Analise de como as instituições interligadas a escola estão atuando para contribuir com a massificação do conhecimento que o aluno adquire e como a escola deixou de ser um lugar para desenvolver as capacidades e conhecimentos iniciais do aprendiz.
Por Raímme Mayra do Nascimento Sousa | 23/09/2017 | EducaçãoAtualmente, por estar ligada ao ambiente escolar e por minha experiência como aluna percebo que o sistema de ensino deixou de ser um lugar para desenvolvimento das capacidades para ser mecanizado, obrigatório, com metodologias que desestimulam o aluno a querer desenvolver suas capacidades intelectuais ou aprofundar o conhecimento existente através de pesquisas, experiências, entre outros.
A analise deve partir primeiro da apresentação de como a estrutura escolar surgiu. Em meu conhecimento creio que seu desenvolvimento partiu da Grécia Antiga, primeiro com a quebra do conhecimento mítico. Considero que os filósofos naturalistas foram os primeiros alunos e professores no sentido amplo. Alunos porque tentavam descobrir os princípios do mundo através da ciência e experiência, observação dos elementos, da natureza. Professores porque ao apresentarem suas teses estavam impulsionando outras pesquisas e quebra de opiniões contribuindo para que a população da época começasse a questionar.
Já Sócrates com seu método de maiêutica e dúvida começou a impulsionar a busca pelo conhecimento por qualquer um que se interessasse. Sócrates influenciou a formação de conhecimentos e a passagem deste, tornando o estudo interessante de diversos pontos de vista para as mais variadas profissões existentes.
Platão contribuiu com a estrutura de um espaço físico para o desenvolvimento do conhecimento. Para este, os alunos deveriam descobrir as coisas superando os problemas impostos pela vida.
Essa apresentação histórica é apenas uma recapitulação de como deveria ser uma escola e qual era o objetivo primário da instituição para poder analisar a atual escola fundamental e média do Brasil.
Na escola fundamental, identifico vários problemas. O primeiro é a passagem dos alunos a series posteriores sem o conhecimento necessário. Cada pessoa possui uma capacidade de aprendizado. Alguns aprendem mais rápidos e outros demoram mais tempo e dependem de outras metodologias. O fato de o ensino fundamental desconsiderar a capacidade e utilizarem um mesmo método baseado em leituras e exercícios prejudica os alunos e influencia na formação de uma resistência contra a escola e o aprendizado. Também pode ocasionar desconforto ao aluno ao ser colocado numa serie mais avançada e fomentar o sentimento de não pertencer, inferioridade.
Outro problema é a falta de impulsionar o desejo de descobrir. A escola se tornou um lugar onde apenas se recebe o aprendizado da carga curricular escolhida pelo governo, que não considera as características de cada região. Estudos sobre a localidade, cultura, costumes são muito pouco aplicados e aprofundados deixando o aluno adquirir conhecimento através de experiências no mundo que não serão valorizadas como um conhecimento que possa ser interessante em ser dividido com os outros.
A carga curricular além de abranger apenas as disciplinas básicas, não permite a entrada de estudos acessíveis a todos os alunos sobre tecnologia, educação financeira, desenvolvimento de projetos, analise de acontecimentos e como podem afetar, entre outros. Quando a escola oferece uma oportunidade de conhecimento extracurricular, este só é acessado por uma minoria que cumpre requisitos estipulados.
O estudo apresenta matérias importantes, mas que se tornam desinteressantes ao passar do tempo devido a revisão do conteúdo em todas as series, os exercícios de fixação aplicados apenas para uso imediato (prova) e falta de outras formas dinâmicas de aplicação do conteúdo adquirido.
Outro desestimulador, desta vez para o professor e o aluno, é a forma de avaliação do conhecimento. O método mais fácil para poder se analisar é através de provas escritas onde serão consideradas os erros e acertos. Contudo os alunos temem esta avaliação. Por causa de sua nota ser interligada a aprovação, assumiu um caráter de punição e sofrimento. Inúmeras doenças como depressão e ansiedade já são desenvolvidas em idades tenras devido a avaliação e a cobrança interna e externa por parte dos envolvidos. A escola, também tem uma relação de dois gumes com a prova. Sendo um meio de analisar o perfil de estudo daquela instituição, precisa demonstrar resultados que as vezes não são condizentes com a realidade. Nas provas governamentais, inúmeras escolas burlam as regras de aplicação para poderem elevar a nota.
Em relação ao professor, a prova é negativa porque desestimula este a pensar em novas formas de avaliação. O professor conhece o perfil de cada turma e aluno e muitas vezes uma prova escrita não é a melhor forma de avaliar o conteúdo, ele sabe o que a turma domina do que foi passado, mas muitos têm dificuldade em poder traduzir o adquirido em palavras e respostas direcionadas.
Outro fato negativo em relação a dificuldade de escrita é o fato de não exercitarem atualmente esta habilidade. É desestimulante para o professor passar propostas de redação em turmas enormes onde terá que corrigir tudo sozinho. Na alfabetização inicial, podemos perceber que as propostas são relativamente baixas em relação ao que seria devido. Este é um processo cuja consequência será sentida em competições de escrita, na redação do ENEM, na produção de trabalhos acadêmicos e escrita do TCC além de, no caso de trabalhos em escritório, muitas vezes errar em escrever documentos simples ou propostas de negócios.
