Amai Os Vossos Inimigos

Por Edu Gomes | 12/12/2006 | Adm

Este, sem dúvida, é um dos ensinamentos, do amado e divino Mestre Jesus, dos mais difíceis de colocar em prática, justamente porque é um ensinamento que parece controverso, tornando-se complicado de entender e quase impossível de ser posto em prática através de uma vivência.

Mas, que tal, primariamente, entendermos cada palavra deste ensinamento de modo isolado, para que, depois, possamos compor a frase de modo mais claro, mais compreensível?

Jesus deixou-nos como dádiva uma bússola norteadora chamada Evangelho, e só nos deixou como ensinamentos aquilo que Ele mesmo vivenciou, isto é, o que Ele, de modo manso e amoroso, viveu na prática: suas próprias e sábias palavras. Palavras e práticas simples de se compreender. Ensinamentos verdadeiros, isto é, aqueles em que, se colocarmos em prática, é garantia de sucesso e redenção para a nossa alma. São coisas, enfim, reais!

Então, vamos analisar cada palavra da frase Amai os vossos inimigos e descobrir se esta frase tem um sentido real que se traduz em lições divinas.

Inimigo no Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa, de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, este adjetivo significa:
- não é um amigo;
- adversário;
- contrário;
- nocivo;
- indivíduo que tem ódio a alguém ou a nós.

Bem, o fato é que há mais não amigos que amigos.
- Adversário competidor, que se opõe a nós. Palavra que vem de adversidade (contrariamente a má sorte);
- Contrário desfavorável;
- Nocivo que faz mal, causa dano.

Bem, sabemos que nosso mundo é um mundo de provas e expiações, isto é, uma divina escola fundamental de ensino espiritual, onde, a grande maioria dos espíritos que está aqui, estagia numa etapa inicial de evolução e elevação espiritual, em que, pela imperfeição moral e espiritual, está em intensos ajustes e reajustes.

Local onde os espíritos se encontram e reencontram para que expurguem suas faltas e erros, passados e presentes, através da vivência grupal.

Ora, se praticamente só há espíritos imperfeitos, é claro que a imperfeição de sentimentos, atos e julgamentos perduram nestes encontros e vivências.

Portanto, haverá choques de interesses, de vontades, e isto significa vontades opostas se degladiando para prevalecerem umas sobre as outras.

Assim, qualquer um que contrariar nossas vontades, pode ser considerado um não-amigo (ou inimigo) pelo nosso egoísta e imperfeito julgamento.

Se alguém pisar em nosso calo já é suficiente para nos fazer algum mal, segundo nosso próprio julgamento. Na maioria das vezes queremos dar o troco na mesma moeda, não é mesmo?

Do pequeno ao grande mal que alguém nos fizer já entram em nossa lista negra de desafetos.

Às vezes, até um amigo nosso pode mudar de lado caso ele nos faça alguma coisa que nos contrarie. Viramos a cara e não queremos conversa.

Quantas vezes longas amizades deixam de existir, ou balançar, por causa de contrariedades?

Inimigo, portanto, tem uma conotação que pode variar quase ao infinito na nossa escala de julgamento.

Vizinhos, colegas de trabalho, parentes, motorista do lado, etc. Todos podem virar nossos inimigos. Podem porque vivemos numa sociedade em que aprendemos desde pequenos a competir, a sermos os primeiros, os melhores, mais espertos que os outros, ao invés de sermos educados a superar nossas próprias dificuldades, sem necessidade de competir com mais ninguém.

Mas, competimos e, na maioria das vezes, não vencemos, não somos os primeiros e não é a nossa vontade aquela que predomina. Isto já é o bastante para julgarmos que os outros já nos fazem mal pelo simples fato de não termos ganhado aquela disputa.

Nosso ego é o nosso verdadeiro inimigo.

Ainda tem o significado da palavra inimigo que diz: indivíduo que tem ódio a alguém.

Será que nós mesmos não nos colocamos neste mesmo significado desta palavra quando sentimos ódio por alguém? Quem é que nunca sentiu ódio?

Creio que, cada um de nós, em maior ou menor grau, sente isso. Então, ironicamente, viramos o vilão desta história de inimigo também. Quer dizer: somos tão imperfeitos quanto aqueles que julgamos nossos inimigos, afinal estamos num mundo recheado de imperfeições.

