ANÁLISE SOBRE A INSATISFAÇÃO DO PROFISSIONAL E COMO TRABALHAR AS CAUSAS.

Por Hernani Ilek | 28/10/2016 | Educação

RESUMO

A insatisfação no trabalho e as suas causas tem sido tema de crucial relevância para a sociedade, principalmente devido aos impactos econômicos. Partindo dessa premissa, a proposta deste artigo é discutir as principais teorias acerca da temática e apresentar uma nova ferramenta capaz de identificar de um modo mais assertivo as causas geradoras da insatisfação do trabalhador e propor soluções eficazes na solução destas causas. Para tanto, utilizamos das ferramentas dos 5 Porquês, 5W 2H, Rodas de Conversa e, principalmente, a teoria da Pirâmide das Necessidades de Maslow. Outra ferramenta é aquela criada e cerne deste artigo, desenvolvida em uma empresa de mineração e denominada de Círculos de Base. O estudo está dividido em quatro etapas onde temos as teorias referentes ao trabalho e a insatisfação, as teorias de avaliação e a ferramenta utilizada, o uso da ferramenta e a

 

Introdução

A satisfação no trabalho nem sempre teve sua devida importância reconhecida e somente passou a ser uma dimensão de interesse por parte dos teóricos, a partir do momento em que o modelo Taylorista de trabalho foi questionado e se passou a considerar o fator humano nas empresas.

Desde então, tem tido largamente estudado por sua possível associação com a produtividade empresarial e à realização pessoal dos trabalhadores, ainda que, em termos empíricos, não parece haver relações causais indubitavelmente comprovadas. (LIMA, VALA e MONTEIRO, 1995).  

Há certo consenso, porém, entre os trabalhos sobre a temática, que profissionais insatisfeitos tendem a ter seu interesse e motivação para o trabalho reduzidos, o que pode acarretar em um decréscimo no comprometimento com as tarefas profissionais. Consequentemente, trabalhadores pouco comprometidos teriam redução no desempenho, o que gera prejuízos não somente aos profissionais (piora da saúde física e mental) e às corporações/empresas (diminuição da produtividade/lucratividade) como também à economia na qual se inserem.

O desempenho no trabalho e as fontes/causas de satisfação e insatisfação profissional tem sido, portanto, tema de crucial relevância para a sociedade, especialmente por conta de seus possíveis impactos econômicos. Cada vez mais, tem-se tornado objeto de interesse por pesquisadores, analistas, gestores e demais profissionais responsáveis por assegurar otimização da atividade laboral. Contudo, através de breve levantamento bibliográfico sobre a insatisfação profissional especificamente, verificamos que os estudos disponíveis acerca do tema, em sua grande maioria, direcionam sua análise na busca de explicações para essa insatisfação unicamente dentro do ambiente profissional. Além disso, são, quase sempre, pontuais e, portanto, abordam fatores específicos de determinadas categorias profissionais e suas particularidades, para enumerar as causas e possíveis consequências dessa insatisfação decorrente do exercício daquelas atividades laborativas. 

Neste estudo, pretendemos ir além da visão, a nosso ver, fragmentada, das causas geradoras de insatisfação no trabalho, na qual cada segmento profissional possuiria suas próprias causas decorrentes do desenvolvimento de sua atividade específica. Para tanto, analisaremos as informações obtidas a respeito da insatisfação profissional de forma mais abrangente, entendendo que as causas da insatisfação estão mais atreladas a vida pessoal do que a vida profissional dos indivíduos.

Este estudo tem intenção de apresentar uma nova ferramenta, elaborada através de nossa experiência em campo, a qual foi aqui empregada para analisar os dados obtidos e encontrar soluções. O principal foco dessa ferramenta, por nós denominada de Círculos de Base, é que ela ajude as empresas, juntamente com as outras ferramentas já atualmente consolidadas, a descobrir as causas reais de insatisfação de seus empregados, buscando soluções mais eficientes e otimizando o desempenho profissional.

Empregaremos nesse estudo a coleta de dados através de roda de conversa (MELLO,

2007; AFONSO e ABADE, 2008) com 4 funcionários de uma determinada empresa do interior do Estado de São Paulo. Posteriormente, passaremos à análise das informações obtidas nessas conversas e procuraremos identificar as causas reais da insatisfação desses profissionais para, no fim, sermos capazes de apresentar-lhes soluções.

 1.Investigando a insatisfação 

Iniciaremos nossa investigação tentando conceituar o que é a insatisfação profissional. Primeiramente, é necessário esclarecer que os trabalhos pesquisados não possuem uma clara definição do que vem a ser insatisfação profissional no sentido amplo, uma vez que estão focados em encontrar as causas da insatisfação somente no segmento estudado. Por esse motivo, iremos utilizar como ponto de partida a definição semântica do termo insatisfação, conforme o dicionário eletrônico Priberam. Segundo este, a insatisfação é o estado ou a qualidade de quem não está satisfeito, ou seja, de quem não está plenamente realizado.

Partindo desta definição de insatisfação iremos considerar que a insatisfação profissional é o estado de quem não está realizado no ambiente profissional. Por assim dizer, esse indivíduo tem a percepção de que não está realizado. Contudo, essa percepção, muitas vezes, está incorreta, como mostrará esse estudo, pois não é somente decorrente da função exercida pelo indivíduo. Outros fatores que detalharemos posteriormente dão ensejo a essa perspectiva.

