Andar e Olhar... (Re) Criar... Ressignificar o que Viu e Ouviu.

Por Elisama Fernandes Araujo | 09/08/2011 | Direito

Pés inchados. Pés cansados. Há muito ele vinha deambulando pela vida em busca de alguma fresta de luz que trouxesse esperança a sua alma aflita. Trabalhava na sede do governo, descobriu tantas falcatruas, quis ser honesto. Repudiava-lhe a ideia de "entrar no sistema". Porém, estava só. Nadando sozinho... Quis fugir daquela cidade, pois não suportava mais as perseguições e ameaças. O melhor mesmo seria fugir, deixar sua família a salvo, embora nem mesmo ela, sua adorada família, acreditasse nele. Estava prostrado. Fugiu e nunca mais voltou.
Em outra cidade, como viveria? Não tinha ninguém que o acolhesse, ou melhor, havia sim, não um alguém feito de carne e osso, mas a rua. Dias e dias, noites e noites, anos e anos... Muitas vezes pensara em retornar, porém o medo o detinha - talvez nem mesmo os seus filhos o reconheceriam ? A rua foi seu abrigo, a rua e a noite lhe acompanharam durante suas aflições: sem ter algum projeto de habitação social para os moradores de rua, o governo, com seu discurso de "limpeza social", desalojava em massa os moradores de rua, e ele, ia junto. Pensara sobre o direito à moradia. Pensara sobre o direito de ir e vir. Que igualdade jurídica que temos? Sentira os efeitos da sociedade desigual na própria pele, por vezes se arrependera de não ter entrado naquele "sistema", pois, desde o dia em que afugentou-se, nunca conseguiu encontrar nem uma centelha de felicidade.
Tantos anos... mas ainda assim, tinha medo da rua - tinha medo das pessoas da rua - E... se fosse queimado como o índio que estava dormindo no ponto de ônibus em Brasília? Ou ainda, se fosse assassinado? Com faca? Com revólver? Não. Com um olhar. Desprezo. Falta de humanidade e compaixão. Não possuía abrigo descente para viver; dependia de ajuda de algumas almas nobres que lhe davam comida e roupas. O governo lhe tirara tudo. Sentira saudade de sua família, porque, dessa vez, não lhe deram votos de confiança? Essa era a sua maior comiseração.
Buscava paz. Adentrava na igreja, o choro embalava seu sono na sacristia. Depois, estava na rua. Rua, ao ar livre. Porém, o que menos ele sentia era essa liberdade, pois estava preso no cárcere da dor.