Animismo versus Islã
Por Felipe Rodrigo Contri Paz | 09/05/2009 | HistóriaINTRODUÇÃO:
Todos sabemos que nenhuma fase histórica inicia sem antecedentes. Aqui, no estudo do povo Songhai e do Império Gao, Songhai ou também grafado como Sonrai não é diferente. Temos na região conhecida como Sudão alguns grandes impérios anteriores como Gana, que acredita-se surgiu no século V, entre as montanhas da Abissínia e do Atlântico do deserto do Saara a floresta Equatorial e teve sua hegemonia até a gestão dos almorávidas[1], sendo após derrubada pelo Império Mali, com as disputas entre Sumangaru e Sundiata. Foi o império negro que primeiro se destacou, sendo bem relatado pelas fontes Ibn Hawkal (970-Awdaghost) e Al Bakri (1087-Almorávidas), Gana era o nome usado para definir o rei do Império.Sundiata Keita, filho de Naté Famaghan (1218-1230). O reino Mali já existia, desde o século XI, como vassalo do Gana. Era formado pela etnia malinké ou mandinga[2]. Esse território foi ampliado pelos mansa, que era o título da época. Com Mansa Ulé (1255-1270) houve grande expansão, e logo veio o usurpador Sakura. Em início de 1300 abubakar II, empreendeu uma descoberta das terras além mar, e segundo uma corrente de historiadores, descobriu as Américas quase duzentos anos antes de Colombo. Em 1312 ascende ao poder Mansa Mussa, também achadas as grafias de Kankan Mussa, Kanga Mussa, que fica até 1332. Este era irmão de Abubakar que alcançou celebridade internacional após migrar a Meca, e pelo caminho distribuir ouro. Trouxe na sua volta vários intelectuais da época e os deixou em seu centro mais promissor, Tombuctu. Aqui atinge-se o auge do reino Mali. Em 1325 Songhai torna-se seu vassalo e tem os dois príncipes feitos reféns e anexados ao governo central com cargos oficiais. Incursões ante os mossí[3] e aos tuaregues[4]. Durante o reinado de Suleimão (1341-1360) Ibn Battuta descreve Mali com grande admiração e com elogios aos islâmicos da elite que a todo custo combatiam as práticas animistas pagãs da maioria da população, ou seja, do povo de Mali. Em 1375 Suleimão (este príncipe em Songhai), restabelece sua independência, gradativamente essas riquezas que foram de Gana, que foram de Mali, que eram objeto de desejo de vários reinos vassalos e povos nômades, passa as mãos do novo Império. Em 1500, Mali se reduz em sua pequenez regional, que antes nunca fora imaginado. Magan filho de Mussa, sucede seu pai, seu reino foi fulminado pelos mossís que tomaram Tombuctu e pilham as regiões vizinhas. Provavelmente o Songhai se liberta nessa época.
O REINO SONGHAI
"A História dos Songhais começa por várias lendas".(Ki-Zerbo, 181).
