Alguém viu a minha querida?

Por Enrique Andres Kun Segade | 01/05/2009 | Contos

Alguém viu a minha querida?

Lembro-me da tua pele morena, castigada pelo sol, os teus olhos, duas amêndoas, dos teus lábios, gosto de mel e paixão.
Dos teus beijos que sangravam os meus lábios, enquanto te contemplava extasiado,
te perdoando mil vezes e pedindo: Eu só quero é mais, amor.

Lembras quando de mãos dadas, o teu cabelo negro solto ao vento, corríamos na beira da praia e ríamos sem parar?

Depois em passos longos, eu via o teu sorriso aberto, com teus olhos brilhando forte sob aquele sol tropical.

Lembras do meu primeiro presente? Aquela caixinha com uma orquídea, um lazinho e um nó?
Tu me perguntaste curiosa e sorrindo: -E o cheiro? Tu o roubaste da minha flor?

Há...Há...Há... Respondi no entanto, acaso não sabes que a orquídea não tem cheiro, apenas elegância e cor?
Ela é simples, é pura, a fragrância está na tua imaginação.
Assim como o sentimento amoroso, que só existe em nosso coração.

Quando a noite se aproximava, sabíamos que estava na hora de partir.
O dia foi maravilhoso, mais agora estava no fim.
Eu via lágrimas no teu rosto, dizias que eram de alegria, mais eu bem sabia que era pranto de dor.
Mais uma semana ou quinze dias tal vez, e tu estavas sempre a me perguntar:
-Assim como as ondas do mar, que vão e voltam sem parar, tu me prometes amor, que logo, logo voltarás?
-Sim minha querida, eu sempre vou voltar.
Sempre..... Sempre......Sempre......



MENTIRA!
Certa vez, eu não voltei mais.

Quando voltei, muito tempo depois, já era tarde demais.
Cadê a minha querida? Ninguém sabe, ninguém viu.
Muitos anos tinham-se passado, será que ela ia-se lembrar?
Que iria me reconhecer após as neves do tempo os meus cabelos esbranquiçar?
Será que é certo acordar um velho fantasma?
Isso é coisa que se faz?
Aceitaria as minhas mãos rugosas que não mais lhe-dariam um carinho sensual?
E o meu coração, cansado de conjugar em todos os tempos o verbo amar?

Hoje, volto pra casa à tardinha, após mais uma jornada,
nunca desanimado, sempre com fé no amanhã.
Atravesso a velha ponte, o sol se pondo entre as nuvens, desenhando figuras e rostos que não canso de apreciar.
De pronto eu a vejo, é ela, bem fixo o seu olhar, me detenho no caminho
e grito sem parar: ESPERA, ESPERA, NÃO SE VÁ !!
Não adianta, ela se transforma em luzes e cores,
se desvanece anunciando a escuridão.
Então olho para o Céu e peço, meu Deus!! Não me leva hoje......
Tenho muito para sonhar, quero pensar no meu amor,
por favor....... Hoje não!!


Por tudo o que passei, por tanto que eu sofri,
alguém viu o meu anjo, a minha querida por ai?