Amparar o silêncio

Por António Lourenço Marques Gonçalves | 19/05/2014 | Poesias

AS PALAVRAS DAS IMAGENS 19

AMPARAR O SILÊNCIO 

 (ilustraram mais algumas das minhas fotografias publicadas no facebook)

Ocasião...

Clarinho, não há mistério!
Ó que saber avisado!
Mas como levar a sério
Zurzir apenas um lado?

Malfeitores quantos temos,
Tal o estado da nação!
'Vimos, ouvimos e lemos':
Não faltou ocasião!

Apela o povo à justiça.
É sem perdão o pecado.
Engana quem vai à missa
Fazer de santo… danado!

Alcambar - estações

Que sorte!
Tu que não alteras o passo
Sempre igual, certinho, e tão fiel
Que até a morte te diz: 'passo'.

As palavras

Fogo,
lágrimas...
e uniões sem cessar! 
E os rostos?
Nem uma vez outro igual.
Vinde palavras antigas,
fresquinhas, não pesa o tempo.
Carregais fogo...
as lágrimas...
e dos rostos um fragmento.

Viana

Vim presto. Vim a Viana. 
Ouvi cantos, provei vinho.
Tantos sabores, encantos
E rostos belos. Que Minho!

Viana tem paliativos?
É uma forma de dizer!
Há anos guarda a mensagem.
Há anos porquê sofrer?

Medalha da APCP (escultor José Simão)

Mãos abertas, entalhadas,
Pedem, e eu vejo-as em flor;
Nos cuidados paliativos
Abrem-se em ciência e amor.

Gaivotas, então nas telhas!?

Corri tanto desde o mar!
Gritáveis qua-qua de velhas
Mas com tão alto voar!

Cansaram-me e eu por quelhas
Vi esta cruz no lugar.
Silêncio. Então e elas?
Lá estavam, mas a gozar.

(Praia do Carvoeiro)

Amparar o silêncio

Tanta segurança

Calados nos dão
Nem sair de casa
Nem buscar o pão

Ampara o silêncio
E podes lograr
Não sair de casa
E a fome matar.

 Talhada em cruz

A pedra há tanto que dura
Talhada em cruz p'ra lembrar;
O cofre guarda e segura
Quem a vê por longe andar
Sem mesmo a sério ser contra.

E as flores sempre a avivar:
Morrem uma vez, outra e outra.

Em frende da estátua de Bocage

Tanto récipe riscado
P'la mão do doutor Sabido!
Bem piorava o doente
Mas, ele, mais convencido!

- Remédio bom é amargo,
Dizia o doutor. "Exijo!"
- Mas mata-me, quem é que aguenta?!
- Aguenta, aguenta, sois rijo!

- Vens com prognóstico benévolo.
Não é o que eu sinto; é sério.
Com remédio mais amargo
Acaba triste ou funéreo.

(Café Nicola)

Quem olha com parecer
A sério não quer ver.