Antepassado epónimo: Faram Nakam Boté, nascido de seu pai Sorko e de mãe "fada", ligada aos espíritos da água, o que lhe faculta o favor dos DOS, senhores das boas terras. Havendo, portanto, subido o rio, Faran Makan Boté ter-se-ia aliado aos Gows, pescadores, um dos quais exercia as funções de Kanta (grande sacerdote). Ele estabeleceu assim o seu poder sobre um povo de camponeses na região de Tillabery. Outra lenda narra a união de dois irmãos, ZA (ou dia) el-aymen e Fará Maka Bate, que teriam vindo livrar os habitantes do rio da presença de um dragão mítico. Uma terceira bem mais provável de ter acontecido, da tiragem dos sorkos[5], que tiveram então de deixar konkya em 690, aproximadamente, para instalarem-se na região de Gao. Supostamente foi assim que começou a mais bem conhecida história do Sudão. Dúvidas norteiam o estudo desta época, algumas questões como, seriam esses estrangeiros? De onde vieram, da África do Norte ou do Levante? Como e porque foram aceitos pelos povos nativos? Em sitação de Joseph Ki-Zerbo:
"Cerca do ano 500 ?diz a lenda-, príncipes berberes ou árabe do Iêmen teriam chegado às margens da curva do Níger e aí libertado os povos ribeirinhos (pescadores sorkos e camponeses gabibis) do terror de um peixe-feitiço (...) Estes clãs parecem ter vindo do Dendi, a jusante do Níger, onde tinham baptizado as duas margens, oeste e este, respectivamente de gurma e hauça (...) o reconhecimento dos gabibis teria elevado ao trono o autor deste feito, Za Aliamen. E o Zás ou Dias teriam reinado até 1335 em Kukya, numa ilha do Níger perto dos rápidos de Ansongo. Como esta contriubiução vinda do exterior era pequena (...) rapidamente assimilada pelos songais". (KI-ZERBO, 1999, p.182).
A partir daí, começa-se a dinastia Dia. Segundo o Tarikh, 14 Dia reinam em Kukya. Em 1009 o 15 rei, Diá Kossoi, fixa a capital em Gao. Teria sido ele o primeiro a abraçar o Islã, que foi levado pelos Almorávidas, que ligavam através do comércio entre o norte da África e Al-Andalus, uma rede de comuniacações culturais e políticas. Outras influências foram exercidas pelos Mossis e outros povos, sendo que as fronteiras de Sonrai não eram fixadas firmemente.
Nesta época Gao já rivalizava com o reino Mali e com Kumbi, sendo que Mali interessava pelas suas riquezas. Como foi dito anteriormente, no ano de 1325, o lugar-tenente de Kanka Mussa apoderou-se de Songai. Fez de seus príncipes reféns, ao mesmo tempo funcionários do mais alto escalão do seu governo. Esses príncipes Ali Kolen (Golen) e Suleiman Nar, conseguiram fugir e sacudir o poderio maliano, pelo menos por um tempo. Esta formada a dinastia Sonni, ou Sis.
SONNIS
Sonni Ali (1464-1493):
"vamos assistir uma mudança de hegemonia sobre a curva do Níger. Sonni Ali, chamado Ali Ber (o Grande), é um conquistador comparável a Sundjata. Era cognominado Dali, isto é, o Altíssimo. Na realidade, era perito sobretudo em alta magia. Sacudiu definitivamente a tutela do Mali e engrandeceu-se à sua custa" (KI-ZERBO, 1999, p. 183).
Em um quarto de século formou um império vasto como o de Carlos Magno. Tombuctu estava à espreita, e Ali conquista sua primeira vitória com a tomada de Tombuctu tocando de lá os nômades tuaregues. Chega em 1468. Sua segunda vitória foi ante Djennê[6] . Segundo Bertaux:
"En 1468 se apodera de Tombuctú, que los tuaregs ocupaban desde 1435; pasa por las armas a los habitantes, ejecuta a los ulemas, sabios mulsumanes que se oponian a el, encarcela a los letrados e incedia la ciudad. Se apodera en 1473 de Djenné, en el Níger. Djenné fue fundada hacia 1250 por los soninkés; era el foco de um pequeño Estado relativamente próspero, sobre todo que desde que había reemplenzado a Ghana en el mercado deloro. Numerosos letrados se reunían allí. El prestígio intelectual de Djenné la hacía rival de Tombuctu (...) En 1476, Sonni Ali entra en su capital, Gao, cubierto de glória." (BERTAUX, 1978, p.49)
