Análise - Mensagens (Fernando Pessoa) - Brasão
Por Joel Junior | 09/03/2011 | LiteraturaAnálise
Mensagens ? Fernando Pessoa
Brasão ? As Quinas
Quinta/ D. Sebastião, Rei de Portugal
O livro mensagens é dividido em três partes: Brasão, Mar português e O encoberto.
Essa primeira parte recebe esse nome, Brasão, por ter sua estrutura escrita como a do Brasão português. Esse brasão é composto por sete castelos e cinco quinas. Assim Fernando pessoa escreve essa primeira parte do livro. Em "Os castelos", Fernando Pessoa relata a história dos reis e rainhas de Portugal, contados em sete poemas, como o número de castelos no Brasão. Em "As quinas", como no brasão, Fernando Pessoa conta em cinco poemas os pontos cruciais da história de Portugal. O quinto poema, que encerra essa parte, relata a história de D. Sebastião, o último rei da dinastia Avis.
D. Sebastião sai de Portugal com o intuito de reconquistar Jerusalém ao catolicismo. Nisso havia interesses materiais, envaidecedores e religiosos. D. Sebastião queria grandeza ? como cita Fernando no poema ? mas não a conseguiu. Na luta por essa conquista, houve batalhas muito violentas, nas quais dois terços do exercito português morreram. Ao fim da "bagunça", uma simples pergunta: Onde está o Rei D. Sebastião? Será que morto? Mas onde está o corpo? Talvez tivesse fugido... ou teria sido seqüestrado? Enfim, o corpo sumiu e jamais foi encontrado.
Assim, Fernando Pessoa escreve este poema, que retrata a "loucura" de D. Sebastião, loucura essa que faz bem ao homem, como afirma Fernando Pessoa ao fim do poema quando diz que "sem loucura o homem [...] é um cadáver adiado que procria".
Fernando pessoa encerra a parte "As quinas" do livro Mensagens (5ª parte) relatando a história de D. Sebastião por considerar o 5º ponto o mais elevado. Isso envolve uma questão metafísica, pois quando se olha uma pirâmide de cima para baixo, por exemplo, visualizamos quatro pontos iguais, os quatro cantos da pirâmide. Olhando de frente, visualizamos um ponto superior, a ponta da pirâmide, o quinto ponto, o mais elevado. Assim era considerado D. Sebastião em Portugal, alguém superior.
A principal mensagem transmitida nesse poema por Fernando Pessoa foi a questão dos sonhos. No poema, Fernando Pessoa chamou de loucura. D. Sebastião sonhava em conquistar Jerusalém para o catolicismo, mas para muitos, esse sonho era visto como loucura, contudo era apenas um sonho. Assim, se substituirmos as palavras louco e loucura no poema respectivamente por sonhador e sonho, a mensagem será transmitida de forma perfeita e muito mais direta:
"Sonhador, sim, sonhador, porque quis grandeza
Qual a sorte não quis dar
Não coube em mim minha certeza;
Por isso onde o areal está
Ficou meu ser que houve, não o que há
Meu sonho, outros que me o tomem
Com o que nele ia
Sem o sonho que é o homem
Mais que a besta sadia,
Um cadáver adiado que procria?"