Muita gente pode até pensar que estou exagerando, porque pode achar-se uma boa pessoa, incapaz de ser inimigo de quem quer que seja; incapaz de fazer mal para alguém. Das duas uma, ou a pessoa está no mundo errado, ou não percebeu que sua própria imperfeição não deixou que ela notasse que não houve exageros, porque, uma vez ou outra, cometemos nossos erros por aí, quando, por exemplo, sentimos raiva de alguém, ou ficamos contrariados e criamos situações para fazer oposição à vontade alheia.

Vamos analisar a segunda palavra:

Vosso aquilo que vos pertence; seus e não dos outros.

Aquilo que é nosso, e não dos outros. Temos porque fizemos merecedores; temos porque, de algum modo, atraímos algo para nós, porque, até mesmo em alguns casos, desejamos ter recebido.

Falando especificamente em inimigos, parece uma coisa estranha que alguém deseje um inimigo próprio, sozinho seu.

Mas, muitas vezes, criamos condições para que atraiamos alguém assim. Vou dar um exemplo simples: se você fizer uma fofoca de alguém para outra pessoa e esse alguém souber disso, ele não só não vai gostar como vai passar a ter sentimentos negativos em relação a você, não é mesmo?

Então, criamos o nosso próprio e exclusivo inimigo.

Este é um simples exemplo, mas há outros muito maiores, piores e mais complexos, e isto se traduz em termos um inimigo (ou vários) em uma escala mais ampla.

E, como a vida não é obra do acaso, mas sim um complexo e sábio emaranhado de laços afetivos que devem se estreitar, aquelas coisas que um dia fizemos de mal a alguém, volta a nós e, muitas vezes, volta-nos como um inimigo que na atual encarnação não pedimos e que parece um inimigo gratuito. Mas, as leis divinas são sábias e, cedo ou tarde, vítima e agressor do passado são chamados a viverem novas experiências que os aproximem, para os devidos reajustes cármicos.

A última palavra:

Amai-vos isto é, nós devemos amar
E, amor, significa:
- afeição
- afeto a pessoas ou coisas
Afeto amizade, simpatia, paixão.

Poxa, agora complicou!

Ter amizade, simpatia, afeto por um inimigo! Isto é demais! Impossível! Só um santo para ter isso.

Calma ! Vamos explicar a palavra amor recorrendo à própria bíblia e suas inúmeras traduções e interpretações dadas.

O Novo Testamento foi, também, escrito em grego e, os gregos, usam mais de uma palavra para descrever o fenômeno do amor.

Temos as palavras:

Eros que significa sentimentos baseados numa atração, num desejo ardente;
Stongé afeição familiar;
Philos fraternidade, amor recíproco;
Agapé amor incondicional, sem exigir nada em troca. É o amor baseado no comportamento e escolha e não o sentimento amor.

A palavra utilizada nesta passagem bíblica que diz que devemos amar os nosso inimigos, é Agapé. O amor-comportamento.

Nem sempre conseguimos controlar o que sentimos por alguém, mas conseguimos controlar nossos comportamentos.

Ágape é o mesmo que comportar-se amorosamente (ser paciente, honesto, respeitoso), não se comportar inconvenientemente, não compactuar com a maldade, mas com a verdade, não conservar um erro cometido, desistir de manter o rancor.

Agora, para concluir o Amai os vossos inimigos:

Não quer dizer que devamos ter a mesma ternura para um inimigo do mesmo modo que dispensamos para um amigo, ou irmão. Não está na nossa natureza, isso.

É comportar-se com dignidade, não ter ódio, não querer a vingança, esquecer, abster-se de atos ou palavras felinas, e não humilhar.

Isso pode ser difícil, mas é muito mais fácil e até mesmo possível de se colocar em prática, basta querer ter a boa vontade, basta comportar-se com o comportamento amor.

E, quando assim conseguirmos agir, passamos a encarar de modo menos pejorativo aquelas pessoas que achamos nossas inimigas. Conseguimos mais fácil chegar ao perdão, não continuar alimentando, pelo menos, o ódio, a raiva, o rancor, a vingança, que são as grandes chagas que possuem esse bendito planeta-escola.

Sigamos os iluminados passos do Mestre Jesus.

Referências bibliográficas :
Evangelho Segundo o Espiritismo Allan Kardec - CAP. XII
O Monge e o Executivo James Hunter