Análise - Prince of Persia (PC)
Por Luiz Soares | 14/06/2009 | TecnologiaUm andarilho e uma princesa
Prince of Persia traz de volta um clássico dos velhos tempos. O primeiro game da série, datado de 1989, foi lançado num tempo em que computador era artigo de luxo, apenas alguns privilegiados possuíam. Tratava-se de um jogo de ação e aventura no gênero plataforma no qual um príncipe aprisionado deveria resgatar sua amada. O grande atrativo do game era ter de cumprir essa tarefa percorrendo um cenário repleto de armadilhas, pisos falsos, e inimigos mortais. Tudo isso em 60 minutos e com uma animação que para aquela época foi revolucionária.
O tempo passou e com o sucesso vieram novos títulos da franquia, sendo que os mais recentes pertencem à nova trilogia começada por Sands of Time, desenvolvidos pela Ubisoft. Recentemente a produtora lançou mais um título, sem aparente ligação com a trilogia anterior, agora apenas levando o nome do original Prince of Persia. Porém, da história original o jogo tem muito pouco, para não dizer nada. O “príncipe” nesta nova versão é um homem comum, um andarilho sem propósito, apenas em busca de aventura e dinheiro. De príncipe só possui o apelido. Também não há princesa para ser libertada da masmorra, trocando ao invés disso um resgate de apelo universal e ecológico.
O encontro dos dois personagens ocorre de maneira casual, quando o príncipe procura seu burro durante uma tempestade de areia. Ele acaba literalmente trombando na princesa Elika, que foge de seu pai (um rei deturpado) e seus vilões. Nesta fuga, os dois se dirigem a uma espécie de templo, onde diversos eventos provocados pelo pai de Elika desencadeiam na propagação das trevas no mundo, destruindo e corrompendo a natureza. Rapidamente o cenário muda, tornando-se sombrio, e a missão do casal é agora percorrer o imenso mapa do jogo a fim de restaurar os lugares atingidos pela corrupção. Para isso, terão que navegar pelas plataformas, resolver vários puzzles e enfrentar inimigos.
Gráficos 3D com a excelência no uso do Cel Shading
Guardando as devidas proporções do tempo, como no jogo original, este título traz gráficos impressionantes. A animação é fluída, diversificada e natural a ponto das roupas dos personagens mexerem ao embalo do vento e responderem de forma real a seus movimentos. Os cenários são detalhados e concebidos com grande criatividade artística, e a utilização de Cel Shading (técnica aplicada em gráficos 3D a fim de que se tenha um traço que lembre desenho animado) é uma das melhores já vistas em um vídeogame. Os efeitos luminosos e partículas também enchem os olhos.
O mapa do jogo pode ser explorado da maneira que se deseja, e é formado por uma gama de lugares variados, coloridos e com inteligente arquitetura, mostrando que o design do jogo foi muito bem feito. As texturas pendem para o cartoon em alguns momentos, mas no geral criam uma atmosfera perfeita dentro do contexto do jogo, tanto em lugares sombrios como em lugares já purificados pelo príncipe e pela Elika.
Alguns momentos do jogo, em especial o início, são dignos de grandes filmes do cinema, dado a ação e as cinemáticas bem dirigidas que aproveitam a ótima engine gráfica. Neste aspecto, o som do game não fica para trás, com ótimas músicas que fazem fundo ao contexto oriental, como efeitos sonoros e dublagem detalhadas, esta última com vários toques bem humorados. Outro grande destaque é a excelente performance gráfica, permitindo que os donos de computadores mais modestos usufruam de bons gráficos sem perca significativa de velocidade.
Plataformas em alta, desafios em baixa
O game se destaca pela criatividade nos uso do estilo plataforma em 3D. Os cenários possuem diversos lugares para que o herói pule e faça malabarismos a fim de chegar a determinado local. Podemos correr, saltar, andar nas paredes, em telhados, deslizar e descer paredões. Também somos capazes de realizar acrobacias em parapeitos, fendas, postes, trepadeiras, anéis de ativação e barras. Mas não se empolgue com a aparente complexidade – Prince of Persia lembra o estilo de Assassin´s Creed, onde o personagem “gruda” quase que automaticamente no cenário, não exigindo muito do jogador além de apertar o botão correto na hora certa, tornando tudo simplificado demais.
Elika, companhia constante durante o jogo, possui poderes mágicos e sempre dá aquela “mãozinha” providencial nas horas de desespero. Se o jogador cair em um abismo, ou quem sabe não alcançar uma plataforma em um pulo mal calculado, ou mesmo afundar nas trevas, Elika aparece como mágica e o socorre. Ela pode também indicar qual caminho a ser seguido, lançando um poder ou então teleportar o jogador rapidamente para um local do mapa já restaurado anteriormente por ela. Esses recursos tornam PoP um jogo que não permite que o jogador morra, o que reduz abruptamente o nível de desafio do jogo.
Para liberar todos os poderes da moça, é necessário explorar o mapa, passar pelas plataformas, resolver puzzles, enfrentar inimigos e purificar o lugar indicado. Após a purificação, aparecem no cenário “Sementes de Luz”, que devem ser coletadas a fim de serem trocadas no templo por poderes para Elika. Entre eles estão a possibilidade de saltos enormes, percorrer as paredes desafiando a gravidade, voar entre as plataformas e uma espécie de gancho mágico que permite uma escalada melhor. Os poderes são interessantes, tornam o jogo ainda mais fácil, mas o fato de ter que percorrer o cenário novamente apenas para coletar as Sementes de Luz torna tudo muito repetitivo.
Em relação ao combate, há uma diferença dos outros jogos da série, nos quais enfrentávamos vários oponentes de maneira simultânea. Em PoP temos o duelo de um (inimigo) contra um (apesar da ajuda pontual de Elika). Mas nem por isso os confrontos deixam de ser interessantes, já que há diversos ângulos de câmeras, animações detalhadas e efeitos de luz. Há uma limitada variedade de movimentos de defesa e ataque, este último, partindo aos movimentos básicos, abrangendo os ataques de Elika (uso de magia), ataques da luva (levantar os inimigos e arremessá-los), até manobras ofensivas mais avançadas com acrobacias e combinações entre a dupla de heróis (realizando combos).
Os inimigos possuem um design genial, são monstros atípicos e repletos de efeitos. Usam fintas e contra-ataques que exigem que o jogador tenha o timing certo para agir. Quando encurralam o herói, inicia-se um mini-game de disputa de força – o jogador deverá apertar repetidas vezes um botão específico para vencer a disputa. Mesmo com bons combates, uma é fato: o maior desafio que o jogador encontrará são os puzzles.
Conclusão: Final Feliz?
Prince of Persia traz excelentes gráficos e animações, design inteligente em plataformas e puzzles e é garantia de diversão de pelo menos 10 horas de jogo. Apesar de levar o mesmo nome do jogo de 1989, a dificuldade original foi completamente abandonada, tornando o jogo simplista demais na navegação dos cenários e a impossibilidade de morrer. Mesmo assim é ótimo entretenimento, especialmente para jogadores mais casuais que gostam de avançar na história e enfrentar alguns bons puzzles pelo caminho – esses provavelmente serão o maior desafio.