Análise Microbiológica do Chá de Guaco
Por Lucélia Alves de Oliveira | 02/06/2011 | SaúdeAnálise Microbiológica do Chá de Guaco
MOURA, G.O.F. 1; OLIVEIRA DE, L. A.1; VAUTIER, P.1
1 Área da Saúde ? Universidade Braz Cubas ? CEP: Mogi das Cruzes ? São Paulo
O mercado de fitoterápicos encontra-se em crescente expansão. A Fitoterapia tem como conceito o uso de plantas ou suas partes com finalidade terapêutica. Entre uma das maneiras de se utilizar as plantas medicinais estão os chás, que são amplamente empregados popularmente, porém a falta de informações sobre preparo, armazenamento e contaminação microbiana podem acarretar em prejuízos à saúde da população. Os chás, por serem determinados como produtos a serem consumidos após a adição de líquido com emprego de calor, possuem grande probabilidade de contaminação microbiana. Entre as plantas medicinais de uso popular está o guaco, Mikania glomerata spreng. O objetivo deste trabalho foi a análise microbiológica do chá de guaco no dia, 24 e 48 horas após o preparo. O chá foi preparado respeitando questões higiênico-sanitárias. Foram realizados testes microbiológicos, usando meios de cultura, técnica de Coloração de Gram e a técnica de Semeadura Quantitativa em Estrias. Os resultados sugerem o chá de guaco deve ser consumido imediatamente após seu preparo, devido 24 e 48 horas de acondicionamento, com açúcar ou não, o produto apresentou contaminação por bactérias Gram positivas e Gram negativas, mesmo mantendo suas características organolépticas iniciais.
Palavras-chave: Chá de guaco, contaminação de chás, bactérias Gram positivas e Gram negativas.
Introdução
Consideradas fator de suma importância para a manutenção das condições da saúde das pessoas, a Fitoterapia é parte importante da cultura de um povo, sendo o conhecimento utilizado e difundido pelas populações por várias gerações. TOMAZZONI et al. (2006).
Entre as plantas medicinais de uso popular está o guaco, Mikania glomerata spreng, conhecido popularmente como erva-das-serpentes, um arbusto lenhoso de perfume intenso e inconfundível que habita a Mata Atlântica litorânea. É comprovadamente eficaz na dilatação dos brônquios, porém os mecanismos de ação não foram totalmente compreendidos. BARATTO. (2008), sendo indicado para gripes e resfriados, bronquites alérgica e infecciosa como expectorante. Existe, no entanto, uma precaução em relação aos hemofílicos, pois a planta possui um composto que pode causar hemorragias, alterando a coagulação sanguínea. Em doses altas pode causar vômitos e diarréia, outro motivo de cautela no uso deste chá. A recomendação é tomar 1 xícara de chá, feito com suas folhas, três vezes ao dia. ANVISA & VARELLA. (2010).
A Resolução da Diretoria Colegiada da ANVISA (RDC) n° 10, de 2010, que dispõe sobre a notificação de drogas vegetais- plantas medicinais ou suas partes, que contenham as substâncias ou classes de substâncias, responsáveis pela ação terapêutica, após processos de coleta ou colheita, estabilização, secagem, podendo ser íntegra, rasurada ou triturada- traz regras específicas para a comercialização das mesmas. O fabricante deve garantir a integridade de seu produto, a começar pela embalagem, a qual necessita proteger a droga vegetal de qualquer contaminação e efeitos da luz e umidade. Deve apresentar também, o lacre de segurança, que garante um produto inviolado e na embalagem todas as informações necessárias para o consumidor, a fim de se evitar enganos. Incluí-se nestas informações o nome comercial e nomenclatura botânica, nome do responsável pelo produto, fabricante, lote, data de fabricação, prazo de validade, entre outros.
Os princípios ativos que constituem o chá podem se transformar em substâncias prejudiciais à saúde, por meio de reações químicas, após 24 horas do preparo. Desta forma é indicado que seu consumo seja feito em no máximo 24 horas. REIA. (2009).
Este trabalho teve como objetivo a avaliação microbiológica do chá de guaco, com e sem açúcar, no dia, 24 e 48 horas, após o seu preparo, a fim de se verificar possíveis contaminações.