Com os Peules[7] se aproximando cada vez mais e tomando, mais reinos aos arredores se insinua ao Sudão. Ali lança-se a uma verdadeira cruzada contra os Peules, que também são chamados de Fulanis. Sonni Ali enfrenta já agora, problemas internos, como a unificação do seu império formado por dois reinos distantes (Sonrai e Djenné). Fora a discordância ideológica e religiosa que se tem com o Songai, ainda um islã superficial, com cheiro de animismo contra os dois reinos, Tombuctu e Djenné que são islâmicos fervorosos. Sonni não tem seu apoio, já que de islâmico tem apenas o nome, tendo os hábitos bem desregrados quanto as suas preces. Durante a volta da campanha no oeste, sabendo dos assuntos dos ulemás, resolve que tragam suas filhas virgens para a diversão, assim logo exaustas pelas tantas horas de caminhada são sumariamente executadas. Sua personalidade era muito rude, tinha a alma de um verdadeiro imperador. Adquiriu poderio de Jena em 1473 com a vitória sobre eles e o devido casamento com a rainha local, e logo anexa Macina. Seu fim tem várias versões, entre elas podemos observar:
"Os Peules foram particularmente visados pelas suas campanhas muito duras. Não eram consetindos, nem na administração, nem na justiça. Os Sangarés foram a tal ponto dizimados ? dizem-nos ? que os que conseguiram escapar deste clã Peule se podiam abrigar à sombra de uma só árvores. Com efeito Sonni foi o verdadeiro fundador do império (...) Mas, os Mossi de Nasaré, a quem ele havia devastado algum tempo antes do território, entregaram-se em 1477, por sua vez, a um ataque-relampago, que, graças aos seus cavalos (...) Sonni Ali os perseguiu com vigor. Lançou também operações de grande envergadura para as escarpas de Bandiagara e através do Dendi. Foi ao regressar desta ultima que ele sucumbiu, em 1492. Sonni Ali, o Grande, deixava um império bem consolidado ao sul e a oeste. Deixava também uma reputação fulgurante de general invencível e uma recordação de grande dureza. O seu filho, Sonni Bakary devia reinar apenas um ano" (KI-ZERBO, 1999, p.184)
ASKIAS. APOGEU DO GAO
Logo, nascerá uma nova dinastia. Com a crise dinástica após a morte de Sonni ali, Mohammed Turé (Mohammed Todoro do clã dos tekruriano dos Syllas), mata seu filho Sonni Baro. Assume o nome de Askia Mohammed, passa a ser líder do Império Tekrur de 1493 a 1528. Mohammed tinha total apoio dos Ulemás[8], e tinha total firmamento em sua fé islâmica. Mais metódico e organizador que Ali, foi um ótimo sucessor. Apressou-se em purificar os costumes em seus domínios que eram muito ligados ao animismo nativo. Em 1496, peregrina a Meca, fazendo alusão a Kanka Mussa, sendo escoltado por uma grande comitiva e por muito ouro. E nessa viagem ocorre seu encontro com o califa:
"Sentindo-se talvez inferiorizado pelo problema da sua legitimidade, não descansou enquanto não obteve do califa, que encontrou no Hedjaz, a confirmação do seu título do califa para a Sudão: Khalifatu biladi al-Tekrur." (KI-ZERBO, 1999,p.185).
Adquiriu algumas posses que serviriam como bases religiosas em Meca e seus arredores. Exigiu a conversão Mossí, que por enormes dificuldades, acabou sendo meio que "esquecida". O Songai se firma aos ataques as cidades Haúças[9], que mesmo fortificadas por muralhas foram derrubadas uma a uma. Logo, se intrometem a uma região de Tuaregues, estes que seguidas vezes saqueava essas cidades. Kanta do Kebbi foi à única a resistir. A partir desta resistência Haúça, em 1512, suas expansões começam a frear, mesmo assim conseguem manter três cidades haúças e ainda as minas de sal do sul marroquino. Mal, sabiam eles que o fim estava perto destas minas...
