Análise Filosófica do "Show de Truman"

Por Esmeralda Gomes Pereira da Silva | 26/03/2016 | Filosofia

Relatório do filme “O show de Truman” por Esmeralda Gomes Pereira, Acadêmica de Direito na UNIP, Campus Flamboyant, Goiânia, Goiás 

●Relação do filme com a Filosofia

            O estudo filosófico se baseia na premissa de que devemos, sempre, duvidar da realidade apresentada, da verdade pronta e dos conceitos pré-fabricados.

            Isso é retratado no filme de maneira contundente e inequívoca através da história de Truman, um homem que, por trinta anos, acreditou estar vivendo uma realidade confiável e absoluta, quando na verdade não passava, ele mesmo, do protagonista de um “Reality Show”, e sua vida, não passava de uma novela diária com milhares de telespectadores.

            O enredo do filme tem como enfoque a observação da vida deste homem, um homem comum, seu estilo de vida, fatos marcantes, o descontentamento com seu emprego, as interrogações humanas perante os fatos do dia a dia, as frustrações do cotidiano, além dos traumas que ocorreram no percurso da vida por causa das perdas sofridas e como isso afetou suas emoções e suas “escolhas”.

            O filme tem como pano de fundo “a realidade”, que consiste nos milhares de profissionais que trabalham na execução do programa televisivo diuturnamente, sem uma vida própria, já que vivem em função do show; isso, desde quem o concebeu, passando pelo diretor, pela produção e pelos atores; assim como nas milhões de pessoas em todo o mundo que acompanham a saga de Truman com tamanho interesse que deixam de lado, eles mesmos, sua própria vida, sua própria existência, sua própria “realidade”.

Entretanto, o que o filme nos revela é que às vezes fazemos escolhas, não apenas por vontade própria, mas por imposição; isto é, para não perdermos as oportunidades que a vida nos traz sem termos a chance de realmente escolhermos aquilo que queremos, mas apenas aceitarmos o que a vida oferece, ou antes, nos impõe.

Aparentemente é apenas uma ficção, mas se analisarmos com afinco o poder da mídia sobre as pessoas, podemos relacionar este filme a muita gente que está sob o poder de manipulação da mídia em geral e especialmente, a televisiva. Com o fim do “Show de Truman” dentro do filme, percebe-se que todos continuam com seus afazeres diários, seus hábitos e costumes, em que a maioria apenas procurava algo diferente para continuar assistindo, ou seja, não deram a mínima para a mensagem transmitida pelo homem Truman: a importância de se libertar de qualquer meio de manipulação, principalmente da mídia, em particular da televisiva.

A ideia central do filme está em sintonia com a do “Mito da Caverna”, de Platão, o filósofo grego: poucos são os inclinados a distinguir entre o mundo das aparências e o mundo das realidades autênticas e poucos são os que se perguntam se vivemos uma espécie de jogo de fantoches. Mas podemos imaginar, que se Platão visse o filme ele diria que nem mesmo Truman, deixando de considerar como reais as sombras que passam na parede e tivesse podido descobrir os objetos que produzem estas sombras, não teria de fato saído da caverna; não o que Platão considera como caverna. Teria de existir um segundo despertar de Truman em direção ao mundo das Formas, um mundo mais verdadeiro que o nosso, o qual não deixa de ser uma caverna, um mundo de sombras e incertezas. 

●Questões filosóficas da existência humana

A palavra Filosofia é de origem grega e significa literalmente amor à sabedoria. O homem busca a sabedoria, o conhecimento e a verdade desde sempre. Ela surge desde o momento em que o homem começou a refletir sobre o funcionamento da vida e do universo, buscando uma solução para as grandes questões da existência humana. Os pensadores, inseridos num contexto histórico de sua época, buscaram diversos temas para reflexão.

