ANÁLISE DO TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO PARA MULHERES...

Por Marina Chaves Webber | 10/11/2016 | Saúde

ANÁLISE DO TRATAMENTO FISIOTERAPÊUTICO PARA MULHERES QUE SOFREM DE INCONTINÊNCIA URINÁRIA NA MENOPAUSA

O presente estudo de caso buscou analisar o perfil das mulheres com Incontinência Urinária durante a menopausa, diagnosticar possíveis causas da patologia e avaliar a efetividade da fisioterapia para promoção da qualidade de vida. Para tanto, uma mulher no climatério com incontinência urinária foi submetida a doze sessões de exercícios de Kegel, três vezes por semana, durante quatro semanas consecutivas, sendo atendida na Clínica-escola de Fisioterapia da Anhanguera Educacional de Rio Grande - RS. Para avaliar a qualidade de vida da paciente, antes e após a intervenção, aplicou-se o questionário Kings Health. Como resultados, a paciente relatou melhora na consciência e eficácia da contração dos músculos do assoalho pélvico, auxiliando na prevenção e tratamento da incontinência urinária. Corroborando com os resultados encontrados na bibliografia pesquisada, verificou-se que os recursos da fisioterapia têm importante papel na qualidade de vida das mulheres durante o climatério, ocasionando benefícios físicos e emocionais.

  1. Introdução

A Sociedade Internacional de Continência (ICS) descreve a Incontinência Urinária (IU) como qualquer perda involuntária de urina, salvo em ocorrências infantis. A incontinência urinária acomete especialmente mulheres, em até 50% delas, em algum período de suas vidas (BARRACHO et al., 2006; BARRACHO 2007), sendo considerada por Caetano et al. (2004) e Berlese et al. (2009) uma patologia comum que pode afetar mulheres, independente da idade em que se encontram.

Os principais tipos de incontinência são Incontinências Urinárias de Esforço (IUE), Incontinências Urinárias de Urgência (IUU) e Incontinências Urinárias Mistas (IUM). A incontinência urinária de esforço ocorre quando há perda involuntária de urina ao tossir, espirrar, com esforços físicos ou qualquer atividade que aumente a pressão abdominal (MACIEL, 2006; FELICISSIMO, 2007). Esse tipo de incontinência ocorre quando a pressão vesical excede a pressão uretral máxima, havendo ausência de contração do detrusor (D’ANCORA, 1999). A incontinência urinária de urgência é a perda involuntária acompanhada ou imediatamente procedida por urgência. A incontinência urinária mista é a perda involuntária de urina associada à urgência e aos esforços (PINHEIRO et al., 2008).

Para Simeova et al. (1999), existe grande preocupação com a interferência da IU na qualidade de vida das mulheres. Estresse, depressão, sentimento de vergonha, baixa auto-estima, isolamento social, baixo desempenho profissional, disfunção sexual e constrangimento social são fatores que somados ao envelhecimento e as alterações físicas e emocionais à que estão acometidas, podem resultar em significativa morbidade (BORGES et al, 2009; HIGA et al., 2008). Portanto, entende-se que a IU representa um problema de saúde pública, interferindo na vida de muitas mulheres.

Diferentes fatores podem levar ao surgimento da IU na mulher. Cavenagui (2009) ressalta o envelhecimento, a obesidade, o fumo, as cirurgias ginecológicas, a constipação intestinal, as alterações genéticas do colágeno e o parto normal, como as principais causas desta patologia.

Higa et al. (2008) descreve que a idade avançada é considerada o fator de risco principal para a IU nas mulheres, afetando cerca de 40% delas, na faixa etária de 35 a 81 anos. Ao envelhecer, as fibras de colagenosas e as fibras musculares lisas das mulheres sofrem alterações, diminuindo suas densidades e seus rendimentos (MENDES, 2007, LATORRE, 2002; MONÇÃO et al., 2006). Além disso, alguns dos distúrbios urinários em mulheres mais idosas podem ser causados pela diminuição da capacidade da bexiga, que passa de 500 a 600 ml. para 250 a 300 ml., contribuindo para o aumento da freqüência urinária e da noctúria (HIGA et al., 2008).

A obesidade é outro fator que agrava ou contribui para o desenvolvimento da IU (SANTOS et al., 1994). Presume-se que a associação da IU com a obesidade seja conseqüência da alta pressão intra-abdominal provocada, principalmente, pelo aumento de peso na região da cintura-quadril e, conseqüentemente, do aumento da pressão intravesical, alterando o mecanismo do trato urinário (BROWN et al.,1999; MOLLER et al., 2000).

