ANÁLISE DO POEMA "VELHAS TRISTEZA" DE CRUZ E SOUZA
Por Roseli Gonçalves | 06/07/2009 | LiteraturaDESENVOLVIMENTO
Os poemas de Cruz e Sousa são marcados pela musicalidade (uso constante de aliterações), pelo individualismo, pelo sensualismo, às vezes pelo desespero, às vezes pelo apaziguamento, além de uma obsessão pela cor branca. É certo que encontram-se inúmeras referências à cor branca, assim como à transparência, à translucidez, à nebulosidade e aos brilhos, e a muitas outras cores, todas sempre presentes em seus versos. No aspecto de influências do simbolismo, nota-se uma amálgama que conflui águas do satanismo de Baudelaire ao espiritualismo (e dentro desse, idéias budistas e espíritas) ligados tanto a tendências estéticas vigentes como a fases na vida do autor.
Simbolista no vocabulário e na temática; sua obra tem a marca da perenidade; considerava a arte como libertação: "ela não pode ter fórmulas"; Incomparável sensibilidade auditiva, mestre da musicalidade. Para compreendermos melhor este representante ilustre do simbolismo será feita uma analise de um de seus poema .
VELHAS TRISTEZAS
Diluências de luz,
velhas tristezas
das almas que morreram para a luta!
Sois as sombras amadas de belezas
hoje mais frias do que a pedra bruta.
Murmúrios incógnitos
de gruta
onde o Mar canta os salmos e as rudezas
de obscuras religiões — voz impoluta
de todas as titânicas grandezas.
Passai, lembrando as sensações antigas,
paixões que foram já dóceis amigas,
na luz de eternos sóis glorificadas.
Alegrias de há tempos! E hoje e agora,
velhas tristezas que se vão embora
no poente da Saudade amortalhadas! ...
Considerando o aspecto formal, este poema é um soneto (14 versos disposto em dois quartetos e dois tercetos) – rimas alternadas (a b a b) ricas e pobres. Quanto ao aspecto estilístico – temático, desde o título já ocorre uma postura subjetiva, revelando um desejo supremo, em que o adjetivo não tem uma definição rigorosa.
É interessante falarmos da musicalidade, outra característica simbolista. A musicalidade desses versos nasce de três decorrências:
A primeira é aparente - o emprego das rimas , que brota da influência clássica do Parnasianismo e que não foi abandonada por Cruz e Sousa quanto aos aspectos formais do poema. Devemos notar que ele emprega rimas. No caso, adjetivo e substantivo, entre o primeiro e o quarto versos, e substantivo e adjetivo, entre o segundo e terceiro.
A segunda nasce do emprego de uma figura de construção, a assonância, muito utilizada no Simbolismo, que consiste na repetição da vogal, no caso a vogal "a", como podemos perceber no primeiro verso: "Diluências de luz, velhas tristezas"
Devemos levar em conta que Cruz e Sousa foi chamado pelo crítico Tristão
de Ataíde de "poeta solar", por causa da predominância do branco e de claridades
em seus poemas. Usando e abusando de substantivos e adjetivos que denotam a
presença quase constante do branco em todos os seus matizes, Cruz e Sousa
deixou patente sua obsessão por essa cor, chegando, em certos momentos, a
tornar evidente para os leitores a sugestão de vazio. Essa era a pretensão do
Simbolismo enquanto estética: chegar ao vago absoluto, à imprecisão completa. O
verso s seguir, é um bom exemplo disso: "na luz de eternos sóis glorificadas".
Outro elemento importante em
toda o soneto é o misticismo, que se apresenta numa intensidade quase dominante
na maior parte do poema. A alma do poeta parece repleta de uma mística que
segue o ritual de suas imagens, quase sempre aéreas, voláteis. Mesmo o elemento
mundano sofre profunda transformação, ganhando leveza e brilho. Uma misteriosa
música parece dominar os sentidos, refletindo os acordes de um hino religioso.
No verso "onde o Mar canta os salmos e as rudezas" a palavra "Mar" ganha um significado transcendente, absoluto, com maior expressividade ao ser grafada com a maiúsculas alegorizantes que é um recurso simbólico muito utilizado pelos simbolistas para personificar coisas, objetos entre outros.
O vocabulário foi cuidadosamente trabalhado através de palavras e expressões que acentuam a sugestão mística: "almas", "sombras", "religiões", "amortalhada", "eternos".
A tendência para a personificação ou prosopopéia aparece também em vários versos do poemas com o intuito de atribuir qualidades humanas ao emprestar às coisas inanimadas poder de ação peculiar aos seres vivos como podemos observar nos seguintes versos."Murmúrios incógnitos de gruta" "onde o Mar canta os salmos e as rudezas"
Percebeu-se que no poema "As velhas Tristezas"de Cruz e Sousa ficam evidentes características da poesia simbolista Os simbolistas encenavam a realidade com signos que representavam um conceito ou sugestão, com metáforas e figuras de linguagem que consistiam em misturar duas imagens ou sensações de natureza distinta.
A fuga da realidade leva o poeta simbolista ao mundo espiritual. É uma viagem ao mundo invisível e impalpável do ser humano mostrando influencia de Charles Baudelaire nos poemas de Cruz e Sousa.
Cruz e Sousa é um poeta utilizou as palavras para nos fazer viajar na sua subjetividade.A preferência pelo mundo invisível ao visível, a tentativa de compreensão da vida pela intuição e pelo irracional, a exploração da realidade situada além do real e da razão.
Com esta analise observa-se a importância deste poeta no movimento simbolista brasileiro, considerado um dos mais importantes da época, ocupando até hoje lugar especial de poeta simbolista.