A Grécia Antiga é conhecida como o berço dos pensadores, sendo que os sophos, sábios em grego, buscaram formular, no século VI a.C., explicações racionais para tudo aquilo que era explicado, até então, através da mitologia. Podemos afirmar que esta foi a primeira corrente de pensamento, surgida na Grécia Antiga por volta do século VI a.C., período denominado de Pré-Socrático. Os filósofos que viveram antes de Sócrates se preocupavam muito com o Universo e com os fenômenos da natureza. Buscavam explicar tudo através da razão e do conhecimento científico. Podemos citar, neste contexto, os físicos Tales de Mileto, Anaximandro e Heráclito. Pitágoras desenvolve seu pensamento defendendo a ideia de que tudo preexiste à alma, já que esta é imortal. Demócrito e Leucipo defendem a formação de todas as coisas, a partir da existência dos átomos.

Os séculos V e IV a.C. na Grécia Antiga é a época dos sofistas, chamada de Período Clássico, e do grande pensador Sócrates, seu principal representante. Ele começa a pensar e refletir sobre o homem, buscando entender o funcionamento do Universo dentro de uma concepção científica. Para ele, a verdade está ligada ao bem moral do ser humano. Ele não deixou textos ou outros documentos, desta forma, só podemos conhecer as ideias de Sócrates através dos relatos deixados por Platão. Platão foi discípulo de Sócrates e defendia que as ideias formavam o foco do conhecimento intelectual. Os pensadores teriam a função de entender o mundo da realidade, separando-o das aparências. Outro grande sábio desta época foi Aristóteles que desenvolveu os estudos de Platão e Sócrates. Foi ele quem desenvolveu a lógica dedutiva clássica, como forma de chegar ao conhecimento científico. Segundo ele, a sistematização e os métodos devem ser desenvolvidos para se chegar ao conhecimento pretendido, partindo sempre dos conceitos gerais para os específicos. 

No final do Período Clássico (320 a.C.) até o começo da Era Cristã, vem o que se chamou Período Pós-Socrático, o qual dentro de um contexto histórico que representa o final da hegemonia política e militar da Grécia deu origem a vária linhas de pensamento, entre elas o Ceticismo, que declara que a dúvida deve estar sempre presente, pois o ser humano não consegue conhecer nada de forma exata e segura. O Epicurismo, linha de pensamento dos epicuristas, seguidores do pensador Epicuro, os quais defendiam a busca de uma vida feliz através de desejos e prazeres moderados e sem grandes perturbações,  da adminis-tração da dor, da diminuição do medo da morte, do destino e das divindades,  preco-nizando também o conhecimento empirista, a física atomista e a ética. Estoicismo: os sábios estoicos como, por exemplo, Marco Aurélio e Sêneca, defendiam a razão a qualquer preço. Os fenômenos exteriores da vida deviam ser deixados de lado, como a emoção, o prazer e o sofrimento.

O pensamento na Idade Média, Período Medieval no que tange à Filosofia, foi muito influenciado pela Igreja Católica. Desta forma, o teocentrismo acabou por definir as formas de sentir, ver e também pensar durante o período medieval. De acordo com Santo Agostinho, importante teólogo romano, o conhecimento e as ideias eram de origem divina. As verdades sobre o mundo e sobre todas as coisas deviam ser buscadas nas palavras de Deus. Porém, a partir do século V até o século XIII, uma nova linha de pensamento ganha importância na Europa. Surge a escolástica, conjunto de ideias que visava unir a fé com o pensamento racional de Platão e Aristóteles. O principal representante desta linha de pensamento foi São Tomás de Aquino.