Problemas intestinos começam a surgir no seio do Império Tekrur. Mussa, filho de Mohammed, mata seu tio Yaya, e depõem seu pai logo na seqüência em 1528. Askia Mussa, em breve é assassinado por Askia Mohammed II (1531-1537), este chamado antes de Bunkan Korei. Quase um "Hércules", foi considerado um líder nato, não fugindo do front de batalha. Gostava de mulheres e festas, perseguiu o velho askia e tentou mata-lo para não correr riscos em seu reinado. Foi perseguido pelos seus irmãos, fugindo para o Mali. Askia Ismael ascende em 1537 e fica até 1539. Chefe do período de grande fome em Songai, ele instala de novo o velho askia no palácio, em Gao. O velho askia fica influindo na política local, até sua morte aos 95 anos, sendo o mais brilhante dos askias. Após Ismael, vem Ishak I (1539-1549). Ameaçou o poderio do Sultão do Marrocos.
"Ismael, filho de Askia Mohammed, e o seu sucessor, Ishak I, mativeram bem alto o prestígio império, pois o segundo vai até o ponto de saquear Niani, a capital do Mali. Mas já no seu reinado o sultão de Marrocos volta os olhos para outro lado do deserto, para as minas de sal de Teghazza, que lhe dariam a chave do comércio oeste-africano. Pede ele em 1546 a Ishak que lhe ceda essas minas. Como resposta, Ishak, profundamente ofendido, mandou-lhe a mensagem seguinte: 'O Mahmud que exige isto não é por certo o actual sultão do Marrocos. Quanto ao Ishak que aceitar, não serei eu com toda certeza! Esse Ishak ainda está para nascer.' Mandou também um contingente de 2000 tuaregues saquear a região do ued Draa, no sul do Marrocos. Em 1549 é a morte do Ishak, ao qual sucede Daud. Este está animado de um vivo espírito guerreiro, que o leva a campanhas contra o Mossi e o Macina."(KI-ZERBO, 1999, p.251).
Assume Askia Daud (1549-1582), este sim ficando bom tempo no comando do Império. Seus filhos matavam-se entre si, enquanto ele preferia receber os dinares para entregar suas explorações nas minas de sal. Logo, seus descendentes estão pacificados e os Tuaregues pagam tributos. Época de auge cultural, onde Tumbuctu teve grande sucesso. Em 1555, choque ante o exercito do Mali, que novamente foge. Em 1578 aparece uma crise política envolvendo Marrocos, Portugal e futuramente, Espanha, Inglaterra e até as Américas.
"Esta paz foi em breve perturbada por fatores externos, independentes do poder de ação dos askias (...) Portugal, que invadira o Marrocos, foi fragosamente derrotado na batalha de Alcácer-Kibir, também conhecida como 'a batalha dos três reis'. Nela perderam a vida, além do jovem rei dom Sebastião, os dois pretendentes ao trono marroquino, Abdul Malik e Mohammed XI. Tal resultado influi diretamente na política européia, africana e até com as colônias da América. Sem herdeiros diretos ao trono, Portugal e as Colônias (incluindo o Brasil) passaram por sessenta anos pela soberania da Espanha. Ao governo marroquino subiu Mulay Ahmad, dito al- Mansur (o vencedor), que logo entrou em choque com Songai, ao anexar as minas de sal de Taghaza, durante o reinado do askia Mohammed III (1582-1586)."(RODRIGUES, 1990, p.57).
Após essa crise o novo sultão marroquino recebe grandes fomentos para se tornar aliado europeu. Ainda um jovem recebeu um enorme apoio financeiro, e várias dádivas de países como Inglaterra, Portugal e Espanha. Segundo os interesses desta "aliança", Songai devia cair. Marrocos era agora um agente pró Europa.
"Al-Mansur replicou vivamente, lembrando o precedente do Império Almorávida. Aliás, acrescentou ele com ironia, não atravessam os vossos mercadores o deserto todos os dias e sem defesa? E terminou, gritando: 'Onde está a vossa coragem tão proclamada, vencedores de el-Kebir?' O conselho cedeu. Os anos seguintes foram para os preparativos". (KI-ZERBO, 1990, p.252).
