Análise do conto A Menor Mulher do Mundo

Por Luzirene Felismino de Meneses Sousa | 25/04/2017 | Resumos

UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ - UVA

CENTRO DE FILOSOFIA, LETRAS E EDUCAÇÃO – CENFLE

CURSO DE LETRAS – PORTUGUES

 

ANÁLISE DO CONTO “A MENOR MULHER DO MUNDO” NUMA ABORDAGEM SOBRE O AMOR

Luzirene Felismino de Meneses Sousa

RESUMO: O presente ensaio propõe uma análise do conto “A menor mulher do mundo” de Clarice Lispector, no aspecto amoroso. Amor esse que é apresentado em vários pontos dentre de visões diferentes. 

Palavras chaves: Amor, Clarice Lispector, pequena flor, Marcel petre.

O conto “A menor mulher do mundo” de Clarice Lispector narra a descoberta feita por Marcel Petre, um explorador francês, onde o mesmo encontra os menores pigmeus do mundo nas profundezas da África, no interior do Congo Central. E entre esses menores pigmeus estava “o menor dos menores”.

Relatando esse acontecimento, Clarice Lispector traz uma abordagem relacionada ao amor; um estranho jeito do ‘homem’ amar, sua necessidade de expor esse sentimento seja ele como for; a vida a cerca desse amor ‘torto’. Enquanto o narrador vai desenvolvendo a narrativa, que engloba a descoberta da menor mulher do mundo, vai surgindo os traços sentimental que dependendo de quem, ou onde surge, ele vem de forma diferente, chamando atenção ao amor que o ser humano julga sentir.

Amor esse que por muitas vezes é julgado e /ou “jogado” fora pelo fato da diferença do outro pelo fato do desconhecido, do ‘estranho’, do ‘esquisito’. E é justamente esta diferença, classificado na narrativa como estranha, abordada pelo narrador que vem despertar diferentes sentimentos, diferença formas de manifestação desse amor, que as vezes o carisma é logo submetido ao desprezo. “(...) essa fonte das melhores caricias, era também fonte deste primeiro medo do amor tirano” p.71; “(...) tal perversa ternura pela pequenez” p.70; “Quem sabe a que escuridão de amor pode chegar o carinho, p. 70”.

Toda essa manifestação confusa quanto ao amor, construído através da diferença do ser é desenvolvido tanto no espaço africano (ambiente selvagem), como no meio ‘civilizado’; os dois ambientes da narrativa.

Pode-se perceber que o sentimento é mostrado logo no início; o amor pelo novo, pela descoberta, pelo desconhecido leva Petre a explorar. No entanto, é a partir da descoberta feita, do encontro com o pequeno pigmeus que os traços sentimentais começam a surgir com mais ênfase. Chama-se atenção, logo no nome escolhido por Marcel: Pequena Flor! A palavra flor remete-se a delicadeza; lembra o carinho, harmonia, suavidade, ... amor. 

“Foi pois assim que o explorador descobriu[...]seu coração bateu porque esmeralda nenhuma é tão rara. Nem os ensinamentos dos sábios da índia são tão raros. Nem o homem mais rico do mundo já pôs olhos sobre tanta estranha graça. [...]e com uma delicadeza de sentimentos de que sua esposa jamais o julgaria capaz: ‘você é pequena Flor.” p.70 

Marcel sentiu-se agraciado, por dois fatos; primeiro o de ser o autor de tamanha descoberta, de ter conseguido o feitio de seu amor pela exploração; depois pela própria criatura, pela graciosidade que ela representava.

A manifestação amorosa também surge no meio “civilizado”, a partir do momento que o explorador publica a fotografia de Pequena Flor. Manifestação esta, visto em algumas residências, como amor horrorizado, causado pelo o ‘estranho’, o ‘esquisito’ a forma grotesca da narrativa ao descrever a menor mulher do mundo. 

“Em um apartamento uma senhora teve tal perversa ternura pela pequenez da mulher africana que jamais se deveria deixar Pequena Flor sozinha com a ternura da senhora. Quem sabe a que escuridão de amor pode chegar o carinho. A senhora passou um dia perturbada, dir-se-ia tomada pela saudade” p. 70.

