Amizade
Por Marco Aurélio Leite da Silva | 09/08/2008 | CrônicasSão tantos os poetas, tantos os grandes escritores... Boa parte deles
elegeu o mais nobre dos sentimentos como inspiração. Outros, preferiram
a face frustrada desse sentimento. Assim, amor e ódio fluem em páginas
e páginas dos romances, novelas, contos, poemas...
Não foram tantos os que escreveram sobre a amizade.
A
amizade, quando é sincera, freqüentemente é associada à qualificação do
amigo como “irmão”. Não tenho irmãos nesta vida, pelo que ignoro se
teria por eles um sentimento digno e indelével como a amizade cultivada
por aqueles que para sempre estarão em meu ser. Do que já vi por aí
imagino que é melhor chamar o irmão de amigo do que o contrário. No
mínimo, estaremos sendo generosos.
Amigo, no dizer de Milton, “é
coisa para se guardar no lado esquerdo do peito, dentro do coração”.
Prefiro guardá-lo no meio do peito, sob pena de relegá-lo a órgãos
menos poéticos, como o pulmão esquerdo. Mas concordo na essência. Amigo
é aquele alguém que temos sempre conosco, no peito, assim como se
estivessem o tempo todo ali, mesmo que os olhos não os encontrem por
anos e anos a fio.
Sempre disse que reconhecemos um amigo de
verdade quando, depois de muito tempo sem vê-lo, o encontramos e
reatamos a conversa com a mesma fluência de ontem à tarde.
Acho
que é isso mesmo. Por isso os amigos verdadeiros são poucos e raros. Na
ciência econômica da fraternidade é o grau de escassez que denota o
valor. Mas, ao contrário do fluxo de riqueza, a ausência de procura não
influi na oferta. O preço da amizade é ditado pela impossibilidade de
valoração, seja qual for a demanda.
Heisenberg contou para seus
amigos que é impossível dizer da posição e da velocidade ao mesmo
tempo. Muitos acham que ele falava de elétrons. Bobagem. Falava das
amizades. Não temos como saber onde estão os amigos porque, tão só por
deles nos lembramos, estão já aqui, onde sempre estiveram...