Com o Renascimento Cultural e Científico, o surgimento da burguesia e o fim da Idade Média, as formas de pensar sobre o mundo e o Universo ganham novos rumos. Segundo o Pensamento Filosófico Moderno, a definição de conhecimento deixa de ser religiosa para entrar num âmbito racional e científico. O teocentrismo é deixado de lado e entre em cena o antropocentrismo (homem no centro do Universo). Neste contexto, René Descartes cria o Método Cartesiano, privilegiando a razão e considerando-a a base de todo conhecimento. A burguesia, camada social em crescimento econômico e político,  tem seus ideais representados no empirismo, criado pelo pesquisador e sábio inglês Francis Bacon, e no idealismo, cujos principais pensadores são Thomas Hobbes e John Locke. De acordo com este método, só existe aquilo que pode ter sua existência comprovada. O iluminismo surge em pleno século das Luzes, o século XVIII. A experiência, a razão e o método científico passam a ser as únicas formas de obtenção do conhecimento. Este, a única forma de tirar o homem das trevas da ignorância. Podemos citar, nesta época, os pensadores Immanuel Kant, Friedrich Hegel, Montesquieu, Diderot, D'Alembert e Rousseau. O século XIX é marcado pelo positivismo de Auguste Comte. O ideal de uma sociedade baseada na ordem e progresso influencia nas formas de refletir sobre as coisas. O fato histórico deve falar por si próprio e o método científico, controlado e medido, deve ser a única forma de se chegar ao conhecimento. Neste mesmo século, Karl Marx utiliza o método dialético para desenvolver sua teoria marxista. Através do materialismo histórico, Marx propõe entender o funcionamento da sociedade para poder modificá-la. Através de uma revolução proletária, a burguesia seria retirada do controle dos bens de produção que seriam controlados pelos trabalhadores. Ainda neste contexto, Friedrich Nietzsche, faz duras críticas aos valores tradicionais da sociedade, representados pelo cristianismo e pela cultura ocidental. O pensamento, segundo ele, para libertar, deve ser livre de qualquer forma de controle moral ou cultural. 

Na Época Contemporânea, que surge durante o século XX, várias correntes de pensamentos agiram ao mesmo tempo. As releituras do marxismo e novas propostas surgem a partir de Antonio Gramsci, Henri Lefebvre, Michel Foucault, Louis Althusser e Gyorgy Lukács. A antropologia ganha importância e influencia o pensamento do período, graças aos estudos de Claude Lévi-Strauss. A fenomenologia, descrição das coisas percebidas pela consciência humana, tem seu maior representante em Edmund Husserl. A existência humana ganha importância nas reflexões de Jean-Paul Sartre, o criador do existencialismo, o qual defende, em primeiro lugar, que a existência vem antes da essência. Significa que não existe uma essência humana que determine o homem, mas que ele constitui a sua essência na sua existência. Esta construção da essência se dá a partir das escolhas feitas, visto que o homem é livre. Nessa condição na qual o homem existe e sua vida é um projeto, ele terá de escolher o que quer ser e efetivar sua vontade agindo, isto é, escolhendo. Se a condição humana é esta, então o homem vive numa angústia existencial. Ter de escolher a todo instante é angustiante, pois cada escolha irá refletir diretamente no que se é. A angústia é o reflexo da liberdade humana, dessa ampla possibilidade de escolher e ser responsável por cada escolha.

O que nos leva a pensar: Vivemos nós em uma realidade confiável? O que é verdadeiro e o que é ilusório em nossas crenças? Existe uma verdade absoluta? Nós somos quem, e como somos, devido às escolhas feitas por nós mesmos de livre e espontânea vontade, ou fomos levados a elas por situações a nós impostas e oportunidades “imperdíveis” que se nos apresentaram ao longo de nossas vidas? Nossas crenças foram construídas de maneira independente ou advêm da absorção das crenças da nossa família, da nossa cultura, da nossa religião ou da ausência dela?

Durante a pesquisa me deparei, estarrecida, com uma listagem das “principais” questões filosóficas enfrentadas, e desconhecidas, pelo homem. Elas somam ao todo 179 perguntas, todas legítimas, das quais separei apenas 10:

01)  Pode haver felicidade em demasia?

02)  As coisas podem ser diferentes do que são?

03)  Para que serve a religião?

01)  A morte é o fim?

02)  Sentir culpa é bom?

03)  Controlamos as nossas vidas?

04)  Podemos escolher quem somos?

05)  Para termos direitos é preciso sermos dignos deles?

06)  É sempre bom ser racional?

07)  Temos todos um mesmo valor?

As respostas a essas perguntas, e às demais dessa lista e a quaisquer outras que venhamos a formular, é a busca incessante do filósofo, aquele que persegue o autoconhecimento, a identificação da realidade plena e a verdade absoluta!

Diante de tudo o que vi, diante de tudo o que li e diante de tudo o que escrevi só me resta, com certeza, uma afirmação: “Só sei que nada sei”!

●Bibliografia

- www.filosofiacritica.wordpress.com

- www.filosofia.com.br

- www.portalconscienciapolitica.com.br

- www.ciencia-online.net

- www.suapesquisa.com/filosofia/

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