 Como sentir saudade do que não possuiu; nota-se um amor nucleado pela perversa ternura, onde o ser amado corre o risco de se converter em objeto apequenado e devorado. É o que também se nota no trecho em que uma família a deseja para si. 

“No coração de cada membro da família nasceu, nostálgico, o desejo de ter para si aquela coisa miúda e indomável[...]. E, mesmo, quem já não desejou possuir um ser humano só para si? [...], há horas em que não se quer ter sentimentos.

[...]”p.72,73 

Um ponto chave dessa teoria do amor está no parágrafo em que uma mãe, ao ouvi o filho, lembra uma história contada pela cozinheira sobre o tempo de orfanato, onde as órfãs esconderam o falecimento de uma menina para depois brincarem, para ama-la; tudo isso porque “a maternidade já pulsando terrível no coração” p.71. Deve-se sublinhar que, a modalidade de amor tido como a mais intensa, a do amor materno, justo por ser o amor na sua mais alta voltagem é descrito no conto como o mais cruel. “(...) disso a mãe se lembrou no banheiro [...] E considerou a cruel necessidade de amar. Considerou a malignidade de nosso desejo de ser feliz. [...] E o número de vezes em que mataremos por amor.” p. 71,72.

Ao expor a cruel malignidade do modo de amar, a ferocidade do prazer, a autora também permite reconhecer a humanidade falha que constitui o ser humano.

Sai do ambiente ‘civilizado’, onde se tem o amor no ponto de vista cruel acima daquele que ama; retorna-se para o meio selvagem, a floresta, e deparamos com um sentimento puro, um amor bonito, ideal; através de Pequena Flor, esse sentimento é exposto, pois ela sentia-se feliz, sorria, amava o explorador, pelo simples fato de não ser devorada (não ser possuída, acorrentada): “não ser devorada é o sentimento mais perfeito. Não ser devorada é o sentimento mais perfeito” p.74

Aqui, diferentemente dos demais pontos citados, o amor é expresso de forma clara, pura; amor também ao desconhecido, pois Pequena Flor também fazia sua descoberta- conhecia explorador, suas botas, seu anel. E o simples fato de não está sendo ‘devorada’, aprisionada, já lhe bastava para amar e para ser feliz.

“É que a própria coisa rara sentia o peito morno do que se pode chamar de amor. Ela ama aquele explorador amarelo. [...] também amava muito o anel do explorador e que amava muito sua bota. [...] nem de longe, seu amor pelo explorador pode-se dizer seu “profundo amor”, pelo explorador ficaria desvalorizado pelo fato de ela também amar sua bota.” p. 74 

Nesse ponto da narrativa, Clarice Lispector traz o eixo fundamental esperado sobre o amor, o verdadeiro amor. Enquanto se via um amor horrorizado transmitido pelos telespectadores do jornal o qual foi publicado a descoberta do pequeno pigmeus, ‘os povos civilizados’; no final do conto encontra-se o amor que se espera de todos. O amor puro, sincero, um amor que não aprisiona ninguém, onde o amado se sente livre, amor esse expresso pela Menor mulher do mundo.

 

“Há um velho equivoco sobre a palavra amor, e, se muitos filhos nascem desse equivoco, tantos outros perderam o único instante de nascer apenas por causa de uma susceptibilidade que exige que seja de mim, de mim! Que se goste e não do meu dinheiro. Mas na unidade da floresta não há desses refinamentos cruéis, e amor é não ser comido, amor é achar bonita uma bota, amor é gostar da cor rara de um homem que não é negro, amor é rir de amor a um anel que brilha. p. 74,75. 

Nesse trecho, vê-se bem o olhar da autora sobre o amor. O amor esperado é aquele que vem da simplicidade, das coisas simples e que deixa o amado feliz, sorridente. E não aquele que prende ao que se tem e/ou se pode ter; o que exige do outro mais que sua simples presença. Espera-se um amor que liberta e não o que aprisiona, lhe dá sensação de posse.

Não ser devorado, eis o amor em sua perfeição, seu ideal abraçado pelo senso comum, é o que se espera do amor segundo Clarice Lispector, apresentado no conto através da história do explorador no coração da África, que descobre a Menor mulher do mundo.

REFERENCIA BIBLIOGRAFICA 

LISPECTOR, Clarice. Laços de família: contos. Rio de Janeiro: Rocco 2009