Amores Maduros - Brígida

Por Majoh Rodrigues | 04/11/2016 | Contos

O SOL DA MANHÃ

Às sete horas da manhã o sol já entrava no quarto, intruso e poderoso, quente e convidativo, propicio para uma boa caminhada na ilha.

Brígida piscou os olhos sonolentos e nem acreditou na hora quando conferiu o relógio, e eram mesmo sete horas.

Ao olhar ao redor e perceber onde estava se sentou na cama, se espreguiçou e começou a pensar como viera parar ali.

A vida era mesmo uma caixa de surpresas das grandes e boas, porque aquela era a cabana na Ilha das Brisas em que havia passado todas as férias de verão a vida inteira na companhia de sua irmã Verônica.

Agora, já adulta e com duas filhas jovens lá estava ela, na amada cabana que tinha herdado dos tios Américo e Joana.

A irmã Verônica estava morando em outro continente com a família, foi tentar a sorte nos EUA, abriu um pequeno comércio de roupas de banho na periferia de Miami e agora tinha lojas espalhadas praticamente por todo o território da Flórida e onde houvesse praia na vasta costa americana.

Brígida herdara sozinha a cabana dos tios porque era a preferida.

De natureza meiga e disposta, a mulher havia cuidado do casal sempre prestigiando os dois com sua presença bem-vinda e os cuidados indispensáveis que devotava aos tios.

Américo era irmão de sua mãe e ficara viúvo durante dois anos e há três meses falecera aos oitenta e nove anos deixando tudo que tinha à sobrinha querida e isso incluía a cabana na ilha, dois automóveis novos e importados de última geração, uma gorda e polpuda conta bancária, investimentos altíssimos e diversificados, vários imóveis na cidade portuária mais movimentada do país, um iate maravilhoso de 120 pés e Dolly, sua cadela de estimação, da raça Golden Retriever, que tinha apenas um ano de idade e era tão apegada a Brígida, quanto ao dono.

O que Brígida chamava de cabana era uma linda e espaçosa casa rústica, de três andares, construída por Américo originalmente para ser uma cabana de pesca.

OS COMPADRES

Quando Joana se aposentou e isso há mais de trinta anos antes de falecer, Américo, já estabelecido em seus negócios prósperos e sempre lucrativos de postos de gasolina, estava cansado da correria na cidade e decidiu administrar de longe sua parte na sociedade e cuidar apenas de sua própria vida e da esposa querida, que sempre fora muito agitada e nervosa.

Joana nunca engravidara e jamais se conformou, então, como era de família pequena e todos eram espinhosos como cactos, ela decidira se afastar e se dedicar às sobrinhas do marido Verônica e Brígida, que desde muito pequeninas passavam férias com eles na ilha.

Então, antes da mudança definitiva para a ilha, Américo decidiu que era hora de reformar sua pequenina cabana térrea de dois quartos, sala, cozinha e banheiro e transformá-la numa linda casa de três andares, com direito a sótão e uma enorme garagem, onde poderia mexer em seus carros e no barco de pesca, o Dois Amigos.

Duas vezes por mês Américo religiosamente atravessava o braço de mar que ligava a Ilha das Brisas à cidade e ia se reunir com o sócio Guido e advogados e contadores para conferir o andamento de seus negócios.

Joana cuidava do pomar e da horta com dedos verdes e uma disposição de dar inveja a qualquer jovem, pois crescera numa fazenda no interior de MG e sabia muito bem o que fazer, pois era Botânica.

Trabalhara a vida inteira fechada num laboratório fazendo pesquisas para importantes empresas químicas do país e nos fins de semana em sua cabana da ilha cuidava de suas próprias frutas e legumes.

Américo com formação em engenharia de extração de petróleo tinha se tornado dono de postos de gasolina por acaso, porque nos idos dos anos cinqüenta, recém casado com Joana, viajava para os confins do país em missões de análises de solo e tinha descoberto um veio de petróleo dos mais produtivos.

Um poço para extração do precioso ouro negro foi instalado na região e as especulações começaram quando um colega de obra, um dos operários mais espertos com quem já trabalhara teve a ideia, porque eles tinham que estar sempre abastecidos devido às distâncias que os separavam do único posto que havia por aquelas bandas e decidiram começar bem ali, no meio do nada um pequeno comércio com uma única bomba de gasolina que compraram de segunda mão e assim, foram expandindo aos poucos e se tornaram sócios.

