Análise comparativa entre Vidas Secas de Graciliano Ramos e o Quinze de Raquel de Queiroz
Por Irineu Correia de oliveira | 15/03/2012 | LiteraturaAnálise comparativa entre Vidas Secas de Graciliano Ramos e o Quinze de Raquel de Queiroz
Oliveira, Irineu Correia
Este estudo tem por finalidade estudar comparativamente o Quinze de Raquel de Queiroz e Vidas Secas de Graciliano Ramos. Adotamos o estudo do dialogismo de Baktin.
Os dois romances analisados chamam atenção para os seus processos de representação, sendo em confronto com o regionalismo e o realismo social, tornando evidente que a articulação dos diálogos é parte integrante do processo de captação da dinâmica histórica. Assim, os dois romances assumem intertextualmente e dessas maneiras de dialogarem com formas narrativas equivalentes a ideologramas do passado histórico que assimila, assumindo o novo realismo dentro de uma dimensão metaficcional que põe uma divisão entre ideologia e reflexão estético filosófica.
Deve-se esclarecer, antes de mais nada, que o princípio dialógico permeia a concepção de Baktin de linguagem e, quem sabe, de mundo, de vida. O autor acredita que o monologismo rege a cultura ideológica dos rege a cultura ideológica dos tempos modernos e a ele opõe o dialogismo, característica essencial da linguagem e principio constitutivo, muitas vezes mascarado, de todo discurso. O dialogismo é a condição do sentido do discurso.(Barros e Fiorin, pg: 2)
A citação aborda o dialogo que não é somente o dialogo das forças sociais na estática de suas coexistências, mas é também o dialogo dos tempos, das épocas, dos dias, daquilo que morre, vive e nasce. De modo, a coexistência e a evolução se fundem conjuntamente na unidade concreta e indossolúvel de uma diversidade contraditória e de linguagens diversas.
- meu senhor, pelo amor de Deus! Me deixe um pedaço de carne, um taquinho ao menos, que dê um caldo para minha mulher e meus meninos! Foi pra eles que eu matei! Já caíram com a fome!...
- não dou nada! Ladrão! Sem-vergonha! Cabra sem-vergonha! (o Quinze)
O gado aumentava, o serviço ia bem, mas o proprietário descompunha o vaqueiro. Natural. Descompunha porque podia descompor e Fabiano ouvia as descomposturas com o chapéu debaixo do braço. Desculpava-se e prometia emendar-se. Mentalmente jurava não emendar nada, porque estava tudo em ordem e o amo só queria demonstrar autoridade, gritar que era dono. Quem tinha dúvida?(Vidas Secas)
O quinze assemelha bastante com Vidas Secas, tanto Fabiano quanto Chico Bento sofrem humilhações ao longo da narrativa, submetidos à posição social.
“ A catinga estendia-se, de um vermelho indeciso salpicado de manchas brancas que eram ossadas. O vôo seco dos urubus fazia círculos altos em redor dos bichos moribundos...
...estavam no pátio de uma fazenda sem vida. O curral deserto, o chiqueiro das cabras arruinado e também deserto, a casa do vaqueiro fechada, tudo anunciava abandono. Certamente o gado se finara e os moradores tinham fugido...”(Vidas Secas)
Chico Bento parou. Alongou os olhos pelo horizonte cinzento. O pasto, as várzeas, a caatinga, o marmeleiral esquelético, era tudo um cinzento de borralho.
O próprio leito das lagoas vidrara-se em torrões de lama ressequida, cortada aqui e além por alguma pacavira defunta que retorcia as folhas empapeladas(o Quinze)
Nas duas obras percebe descrições dos espaços, a originalidade da linguagem literária na imitação das características do sertão nordestino. Além disso, encontra expressões típicas da região Nordeste. Ambas as obras assemelham-se no aspecto bem visível, quando analisamos a temática.
O Quinze e Vidas Secas caracteriza–se pela denúncia social, com destaque ao regionalismo que ganhou importância no auge da literatura brasileira, sendo as relações dos personagens Fabiano e Chico Bento ao meio natural e social levados ao extremo.
Os romances analisados não é uma apropriação diretamente do outro, mas são os reflexos do regionalismo da época. Diálogos semelhantes contínuo numa mesma temática, mostrando ás desigualdades sócias.
Em síntese, as obras analisadas assemelham com o eco de vozes de seu tempo, do seu grupo social, e dos valores, das crenças, do medo e da esperança. Assim, o estudo dessas duas obras da nossa literatura leva nos refletir invasão ilícita e as conseqüências negativas no que nos refere ao desenvolvimento econômico.