Análise - Need For Speed: Carbon (PC)
Por Luiz Soares | 12/06/2009 | TecnologiaTodo ano, inevitavelmente, a Electronic Arts empurra goela abaixo dos jogadores "novas" versões de suas principais franquias - "novas" entre aspas porque, como se sabe, nem sempre as versões são tão novas assim, caindo moenda da repetição que, além de representar um dos principais problemas do entretenimento eletrônico atualmente, é capaz de relegar verdadeiros best-sellers ao esquecimento. "Need for Speed" já viveu os dois lados da moeda, alcançando o sucesso logo na estréia, no 3DO, mas perdendo-se pelo caminho com o passar dos anos, graças à edições pífias para variadas plataformas. No entanto, em uma época em que a série era dada praticamente como "morta", aproveitando a onda do tuning, popularizada por "Velozes e Furiosos", a EA a fez renascer com "Underground", que mereceu continuação. Em seguida, não deixou a peteca cair com "Most Wanted", que trouxe à tona, novamente, as perseguições policiais. Paralelamente, a concorrência também acelerou o ritmo, com outras franquias interessantes, como "Burnout", "Midnight Club", "Flatout", "Test Drive" etc. Diante da fartura de opções, novamente desenhou-se um cenário arriscado para "Need for Speed", à medida que temas como tuning e corridas ilegais têm sido explorados à exaustão, em diferentes variações. Por isso, "Need for Speed: Carbon" chega com uma responsabilidade e tanto, mas, para o felizmente, ao mesmo tempo em que traz novidades interessantes e significativas, mantém os ingredientes que tanto bem fizeram à série, como a arte de modificar os bólidos e o clima "underground". Ladeira abaixo A maior inovação do jogo é a modalidade Canyon Duel, que coloca dois competidores para correr em pistas que, perigosamente, rodeiam cânions. São dois rounds, que colocam você como caça e caçador: no primeiro, é necessário perseguir o adversário, sem perdê-lo de vista, mantendo uma distância dentro do limite de tolerância; no round seguinte, os papéis se invertem e, então, o objetivo passa a ser despistar seu perseguidor. No entanto, se o perseguidor ultrapassar e ficar mais de dez segundos na frente do outro, ele vence. No primeiro round, quanto mais próximo você se mantiver do oponente, mais pontos acumula, enquanto na outra etapa, ele tentará, obviamente, diminuir os seus pontos fazendo o mesmo. Para vencer o duelo, é necessário terminar a prova com a conta de pontos no "azul". Mas essa não é única maneira de vencer ou perder a disputa: se, em algum momento, você bater com força suficiente para romper a guardrail, cai desfiladeiro abaixo e, claro as coisas terminam. Mas o que realmente atrai no Canyon Duel é que se trata de uma corrida de pura habilidade, na qual, quanto mais veloz, mais perigosa fica a disputa. As pistas são extremamente sinuosas, o que torna as coisas ainda mais emocionantes. Como se não bastasse, é tudo na raça: nada de recursos extras, como o nitro o ou speedbreaker, para facilitar o serviço. Durante a corrida, uma pequena janela exibe o rosto do seu oponente e, claro, as suas provocações quando você se dá mal. Tudo em prol do clima competitivo, que tem tudo a ver com a modalidade. Além disso, algumas provas do modo Drift acontecem ao redor de cânions e dão outro clima, já que é muito mais arriscado derrapar, pois uma batida mais forte na proteção pode não resultar apenas na perda dos pontos, mas na eliminação do jogador. Guerra de gangues O modo Carreira, como sempre, é o prato principal, englobando praticamente tudo o que "Need for Speed: Carbon" pode oferecer, com duração média de 14 horas. Os carros estão divididos em três categorias: Muscle (ótima boa nova), Exotic e Tuner. Logo após escolher um deles, você pode avaliar se é mesmo o que melhor se encaixa em seu estilo, antes de comprar. Então, você é apresentado às novidades do modo Carreira, que agora tem um mapa, dividido em várias partes, que lembra muito um tabuleiro de "War". A cidade é dominada por gangues e o principal objetivo é, naturalmente, conquistar o máximo possível de territórios. Ocorre, porém, que seus domínios podem ser atacados por rivais - as gangues Bushido, Kings e Los Colibres -, então, às vezes, é preciso correr (literalmente) para defendê-los. O duelo derradeiro pelo domínio de um território é contra um "chefe" - normalmente, é o líder da gangue. São "batalhas" verdadeiramente travadas à parte, no modo Canyon Duel, e que podem fazer você suar para vencer. O enredo continua raso, superficial e hollywoodiano, mas é notável o esforço em adicionar, pelo menos, um pouco mais de direcionamento à história. Não apenas as gangues têm nome e identidades próprias, mas ao longo do jogo você vai