Amar o mar.

Por luciene aragao lima | 06/06/2015 | Contos

Amar o mar.

Numa tarde quente de verão, havia uma garota sentada na areia da praia com um sorriso largo ao contemplar o mar. Ela estava fascinada com o movimento que as ondas faziam trazendo-lhe aquela água fria e espumante e que, quase como num impulso tocava os seus pés. Ao mesmo tempo em que se embriagava em sua visão, sentia o sol beijando seu copo com a intensidade de quem ama. Em sua mente não vinha nenhum pensamento extra, existia apenas a ansiedade para viver e sentir aquele momento. De repente, o vento soprou-lhe forte os cabelos deixando-os despenteados e com aspecto natural. Seu cabelo era claro, mais não muito. Na verdade era o sol que tingia nele uma cor dourada fazendo-o irradiar um brilho magnífico em todas as direções.

Ainda deslumbrada continuou com o olhar fixo e compenetrado na mesma direção só para sentir o vento que passava contra seu rosto como se ele tivesse a intenção de acariciá-la. Foi nesse momento tão simples, porém com significado tão sublime que ela prostrou-se de joelhos na areia molhada pelas ondas que vinham e voltavam como se quisessem se mostrar. Seu vestido branco e fino sujou ao tocar aquela areia e mesmo assim não perdeu a beleza que havia na leveza da mais pura seda com que fora feito. Com uma de suas mãos apanhou um pouco daquela areia e apertou-a entre os dedos com firmeza como alguém que acorda de um sono profundo e que nada mais quer do que sentir que está realmente vivo. A areia ao ser apalpada daquela forma foi ganhando formatos abstratos em sua mão e nada lhe parecia mais importante do que ter aquela sensação ao saber que ela é a única responsável por sua imensa felicidade a partir daquela apreciação singela.

Mesmo estando quase que estática e de joelhos naquela areia, ela sentia o movimento do mar como se a quisesse leva-la, carrega-la para junto dele aquela fiel admiradora. A garota não hesitou, ela estava pronta para ser inundada por ele. Levantou em frente ao seu ídolo natural e caminhou vagarosamente em direção a ele. Então, num gesto natural, estendeu seus braços como se fosse abraçá-lo após longo período de saudades e, enfim, mergulhou em seu amado. Foi no mergulho que outros sentidos foram despertados nela. Sua pele que antes estivera quente e seca, agora estava numa temperatura bem mais agradável enquanto a água transitava pelas curvas do o seu corpo.

Num sobressalto, ela levantou como se procurasse mais liberdade, mais intensidade. Após esses pensamentos que povoaram sua mente, sentiu uma súbita vontade de tirar o vestido e assim fez. O vestido já não era tão leve por ter absorvido muita água e também já não servia de esconderijo para suas intimidades devido a transparência que o tecido branco ressaltava quando molhado. Seus seios robustos e o contorno do quadril desfilavam o ardor daquele corpo e aquela roupa já não era necessária, então decidiu se entregar por inteiro, deixando assim, sua pele despida. Seu corpo se manifestava como se estivesse numa festa íntima e particular.

Sem pressa, levou as mãos até seus cabelos e deslizou por sua própria face afastando assim o acúmulo de água salgada que se formara em seus olhos impedindo-a de ver melhor a bela imensidão ao seu redor. Ainda de pé dentro da água, olhou para o céu e pôde se encantar com as cores que ele resplandecia. Era um tom azul-celeste e havia pouquíssimas nuvens que junto com o fulgor do sol do litoral formavam um conjunto harmonioso. Sentiu os olhos arderem sem ter certeza se era por causa daquele incrível espetáculo natural ou se era apenas o encontro da água salgada em sua retina, ou até mesmo sem saber se era uma mistura dos dois. A única coisa de que aquela garota sabia era que aquele espetáculo era muito rico, admirável, mas tão pouco apreciado pelos outros.

Mas para aquela garota tudo era muito importante e nada escapava-lhe de seu olhar contemplador. Foi nesse instante que ela deu o seu segundo mergulho, só que dessa vez tocou o seu amado de forma mais intensa, mais viva, mais real. Agora não era apenas sua alma que encontrava o mar, agora o corpo desnudo o sentia por toda sua extensão. Enquanto deslizava seu corpo entre as águas movimentadas lhe surgia uma verdadeira excitação. Nesse instante, percebeu que seus pensamentos já não eram vazios, pois alguns desejos vieram morar em seu corpo junto com a admiração que sentia. Aquela garota que outrora não tivera a intenção em ligar aquele momento que estava vivendo a nenhum tipo de emoção que não a de estar consigo mesma, agora se via presa a novas sensações, novos sentimentos.

Seu coração começou a bater mais rápido e sua respiração acelerava como se buscasse mais oxigênio. Seu corpo respondia com uma vibração espontânea causada pelo agito do mar entre suas pernas. Em meio àquela experiência diferente e tão arrebatadora sentia que não podia evitar, e o mais importante de tudo, que não queria evitar. Ela estava louca para descobrir tudo que poderia sentir, queria saber quais as melhores formas de tocar e de ser tocada. Invadiu-se uma vontade gigantesca, quase que febril. Ela estava ali nos braços do seu amado e nada era para ela era mais imprescindível que isso.

Não houve nenhuma preocupação dela em relação ao que alguns curiosos e distraídos mortais pudessem pensar ao vê-la amar o mar. Para ela não lhe cabia a razão, pois era uma visão muito pequena do mundo, das coisas, das pessoas, da natureza. Ela só queria a emoção, porque sabia que só através dela é que poderia viver um presente tão mágico. Aquela mulher tinha uma história. No passado costumava valorizar o pensamento totalmente racional. Mas o que ela ganhara com isso? Na verdade ela muito perdera e foram essas perdas que a nortearam. Tais perdas transformaram seu pensamento racional que era tão bem aceito pela sociedade, mas que não trouxera nenhuma felicidade, em um turbilhão de emoções novas.

Naquela tarde, quando decidiu ir à praia não levou consigo seu passado, tampouco suas teorias, mesmo as mais coerentes. Tudo o que ela queria e precisava era estar ali. Estar totalmente presente em seu presente. Sem amarraduras, livre, fazendo apenas o que realmente quisesse fazer. A natureza oferecia algo único e que ela tanto apreciava: a sensação de ser livre! Poder pertencer a ela mesma e a quem ela escolhesse. E, naquele exato momento, seu pensamento, sua alma e seu corpo pertenciam ao mar!