Para Brown et al. (1999), a paridade é outro fator de risco, pois a incontinência aparece durante a gravidez e a prevalência se eleva com o aumento da paridade, favorecendo à IU. O parto vaginal (normal) associa-se com o aumento de casos de IU quando comparado com o parto cesáreo. No entanto, o parto vaginal é considerado causador de IU quando associado às lesões e traumas do assoalho pélvico. O peso do recém-nascido, tanto durante a gravidez quanto no parto vaginal, influenciam o aumento da prevalência de IU. Este fator pode estar relacionado com o aumento da pressão intra-abdominal, assim como, o aumento da pressão intravesical.

Contudo, é durante a menopausa que a mulher tem maior probabilidade de desenvolver IU, já que nesta fase ocorrem alterações hormonais que afetam seu metabolismo (SALVE, 2006). Higa et al. (2008) associa a diminuição do estrogênio em mulheres na menopausa como fator desencadeador de diversos sintomas urinários, como por exemplo, aumento da freqüência, urgência e disúria. Borges et al. (2009) salienta ainda que essa redução progressiva na produção do hormônio estrógeno ocasiona o enfraquecimento do assoalho pélvico, o que predispõe a mulher à IU.

O assoalho pélvico é uma musculatura importante para a manutenção e sustentação dos órgãos pélvicos (CUTINI et al., 2007). Essa musculatura é composta por três planos: profundo, médio e superficial (Figura 1). O funcionamento dos dois primeiros planos contribui na inibição das necessidades miccionais. O plano profundo é composto pelo diafragma pélvico e abrange os músculos levantadores do ânus e os músculos ísquio coccigeos. O plano médio é composto de três músculos: o esfíncter externo da uretra e os dois transversos profundos. O plano superficial não intervém na incontinência urinária (GROSSE et al., 2002; CARVALHO et al., 2008). 

Entretanto, Caetano et al. (2004) e BERLESE et al. (2009) definem que a incontinência urinária pode ser prevenida ou tratada. De acordo com Cutini et al. (2007), um dos tratamentos amplamente empregados para controle de disfunções uroginecológicas é a tonificação do assoalho pélvico. O emprego de métodos fisioterápicos tem sido proposto em vários estudos pesquisados, no sentido de fortalecer as fibras dos Músculos do Assoalho Pélvico (MAP). Estas se tornam mais resistentes às variações de pressão intra-abdominal, garantindo maior suporte aos órgãos pélvicos e evitando a saída ou descenço dos mesmos (MORENO, 2009; PIATO, 2002).

Dentre os tratamentos fisioterapeuticos para pacientes com IU destacam-se os Exercícios de Kegel, os quais fortalecem a musculatura pélvica, tornando a contração do músculo do períneo mais consciente e eficaz. O Dr. Arnold Kegel, na década de 50, foi o primeiro a aplicar de forma científica os exercícios específicos para o fortalecimento pélvico. Os benefícios dos exercícios consistem em melhorar a contração da musculatura e a compressão da uretra aumentando a pressão uterina, intra-abdominal, hipertrofiando os músculos pélvicos, e como conseqüência, tornando essa região mais eficaz no controle da saída da urina (CAETANO, 2004).

Como conseqüências deste tratamento, as ações funcionais dos músculos da parte alta da uretra e da união vesico-uretral (plano profundo e médio) são aguçadas, garantindo maior eficiência da reeducação perineal nas incontinências urinárias. O assoalho pélvico mais forte impede que a uretra desça quando a pressão intra-abdominal é elevada, diminuindo assim as perdas urinárias (MATHEUS et al., 2006; RETT et al., 2007). Além de trazer benefícios para melhorar a continência urinária, os exercícios aumentam o prazer sexual de diversas mulheres (SOUCHARD, 1996).

Para isso, é necessário que as mulheres reconheçam os benefícios do tratamento, principalmente àquelas que se encontram na menopausa (BORGES et al., 2009; HIGA et al., 2008). O fisioterapeuta atua prevenindo e tratando as disfunções miccionais, através de recursos e técnicas fisioterapêuticas de controle das alterações na musculatura do assoalho pélvico. A utilização de técnicas como a eletroestimulação, a cinesioterapia, a estimulação magnética, o biofeedback e a reeducação perineal têm participação fundamental, tanto na prevenção como no tratamento da IU, contribuindo, assim, para a reabilitação e reintegração da paciente incontinente na sociedade (OLIVEIRA et al., 2007).

Oliveira et al. (2007) salientam ainda que, através de um tratamento multidisciplinar apropriado é provável a melhora da qualidade de vida para essas mulheres. Os benefícios da fisioterapia são significativos, visto que há diminuição da perda urinária, ganho de força muscular do assoalho pélvico, com melhora do mecanismo esfincterial e redução das sensações de umidade e desconforto (NOLASCO et al., 2008).

Tendo em vista o cenário prospectado, o presente trabalho avaliou a interferência do tratamento baseado em exercícios de Kegel na qualidade de vida de uma mulher portadora de incontinência urinária na menopausa, através da aplicação do King’s Health Questionnare (KHQ), antes e o depois do tratamento proposto.

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