Após o ano de 1582, sobe ao comando askia mohammed el hadj. Nestes anos, ocorrem incursões dos marroquinos, somente por vias de espionagem, com grande apoio de um espanhol renegado.
O ano é de 1588. A guerra civil toma conta do país sobre a tutela de balama sidiki. Sendo exilado, bandeou-se para os lados de Mansur, onde se fez passar como um askia, e pregou fraquezas do Reino Gao. Assim, em 1590 o mundo marroquino do islão se apressa pra invadir o Songai. Em 16 de outubro atravessam o deserto, onde metade dos homens perece. Segundo Bertaux:
"Es la primera vez que los cañones atraviesan el desierto. Durante los cinco meses de travesia, una parte de los hombres muere de sed y de agoniamento. Pero al llegar al Níger, el 12 de abril de 1591, los songhais são expulsados a Tondibi, 50 km. Más arriba de Gao. Los conquistadores hispanomarroquíes ocupan Gao, abandonado por la poblácion; se instalan em Tombuctú. Pero una gran decepcion les aguarda: Dónde está el oro? No solamento no encuentran a orillas del Niger el esperado Eldorado, puesto que las minas están mucho más al sur, en la selva que hay a los pies del Futa." (BERTAUX, 1978, p.52).
Em 28 de fevereiro de 1591, o encontro ocorreu e com os conflitos, tenta-se a negociação por parte marroquina, sendo totalmente desprezada pelos askias. Entre render-se ou lutar, os askias perderam muito tempo discutindo, e acabaram por serem derrubados. Agora, o Songai nunca mais será um Estado livre. O movimento de resistência será promovido por Ishak II, de Gurma e Tombuctu. Após tentativa de negociar, foi morto na intensificação da batalha em agosto de 91, por saqueadores, mas já não contava com apoio nem dos seus.
Então, depois de atravessar o deserto e conseguir invadir o Songai, logo viram que o butim não seria tão incrível como o esperado. A decepção foi tamanha que o sultão estava crendo que Joder, seu espanhol renegado, estava traindo o Marrocos. Surge dois askias, um a favor dos marroquinos, o outro Askia Nuh, ardia em nacionalismo gao. Fazendo uso de táticas de guerrilha nas savanas, onde implica grandes derrotas para os marroquinos. Tumbuctu, revolta-se em mais marroquinos morrem. O Songai começou a fragmentar, agora temos dois reinos: o Dendi e o Tumbuctu. Nuh é morto em 1595, agora sim, o Songai não terá nem poeira daquele enorme Império Sudanês.
Logo, o sultão recolheu o butim e em 1599, deixou o Gao a própria sorte nas mãos dos seus soldados que lá ficaram e praticamente construíram uma nova sociedade, já que passaram a eleger seus próprios comandantes, tendo 128 paxás em 90 anos! Mesclagens populacionais ocorrem, novas formas de vida social nascem. Os anos seguintes serão marcados por fome, peste entre outras mazelas que se colocam sobre a terra dos askias. A situação piorou ainda mais em 1738-1756, onde a peste alcançou várias regiões aos arredores. O ultimo reino do sudão acaba-se, e navios de portugueses aproximam-se da costa do guiné, chamados pelo ouro.