conhecer seus respectivos membros, em uma trama conduzida por muitos diálogos e personagens. Não é nenhuma maravilha, mas, em se tratando de um jogo de corrida, está de bom tamanho. A polícia continua no encalço dos corredores, então cada zona possui um medidor que mostra o quanto a área é visada pela lei. Se ela for "quente" demais, é grande a possibilidade de os tiras aparecerem para dificultar ainda mais a sua vida. Uma boa alternativa para fazer os policiais largarem do seu pé é mudar a cor do seu carro e tuná-lo, despistando qualquer problema. Trabalho em equipe "Need for Speed: Carbon" introduz à série os "crew members", despojados e altruístas companheiros de equipe que, durante algumas provas do modo carreira, dedicam-se a ajudá-lo, sem aparente preocupação de disputar a vitória. Eles se dividem em três categorias: blocker que, como o próprio nome sugere, bloqueia os adversários, atrasando-os na corrida; scout, que descobre os atalhos da pista; e, finalmente, drafter, que toma a sua dianteira, fornecendo o vácuo para você conseguir um razoável aumento de velocidade. Para acionar a ajuda do "aliado" é preciso preencher uma barra. E não haveria modo mais adequado para fazê-lo: com velocidade. Isso mesmo: quanto mais você acelerar na pista, mais rápido o medidor chega ao nível máximo. A inteligência artificial, em geral, funciona bem, pois quando é possível, os companheiros fazem de tudo para ajudá-lo - é claro que, se for um "drafter" e ele estiver em último e você em primeiro, , por exemplo, não espere que, ao seu comando, ele ultrapasse a todos para lhe fornecer vácuo. Por isso, é necessário ter noção ao pedir auxílio, para não desperdiçar chances. É possível contar com apenas um "crew member" por corrida, e eles são recrutados ao longo do jogo. Existe uma tela especial em que você gerencia todos eles, selecionando-os e modificando seus veículos conforme for conveniente. Durante as corridas, eles falam o tempo todo, na maioria das vezes para dizer que estão encrencados ou para bradar frases de incentivo. Neville, um "blocker", é o seu primeiro aliado e, assim como todos os outros, possui habilidades extras e até alguns bônus. A cada corrida ganha ao lado de Neville, por exemplo, você fatura 200 cash extras, e o nível de "zone heat" da área em questão não aumenta. Por mais que haja momentos em que o seu aliado nada pode fazer por você, e mesmo com as limitações de uso impostas pelo medidor e pelo fato de só poder correr ao lado de apenas um por vez, a novidade adiciona uma dose significativa de estratégia, além de deixar o game um pouco mais variado. Os mais puristas, que gostam de correr por si próprios, têm a opção de simplesmente não acionar o apoio do companheiro de equipe. O modo online oferece suporte para até oito participantes, nas versões de PC, Xbox 360 e, futuramente, também no PlayStation 3, enquanto a geração atual, formada por GameCube, PlayStation 2 e Xbox, não possui a funcionalidade. Tuning no limite A interface estilo "Conquest" para o modo Carreira também fez bem ao jogo, principalmente porque a navegação é bem fácil. Você pode circular livremente pelas diferentes áreas (mesmo as não dominadas por você), no modo "Free Roam", ou então escolher um desafio no mapa, do outro lado da cidade e, ao invés de ter que dirigir até lá, o jogo já carrega a corrida automaticamente. As Safe Houses, espalhadas em diferentes locais do mapa, são os locais onde você pode tunar o seu bólido. Neste ponto, a maior novidade é a ferramenta Autosculpt, que permite a você personalizar seu carro com uma profundidade nunca antes vista, mudando tamanho, proporção e outras características das diferentes partes. É quase como "desenhar" certas peças e decalques, o que significa que, caso você se dedique à tunagem, será quase impossível cruzar com outro veículo igual ao seu no modo online. Os gráficos estão no nível que normalmente é apresentado pela série, muito embora já não impressionem tanto. Como as corridas acontecem 100% à noite, os efeitos de luz ainda exercem um papel essencial no visual, ao lado dos borrões que os altos índices de velocidade geram na tela. A trilha sonora, por sua vez, traz aquela seleção invejável de canções, no melhor estilo rock. Mas a maior mudança está mesmo nos diálogos que, durante a corrida, transmitem a tensão da disputa, deixando-a mais envolvente. Revisão geral "Need for Speed: Carbon" não é o jogo com maior impacto da série, mas conseguiu renová-la o suficiente para não cair no vazio, risco tão real que acomete as franquias muito exploradas. O Canyon Duel, o novo formato do modo Carreira e os "crew members", além da ferramenta Autosculpt, garantem uma vida promissora ao game.