Análise Crítica - O Mundo de Sofia

Por Gildo Leobino de Souza Júnior | 04/04/2009 | Filosofia

Afinal, o que seria Filosofia? É uma pergunta interessante. Não observamos quase ninguém perguntar, por exemplo, o que é matemática ou física? Mas se acha natural perguntar: o que é Filosofia?

Investigando a própria possibilidade do conhecimento, digamos até que os pressupostos e os limites do conhecimento, a Filosofia se faz necessária na medida em que efetuamos a arguição do seu próprio conceito. Essa relação entre o conceito e a sua utilidade é o âmago do seu estudo, possuindo enorme relevância.

Propondo justamente uma análise minuciosa do saber, O Mundo de Sofia nos atém à volúpia do conhecimento, passando desde Pitágoras, com a denominação corrente (sophia ou sabedoria, philia ou afinidade), até Jean-Paul Sartre e o Existencialismo do século XX.

Tendo como fundo um romance fictício, um curso filosófico é exposto garbosamente, de forma prática e efetiva. Nota-se facilmente a habilidade do autor em relacionar e descrever os vários pensamentos filosóficos em grade evolutiva.

Temas diversos têm enfoque relevante no livro em epígrafe, sendo apresentados e debatidos desde o início da obra, dos quais os mais importantes são: razão, verdade, conhecimento e lógica. Sem dúvida, temas constituintes do pensamento filosófico. A análise de Immanuel Kant ou qualquer outra figura proeminente é dotada de conceitos e exemplos referidos ao pensador, de modo que se pode captá-los sem a necessidade de um conhecimento anterior à leitura.

Doravante, passa-se a efetuar uma análise crítica dos diversos temas abordados pelas correntes de pensamento que ajudaram a definir os pilares da Filosofia. Em amálgamas generalizadas, culminando uma síntese para facilitar a compreensão.

Com base na razão, infere-se que ela opera seguindo certos princípios estabelecidos, que estão em convergência com a própria realidade, mesmo quando os empregamos sem conhecê-los explicitamente. Destarte, a consciência humana não deixa de ser razão, porém a razão não é apenas capacidade moral e intelectual dos seres humanos, mas também uma propriedade ou qualidade precípua das próprias coisas, havendo na própria realidade.

A lógica aparece bastante difundida na Filosofia, originando-se nos estudos sobre o devir (fluxo dinâmico de todas as coisas, ou seja, origem, transformação e desaparecimento dos elementos) de Heráclito e Parmênides, atingindo o seu ápice nas célebres conclusões de Platão e Aristóteles.

Comumente relacionada às ciências matemáticas, por possuir caráter exato ou racional, cuja coerência seja a principal característica, a lógica possui no silogismo um exemplo da sua atuação. Por definição ou conceito, o silogismo nada mais é do que a conclusão por meio de duas premissas anteriores.

Ainda seguindo esse campo de definições, aduzimos a dialética clássica, sendo ela uma discussão entre opiniões divergentes que acarretará em uma síntese a fim de formular os preceitos desse determinado enfoque de discussão.

Contudo, superando as diferenças entre Platão e Aristóteles e negando a afinidade da lógica com a matemática, Hegel relacionando lógica e dialética, faz aduzir que a lógica não seria um instrumento formal e austero para o uso efetivo do pensamento. Lógica seria ontologia, isto é, o estudo do ser em sua essência.

Continuamos a análise crítica sem olvidar a concepção de verdade, um termo de notória importância para o livro em questão.

O romance relaciona ainda, a verdade e a razão. O verdadeiro é evidentemente (e aí temos uma referência à lógica) visível para a razão.

Há dissidências sobre a origem e o significado de verdade, mas o fato é que a nítida possibilidade de situarmos o nosso conceito na tríade verdade, lógica e razão esmaece as dúvidas quanto à utilização do termo. Ousamos dizer, e o livro prova se o leitor atento for, que se houver o correto manuseio da referida tríade, possibilitar-se-á ao sujeito, almejar o conhecimento pleno, blindado à subjetividade.

Sem dúvida, algo que não é falaz, todavia se faz muito difícil se desvencilhar das armadilhas sensoriais e morais, intrínsecos à sociedade, da qual todo homem é refém.

Chegar à verdade universal ou ao conhecimento puro seria o maior degrau já colimado pela humanidade, resta saber se podemos algum dia atingi-lo.

Conclui-se que Sofia Amundsen alargou o seu campo de percepção ao lançar-se no estudo da Filosofia. De fato, o autor de forma perspicaz introduz ao leitor um curso filosófico sem que este se torne monótono, haja visto o belo romance, farto de histórias engenhosas presentes no seu bojo.

De fato, passamos pela história do pensamento filosófico com praticidade e objetividade ao analisar a aludida obra literária.

Descobrir que ser um amante e não um possuidor do conhecimento é enveredar-se na assertiva que prega o conhecimento ou saber como sendo infinito. Convém salientar a relevância da busca pela essência da Verdade universal, não há, entretanto, como afirmar quando atingiremos maturação suficiente para lograr tal êxito. Uma excelente obra, um excelente curso.