ORGANIZAÇÃO POLÍTICA
Muito mais elaborado que a do Mali, provavelmente foi melhorada e comporação ao antigo suserano. Fazia-se toda uma cerimonia para a entroniazação, com direito a espada e insignia. A gama de funcionários tinham que se postar de modo muito formal, com vestimentas de seda e cerimonias como o de se despir e passar o pó na cabeça, ou em postos mais elevados farinha. Esta farinha era em geral deixada para os dyna koy, ou seja, os generais. Com os Askias, o exército ganha caráter efetivo, profissional e permanente. Suas armas são zagaias envenenadas, lanças, sabres. Dividido em uma enorme corporação de altos funcionários a équipe tinha vários postos. Citaremos alguns cargos: Tondi Fari, governador das montanhas; Germa ? Fari, Chefe do superior e controlava um província; Hi-Koy, espécie de ministro da navegação fluvial, do clã sorko, que tradicionalmente está ligado as águas; fari-mondyo, inspetor geral da cobrança de impostos; horé-farima, grande sacerdote de culto aos antepassados e gênios; Sao-farima, inspetor e conservador das florestas, que velava pelo corte da madeira de construção e pela cobrança do imposto sobre os produtos de caça, até pela extração; ho-koy, chefe dos pescadores; korey farima, ministro dos Brancos.
ORGANIZAÇÃO ECONÔMICA
Os ministros eram demitidos ao bel-prazer do askia. A partir, disso imaginamos um poder quase absoluto sobre a administração política e econômica. Em caso de vacância do trono, estes ministros que passavam entre a criação de gado, rizicultura e disputas entre si, podiam concorrer à sucessão. Toda produção de arroz e outros cereais era depositadas quase que completamente nos celeiros imperiais. Estruturada basicamente em mão de obra escrava ou servil, sendo que a massa campesina só era oprimida em tempos de dificuldades, sendo em tempos de calmaria, tratada com certa piedade. Como alerta Ki-zerbo, seria totalmente errado ao ler a economia Songai e imaginar um feudo europeu. Os contratos aqui tem muita diferença em seus contextos. Mas, seria o reino mais parecido com as nossas instituições medievas.
Para evitar fraudes, estabelecem medidas e pesos, sua moeda é ouro e sal, ambos seriam alvos de marroquinos no século XVI.
GRANDES METRÓPOLES
Essas metrópoles eram super populosas. Jovens de Tumbuctu fizeram talvez um dos primeiros censos populacionais da África (se atendo somente a Tumbuctu), onde passaram casa por casa a contar quantas pessoas haviam na cidade, chegando ao número de 100 000 casas. Uma população basicamente formada por comerciantes, chefes de polícia e estrangeiros. Tumbuctu foi sem duvida um dos maiores centros de sabedoria e conhecimento de sua época, se não a mais importante cidade da época. Possuía 180 escolas islâmicas e uma moderna faculdade. Doutores e escritores do Magrebe[10], viajavam para lecionar nas mesquitas, ou mesmo assistir as aulas dos berberes ou dos negros sankorés. Sua Universidade, chamada de Al-Ahzar, chamava os principais cultos da época, inclusive na gestão do Kanka Mussa, os sábios como Abderhamane el Temini, fixaram-se na cidade. O centro do conhecimento se localizava no coração africano.
FONTES DE REGISTROS, QUEM NOS CONTA A HISTÓRIA GAO?
As fontes narradas são dadas por Ibn Khaldun; Leon, o Africano; Usma de Dan Fodio, Mohammed Bello.
Leon estudou na infância em escola coranica, depois na Universidade Teológica de Karauyne. Trabalhou no Manicômio de Fez. Percorreu vários cemitérios e após, contando com 17 anos, ruma para a Tumbuctu.
Promeveu numerosos périplos, sendo de origem islâmica-espanhola, chamava-se El-Hasan, mas foi depois batizado pelo papa Leão X, de Jean-Leon. Ibn khaldun, foi um famoso historiador e historiógrafo norte-africano com contribuições ao nível da sociologia, que se considerava a si próprio como Árabe. Ibn Khaldun é tido por muitos académicos como uma das principais ajudas para a compreensão das sociedades muçulmanas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
AZIZ, Philippe. Os Impérios Negros da Idade Média, ed. Ferni, Rio de Janeiro, 1977.
BETAUX, Pierre. África:Desde la prehistoria hasta los Estados actuales, 18 edição, ed. siglo vien tiuno editores, 1978.