Materiais e Métodos
A planta medicinal Mikania glomerata spreng (lote CER.CHA.005, cultivada em Guarapuava (PR) pelo fabricante Cercopa) popularmente conhecida como "guaco" foi adquirida em um estabelecimento comercial de plantas medicinais na cidade de Santo André no Estado de São Paulo. Como critério de escolha do estabelecimento, considerou-se as condições higiênico-sanitárias dos locais.
O chá foi preparado pelo método de infusão (ANVISA, 2010). Em uma amostra, denominada amostra B, adicionou-se 8 g de açúcar da marca União.
Após o preparo, as amostras foram acondicionadas em pote estéril fechado, temperatura ambiente, para que qualquer contaminação externa fosse evitada. As amostras de chá de guaco foram inoculadas em placas com meio de Ágar Nutriente, Ágar MacConkey e Ágar Sabouraud no dia, 24 e 48 horas após o preparo, pela técnica de semeadura quantitativa em estrias
Após a inoculação, todas as placas foram devidamente identificadas e levadas à estufa, onde permaneceram por até 48 horas (TAVEIRA et al, 2008). Após 24 e 48 horas na estufa as placas foram observadas.
Em caso de crescimento os microorganismos isolados em lâmina, para análise em microscópio. Meios de cultura sem crescimento de microorganismos forão descartados em lixo contaminado.
Foram inoculados em lâminas os microorganismos que cresceram nas placas, e coradas pela técnica de Coloração de Gram.
Resultados
Nas amostras analisadas imediatamente após o preparo (sem e com açúcar) não houve crescimento suficiente nas placas de Agar Sabouraud e Agar Nutriente, sendo considerados insignificantes para este estudo. Nas placas de Agar MacConkey não houve crescimento em nenhuma das análises.
Nas amostras de chá 24 horas e 48 horas após o preparo (sem e com adição de açúcar) houve crescimento de microorganismos, conforme evidenciado na Tabela I.
Agar Nutriente Agar Sabouraud Agar MacConkey
Bacilos Gram + Presente Ausente Ausente
Bacilos Gram - Ausente Ausente Ausente
Cocos Gram + Presente Presente Ausente
Cocos Gram - Presente Ausente Ausente
Fileiras Gram + Presente Presente Ausente
Fileiras Gram- Presente Presente Ausente
Vibrião Gram + Presente Presente Ausente
Vibrião Gram - Ausente Ausente Ausente
Tabela I. Representação de presença ou ausência dos microorganismos encontrados nas placas com seus respectivos meios de Cultura, de amostras de chá 24 e 48 horas após seu preparo.
Discussão
A utilização de chás é uma prática bastante comum, inclusive em crianças. CÉSAR et al. (1996); FLORES & MENGUE. (2005); CARVALHAES et al. (2007). Portanto, a garantia da qualidade do mesmo é uma preocupação, visto a nova legislação específica publicada (RDC 10/10) a fim de referendar a fiscali¬zação sanitária da qualidade dos mesmos no setor de comercialização.
Passíveis de contaminação microbiana, os chás podem veicular vários microorganismos, patogênicos ou não. Esta contaminação pode estar associada às condições de preparo, no que se refere às questões higiênico-sanitárias, tanto quanto à contaminação prévia da matéria-prima (droga vegetal), devido ao seu mau acondicionamento, diferentes tecnologias utilizadas, teor de umidade, entre outros. GOMES et al. (2008). Características da própria planta podem ser consideradas como fatores intrínsecos para contaminação. Já os fatores extrínsecos são aqueles relacionados ao local de armazenamento, modo de preparo, fatores ambientais. MELO et al. (2005). Adquirir um produto em estabelecimento seguro, idôneo são fatores essenciais para evitar alguns riscos de contaminação.
A contaminação microbiana de um produto pode acarretar alterações em suas propriedades físicas e químicas e ainda caracteriza risco de infecção para o usuário. FARMACOPÉIA BRASILEIRA. (2010).
O Farmacêutico tem como papel a orientação do consumidor para o uso correto dos chás, desde sua aquisição até modo de preparo, visto que a contaminação pode ser proveniente de seu uso incorreto, como por exemplo pelo desrespeito as condições higiênico-sanitárias.