O compadre Arthur, seu companheiro de obra e sócio deu-lhe os pequenos filhos gêmeos Pietro e Enrico para batizar.

Joana exultou e não via a hora de segurar os pequenos nos braços e a partir daquele momento, nunca mais deixaria de ter contato com os afilhados que também começaram a passar férias com ela e Américo na cabana da ilha e se tornaram homens de bem, cada um seguindo seu caminho.

A sociedade com Arthur se tornou sólida e consistente, lucrativa e benéfica para as duas famílias, que conviviam juntas na cidade e por fim Arthur acabou comprando também uma velha cabana na Ilha Caprice, que era bem próxima e em frente à Ilha das Brisas e ali se instalou para pescar com o melhor amigo, sócio e compadre em todas as ocasiões possíveis e imagináveis.

Verônica e Brígida praticamente cresceram ao lado de Enrico e Pietro e do primo deles, Guido, que Arthur e a esposa Dulce criavam como filho, pois o menino era filho da irmã de Dulce, que sumira no mundo, abandonando o filho de apenas um ano aos cuidados da irmã e do cunhado e sem certidão de nascimento.

Dulce, que estava grávida dos gêmeos, quase prestes a dar a luz, teve de cuidar também do sobrinho, porque a irmã morava com ela e o cunhado e por puro desatino da juventude fora mãe aos dezesseis anos e o pai a expulsara de casa.

Ninguém sabia ao certo quem era o pai de Guido, porque Diva, a mãe dele era uma menina moça que andava pelos campos livre e alegre, entregando as roupas que sua mãe costurava para as mulheres dos fazendeiros e se engraçava com o primeiro que lhe desse um sorriso ou fizesse um elogio.

Assim, não demorou a aparecer grávida e não saber ao certo quem era o pai da criança.

Quando a barriga começou a aparecer, e o pai, já idoso e teimoso como uma porta velha e emperrada descobriu, tratou de expulsar a moça de casa.

A mãe dela se desesperou e correu à casa de Dulce para suplicar que a filha casada abrigasse a irmã desatinada e desajuizada e por fim, Arthur, que sempre fora um homem bom e trabalhador acabou aceitando a cunhada que dois meses depois deu a luz a Guido, que recebeu esse nome em homenagem ao avô, que mesmo após saber disso, insistia em não querer conhecer o pequeno.

Diva não tardou em recomeçar suas atividades libidinosas novamente e desta vez conheceu um trabalhador de passagem pelas obras do campo de petróleo e desapareceu com ele pelo mundo, abandonando o filho e a irmã, apenas se despedindo com um beijo e dizendo: ”Por favor, Dulce, cuide de meu filho e eu prometo mandar notícias e dinheiro para vocês”.

E nunca mais se teve noticias dela.

Assim, Dulce e Arthur registram e criaram Guido de apenas um ano com seus filhos gêmeos Enrico e Pietro como irmãos e os três nunca se largavam.

OS AMIGOS HABITANTES DAS ILHAS

Brígida caminhava sorridente pela ilha e apesar da saudade que sentia dos tios, olhou para o céu e disse mentalmente:

- Obrigada meus queridos por todos estes presentes, estou muito feliz que tenham me escolhido como herdeira, já que Verônica está muito bem de vida e manda beijos para os dois e me prometeu que pensará sempre em vocês com carinho e saudade e deseja de coração que vocês já tenham se encontrado e estejam juntos novamente.

Juntos novamente, Brígida pensou nas últimas palavras e se lembrou que as filhas deviam estar prestes a chegar, pois Nara e Salma estavam de férias na Ilha Caprice, na casa de Guido e Berenice a cinco minutos de barco dali.

Porém, antes de retornar à cabana, Brígida precisava passar no cartório para assinar os documentos de legalização de sua herança e se distraiu nas barraquinhas da Praça do Santuário comprando cangas e chapéus.

O tabelião Eufrásio, antigo conhecido de seus tios tinha tudo preparado e revisado e assim que Brígida concluiu a assinatura dos documentos e as firmas foram devidamente reconhecidas, ele educada e simpaticamente se levantou e disse:

- Parabéns dona Brígida! A vontade de seus tios foi cumprida com louvor e lhe desejo a melhor das sortes, à senhora e a suas lindas filhas e, por favor, diga a Salma que meu neto Eugenio passará mais tarde pela cabana.

[...]

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