eu não ajo por que eu quero agir, eu não compro por que eu quero comprar. O que é o ser humano então? O educado, o moldado? Ele (Ser humano) sempre é um NÃO, o ser humano é uma essência, mas uma essência diferente da essência metafísica. O que nós seríamos se não tivéssemos passado pelo processo que nos tornou alguma coisa? O lobo não tem que aprender a se tornar lobo, ele é lobo. Com o determinismo há a relação “meio” e “ser humano”, mas o homem não é só fruto do seu meio. O “ser” dele mais existencial é o fato dele existir. Há o embate materialistas e idealistas/espiritualistas (vida privada).
A humanidade seria aquilo que nós deveríamos ser, seguindo a ética, os padrões de civilidade, deveríamos ser “humano” (o modo de ser humano), o homem se faz aquilo que ele é, e nós chamamos isso de humanidade. O ser humano índio, o ser humano quilombola.... Que nós tenhamos um porto seguro e não caminharmos em direção ao abismo. Cada ser que nasce não tem que produzir a humanidade, já recebe uma produção feita pelos seus iguais, o mundo já está antes de nascer e permanecerá. Hannah já afirmava em sua obra Entre o passado e o futuro: “Mas, a criança só é nova em relação a um mundo que existia antes dela, que continuará após sua morte e no qual transcorrerá sua vida”, para a teórica, a “essência da educação é a natalidade, o fato de que seres nascem para o mundo”. Nós temos que ser humanos, essa é a nossa garantia. As instituições (sejam elas a educação, religião etc.) vem a “garantir” que o ser humano está certo, proteger contra as mudanças possíveis, criamos proteções. Nós institucionalizamos, fechamos algumas possiblidades. “O ser humano é impossível em uma esfera fechada de interioridade quiescente. O ser humano tem de estar continuamente se exteriorizando na atividade” pág 74. Tá lá no hospício o homem que não é humano. Humanidade, homem, são produzidas no seu fazer-se, tem que fazer-se (segundo a sua própria invenção), tem uma determinação. O ser humano é algo que sempre vai nos escapar, é a ação do elemento cultural, como por exemplo, pessoas que se curam pela fé.
A realidade é uma construção social. O que o “ente” é decorre da relação que temos com esse “ente”. Algo enquanto algo, nós conhecemos a sociedade hoje instituída, o ser humano entra na sociedade, não há como fugir. Quando eu penso o ser humano, eu já não penso como algo a priori, como algo que não precisou ser instituído. Quem é o ser o humano para o medieval? O medieval sabia lhe dar com um dos medos que temos que é a morte. E, continuemos na questão, Quem somos nós? Devemos sair da síntese, desconstruir uma síntese para construir uma nova síntese. O finito é a nossa condição, podemos buscar uma base com Nietzsche em humano demasiado humano. A obra de arte abre o mundo, a arte nos dá essa abertura, causa sentimentos estranhos, eu não tenho que explicar, objetivar. Objetivado é aquilo que está dominado, organizado, explicado, nós criamos elementos para objetivar as coisas. Exemplo: gravamos a música para ouvir, para melhorar, para escutar a hora que quisermos. Ninguém é filósofo pensando objetificações.
O que é o ser humano? Noção que não obedece os mesmos princípios. Não por acaso, no século XX há o diálogo entre oriente e ocidente. A filosofia oriental revela o modo oriental de ver o ser humano, o primeiro filósofo a ser lido pelos orientais foi Heidegger “O Nada”. No século XX há a negação da objetificação. Deus não é uma coisa, Deus é o nada. Com os exercícios orientais como a Yoga, vem para garantir que nós consigamos nos ajustar melhor. Schopenhauer vai buscar no oriente os princípios para uma nova ética, princípio da compaixão, havendo um diálogo entre a filosofia do oriente e a filosofia do ocidente. O ser humano é um mistério que nós mesmos precisamos continuar vivendo, compreendendo, mantendo nós mesmos como mistérios (enquanto filósofos, pedagogos, psicólogos...). A proposta da disciplina é tornar possível que nós possamos escutar o ser humano. Todas essas teorias da filosofia, da psicologia, etc. São uma tentativa de aprender o ser humano em certo limite para que nós possamos compreender “ele”, tornar “ele” mais controlável. Embora nós aprendamos com as teorias (enquanto sociólogos, psicólogos, filósofos...) mas, aquilo que está para lá de teoria, que é a existencialidade. Tornar nosso trabalho menos ditado por teorias inconscientes, mas sim por teorias conscientes