O aspecto microbiológico merece indispensável atenção, visto que indica positividade ou não para microorganismos patogênicos, verificando a existência de riscos à saúde pública.
As bactérias Gram positivas, mais comuns em alimentos, são os Estreptococos, Estafilococos e Enterococos. AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. (2004b). Como principais bactérias encontradas em contaminações de alimentos estão a Salmonella sp e a Escherichia coli, ambas Gram negativas e da família das Enterobacteriaceae. MACÊDO. (2007).
Como não se verificou crescimento no meio Agar MacConkey, concluiu-se que as amostras não estavam contaminadas por enterobactérias Gram negativas, devidas o mesmo ser um meio seletivo para estas e inibidor de crescimento de bactérias Gram positivas. BARBOSA et al. (2005).
Apesar do chá 24 e 48 horas do preparo não apresentarem modificações nas suas características organolépticas (odor, sabor, cor) e não apresentarem crescimento de microorganismos patogênicos, pela presença de microorganismos, a ingestão após 24 horas pode vir a trazer riscos à saúde.
Conclusão
Com o presente trabalho concluiu-se que o chá de guaco acondicionado após 24 e 48 horas do seu preparo, com açúcar ou não, não mantém suas características microbiológicas iniciais apresentadas logo após seu preparo. Sendo assim, é sugestiva a importância da sua ingestão antes deste período, conforme demonstrado na literatura, uma vez respeitadas às questões higiênico-sanitárias.
Referências
AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Detecção e Identificação de Bactérias de Importância Médica. 2004b. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/microbiologia/mod_5_2004.pdf>. Acesso em 28 de abril de 2011.
BARATTO, L. et al. Investigação das atividades alelopáticas e antimicrobiana de Mikania laevigata (Asteraceae) obtida de cultivos hidropônico e tradicional. Rev. bras. farmacogn. 2008, vol. 18, no. 4, p. 577-582.
BARBOSA et al. Microbiologia Básica. São Paulo: Atheneu, 2005. 196 p.
BRASIL. Resolução ? RDC 10/10. RDC nº 10, de 09 de março de 2010. Disponível em: <http://www.brasilsus.com.br/legislacoes/rdc/103202-10.html>. Acesso em 14 de abril de 2011.
CARVALHAES et al. Fatores associados à situação do aleitamento materno exclusivo em crianças menores de 4 meses, em Botucatu-SP. Rev. Latino-Am. Enfermagem, fev. 2007, vol. 15, no. 1.
CÉSAR, J. A. et al. Prescrição de chás para crianças menores de seis meses: a opinião dos médicos de uma cidade de porte médio no sul do Brasil. J. Pediatr. 1996. p. 27-31.
FLORES, L. M.; MENGUE, S. S. Uso de medicamentos por idosos em região do sul do Brasil. Revista de Saúde Publica, 2005.
GOMES et al. Determinação da qualidade microbiológica e físico-química de chás de Cymbopogom citratus (D.C) Stapf (capim-limão). Acta Sci. Health Sci., mar. 2008, vol. 30, no. 1, p. 47-54.
MACÊDO, J. A. B. Doenças de Veiculação Hídrica e Alimentar: Águas & Águas. 3. ed. Belo Horizonte, 2007. p. 1029 ? 1071.
MELO et al. Avaliação dos Níveis de Contaminação Microbiológica Ambiental das Diversas Áreas de Produção do Laboratório de Fitoterápicos do Programa de Plantas Medicinais da Universidade Federal de Juiz de Fora. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, abr. 2005, vol. 2, no. 2, p 1-14.
REIA, E. C. G. Apostila do chá. 2009. Disponível em: <http://www.slideshare.net/FabulaMedusa/apostila-cha>. Acesso em 05 de maio de 2011.
TAVEIRA, N. C. et al. Manual Prático de Microbiologia. Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz. 2008.
TOMAZZONI et al. Fitoterapia Popular: a busca instrumental enquanto prática terapêutica. Texto Contexto Enferm., fev. 2006, vol. 15, no. 1, p.115-121.
VARELLA, D.; A polêmica das plantas. Revista Época, Saúde e Bem Estar, ago. 2010. Disponível em: <http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI162789-15257,00.html>. Acesso em 15 de abril de 2011.