Estes são os principais problemas identificados na educação fundamental, são aqueles que precisam ser modificados para que os outros problemas com menos influencia imediata possam ser desenvolvidos.
Analisando agora a estrutura de uma escola do Ensino Médio, pegando a estrutura vigente sem analisar a proposta do Novo Ensino Médio, considerada por esta acadêmica, como mais deficitária do que o atual.
No Ensino Médio, o aluno já tem uma mentalidade com novos focos.
Durante sua caminhada nos anos iniciais, os alunos que detinham mais facilidade para aprender podem ter desenvolvido um gosto maior pelo estudo e estarem mais aprofundados na busca pelo conhecimento enquanto serão confrontados com outros alunos que não possuem interesse nas aulas. Em algumas escolas, uma prova para poder analisar o nível e fazer uma escalação de acordo já cria uma certa fama. Como percebido, a turma é acolhida pela estrutura escolar dependendo da fama que detém. Professores, atenção, oportunidades, liberdades; tudo é influenciado. Em outras escolas um processo de mesclagem também ocorre. Neste caso, alem do conhecimento ficar deficitário porque teria que recomeçar a partir do ponto dos mais “fracos” e consequentemente atrasaria os mais adiantados ou vice versa o comportamento dos mais desinteressados atrapalhariam o rendimento ou desvirtuaria os alunos que tivessem interesse.
O fator romântico, tecnológico e de autoridade passa a ser um problema. As escolas públicas não conseguem intercalar conhecimento com os novos recursos tecnológicos de modo que sejam usados em beneficio do aprendizado. Os romances na sala de aula, apesar de não serem um foco principal, mas uma característica deste nível de ensino, pode desviar atenção da turma e do professor devido aos dramas recorrentes a idade. E os professores e outros funcionários passam a ter que exercer um novo nível de autoridade, visto que o “medo” de adultos é perdido e começa-se a ter posicionamentos, a questão do convívio social na estrutura hierárquica.
Na questão de fomento a busca de conhecimento, muitas escolas não apresentam aos alunos as várias oportunidades de atividades extracurriculares como desenvolvimento de projetos científicos, artísticos, participação em competições, busca por cursos de profissionalização, entre outros. Neste período, o aluno já é condicionado a ser dependente da escola para ser direcionado à realização de atividades e já sofrem do que eu chamo de Descrédito.
O descrédito é não acreditar na capacidade que se tem de poder realizar algo. Percebo que nos adolescentes, a taxa de desistência em atividades escolares e extracurriculares é grande devido a este sentimento que o desestimula a dar continuidade ou a ter mesmo a desenvolver algo.
Identifico três fontes que contribuem para o pensamento: primeiro a falta da escola em impulsionar o aluno a participar de desafios. Muitas competições de conhecimento precisam de toda uma estrutura para o aluno poder ter uma chance. Quanto há uma falha ou desinteresse em contribuir na formação da estrutura os alunos vão perdendo o entusiasmo. O segundo, como dito anteriormente, é a escola condicionar o aluno a esperar as decisões serem passadas. Alem de diminuir o desenvolvimento do espírito de liderança e pro atividade, quando problemas surgem no caminho ou são visualizados também impulsionam o descrédito.
O terceiro e mais importante é o ambiente de desenvolvimento. Em muitos projetos que acompanhei o principal desestimulador era quando opiniões negativas eram dadas durante todo o desenvolvimento. Professores, colegas, escola, família apresentam os problemas que irão surgir, colocam que é um trabalho desnecessário que não terá nenhum fim ou então se algum dos citados está envolvido participa da atividade com negatividade e reclamações.
Para que possamos exemplificar como o descrédito é o principal vilão no Ensino Médio brasileiro uma comparação com a estrutura escolar americana ou com a de outros países desenvolvidos irá mostrar o que ocorre, contudo isso é para outra analise e não será pertinente neste material.
Mediante a apresentação dos níveis escolares e problemas, apresentará-se as instituições ligadas e como contribuem para a continuidade destes problemas. As instituições relevantes são o Conselho Tutelar e a Família para uma exploração superficial do assunto que necessita de mais dados para poder apresentar demonstrações numéricas e casos reais. O que apresentarei será apenas minha analise pessoal sobre como identifico a participação destas instituições para o desenvolvimento das escolas.
O Conselho Tutelar se relaciona com os alunos e com a Família. Já a Secretária de Educação será analisada em relação a estrutura organizacional da escola.
A primeira instituição é a Família. Em inúmeras conversas, vejo que uma predominância de opinião sobre como a Escola, alem de lugar de formação, se tornou também espaço para ensinar a educação do convívio social. Quando falo educação quero dizer toda a estrutura que antigamente a família era responsável em provir para que a convivência do individuo em meio social fosse facilitada e agradável. O modo de falar, como se portar, limites, brincadeiras e ações são um conjunto de ensinamentos que devem ser aprendidos deste a primeira idade e exigido em aplicação pelos familiares durante o tempo em que a criança ainda não se inclui na instituição Escola.