RIBEIRO, Luiz Dario Teixeira ; SILVA, Manoel José Ávila da. A África anterior ao século XV: os grandes reinos.
RODRIGUES, João Carlos. Pequena História da África Negra, ed. Globo, 1990.
SILVA, Alberto da Costa. A Enxada e a Lança: A África antes dos Portugueses, 2 edição, ed. Nova Fronteira, 1996.
______. A manilha e o libambo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.
______. Um rio chamado Atlântico: a África no Brasil e o Brasil na África. Rio de Janeiro: Nova Fronteira: UFRJ, 2003.
KI-ZERBO, Joseph. História da África Negra, 3 edição, ed. Universitária, 1999.
http//:www.wikipédia.org.br
http//:www.mundus.com.br
[1] Os almorávidas sugiram da disputa entre soninkés animistas e berberes islâmicos, como explica estes trechos sediados em Audagost, comerciantes berberes no início dominaram a população negra, mas está a partir de 800, tomou o podersob comando de Kaya Maghan Cissé, transferindo sua capital para Kumbi (...) os berberes recuperam a autonomia em 1020. Voltando peregrinação a Meca, um dos xeiques trouxe consigo Abdallah ibn Yacin, pregador religioso que estabeleceu residência em uma ilhota do rio Senegal. Pouco tempo depois, o fanatismo deste austero profeta contagiou as tribos do deserto, dando origem a uma verdadeira guerra santa, na qual seus seguidores (chamados almorávidas) conquistaram Sijilmassa, em 1054, e a própria Espanha, trinta anos depois, fundando uma nova dinastia. (RODRIGUES, 1990, p. 32).
[2] Um dos povos do grupo lingüístico mande (como os soninké, bambará, senufô, mendé, diulã). (RODRIGUES, 1990, p.33)
[3] Los mossis constituyen ante todo una casta guerrera, una aristocracia de caballeros, llegados del Este hacia el siglo XI. (BERTAUX, 1978, p.54)
[4]Descendentes dos berberes, os tuaregues conservam, ainda hoje, além da sua própria língua, o espírito guerreiro e avesso à sedentarização. Graças a ele, seus hábitos e costumes foram preservados da repressão cultural do governo nigerino, obstinado em adaptá-los à nova imagem de um país que se moderniza.
Uma das práticas é o uso de turbante azul escuro pelos homens, que raramente é retirado em público. Antes da chegada dos transportes comerciais modernos, os tuaregues eram soberanos, com sua técnica de criação de camelos - que eles vendiam como animais de carga a caravanas. Mais tarde, destacaram-se também na condução das mesmas, quando tiveram o monopólio do sal de Bilma no comércio transaariano. (MUNDUS)
[5]Les Sorko (Sorokawa) sont un peuple d'Afrique de l'ouest vivant principalement dans la vallée du Niger et près des étangs. (WIKIPÉDIA)
[6] No passado, Djenné foi um centro de comércio e aprendizagem, e foi conquistada várias vezes desde a sua fundação. (WIKIPÉDIA)
[7] Igualmente por ess época, os pastores fulani (ou pehl, como preferem os franceses) ? descendentes, segundo uns, das antigas populações neolíticas do Tassilí. (RODRIGUES, 1978, p.35)
[8]"ulemás (sábios, responsáveis pela interpretação das leis e pela manutenção da doutrina islâmica)".(RIBEIRO, SILVA; s/d, p.5)
[9]Quer Hauça signifique "língua leste", como em Songai; ou "banco esquerdo do Niger", o povo que recebe este nome soma 20 milhões de indivíduos dispersos entre o Niger meridional, Nigéria setentrional e uma pequena parte no Tchad. Com origem sudanesa e influência berbere, o clã dos hauças é patriarcal. (MUNDUS)
[10] é uma região africana que abrange, em sentido estrito, Marrocos, Sahara Ocidental, Argélia e Tunísia (Pequeno Magreb ou Magreb Central). (WIKIPÉDIA)