Nossa abordagem evidenciou que os fatores de insatisfação profissional relatado pelos funcionários participantes da pesquisa, encontravam-se fora do ambiente de trabalho, mas produziam efeitos diretamente no desempenho profissional. Tal constatação, foi verificada nos 4 relatos analisados (item 5.3) para o desenvolvimento desse estudo, no qual aplicamos a ferramenta de Círculos de Base, desenvolvida para auxiliar os funcionários no reconhecimento da real raiz da insatisfação, uma vez que as teorias existentes se mostraram pouco eficientes. 

As informações coletadas nesse estudo (item 5.3) foram categorizadas e nos permitiu identificar que o processo de insatisfação do trabalho nos casos analisados, ocorre através de três estágios que arranjamos em níveis de sentimento identificados a partir do que os entrevistados expressavam em suas falas. Através desse arranjo em níveis de sentimento, elaboramos o Quadro 01 abaixo, o qual é oriundo da análise das informações coletadas com os participantes desse estudo, tendo sido desenvolvido, portanto, exclusivamente para nosso estudo.Cada um dos 3 níveis são sensações, ou sentimentos, percebidas pelo indivíduo. O primeiro estágio (ou nível) verificou-se ser decorrente de fatos do cotidiano que não ocorrem da maneira esperada pelo indivíduo, e que geram um sentimento de frustração. Definimos esse primeiro estágio, como nível 1 – Frustração. O segundo estágio é a consolidação de um sentimento de desprazer ocasionado pela Frustração (nível 1). Aqui nos referimos a este desprazer como nível 2 – Descontentamento. Por conseguinte, o estágio final, aqui nomeado de nível 3 – Insatisfação é o sentimento do indivíduo de que algo em sua realidade não está correto. Essa percepção que identifica um problema, não identificará necessariamente a causa e a solução do mesmo.

 

Nível

Sentimento

3

Insatisfação

2

Descontentamento

1

Frustração

Quadro 01: Níveis de Sentimento  Fonte:

O sentimento de Insatisfação para FESTINGER (1957) é denominado de dissonância cognitiva. Para o psicólogo, uma vez que existe uma dissonância entre dois ou mais aspectos da realidade do indivíduo, o mesmo buscará uma explicação coerente. Nesse contexto, o profissional buscará uma resposta que seja coerente para si e que explique sua insatisfação no trabalho. Entretanto, como veremos na análise dos dados coletados (item 5.3), essa resposta quase nunca tem relação com a causa-raiz.

                     Para entendermos melhor, imaginemos a seguinte situação:

  • Um funcionário está insatisfeito com seu trabalho, pois vem demonstrando pouco comprometimento, além de regulamente, apresentar reclamações aos seus companheiros. Essa reclamação é o ponto de partida e entendida como reflexo da Insatisfação, identificado no Quadro 01 pelo Nível 3.
  • Em uma Roda de Conversa, o mesmo expôs que está descontente na sua atual atividade, identificado no Quadro 01 como Nível 2.
  • Conforme a conversa prosseguia, o mesmo afirmou que o novo supervisor – cargo superior ao dele na hierarquia dentro da empresa – ignora o fato dele estar há muito tempo como funcionário e sua experiência no cargo, pois nunca o elogiou como seu antigo supervisor fazia e como faz como os demais colaboradores, o que o deixaria frustrado. Esta é a causa-raiz que gera a Insatisfação, identificada no Quadro 01 como Nível 1.

 O exemplo citado é bem simples e tem a intenção apenas de ilustrar a ideia que buscamos apresentar, qual seja, a insatisfação normalmente tem uma origem simples, resultante de outros fatores que se acumulam ao longo do tempo. Outra ferramenta muito importante para a pesquisa foi a ferramenta dos 5 Porquês, que é bem simples e tem a função principal de buscar em até 5 perguntas a causa principal de um problema, a causaraiz.

  1. Avaliando as causas da insatisfação.

  Como explicado no item 2, a Insatisfação é um sentimento que diminui a disposição das pessoas, seu ânimo ou mesmo a vontade de realizar e executar suas atividades laborativas. 

 Os níveis de sentimento apresentados no Quadro 01 constroem uma escala, mas também é preciso encontrar quais as necessidades que não foram contempladas de forma mínima ou satisfatória para cada indivíduo.

 Para isso, muitas teorias já foram criadas para explicar as necessidades das pessoas com níveis e definições. Neste artigo, apresentaremos as duas que melhor corroboram ao estudo. 

         2.1.      Análise da Teoria dos Dois Fatores e a Pirâmide das Necessidades de Maslow. 

As duas teorias abaixo têm como principal função, apontar e identificar as questões humanas de satisfação e insatisfação onde:

 Primeiramente, a Teoria dos Dois fatores criada por HERZBERG (1968) e aqui citada por PILATTI, na qual 

[...] Herzberg  indicou  que  fatores  relacionados  ao conteúdo  do  cargo  ou  com  a natureza   das   tarefas   desenvolvidas   pelo   indivíduo   são   fatores   de   satisfação   (motivadores), porquanto determinados pelo ambiente que permeiam o indivíduo e ligados

a condições dentro das quais  desempenha  seu  trabalho são  fatores  que  apenas  previnem  a  insatisfação  (manutenção ou higiênicos). (PILATTI, 2008, p. 53)

Para o psicólogo, os dois fatores possuem funções distintas pois, enquanto os “fatores motivacionais (ou motivadores)” são agradáveis, os “fatores higiênicos” são desagradáveis. O estudo de HERZBERG (1968) tem como foco o estudo do comportamento e da motivação dentro das empresas e, para ele, o oposto da satisfação pode ser nenhuma satisfação.

Outra teoria bastante difundida foi apresentada por MASLOW (1943), chamada de Teoria das Necessidades. Para Maslow, estas necessidades apresentam-se numa hierarquia de importância e urgência.

[...]

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