Já se é percebido que uma família de estrutura forte desenvolve indivíduos mais responsáveis, ponderados e centrados que apesar de cometer algumas gafes terão uma maior inclusão social. Antigamente, os indivíduos com estas características eram mais fáceis de identificação, hoje são afastados do grupo etário correspondente e mais facilmente aceitos em convívio com pessoas mais velhas. A antiga estrutura familiar se deteriorou e deu lugar a uma nova que não desenvolve os indivíduos que cria e deixa este ensinamento em cargo da escola.
Com esta nova responsabilidade e uma estrutura deficiente, é, portanto, entendível o aumento de doenças psicológicas em jovens, evasão escolar, violência, perda de autoridade, atos de vandalismo entre outros. A situação é facilmente exemplificada pelos jornais. Está se tornando comum e ganhando o valor de algo banal a agressão de professores por jovens e atos de violência. As demonstrações numéricas sobre a evasão escolar aumentam e a continuidade do estudo do Ensino Médio para a Faculdade diminui.
Neste caso onde há qualquer tipo de violência envolvida com o aluno, pelo aluno ou por aluno há uma instituição responsável que no caso é o Conselho Tutelar.
O Conselho Tutelar tem por objetivo intervir na situação de jovens em risco, adentrando no universo familiar para poder tomar medidas cabíveis que diminuem ou solucionem o problema. Atualmente, pelo que vejo, sua atuação também diminuiu.
Em muitos casos as quais não irei citar, vejo que nenhuma iniciativa foi tomada para poder resolver situação. As escolas, quando ficam a par e direcionam o caso a instituição estão recebendo cada vez mais respostas de que não pode haver intervenção devido a uma serie de fatores: lei, por causa de conhecidos de algumas famílias, falta de recursos para poder mediar, burocracia ou então simples colocação de que não há ações que poderão surgir efeito.
Com a recusa em se envolver e os recursos limitados que a escola detém, ações influenciadas pela empatia dos adultos envolvidos, muitas vezes não relacionados ao caso, serão o único acontecimento de mudança na vida do aluno em uma tentativa de redirecionamento.
O conselho resolve alguns casos? Sim. Consegue atender a demanda? Não. Tem uma estrutura básica que pelo menos permita o melhor trabalho possível? Não.
Com a apresentação das instituições e dos problemas atuais, entramos agora na discussão de como estes influenciam na massificação do conhecimento ao formar uma geração que não conhece seus direitos e obrigações, não tem iniciativa própria, é deficiente em relação a conhecimento técnico e, portanto, vulnerável a maquinações políticas de todos os setores de uma sociedade: trabalho, representação política, exercício da cidadania, entre outros.
Relacionando ao poema Operário em Construção, no início, Vinicius de Morais escreveu sobre o trabalho árduo do operário e que em um dia, esclareceu-se na sua mente que o que era produzido era fruto de seu trabalho que estava sendo usufruído por um mais esperto.
Toda a explanação acima está conduzindo a geração jovem a este estado de ignorância sem que haja uma perspectiva de esclarecimento em algum dia de sua vida. O Brasil é tipicamente um pais de economia braçal. Enquanto países desenvolvidos, com menos riquezas que nosso território, são bem mais ricos tecnologicamente e financeiramente, o nosso está com um IDH baixo, sem abertura de empresas ou empreitadas por novos comércios que geralmente são explorados por estrangeiros, além de uma população que se concentra em atividades de produção física e não intelectual.
Toda essa “cultura” é geralmente relacionada a fato de termos sido uma colônia de exploração e apesar de concordar que teve uma certa influência no modo como o país se organizou durante a independência, acredito que hoje a situação é mantida por um acomodamento e direcionamento de políticos e ações vedadas que não são percebidas pela população por falta de sua capacidade crítica.
O brasileiro tem uma cultura de criticar coisas que podem ser consideradas superficiais em vista de problemas mais profundos. Um exemplo claro é a atual corrupção política pela qual passamos no qual há várias críticas, mas iniciativas fortes para poder mudar são vistas com descredito ou não são levadas a frente. Em questão disso, queremos nos concentrar nos preços dos produtos, no desemprego, na saúde deficiente, na escola deficiente, ou seja, focamos em problemas interligados, mas subjetivos a um problema maior que se resolvido abriria espaço para o início de um desenvolvimento.
Mas estamos nos desviando e ampliando o assunto discutido. Voltado a massificação da população, a escola é o meio pelo qual pode se adquirir conhecimento e habilidades. No caso, boas escolas desenvolveriam pessoas que criticariam e tentariam resolver os problemas identificados. Más escolas desestimulam a busca pelo conhecimento. Para se formar uma boa escola é preciso de investimento. Se não há investimento, não há estrutura, se não há estrutura não há pensadores, sem pensadores somos um país de operários guiados que acatam a cada decisão dos espertos.